RESUMO
A argamassa estabilizada surge no mercado da construção como uma alternativa industrializada para o aumento da produtividade. Contudo, seu desempenho é dependente de aditivos, o que torna pertinente a avaliação do comportamento de adições transpostas da tecnologia do concreto. Nesse contexto, a influência de aditivos cristalizantes, amplamente utilizados para impermeabilização de concretos ainda é incipiente, representando uma lacuna técnica sobre seu real impacto nas propriedades da argamassa. Neste cenário, o presente trabalho investiga a influência da incorporação de dois tipos de aditivos cristalizantes (Tipo 1 e Tipo 2) nas propriedades de argamassas estabilizadas produzidas em usinas. Para tanto, foram avaliados os efeitos dos aditivos em três dosagens (0,35%, 0,70% e 1,00%) em relação à massa de cimento. Foram ensaiadas sete amostras, sendo uma de referência e seis com as adições, submetidas a ensaios no estado fresco (consistência, teor de ar) e endurecido (aderência, compressão e flexão). Os resultados indicam que, embora os aditivos cristalizantes melhorem a manutenção da trabalhabilidade ao longo do tempo de uso, seu impacto no estado endurecido é crítico. Verificou-se que determinadas dosagens não atingiram o requisito mínimo de resistência de aderência à tração, demonstrando que a adição destes componentes pode comprometer o desempenho mecânico da argamassa.
Palavras-chave:
Argamassa Estabilizada; Propriedades; Adição; Cristalização; Permeabilidade
ABSTRACT
Stabilized mortar has emerged in the construction market as an industrialized alternative for increasing productivity. However, its performance is dependent on additives, making it relevant to assess the behavior of admixtures adapted from concrete technology. In this context, the influence of crystallizing additives—widely used for waterproofing concrete—is still incipient, representing a technical gap regarding their actual impact on mortar properties. In this scenario, this study investigates the influence of incorporating two types of crystallizing additives (Type 1 and Type 2) on the properties of stabilized mortars produced in plants. For this purpose, the effects of the additives were evaluated at three dosages (0.35%, 0.70%, and 1.00%) relative to the cement mass. Seven samples were tested: one reference and six with the admixtures, subjected to tests in the fresh state (consistency, air content) and hardened state (bond strength, compression, and flexural strength). The results indicate that although the crystallizing additives improve workability retention over the period of use, their impact in the hardened state is critical. It was found that certain dosages did not meet the minimum requirement for tensile bond strength, demonstrating that the addition of these components can compromise the mechanical performance of the mortar.
Keywords:
Stabilized Mortar; Properties; Additive; Crystallization; Permeability
1. INTRODUÇÃO
A construção civil tem passado por um contínuo processo de transformação, impulsionado tanto por avanços tecnológicos quanto pela necessidade de aprimorar a produtividade e a qualidade das obras. Uma das principais mudanças foi a crescente industrialização dos materiais de construção, como a argamassa, que tradicionalmente era preparada manualmente em obra. Nesse contexto, surgiram as argamassas industrializadas, inicialmente na década de 1950 com a versão ensacada, que exigia apenas a adição de água antes do uso. Já na década de 1990, o mercado brasileiro passou a adotar a argamassa estabilizada, produto que chega pronto à obra, com estabilidade garantida por até 72 horas, representando um avanço importante na racionalização dos processos construtivos [1].
Conforme apresentado por [2, 3] a expansão do uso da argamassa estabilizada e industrializada exigiu maior controle sobre sua produção, desempenho e durabilidade, especialmente devido ao seu tempo de utilização prolongado. Com isso, tornou-se necessário não apenas desenvolver novas adições e aditivos que garantissem a manutenção das propriedades no tempo de uso, mas também revisar os critérios normativos que orientam sua aplicação. A revisão da norma ABNT NBR 13281, publicada em 2023, ampliou o escopo e passou a se chamar “Argamassas inorgânicas – requisitos e métodos de ensaio”, estabelecendo requisitos específicos para argamassas industrializadas e estabilizadas, com destaque para a avaliação do estado fresco e endurecido.
