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Considerações psicanalíticas sobre a pós-verdade e as malditas fake news*1 *1 Este artigo, redigido em coautoria aluno/orientador, é o resultado parcial da pesquisa de doutorado sobre “A (pós)verdade, o saber e a interpretação na experiência psicanalítica” desenvolvida no âmbito do programa de Pós-Graduação em Psicanálise do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PGPSA/IP/UERJ. Pelo fato de o termo fake news ser sempre utilizado na língua inglesa para se referir às notícias falsas, decidimos mantê-lo no decorrer do texto.

Psychoanalytic considerations about post-truth and the damned fake news

Considérations psychanalytiques sur la pos-vérité et les maudits fake news

Consideraciones psicoanalíticas sobre la posverdady las malditas fake news

Neste trabalho pretendemos pensar a questão da verdade em psicanálise a partir de sua aproximação ao conceito de pós-verdade e às fake news, notícias falsas que ganham status de verdade absoluta e fomentam ódio nas redes sociais. Ao serem divulgadas em redes interligadas, elas fazem a palavra circular numa amplitude maior. Assim, no que diz respeito ao campo da psicanálise, a explosão de fake news e seus efeitos no discurso promovem questionamentos sobre a relação da linguagem com o campo do Outro e seus efeitos pulsionais, levando-nos ao debate sobre a ordem simbólica em nosso século.

Palavras-chave:
Psicanálise; linguagem; verdade; fake news


Resumos

In this paper, we intend to think about the issue of truth in psychoanalysis, based on its proximity to the idea of post-truth and to the fake news, which achieve status of absolute truth and foment hatred in social networks. For being disseminated in interconnected networks, they allow words to widely circulate. Concerning the field of psychoanalysis, the explosion of fake news and their effects on discourse raise questions about the relationship of language and the field of the Other, and about its drive effects, leading us to debate the symbolic order in our century.

Key words:
Psychoanalysis; language; truth; fake news

Dans cet article, nous réfléchissons sur la question de la vérité en psychanalyse en l’associant au concept de la post-vérité et des fake news, soit les fausses nouvelles qui ont acquis un statut de vérité absolue et stimulent la haine dans les réseaux sociaux. Lorsqu’elles sont diffusées sur des réseaux interconnectés, elles augmentent le taux de circulation des mots ou des discours. Ainsi, en ce qui concerne le domaine de la psychanalyse, l’explosion des fake news et ses effets sur le discours suscitent des questions sur le rapport du langage au champ de l’Autre tout comme ses effets pulsionnels, ouvrant le débat sur l’ordre symbolique de notre siècle.

Mots clés:
Psychanalyse; langage; vérité; fake news


En este trabajo pretendemos reflexionar sobre la cuestión de la verdad en el psicoanálisis a partir de su aproximación al concepto de posverdad y fake news – noticias falsas que cobran apariencia de verdades absolutas y que fomentan el odio en las redes sociales. Al ser compartidas en redes interconectadas, hacen que la palabra circule con mayor amplitud. De esta forma, en lo que se refiere al campo del psicoanálisis, el aumento exponencial de las fake news y sus efectos en el discurso, promueven preguntas sobre la relación entre el lenguaje y el campo del Otro y sus efectos pulsionales, llevándonos al debate sobre el orden simbólico en nuestro siglo.

Palabras clave:
Psicoanálisis; lenguaje; verdad; fake news


A verdade não toda em psicanálise

No início de seus estudos, Freud recorre à prática da hipnose à procura de uma verdade factual oculta no sintoma histérico. Ao desenhar o aparelho psíquico, Freud anuncia a Fliess sua descrença na “neurótica”, pois foi possível constatar que no inconsciente não há distinção entre verdade e afeto, portanto, não há “signo de realidade” (Freud, 1897/2018Freud, S. (2018). Carta 139 [69], 21 de setembro de 1897. In Obras incompletas de Sigmund Freud (pp. 47-50). Belo Horizonte, MG: Autêntica. (Trabalho original publicado em 1897)., p. 48). O ceticismo de Freud se apresenta como um paradoxo na histeria e baseia-se, como diz Miller (2011)Miller, J-A. (2011). Extimidad. Buenos Aires, AR: Paidós., em “não ser uma mentira que esconde a verdade e sim de ser uma mentira que é uma verdade” (p. 404). A questão da verdade atravessa também o ensino de Lacan, sendo abordada em diferentes momentos e de diferentes formas, partindo-se nomeadamente dos estudos sobre a linguística de Saussure.

