Este artigo pretende mostrar em que medida Darwin inaugurou uma hermenêutica e como ela pautou a posição epistemológica de Freud. Para tanto, busca-se afastar, antes de mais nada, certa concepção corrente, mesmo entre biólogos, segundo a qual o darwinismo se resumiria à ideia da seleção natural. Visto que boa parte dos leitores de psicanálise e psicopatologia desconhecem essa espécie de discussão, o artigo procura dar atenção especial a ela. Em seguida, busca-se mostrar como Freud insere sua contribuição à ciência na esteira da de Darwin. Ambos revelaram - cada um à sua maneira e com propósitos distintos - ser possível uma investigação materialista da psique amparada numa hermenêutica naturalista. Por fim, retoma-se a crítica feita pela filosofia da psicanálise às interpretações de Habermas e Ricoeur com o intuito de ressaltar, com a ajuda de aspectos enfatizados por Lacan, o quanto as posições teórica e clínica vinculadas a tais interpretações se distanciam das posições de Freud.
Palavras-chave
Freud; Darwin; hermenêutica; materialismo; ciência