No estudo realizado por [4] entre as soluções tecnológicas que vêm sendo estudadas para potencializar o desempenho das argamassas, destacam-se os aditivos cristalizantes. Amplamente utilizados em concretos para impermeabilização e redução da porosidade, esses aditivos reagem com os compostos da hidratação do cimento formando estruturas cristalinas que obstruem os vazios capilares. A aplicação em argamassas, contudo, ainda é incipiente, especialmente quanto ao impacto sobre a estabilidade do material, a manutenção da trabalhabilidade, a retenção de água e as propriedades mecânicas ao longo do tempo.
Considerando que os traços de argamassa utilizam os mesmos aglomerantes do concreto (cimento Portland), mas sem a presença de agregados graúdos e com finalidades distintas [2], torna-se pertinente avaliar como os aditivos cristalizantes interferem nesse sistema menos complexo e com diferentes exigências de desempenho. Essa lacuna é ainda mais relevante diante do fato de que a norma atual não especifica o comportamento esperado para argamassas estabilizadas com aditivos do tipo cristalizante, sendo fundamental que estudos acadêmicos contribuam para consolidar práticas e parâmetros técnicos.
A argamassa estabilizada tem se consolidado como uma alternativa eficiente frente às argamassas produzidas in loco e às industrializadas convencionais, especialmente pela praticidade de sua aplicação e controle de qualidade em ambiente fabril. Contudo, sua estabilidade ao longo do tempo de uso ainda representa um desafio técnico. Segundo [5], para manter a trabalhabilidade da argamassa estabilizada por até 36 ou 72 horas, torna-se indispensável o uso de aditivos, como incorporadores de ar e estabilizadores de hidratação. A pesquisa demonstrou que tais aditivos, embora eficazes na preservação das propriedades reológicas no estado fresco, podem resultar em redução do desempenho mecânico no estado endurecido. Isso ressalta a importância de um controle tecnológico rigoroso na compatibilização e dosagem dos aditivos, visando garantir desempenho e durabilidade adequados da argamassa.
Os autores [6] reforçam esse entendimento ao avaliarem o comportamento da argamassa estabilizada ao longo de períodos de 0 h, 24 h e 36 h. Os autores observaram que, apesar de manter a trabalhabilidade por até 36 horas, o material não conserva plenamente suas propriedades iniciais durante todo o período. Os ensaios no estado fresco e endurecido, associados à análise morfológica, revelaram a necessidade de ajustes na formulação para assegurar a estabilidade das características desejadas ao longo do tempo de uso.
No contexto da durabilidade e resistência à umidade, [4] investigaram a aplicação de aditivos impermeabilizantes cristalizantes em argamassas estabilizadas com tempos de uso de 36 e 72 horas. O estudo demonstrou que a presença de cristalizantes, sobretudo na forma líquida, resultou em menor absorção de água e incremento na resistência mecânica, destacando-se como uma solução eficaz frente à penetração de umidade, uma das principais causas de manifestações patológicas em sistemas de revestimento.
Complementando esse panorama, [7] analisaram os efeitos de adições químicas e minerais – como superplastificantes, modificadores de viscosidade, pó de calcário e cinzas volantes – sobre argamassas autoadensáveis, considerando diferentes relações água/cimento (a/c). O estudo evidenciou que a relação a/c é um parâmetro crítico para garantir a estabilidade da mistura. A utilização de modificadores de viscosidade demonstrou ser eficaz na mitigação de segregação e exsudação, enquanto as adições minerais contribuíram para a melhoria da fluidez sem comprometer a coesão.
Dessa forma, os estudos revisados apontam para a complexidade da estabilização de argamassas e a necessidade de estudos complementares que explorem a influência de aditivos específicos – como os cristalizantes – sobre as propriedades do material ao longo do tempo, especialmente em condições reais de produção em usinas.