Em “A instância da letra no inconsciente” (1957/1998c)Lacan, J. (1998c). A instância da letra no inconsciente. In Escritos (pp. 496-533). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1957)., Lacan recorre à linguística para nos ensinar sobre a descoberta de Freud: o inconsciente presente no trabalho do sonho. Como descrito em A interpretação dos sonhos (Freud, 1900/2006Freud, S. (2006). A interpretação dos sonhos. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1900).), Lacan aponta que nesse texto Freud já havia demonstrando a função do sonho através da Entstellung — traduzido como transposição — operação por excelência linguajeira, como vemos nos mecanismos de condensação e deslocamento. Em sua releitura de Freud, Lacan resgata uma perspectiva do inconsciente que havia sido perdida nas construções teóricas dos pós-freudianos, o que acarretou, por parte deles, no abandono da fala e da linguagem. Lacan, então, recupera a dimensão da linguagem como sendo o que define e estrutura o inconsciente, revelando-o na superfície dos ditos e não mais em aspectos atávicos ou submersos na psique.

Posteriormente, em “A ciência e a verdade” (1966/1998d)Lacan, J. (1998d). A ciência e a verdade. In Escritos (pp. 869-892). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., Lacan nos surpreende ao afirmar que o sujeito da psicanálise é o mesmo sujeito da ciência. Sua concepção se estabelece na contramão do que a ciência apresenta em sua prática. O que Lacan nos ensina aqui é que a abertura do cogito cartesiano possibilitou a Freud descobrir o inconsciente e desenvolver sua técnica. O que nos importa não é que a dúvida que o cogito torna presente seja um vacilo da crença na existência, mas que a partir daí foi possível pensar a divisão do sujeito entre verdade e saber.

O sujeito que nasce com a ciência moderna desaparece no momento de sua aparição. A ciência contemporânea nos demonstra claramente tal movimento ao criar em sua teoria a equivalência do significado com o significante, o que reduziria o ser humano a uma identidade, uma unidade, um todo. Uma totalidade que a psicanálise colocou à prova quando Freud disse em seus “Estudos sobre a histeria” (Freud, 1893-1895/2016Freud, S. (2016). Estudos sobre a histeria. In Obras completas (Vol. 2). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1893-1895).) que o eu não se apresenta unificado, há uma cisão no eu.

Nessa correlação Lacan demonstra que a psicanálise não pode ser classificada dentro do campo das ciências humanas, pois na psicanálise opera- mos com o sujeito. Contudo, não diretamente, pois o sujeito é representeado através de um significante para outro significante, ele está entre os ditos, mas não se resume nem se confunde com quaisquer desses elementos.

Sua crítica é uma tentativa de fazer encarnar o sujeito, cuja exclusão ele apontava na tentativa de fazer existir o homem da ciência isento de subjetividade. O interessante aqui é pensarmos os arranjos que a psicologia faz para tentar “medir” o homem através de recursos avaliativos e o quanto isso escapa em redes infindáveis de significantes.

O cogito cartesiano em sua lógica “logo sou” nos propõe pensar em uma causa diante da qual a fala é apoiada. No “[...] ‘logo sou’, com aspas ao redor da segunda oração, lê-se que o pensamento só funda o ser ao se vincular à fala onde toda operação toca a essência da linguagem” (Lacan, 1966/1998dLacan, J. (1998d). A ciência e a verdade. In Escritos (pp. 869-892). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., p. 879). A verdade aparece como causa de uma operação da linguagem, ou seja, no deslizamento significante, o que exclui a possibilidade de uma metalinguagem pela qual se poderia garantir o verdadeiro sobre o verdadeiro. Isso não escapa a Lacan, que afirma “o verdadeiro sobre Freud, que soube deixar, sob o nome de inconsciente, que a verdade falasse” (Lacan, 1966/1998dLacan, J. (1998d). A ciência e a verdade. In Escritos (pp. 869-892). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., p. 882).

