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Gene real, gene imaginario: uma perspectiva fantas(má)tica da hereditariedade

Resumos

A experiência clinica revela que, mesmo diante da doença orgânica, a referencia exclusiva à anatomia, à fisiologia ou mesmo à genética não é suficiente para compreendermos o sofrimento de nossos pacientes. Para alcançarmos a essência deste sofrimento, é necessário que consideremos que, a partir do corpo real, anatómico, fisiológico, configurase um outro corpo, um corpo imaginário, que se constitui, a partir do desamparo primordial, através da relação com um outro ser humano. Segundo esse processo, a criança constitui sua subjetividade, tornando-se um ser desejante, social, da cultura. A dissociação entre corpo anatómico e fisiológico e o corpo imaginário instaura uma fissura através da qual se esvai a subjetividade, preparando o caminho para a experiência melancólica. Essa perspectiva revela que o adoecer comporta uma dimensão identificatória e intersubjetiva. A doença de um indivíduo repercute, obrigatoriamente, no conjunto familiar através da genealogização do sintoma e do remanejamento das representações transgeracionais. Desta forma, é importante considerarmos essas experiências para compreendermos que o risco genético real, revelado pela ciência, é permeado pela vivência de um risco imaginário que determina as representações individuais e sociais da doença, e mesmo, em alguns casos, as possibilidades de sua manifestação bem como seu curso


La experiencia clínica revela que aún frente a la enfermedad orgánica, la referencia exclusiva a la anatomía, a la fisiología, y hasta a la genética, no es suficiente para que comprendamos el sufrimiento de nuestros pacientes. Para alcanzar la esencia de este sufrimiento, es necesario que consideremos que. a partir del cuerpo real, anatómico, fisiológico, se configura un otro cuerpo, un cuerpo imaginario, que se constituye a partir del desamparo primordial, a través de la relación con un otro ser humano. Según ese proceso, el niño constituye su subjetividad tornándose un ser deseante, social, de la cultura. La disociación entre cuerpo anatómico y fisiológico y el cuerpo imaginario instaura una fisura a través de ta cual se deshace la subjetividad, preparando el camino para la experiencia melancólica. Esa perspectiva revela que el enfermar implica en una dimensión identificatoria e intersubjetiva La enfermedad de un individuo repercute, obligatoriamente, en el conjunto familiar a través de la genealogización del síntoma y del reordenamiento de las representaciones transgeneracionales. De este modo, es importante que consideremos esas experiencias para que comprendamos que el viesgo genético real, revelado por la ciencia, está mediado por la vivencia de un viesgo imaginario que determina las representaciones individuales y sociales de la enfermedad, y de hecho, en algunos casos, las posibilidades de su manifestación así como de su curso.


L'expérience clinique montre que, même face à la maladie organique, la simple référence à Vanatomie, à la physiologie ou encore à la génétique ne suffisent pas à expliquer la souffrance de nos patients. Pour parvenir à comprendre Vessence de cette souffrance, il nous faut considérer que sur la base du corps réel, anatomique, physiologique s'échafaude - à partir du désarroi primordial et au travers du rapport à un autre être humain - un autre corps, un corps imaginaire. L'enfant fonde sa subjectivité et devient un être désirant, social, de la culture selon ce processus. La dissociation entre corps anatomique, physiologique et corps imaginaire instaure une fissure à travers laquelle la subjectivité s'évanouit, préparant ainsi le chemin pour l'expérience mélancolique. Cette perspective montre que le processus de la maladie comporte une dimension identificatoire et intersubjective. Le mal d'un individu retentit inévitablement sur le groupe familial par la "généalogisation " du symptôme et du remaniement des représentations transgénérationnelles. Il est donc essentiel de tenir compte de ces expériences pour comprendre que le risque génétique réel, révélé par la science, est imprégné du vécu d'un risque imaginaire qui détermine les représentations individuelles et sociales de la maladie, et même, dans certains cas, les possibilités de sa manifestation bien comme de son développement.


Clinical experience shows that, even in front of organic diseases, the sole reference to anatomy, physiology or even genetics does not suffice to make us understand our patients' sufferings. To apprehend the essence of such sufferings, we need to consider that the anatomic, physiologic, real body gives rise to another body, an imaginary body that, from primordial helplessness, constitutes itself through the relationship to another human being. According to this process, children constitute their subjectivity to become desiring, social beings in the culture. The dissociation between the anatomical, physiological body and the imaginary body institutes a fission through which subjectivity fades away, paving the way for the melancholic experience. This perspective shows that the sickening process encloses an identifie at o ry and intersubjective dimension. An individual's sickness necessarily affects the family cluster through the "genealogization " of both the symptom and the reshuffling of the trans generational representations. It is thus crucial that such experiences be taken into account to understand that the real genetic risk, revealed by science, is crosscut by the real-life experiences of an imaginary risk which determines both the individual and social representations, and even, in some cases, the possibilities of manifestation as well as the course of any disease.


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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 1998
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