Neste cenário, o presente estudo tem como objetivo principal investigar a influência da incorporação de dois tipos de aditivos cristalizantes nas propriedades de argamassas estabilizadas produzidas em usinas. Serão analisadas amostras com diferentes dosagens desses aditivos, comparando-se os resultados com um traço de referência sem a adição, a fim de verificar a conformidade com os critérios estabelecidos pelas normativas [8, 9].
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste estudo, a argamassa foi formulada com cimento CP II-F-40 [10], areia média, água de rede e aditivos incorporadores de ar e estabilizadores, além de adições cristalizantes. A proposta visa avaliar o impacto dos cristalizantes nas propriedades da argamassa, conforme o fluxo metodológico da Figura 1.
Na Tabela 1 é apresentada as características do cimento CP II F 40 da empresa Supremo Cimentos.
Conforme apresentado na Figura 2, para a produção das argamassas, foram utilizadas areias com granulometria mais uniforme, concentradas entre as peneiras de 0,3 mm e 0,15 mm, com módulo de finura abaixo da zona ótima. Essa escolha visa favorecer a estabilidade da mistura, conforme apontado pelo autor [11].
As características dos aditivos incorporadores de ar e estabilizador são apresentadas na Tabela 2, e as características dos dois aditivos cristalizantes são apresentadas na Tabela 3.
2.1. Dimensionamento de traço
Foram estudados sete traços distintos de argamassa estabilizada, sendo um traço referência, sem adição de aditivos, e os demais com diferentes dosagens de dois tipos de aditivos cristalizantes. Esses aditivos atuam sobre o cimento em contato com água sob pressão, promovendo a cristalização interna da matriz. De acordo com as recomendações dos fabricantes, o aditivo Tipo 1 requer dosagem de 1,00% sobre a massa de cimento para atingir a performance esperada, enquanto o Tipo 2 exige 0,80%. O objetivo foi avaliar o desempenho comparativo entre esses traços e o de referência em diferentes condições. O dimensionamento inicial considerou o teor de ar incorporado conforme a normativa [5], com faixa normativa de 18% a 22%. Para garantir estabilidade volumétrica, adotou-se inicialmente 16% de ar incorporado, o que resultou em um volume útil de componentes igual a 840 litros (0,84 m3).
Outro parâmetro fundamental foi a relação água/cimento (a/c), fixada em 1,01 com base em experiências de campo que apontam menor risco de retração. A água dimensionada para o traço foi de 249 litros, garantindo uma consistência entre 260 mm e 300 mm [8], o que resultou em um consumo de cimento de 245 kg. Para completar o volume do traço, a quantidade de areia foi calculada para atingir os 840 litros finais. O aditivo incorporador de ar foi inicialmente dosado em 0,45% da massa de cimento, com possibilidade de ajuste para manter o teor de ar dentro da faixa recomendada, aceitando-se uma variação de ±1%, enquanto o aditivo estabilizador foi dosado em 1,70% da massa de cimento, o fluxo para o cálculo do traço é representado na Figura 3.
2.2. Estado fresco
Com o objetivo de caracterizar o comportamento da argamassa estabilizada no estado fresco, foram realizados cinco ensaios principais, abrangendo propriedades fundamentais que impactam diretamente na aplicação, desempenho e durabilidade do material. Quatro desses ensaios seguem diretrizes normativas da ABNT e um adicional foi incluído para fins de complementação da análise técnica. As avaliações permitem investigar aspectos como trabalhabilidade, retenção de água, densidade, porosidade e estabilidade das misturas ao longo do tempo de uso.
O ensaio da mesa de consistência foi realizado conforme a norma [12]. Embora essa norma não seja especificamente destinada à argamassa estabilizada, sua aplicação permite avaliar a abertura e a fluidez da mistura sob ação de impactos controlados. O ensaio foi realizado no estado inicial da argamassa e repetido após 36 horas de estabilização, com o objetivo de verificar possíveis variações de consistência decorrentes da ação dos aditivos cristalizantes.