A partir disso podemos constatar que a verdade como causa na psicanálise é efeito de um discurso, pois não há outro meio de se acercar ao real. Assim, quando se trata do real, é somente através da fala, ou seja, de um deslocamento significante através do manuseio dos significantes, que podemos tocá-lo. Paradoxo de uma verdade, apontado por Iannini (2013)Iannini, G. (2013). Estilo e verdade em Jacques Lacan. Belo Horizonte, MG. Autêntica. ao comentar, “[...] que fala, que toca o real, mas que não possui em si mesma o índice de sua própria veracidade” (p. 19). Eis o paradoxo que confere à verdade seu caráter de meio-dita, pois o que se pode dizer dela tem seus limites no real.

Para a psicanálise, a verdade tem seu aspecto dado devido à sua causa material, que “é, propriamente, a forma de incidência significante” (Lacan, 1966/1998dLacan, J. (1998d). A ciência e a verdade. In Escritos (pp. 869-892). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., p. 890). Ou seja, não cabe investigar os sentidos dos significantes primordiais da fantasia, mas atentar para o elo entre esses significantes e a experiência de gozo, traumática, que se deu em coalescência com sua presença material. A verdade se estrutura, pois, a partir desses significantes e com eles tece sua ficção.

Seguindo esse caminho, podemos chegar a uma verdade inconsciente, pois “se temos um saber do real, temos de supor um efeito de verdade” (Badiou & Cassin, 2013Badiou, A., & Cassin, B. (2013). Não há relação sexual: duas lições sobre “aturdito” de Lacan. Rio de Janeiro, RJ: Zahar., p. 74). Um efeito de verdade difere da exatidão de uma cena esquecida, como buscava Freud na teoria da sedução, pois se trata de uma verdade sobre o gozo, uma construção fantasística do sujeito. Fantasia que é uma resposta ao enigma do desejo do Outro — O que queres? — enigma que transpõe para o plano da linguagem a experiência corporal de angústia, um afeto que não engana porque justamente se dá fora-do-sentido.

Esse é o paradoxo demonstrado por Miller em Extimidad (2011)Lacan, J. (2011). A Terceira. Opção Lacaniana, Revista Brasileira Internacional, 62, 11-36. (Trabalho original publicado em 1974). sobre a verdade-mentirosa, ou seja, a mentira histérica escutada por Freud, uma mentira cuja função primordial é a de responder ao que não se sabe, ao vazio de sentido.

O que remete às razões pelas quais Freud estabelece a associação livre como regra fundamental da experiência clínica. Freud abandona a técnica da hipnose devido à repreensão feita por uma paciente, Emmy Von H., que não queria pensar nas questões propostas por ele. Ela lhe fez, então, um pedido: “[ele] não devia perguntar sempre de onde vinham aquilo e isso, mas sim deixá-la contar o que tinha a [lhe] dizer” (Freud, 1893-1895/2016Freud, S. (2016). Estudos sobre a histeria. In Obras completas (Vol. 2). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1893-1895)., p. 96).

Dizer o que se pensa, motor da experiência psicanalítica, não significa dizer qualquer coisa porque, no que diz respeito ao dizer, a associação não é livre, há um manuseio próprio que cada um faz com a rede de significantes. Miller (2011)Miller, J-A. (2011). Extimidad. Buenos Aires, AR: Paidós. ressalta o paradoxo da associação livre sublinhando a afirmação de Lacan sobre o fato de a análise ser determinista. Freud (1915/2010)Freud, S. (2010). O inconsciente. In Obras completas. (Vol. 12, pp. 99-150). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1915). mesmo nos mostrou que o determinismo é uma das características do inconsciente: não há livre arbítrio no que diz respeito ao inconsciente. A associação livre faz com que se inicie uma operação significante, a articulação da linguagem na fala, que produz efeitos na cadeia significante tanto no sentido da retroação, implicando e ressignificando o que já foi dito, como no sentido do que se poderá vir a dizer. Trauma e desejo se enlaçam nessas projeções temporais configurando que “[...] a análise é determinista. Este azar não está ali mais que para assinalar que, apesar de vocês, uma consequência opera no discurso” (Miller, 2011, p. 16). Os dados são lançados no momento em que, a convite do analista, o analisando inicia a sua fala engendrando um futuro incerto, um futuro contingente. Porém, o encadeamento significante na associação livre supõe uma lógica ausente de surpresas, do azar que, paradoxalmente, aparece no incalculável dessa associação, no determinismo inconsciente — desdobramentos da análise na qual seguimos o fio de um discurso que leva o sujeito para além daquilo que se sabe.

