Acessibilidade / Reportar erro

Quando os psicofármacos fazem confundir melancolia e depressão

Resumos

A atual busca de aproximação com psiquiatras, por iniciativa de muitos psicanalistas, é em parte resultante de umapeculiar idealização da psiquiatria efetuada por esses mesmos psicanalistas - enquanto as populações em geral idealizam a Medicina como um todo. tanto uns como outros em decorrência do mesmo fascínio pela tecnologia que tornou possíveis os novos antidepressivos. Tanto essas idealizações efetuadas pelas coletividades em geral, como aquelas análogas feitas por psicanalistas, fazem parte de uma verdadeira ideologia da produtividade - que implica uma escalada obsessiva (e não melancólica nem depressiva) da sociedade. Estamos atravessando uma era na qual se repetem as características da neurose obsessiva — numa identificação mútua baseada no esforço coletivo rumo a um estado de perfeita e perpétuasaúde do corpo. A aproximação mais desejável parece ser a de psicanalistas com os médicos em geral (sem exclusão dos psiquiatras), principalmente dentro dos grandes hospitais gerais, por ser neles que ocorrem as mais eloqüentes demandas de médicos por uma escuta psicanalítica que os ajude a entender as solicitações desmesuradas que lhes são feitas para a obtenção dessa saúde plena e dessa "nova religião" pela imortalidade do corpo.


La actual búsqueda de aproximación con los psiquiatras por iniciativa de machos psicoanalistas es, en parte, resultado de una idealización peculiar de la psiquiatria efectuada por eses psicoanalistas, tal como Ias poblaciones en general idealizan a la Medicina como un todo. Ambos idealizan en decorrência dei propio facínio par la tecnologia que torna posible los nuevos anti-depressivos. Tanto Ias idealizaciones efectuadas por las colectividades en general, así como las idealizaciones análogas que hacen los psicoanalistas, son parte de una escalada obsesiva (y no melancólica ni depresiva) de la sociedad. Estamos atravesando una era en la cual se repiten Ias características de ta neurosis obsesiva - en una identificación mutua basada en el esfuerzo colectivo rumbo a un estado de perfecta y perpetua salud del cuerpo. La aproximación más deseable parece ser la de los psicoanalistas con los médicos en general (sin excluirá los psiquiatras)* principalmente dentro de los grandes hospitales générales, por ser en ellos que ocurren las más elocuentes demandas de médicos por una escucha psicoanalitica que los ayude a entender las solicitaciones que les hacen para obtener esa salud plena y de esa "nueva religion " por la inmortalidad del cuerpo.


La volonté de certains psychanalystes de se rapprocher des psychiatres se doit en partie à leur idéalisation particulière de la Psychiatrie, D'un autre côté, la population idéalise en général la Médecine comme un tout. Ce sont là deux facettes de la même fascination envers la technologie qui a rendu les nouveaux antidépresseurs possibles. Aussi bien les idéalisations des collectivités en général que celles des psychana* tystes fon t partie d'une véritable idéologie de la productivité - qui implique une escalade obsessionnelle ( et non pas mélancolique ou dépressive) de la société. Nous traversons une époque où les caractéristiques de la névrose obsessionnelle sont répétées - en une identification mutuelle basée sur l'effort collectif vers un état de Santé du Corps parfaite et perpétuelle. L'approximation la plus désirable serait celle de psychanalystes et médecins en général (psychiatres compris), essentiellement dans les grands hôpitaux où se présen- tent les demandes les plus éloquentes de médecins pour une écoute psychanalytique qui puisse les aider à comprendre les sollicitations démesurées qui leur sont faite pour l'ob- tention de celle santé pleine et de cette 'nouvelle religion" de Vîmmortatité du corps.


That some psychoanalysts have recentty attempted to approach psychiatrists is partly the resuit oftheir peculiar idealization of Psychiatry. At the same tinte, the différent populations idealize Medicine as a whale. Roth occurrences are a conséquence of the same fascination for the technology that made the new antidepressants possible. Both the idealization on the part of the collectivy and that of psychoanalysts are part of a real productivity ideology - that entails an obsessive increase (and not a melancholic or depressive one) of society. We are going through an era in which the obsessive neurosis characteristics are repeated - in a mutual identification based on the collective effort toward a state of perfect and perpétual Body Health. The most désirable approximation would be that of psychoanalysts and doctors in gênerai (psychiatrists included), mainly in the huge general hospitals. where doctors come out with the most eloquent needs for a psychoanalytic listening. This could help them understand the excessive requests they receive for full Health and that "new reli- gion " of body Immortality.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Bibliografia

  • 1
    ALEXANDER. Franz. G. & SELESNICK. Sheldon T. História da psiquiatria: uma avaliação do pensamento e da pratica psiquiátrica desde os tempos primitivos até o presente. Tradução de Aydano Arruda. São Paulo. IBRASA. 1968, p. 372.
  • 2
    BLACKER. C. V. R. & CLARE. A . W. "Problems of lhe treatment of depression in general practice". In BRIAN. Leonard & PAUL. Spencer (Eds.). Antidepressants: thirty years on. London. CNS (Clinicai Neurosciencc) Publishers. 1990. pp. 433-448.
  • 3
    CARLINI. Elisaldo Luiz de Araújo & MASUR. Jandira, "Venda de medicamentos sem receita médica nas farmácias da cidade de São Paulo". In CARLINI. Elisaldo Luiz dc Araújo. Medicamentos, drogas e saúde. São Paulo, Hucitec c Sociedade Brasileira de Vigilância dc Medicamentos (SOBRAVIME), 1995. pp. 231-236.
  • 4
    - FREUD, Sigmund. Neuroses de transferência: uma síntese (Manuscrito recém- descoberto). Tradução dc Abrain Ekstcrman, organização, notas c ensaio complementar de Use Grubrich-Simitis. Rio de Janeiro, Imago, 1987, pp. 76-77.
  • 5
    FREUD, Sigmund.Neuroses de transferência: uma síntese (Manuscrito recém- descoberto). Tradução dc Abrain Ekstcrman, organização, notas c ensaio complementar de Use Grubrich-Simitis. Rio de Janeiro, Imago, 1987, pp. 79-81.
  • 6
    FREUD, Sigmund. Mensaje para la "Medical Review of Reviews" (1930). In FREUD, Sigmund. Obras Completas de Sigmund Freud. Vol XX. Tradução dc Ludovico Rosenthal. Buenos Aires. Santiago Rueda, 1955. pp. 177-178.
  • 7
    JORNAL DA APM(Órgão oficial da Associação Paulista de Medicina), n 475, Sio Paulo, 1997, p. 19.
  • 8
    LACAN, Jacqucs (1966). "Psychanalyse et medecine". Apostila sem data. São Paulo, Biblioteca da Escola Brasileira dc Psicanálise e Instituto dc Pesquisas em Psicanálise de São Paulo.
  • 9
    SCHATZBERG, Alan F. & COLE, Jonathan G. (1991). Manual de psicofarmacotogia clinica. Tradução dc Rose Eliane Starosta. Porto Alegre, Aries Médicas, 1993, p. 134.
  • 10
    TANCREDI, Francisco Bernardini. Consumo de medicamentos benzodiazepínicos no Brasil — 1970 a 1985: estudo comparativo das tendências. Tese de Doutoramento (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo). São Paulo, 1986, pp. 30-31.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 1998
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Av. Onze de Junho, 1070, conj. 804, 04041-004 São Paulo, SP - Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: secretaria.auppf@gmail.com