O ensaio de retenção de água, conduzido conforme a normativa [13], que avalia a capacidade da argamassa em manter água em sua estrutura durante a aplicação, prevenindo a desidratação precoce. Esse parâmetro é fundamental para garantir aderência e trabalhabilidade e pode ser influenciado pela presença dos aditivos cristalizantes, em razão de sua atuação sobre a porosidade da mistura.
A densidade de massa no estado fresco executado conforme diretrizes da normativa [14]. Esse parâmetro fornece informações sobre a compacidade da mistura, refletindo homogeneidade, ar incorporado e rendimento volumétrico, sendo também essencial para o cálculo subsequente do teor de ar incorporado.
Em sequência, foi avaliado o teor de ar incorporado, através de cálculos baseados nas densidades real e teórica da argamassa, conforme cálculo embasado na norma [14]. O método empregado permite estimar a quantidade de vazios de ar existentes na massa fresca, sendo um fator crítico na durabilidade e resistência do produto após endurecimento. O ar incorporado pode ser introduzido intencionalmente através de aditivos, com a finalidade de melhorar a trabalhabilidade, porém o excesso pode comprometer as propriedades mecânicas [15]. A equação utilizada considera a massa dos componentes secos, da água adicionada e as massas específicas fornecidas pelos fabricantes, permitindo determinar a densidade teórica da argamassa sem vazios, e assim calcular a porcentagem de ar presente.
A verificação do tempo de uso da argamassa, importante para validar a viabilidade prática do material produzido com aditivos estabilizantes e cristalizantes. O tempo de uso é definido como o intervalo no qual a argamassa mantém propriedades adequadas de aplicação sem perda significativa de desempenho. No presente estudo, foram repetidos os ensaios de mesa de consistência e teor de ar após 36 horas de preparo, período considerado no estudo. Durante esse intervalo, os materiais foram armazenados em baldes com tampa, evitando a evaporação da água para o meio externo. A repetição dos ensaios permite observar eventuais alterações de desempenho ao longo do tempo, sendo possível quantificar perdas de consistência ou aumento no teor de ar incorporado, fatores que indicam degradação da mistura fresca.
2.3. Estado endurecido
A avaliação da argamassa no estado endurecido é fundamental para assegurar a sua adequação às exigências técnicas da construção civil. Nesse contexto, foram realizados ensaios conforme diretrizes da normativa [8, 9], que estabelece parâmetros normativos para a análise de desempenho da argamassa após o processo de cura. Os resultados obtidos fornecem informações sobre aderência, resistência mecânica, densidade e propriedades microestruturais, elementos essenciais para a aplicação segura e eficiente do material.
A resistência potencial de aderência à tração ao substrato padrão, foi executado com base nas normativas [16]. Esse ensaio fornece informações sobre a capacidade da argamassa aderir ao substrato, sendo os resultados obtidos representativos do desempenho do material em condições controladas de aplicação e cura.
Na sequência, foi determinada a densidade de massa no estado endurecido, conforme normativas [17, 18]. Esse parâmetro fornece informações sobre a compacidade e uniformidade da argamassa após a cura, sendo os valores obtidos representativos do comportamento volumétrico do material.
Com os mesmos prismas, foi realizado o ensaio de módulo de elasticidade dinâmico, segundo a normativa [19]. Através do método de ultrassom, mediu-se o tempo de propagação da onda sônica entre os extremos dos prismas. A velocidade foi calculada e, com o valor da densidade e o coeficiente de Poisson (μ = 0,2), obteve-se o módulo de elasticidade dinâmico. Foram feitas três medições por prisma, totalizando nove medições por lote, adotando-se o maior valor encontrado como representativo do lote.
A resistência à tração na flexão foi determinada conforme normativa [17], utilizando os mesmos prismas moldados para os ensaios anteriores. A resistência foi calculada, considerando a carga máxima e o vão entre apoios. O valor médio das três amostras foi considerado o resultado do ensaio.