Destacamos, a partir dessas considerações, que a verdade construída em psicanálise se evidencia a partir das variedades de associações construídas em torno de um ponto de gozo opaco e traumaticamente constituído. A cadeia significante das associações gravita em torno desse ponto, cicatriz de um encontro original traumático com o gozo. São articulações feitas pelo simbólico e imaginário que contornam e indicam o real como um furo devido à impossibilidade de este ser traduzido em palavras. Todas as associações são, portanto, ficções e podem variar, o que não implica que sejam mentiras no sentido comum do termo. As ficções ganham algum estatuto de verdade pela presença constantes dos ditos ao redor de um afeto no corpo impossível de ser inteiramente transposto para a linguagem. Lacan apontou nisso um estilo e o articulou a seu conceito de objeto a enquanto “causa de desejo” e “suporte do sujeito entre verdade e saber (Lacan, 1966/1998eLacan, J. (1998e). Abertura deste coletânea. In Escritos (pp. 9-11). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., p. 11). Pensamos, assim, que há uma política no sintoma do sujeito ao lidar com a linguagem no ponto em que esta se enlaça ao gozo. Tal política não é facilmente manipulável, razão pela qual Freud desde cedo recusou o poder da sugestão para apostar na transferência que permite ao sujeito em análise se desfiar tendo uma escuta como endereçamento. Isso difere muito da política de criação das fake news que visa um manejo sugestivo e hipnótico.

Política, pós-verdade e fake news

Hannah Arendt, num texto publicado no ano de 1968 na revista The New Yorker, afirma que a verdade factual é política por natureza, pois:

[...] é sempre relativa a várias pessoas: ela diz respeito a acontecimentos e circunstâncias nos quais muitos estiveram implicados; é estabelecida por testemunhas e repousa em testemunhos; existe apenas na medida em que se fala dela, mesmo que se passe em privado. (Arendt, 1968/1995Arendt, H. (1995). Verdade e política. Lisboa, PT: Relógio D’água Editores. (Trabalho original publicado em 1968)., p. 24)

Tal assertiva coloca a verdade em situação de vulnerabilidade por ser facilmente manipulada pelos detentores do poder com a finalidade de produzir mentiras estratégicas, pois “a verdade de facto não é mais evidente que a opinião, e essa é talvez uma das razões pelas quais os detentores de opinião consideram relativamente fácil rejeitar a verdade de facto como se fosse uma outra opinião” (Arendt, 1968/1995Arendt, H. (1995). Verdade e política. Lisboa, PT: Relógio D’água Editores. (Trabalho original publicado em 1968)., p. 31)

Mais recentemente, o filósofo francês Lipovetsky (2004)Lipovetsky, G., & Charles, S. (2004). Os tempos hipermodernos. São Paulo, SP: Barcarolla. propõe o termo “hiper-modernidade” delimitando nossa época atual a um tempo de excessos no que diz respeito à substituição dos valores tradicionais pelos setores modernos. Ele destaca que ocorreram modificações nas normas sociais e, com isso, um novo arranjo simbólico produziu efeitos de mudança nos dispositivos jurídicos que buscavam um enquadre. O que nos chama atenção na hipermodernidade é sua relação com o registro simbólico, neste caso, com a verdade, e o que vieram a designar atualmente como pós-verdade.

O termo pós-verdade, muito utilizado no campo da política, significa que a “verdade” escaparia aos fatos e ganharia mais importância quando ligada a crenças pessoais. Segundo o Oxford Dictionaries (2016)Oxford Dictionaries (2016). Word of the year 2016 is…. Oxford, [s. d.]. Recuperado em 14 jul. 2020 de: <https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/>.
https://languages.oup.com/word-of-the-ye...
, o termo “se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.