Seguindo a normativa [17] as metades dos prismas rompidos à flexão foram utilizadas para o ensaio de resistência à compressão, com base na área de contato de 40 × 40 mm. As amostras foram submetidas a compressão em prensa com velocidade de (500 ± 50) N/s. A resistência foi calculada, adotando-se a média das seis metades rompidas como valor representativo.
Complementando a caracterização mecânica, foram realizadas análises microestruturais das argamassas. A análise mineralógica, por difração de raios X (DRX), foi conduzida com o equipamento E4 ENDEAVOR da marca Bruker (Figura 4). As amostras, previamente moídas e prensadas em pastilhas homogêneas pelo equipamento Centaurus (FLSmidth), foram submetidas à leitura, sendo os dados processados por software específico para identificação das fases cristalinas presentes.
Por fim, a análise química, por fluorescência de raios X (FRX), foi executada com o equipamento S8 TIGER marca Bruker (Figura 4b), utilizando as mesmas pastilhas preparadas para o DRX. O ensaio permitiu determinar os óxidos constituintes e a composição química global da argamassa, essencial para avaliar a presença de adições minerais, traços de contaminantes e possíveis reações deletérias.
3. RESULTADOS
O primeiro resultado, é referente ao dimensionamento dos traços, sendo realizado o ensaio com o traço padrão, seguindo a classificação estabelecida pela norma vigente [8, 9]. A Tabela 4 apresenta o traço referência, enquanto a Tabela 5 as variações de aditivos cristalizantes.
Este estudo avaliou o desempenho de argamassas estabilizadas com diferentes tipos e quantidade de aditivos cristalizantes ao longo de 36 horas. Os ensaios realizados no estado fresco incluíram teor de ar incorporado, densidade, mesa de consistência, retenção de água e tempo de uso, com bases normativas [8, 9].
O teor de ar incorporado inicial foi ajustado para 23,0 ± 0,5%, valor compatível com os adotados por [4, 20]. A adição do incorporador foi realizada conforme a necessidade, visando atingir esse parâmetro. O teor final foi considerado em, no mínimo, 16%, conforme o dimensionamento do traço. Todos os traços mantiveram valores superiores a 18% após 36 horas, estando em conformidade para uso como argamassa de vedação e fixação. O aditivo Tipo 1 exigiu menor dose de incorporador, mas apresentou maior perda de ar ao longo do tempo. Já o Tipo 2 teve maior estabilidade, com perdas inferiores a 2,0%, na Tabela 6 são apresentados os resultados da análise de ar incorporado nas amostras.
A densidade no estado fresco permaneceu estável em todas as amostras, classificadas como DF2 (1600–1800 kg/m3) durante todo o período, conforme apresentado na Figura 5, resultado semelhante ao encontrado pelo autor [4]. A trabalhabilidade, avaliada pela mesa de consistência (Figura 6) também indicou melhor desempenho com o aditivo Tipo 2, especialmente na dosagem de 1,0%, que apresentou menor perda de abatimento em 36 horas.
Quanto à retenção de água, todos os traços superaram o valor mínimo de 80%. As amostras com maiores teores (acima de 90%) foram classificadas como U3, conforme normativa [8], e quando o resultado esteve entre (80–90) % sendo classificada como U2, sendo a normativa [8], os resultados são apresentados na Tabela 7, destacando-se o traço referência e o aditivo Tipo 1 em baixa dosagem. Por fim, todas as argamassas mantiveram suas características funcionais após 36 horas, sendo consideradas conformes quanto ao tempo de uso e ao desempenho no estado fresco.
Este estudo avaliou argamassas com aditivos cristalizantes, focando em propriedades mecânicas e composição mineralógica. Foram analisadas a aderência à tração, densidade, módulo de elasticidade, resistência à compressão e flexão, além de ensaios de DRX e FRX.