Essa concepção não deixa de fazer eco ao que sabemos, desde Freud, sobre a forte ligação entre a crença e os afetos influenciando a maneira pela qual fazemos uma leitura da realidade. A expressão freudiana “realidade psíquica” faz alusão a esse aspecto e responde de certa forma ao cogito cartesiano, uma vez que este inaugurou uma era de contestação da verdade revelando a dúvida no pensamento. Freud, com a abertura cartesiana, inaugura com seu cogito “não acredito na minha neurótica” a primeira reviravolta em sua teoria. Isso não quer dizer que ele aponte para um cinismo, mas, muito pelo contrário, ele demonstra que há uma construção ficcional da verdade ligada à fantasia inconsciente. Por isso podemos afirmar que o apelo emocional sempre esteve ligado à construção da verdade, o que não teve início a partir da recente formulação do conceito de pós-verdade de nossa época.

Desde que surgiu, em 1992, no ensaio do escritor Steve Tesich para o jornal The Nation (Tesich, 1992Tesich, S. (1992). The Watergate Syndrome: the government of lies. The Nation, Nova York, 6 jan. 1992.), não se pode negligenciar a importância desse conceito que ganhou força e, em 2016, foi eleito a palavra do ano pelo dicionário Oxford. De fato, o termo caiu nas redes — de significantes e da internet — o que gerou como efeito questionamentos sobre a morte da verdade. No entanto, a ligação entre os ditos que fazem sentido e os afetos sentidos no corpo — e não deixa de ser curioso observar como a equivocidade do termo “sentido” se conjuga aqui para gerar veracidade — já existia a partir da psicanálise e, embora a aplicação do termo e os estudiosos que o incluíram nas últimas versões de seus dicionários não tenham se dado conta, trata-se de uma noção que deve seu advento aos efeitos da teoria psicanalítica desde o início do século XX, influenciando o pensamento de várias teorias conexas, em especial, as da linguagem e discurso.

Miller (2019)Miller, J-A. (2019). Donc: La lógica de la cura. Buenos Aires, AR: Paidós. problematiza o fato na sua relação com a verdade afirmando que este só existe através do dito e que “o fato mesmo é uma questão de amor” (p. 71). Entendemos, assim, que para o fato existir — e isso nossa experiência clínica demonstra claramente — ele precisa ser dito. Lacan afirma, em 1954 que é “apenas pelas articulações simbólicas que a enredam a um mundo inteiro que a percepção adquire seu caráter de realidade” (Lacan, 1954/1998aLacan, J. (1998a). Resposta ao comentário de Jean Hyppolite sobre a Verneinung de Freud. In Escritos. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Original publicado em 1954)., p. 394).

Não podemos deixar de evocar o filósofo inglês John Langshaw Austin, que estuda os atos de fala através dos quais se afasta do positivismo lógico apontando que a linguagem descreve ou constata os enunciados implicando-os como verdadeiros ou falsos. Para Austin, há também os atos de fala performáticos nos quais a fala tem efeitos no real, como, por exemplo, o “sim, aceito!”, que muda definitivamente o estado civil de uma pessoa quando proferido no contexto de uma cerimônia de casamento. Trata-se de uma operação que se avalia em termos de seus efeitos no real. Ela pode ser pensada tanto com relação ao ato do analista como às fake news.