A resistência potencial de aderência à tração (28 dias) mostrou que apenas os traços com 0,70% do Tipo 1 e 0,35% e 0,70% do Tipo 2 não atingiram o mínimo de 0,20 MPa, conforme mínimo descrito na normativa [2] sendo atribuída essa deficiência à maior incorporação de ar, conforme resultados apresentados na Tabela 8.
Conforme apresentado, os traços com aditivo Tipo 2 tiveram menor desempenho na aderência ao substrato, possivelmente devido à interferência do aditivo na zona de transição ou à distribuição do ar incorporado, e não à sua quantidade total [5]. Apesar do maior teor de ar, não foram observadas bolhas visíveis, e as densidades se mantiveram próximas.
A densidade no estado endurecido variou entre DE2 e DE3, com o Tipo 1 mostrando menor perda de ar e maior densidade, os resultados são apresentados na Tabela 9.
O módulo de elasticidade dinâmico foi determinado com base no maior valor obtido entre três corpos de prova, conforme os critérios de classificação da [8]. Esse parâmetro é essencial para definir a aplicabilidade da argamassa, especialmente em revestimentos e emboços sujeitos a variações de carga ou altura.
Os resultados indicaram que a amostra de referência (sem aditivo) foi classificada como E4, possibilitando sua aplicação tanto como argamassa inorgânica para revestimento (ARV-I, II, III), diferenciadas pela altura de aplicação: ARV-I até 10 m, ARV-II até 60 m e ARV-III acima de 60 m em relação ao nível da rua, quanto como argamassa de emboço técnico (AET). Para os aditivos cristalizantes, observou-se que a dosagem de 0,35% dos tipos 1 e 2 manteve desempenho similar à referência.
No entanto, dosagens superiores modificaram o comportamento das argamassas: com 0,70% e 1,00% do aditivo Tipo 1, houve elevação no módulo de elasticidade, com classificações E3 e E2, respectivamente, o que restringe sua aplicação a revestimentos até, no máximo, 60 metros de altura para a dosagem mais elevada. Já para o aditivo Tipo 2, as dosagens de 0,70% e 1,00% mantiveram-se na classe E3, permitindo aplicação em revestimentos em alturas superiores a 60 metros, sendo os resultados apresentado na Tabela 10.
O ensaio de resistência à tração na flexão foi conduzido de acordo com a normativa [17], sendo os resultados apresentados na Tabela 11. Verificou-se que as amostras contendo 0,35% e 0,70% do aditivo cristalizante Tipo 2 foram classificadas como R1, limite correspondente a resistências de até 0,5 MPa. As demais formulações, por sua vez, enquadraram-se na classe R2, caracterizada por valores na faixa de 0,5 a 1,5 MPa. Esses resultados indicam que, em dosagens reduzidas, o aditivo Tipo 2 não promoveu ganhos significativos em relação à amostra de referência, enquanto concentrações superiores possibilitaram desempenho compatível com requisitos mais elevados de resistência.
O ensaio de resistência à compressão foi incluído na pesquisa por ser adotado como critério de classificação pela norma [9], norma voltada às argamassas de assentamento e fixação. Embora não seja exigido pela norma [8], aplicável a argamassas de revestimento, os resultados foram analisados considerando também a exigência de resistência mínima à aderência à tração de 0,20 MPa, conforme previsto na referida norma, sendo os dados consolidados na Tabela 12.
Nenhuma das argamassas avaliadas atingiu a resistência mínima de 5,0 MPa exigida para classificação como AAE (argamassa estrutural), sendo enquadradas como AAV (argamassa para assentamento sem função estrutural – 2,0–5,0 MPa) ou AAF (argamassa para fixação horizontal de alvenaria – 1,5–5,0 MPa), conforme os critérios de aderência e resistência à compressão. As amostras com aditivo Tipo 1 apresentaram maior resistência, associada à menor incorporação de ar, comportamento também relatado no trabalho [4]. Por outro lado, conforme observado pelo autor [5], o maior teor de ar nas amostras com aditivo Tipo 2 contribuiu para a redução da resistência à compressão, resultado compatível com o comportamento esperado para esse tipo de aditivo.