A enorme diferença ética se estabelece a partir do fato de que o ato de fala em análise visa ressoar no campo pulsional do analisando pelo que aponta ao fora-do-sentido, ao contrário da disseminação de fake news, que visa ao convencimento e sedução do sujeito, fornecendo uma impressão manipulada e tendenciosa dos fatos. Se o ato do analista aponta ao vazio pulsional no qual os objetos se alojam, as fake news preenchem o vazio, pois elas se oferecem como objetos de gozo do sentido e obturam o espaço em branco da dúvida subjetiva. Evitamos, com essa diferenciação, incorrer no erro de cair no sonho “da absorção completa do ato pelo significante” (Miller, 2014Miller, J-A. (2014). Jacques Lacan: observações sobre seu conceito de passagem ao ato. Opção Lacaniana Online: nova série. 13 de março. Recuperado em 21 mar. 2020 de: <http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_13/passagem_ao_ato.pdf>.
http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/num...
, p. 10), pois Lacan nos ensinou que, no encadeamento simbólico, ocorre um efeito de sentido, uma significação que não compõe integralmente o ser. Em Lacan, “[...] para que haja ato, é preciso que o sujeito nele seja modificado por esse franqueamento significante” (Miller, 2014Miller, J-A. (2014). Jacques Lacan: observações sobre seu conceito de passagem ao ato. Opção Lacaniana Online: nova série. 13 de março. Recuperado em 21 mar. 2020 de: <http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_13/passagem_ao_ato.pdf>.
http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/num...
, p. 10). O que advém aí, como efeito da operação simbólica, é uma verdade, uma verdade pós, que só aparece a posteriori, como na concepção freudiana de Nachträglichkeit.

Então, qual seria a diferença entre pós-verdade e fake news? Apostamos que esta seja, pelo menos em parte, relacionada aos tempos necessários para que se possa subjetivar a cadeia associativa no sentido de se tornar responsável por ela. Quando o trabalho que constrói uma fake news tem um alcance em massa e é potencializado pelas redes sociais através dos gadgets tecnológicos que levamos no bolso, o tempo é imediato. Além da satisfação do consumo dos objetos, transformados em objetos fálicos, temos também, em relação aos smartphones, uma satisfação de sentido como uma resposta ao sem sentido na palma da mão. Assim, no imediatismo do consumo, o tempo da fake news nos mostra a relação entre a pressa e a verdade.

Como citado anteriormente, a verdade tem uma estrutura de ficção e, ainda, segundo Lacan (1966/1998d)Lacan, J. (1998d). A ciência e a verdade. In Escritos (pp. 869-892). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1966)., “nenhuma linguagem pode dizer o verdadeiro sobre o verdadeiro” (p. 882). Porém, não podemos confundir ficção com fake news. Podemos ler fake news sob diversos aspectos, mas o que chama nossa atenção em sua difusão é a crença que se produz naquilo que, em alguns momentos, é da ordem do absurdo. Mais ainda: as fake news também são fomentadoras de ódio e é nesta vertente que pretendemos discutir esta máquina produtora de falsas notícias.

A distinção entre fake news e a verdade-mentirosa no contexto da clínica psicanalítica se esclarece no próprio significante fake. Na lógica da psicanálise não se trata de verdadeiro ou falso, mas sim que, da mentira, alguma verdade sobre a posição do sujeito diante do desejo do Outro se constrói. Nas fake news não se trata de uma verdade produzida pelo sujeito, mas de outro uso da linguagem. Seus efeitos são ouvidos e vistos nas ameaças aos sistemas democráticos, pois o pânico produzido pelas falsas notícias que abrem um horizonte de descrença total (não se tem em que confiar), alimenta a paranoia do eu e contribui para fomentar o ódio nas redes sociais: “Resumindo: a ética da provocação e do insulto” (Guimarães, 2019Guimarães, M. R. (2019). Ethos trolling, fake news e capitalismo. Curinga, 47, 76-81., p. 77).

As fake news, em sua maioria, apontam para um modo de gozar: mentiras que se dizem verdades que apontam para o mal que há no Outro, o gozo que não deixa de estar em mim. Nossa época é atravessada pela diversidade de gênero demonstrando que homem e mulher são apenas significantes. Essa diversidade, que a cada dia aumenta, revela que a linguagem não dá conta do gozo sexual, o que se transforma numa ameaça. As fake news difundem, assim, essa ameaça pulsional que há em cada um de nós. O que elas tentam propagar é a falsa ideia de uma ordem que precisa ser restabelecida.

As fake news seriam uma máquina produtora de sentido diante do encontro com o real. Mas Lacan nos ensina que o sistema da linguagem não necessita de sentido, mas nós como “seres de fragilidade, nós temos necessidade de sentido” (Lacan, 1969-70/2008bLacan, J. (2008b). O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1969-70)., p. 14) para lidarmos com o retorno de um desamparo estrutural, causado pela emergência do real. O paradoxo das fake news é que, à medida que engendram o retorno de um sentimento de desamparo, um não podemos “crer em nada”, também constroem como saída o restabelecimento da ordem tradicional na imposição de normas totalitárias e autoritárias. Restabelecimento este que se dá pela crença numa verdade supostamente estabelecida, natural, inata, como, por exemplo, a identidade sexual, a família tradicional, ou uma verdade divina incorporada nas palavras de Deus, como temos visto no triunfal retorno da religião.

A queda do patriarcado fez com que o gozo não-todo tomasse a dianteira. Um gozo sem sentido, que não cessa de não se escrever, que faz do mestre furado e levanta a questão: em que acreditar? Não devemos confundir o declínio do patriarcado, ou seja, o declínio do falocentrismo, com a função do Nome-do-pai, metáfora paterna que estruturalmente estabelece a lei simbólica para cada um como forma de lidar com o desamparo fundamental. Tal lei não é engendrada pela figura do pai, embora este tenha sido no patriarcado seu semblante, mas por uma impossibilidade de gozar devida ao que a função paterna aponta com o interdito, ou seja, que não se pode dizer tudo sobre o gozo porque a castração é própria à linguagem.

Na medida em que há uma descrença total, na qual a fé se faz ausente, as ofertas de crença são a salvação para um ser destituído de todo o saber. Desamparado pelo enigma da existência — O que eu sou? O que o Outro quer de mim? — qualquer identidade ou sentido disponível vira uma roupagem possível, uma resposta confortável diante do deserto do real.

Porém, cabe aqui questionarmos se a difusão de notícias falsas é uma resposta. É interessante observar que Dunker (2017)Dunker, C. (2017). Subjetividade em tempos de pós-verdade. In Christian Dunker (Org.). Ética e pós-verdade (pp. 9-41). Porto Alegre, RS: Dubinense. localiza o nascimento da pós-verdade logo após o atentado às Torres Gêmeas. Mesmo que “seu batismo só viesse à tona em 2016” (p. 17), a partir do atentado foram difundidas diversas notícias falsas e, segundo o autor, “o relativismo cultural da verdade foi subitamente invertido pelo real da guerra” (p. 17). Podemos, assim, ver que os atentados tiveram efeitos de produção de notícias falsas sobre a própria credibilidade do atentado. O que vale ressaltar aqui, usando a leitura psicanalítica, é que diante do real há a necessidade de alguma construção do sentido. A máquina incessante das fake news é, portanto, uma consequência, porque seria, então, uma busca infindável por um sentido.

Há aí um furo no sentido, um despedaçamento do registro imaginário, pela invasão do real e, pelos recursos significantes, há uma tentativa de reordenamento simbólico. Ou seja, uma resposta simbólica diante do real do trauma. Na atualidade percebemos que o enfraquecimento simbólico faz com que a reordenação significante seja uma colagem sem espaço para o sujeito reordenar sua crença, mesmo sendo ela absurda. Ao contrário, ele recebe o que lhe chega sem questionar. Isso corrobora o que Miller propõe em O Outro que não existe e seus comitês de ética (2013)Miller, J-A. (2013). O Outro que não existe e seus comitês de ética. Buenos Aires, AR: Paidós. ao comentar que o sujeito se representa pela categoria dos semblantes não mais como articulador do simbólico e do imaginário, mas por uma crença total no semblante. Com a prevalência do registro imaginário, há maior investimento no eu que, além de transmitir uma falsa unidade, também inflaciona a ideia da perseguição.

Em O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise (1969-70/2008bLacan, J. (2008b). O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1969-70).), no qual as ideias de verdade e saber são bastante desenvolvidas, Lacan diz que somente na política sempre se encontra a utilização “da ideia de que o saber possa constituir uma totalidade” (Lacan, 1969-70/2008bLacan, J. (2008b). O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1969-70).. p. 31). Ele chama de “a ideia imaginária do todo” (Ibid.) e comenta que o recurso político para sustentar essa ideia seria a burocracia. Ao mesmo tempo nos ensina que devemos lutar contra essa combinação entre a imagem total e a ideia de satisfação. Para Lacan, essa combinação é um obstáculo ao trabalho dos psicanalistas.