Para o ensaio de análise mineralógica – difratômetro de raio x (DRX) foram analisados os aditivos Tipo 1, Tipo 2, embora o Tipo 2 tenha apresentado maior teor de C3S e C2S no DRX, demonstrado na Tabela 13.
A análise por Difração de Raios X (DRX) indicou que o aditivo cristalizante Tipo 1 possui menor teor de Alita (C3S) e Belita (C2S) do que o Tipo 2. Enquanto a C3S contribui para a resistência inicial, a C2S é responsável pelo ganho tardio, sendo sua soma diretamente relacionada à resistência final dos cimentos [21]. Apesar disso, as amostras com o aditivo Tipo 1 apresentaram maior resistência à compressão, contrariando a expectativa baseada apenas na composição química.
Segundo autor [5], a quantidade de ar incorporado tem maior influência sobre a resistência mecânica do que os teores de C3S e C2S. Assim, o desempenho inferior do aditivo Tipo 2 está relacionado à maior porosidade da matriz, causada pelo excesso de ar incorporado. Além disso, o Tipo 1 apresentou maior teor de cal livre, o que pode ter comprometido a estabilidade da argamassa, acelerando reações iniciais e reduzindo a eficácia dos aditivos estabilizadores [11, 22].
A análise por Fluorescência de Raio X (FRX) confirmou diferenças na composição entre os aditivos e justificou os distintos comportamentos em relação à incorporação de ar e às propriedades mecânicas finais das argamassas, e são apresentados nas Tabelas 14 e 15.
A maior concentração de SiO2 no aditivo cristalizante Tipo 2 era esperada, pois esse óxido contribui para a formação da Alita (C3S) e da Belita (C2S), essenciais para a resistência mecânica dos materiais cimentícios [21]. Contudo, apesar das propriedades químicas favoráveis, os aditivos Tipo 1 e Tipo 2 não apresentaram impacto significativo no desempenho mecânico final.
A maior incorporação de ar nas amostras com o aditivo Tipo 2 pode estar relacionada ao seu elevado teor de SO3, que, segundo autor [23], tende a provocar instabilidade na microestrutura. Isso resulta em aumento da porosidade, o que compromete a coesão da matriz e reduz a resistência à compressão. Essa relação entre teor de ar, porosidade e perda de desempenho também é confirmada pelos estudos [11, 22].
4. CONCLUSÕES
Conforme apresentado os aditivos cristalizantes melhoram a trabalhabilidade da argamassa estabilizada ao longo do período de estabilização, possuindo comportamento semelhante aos aditivos estabilizadores.
O aditivo cristalizante Tipo 1 mantém uma menor trabalhabilidade ao longo do tempo, porém melhoram o produto quando comparado ao traço referência, além disso a diminuição de ar incorporado ao longo do período favorece a aplicação como argamassa de assentamento de alvenaria sem função estrutural.
Já o aditivo do Tipo 2, mantém melhor trabalhabilidade durante o período, porém a manutenção de ar incorporado pode não favorecer a aplicabilidade ao longo do período.
Quando analisado os traços nos ensaios de estado fresco, todos são considerados em conformidade, podendo ser utilizado, porém quando analisado no estado endurecido, não foram todas as amostras que obtiveram o resultado mínimo para aprovação do traço.
O principal ensaio que desclassificou alguns traços no estado endurecido foi o de “Resistência potencial de aderência à tração ao substrato padrão”. Nesse ensaio, o traço de referência, além dos traços com 0,35% e 1,00% de aditivo do Tipo 1 e o traço com 1,00% de aditivo do Tipo 2, foram considerados em conformidade.
5. AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade Federal de Itajubá, Supremo Cimentos e Hobimix, pelo apoio na pesquisa.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Dez 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
19 Jul 2025 -
Aceito
20 Out 2025