A ideia imaginária do todo e seus desdobramentos

No campo político, com a prática econômica neoliberal, talvez tenhamos que recorrer, para sustentar a “ideia imaginária do todo”, ao casamento, histórico, aliás, da religião com o Estado. Seria esse o trinfo da religião prevista por Lacan? Se a religião vai triunfar, ainda é uma questão, porém o que podemos perceber, e nisso talvez seria interessante incluir também a ciência, é a construção de uma normativa através do excesso do sentido. Como se existisse uma verdade absoluta e, assim, o simbólico pudesse cobrir todo o real.

Em relação à ciência do homem, como apontou Lacan, já existia um serviço prestado pelo campo psi à tecnocracia ao tentar encarnar o sujeito: medi-lo, calculá-lo e capturá-lo em sua essência. Presenciamos claramente essa prestação de serviço na atualidade quando a psicologia diz poder “traçar o perfil” e compreender o homem em seus atos sem se prestar a escutá-lo. A patologização da sociedade pela psicologia e pela psiquiatria, outro importante casamento de disciplinas, possibilitou a invenção de numerosos catálogos de descrições nosológicas. Em O lugar da psicanálise na medicina (1966/2001)Lacan, J. (2001). O lugar da psicanálise na medicina. Opção Lacaniana, Revista Brasileira Internacional. 32, 8-14. (Trabalho original publicado em 1966)., Lacan aponta o desaparecimento da clínica psiquiátrica que, no decorrer de sua história, ao abandonar a escuta, visava a um saber sobre a loucura para se filiar aos moldes de uma ciência capitalista.

Porém, o imperativo de “todos iguais” é vacilante, pois há um real que insiste, que marca a diferença, isto é, o gozo de cada um. Isso que não se mede e acontece sem que se saiba o que é. Real que só tocamos através de uma verdade-mentirosa, aquela da qual a técnica da psicanálise faz falar, e que não é fake. É uma verdade que fala, que vai em direção ao real, que toca o real, que aparece durante o processo enquanto falamos. Como diz Iannini (2013)Iannini, G. (2013). Estilo e verdade em Jacques Lacan. Belo Horizonte, MG. Autêntica.: “a verdade não se confunde com a exatidão, nem é uma propriedade de enunciados pretensiosamente objetivos, antes de tudo, porque ela é, em Hegel como em Lacan, processo” (p. 71). Assim, não há exatidão quando damos voz à verdade pois, como disse Lacan, “Eu, a verdade, falo” (Lacan, 1955/1998bLacan, J. (1998b). A coisa freudiana ou Sentido do retorno a Freud em psicanálise. In Escritos. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Original publicado em 1955).. p. 410). A verdade, então, seria o efeito do processo que opera através da linguagem na experiência psicanalítica.

No caminho oposto ao da experiência analítica, que tem como orientação o real, as fake news apresentam-se como produção de sentido, ilusão da representação do significante pelo significado. As “bagatelas insignificantes”, o texto carregado de sentido, seriam respostas imediatistas ao real sem lei que invade, impossível de se dizer. A produção de sentido, carregar um texto de sentido, afasta-nos ainda mais do que propôs Lacan em relação à descoberta freudiana ao apontar que, em busca de uma imagem total danificada pela invasão do real, podemos dizer que nós, seres de fragilidade, não temos necessidade da exatidão da verdade, “nós temos necessidade de sentido” (Lacan, 1969-70/2008bLacan, J. (2008b). O seminário. Livro 17. O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1969-70)., p. 14).

Agradecimentos:

À FAPERJ pelo apoio à pesquisa que se realiza no Programa de Pós-graduação em Psicanálise da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob a orientação da profa. dra. Heloisa Caldas.

Referências

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Editado por

Editora/Editor: Profa. Dra. Sonia Leite

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Out 2021
  • Data do Fascículo
    Set 2021

Histórico

  • Recebido
    29 Abr 2020
  • Revisado
    14 Set 2020
  • Aceito
    23 Dez 2020
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