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Influência da multimistura na gestação de ratas: pesos materno e fetal e triglicerídeos séricos

Multimixture influence on rats gestation: maternal and fetal weights and serum triglycerides

Resumos

O presente estudo visa determinar a influência da multimistura (MM) sobre o ganho de peso materno e fetal e sobre a hipertrigliceridemia materna no final do período gestacional. Foram utilizadas ratas Wistar (n= 120), divididas em quatro grupos: a) à base da dieta habitual do Estado do Rio de Janeiro (HERJ); b) à base da dieta habitual do Estado do Rio de Janeiro adicionada de 2% de MM (HERJ+MM); c) à base de caseína (CAS1) com 12% de proteína; d) controle caseína (CAS2) com 20% de proteína. Os pesos materno e fetal foram registrados semanalmente nos dias 7, 14 e 21 do experimento. Para a determinação dos triglicerídeos séricos (mg/dL) foram usados Kits BioClin (Química Básica-Quibasa, BH). De acordo com os resultados, a complementação da dieta HERJ com 2% de multimistura não aumentou o ganho de peso materno e fetal e não alterou a hipertrigliceridemia fisiológica. Conclui-se que a utilização da multimistura, na proporção usada durante a gestação, não possui nenhum efeito sobre os parâmetros estudados.

multimistura; dieta; triglicérides; ratos de wistar; alimentos fortificados


The objective of this study was to determine the influence of the multimixture (MM) on maternal and fetal weight gain and on maternal hypertriglyceridemia at the end of gestational period. Female Wistar rats (n = 120) were divided into four groups: a) typical diet of the state of Rio de Janeiro/Brazil (HERJ); b) HERJ diet supplemented with 2% of MM (HERJ+MM); c) casein diet (CAS1) with 12% of protein; d) casein control (CAS2) with 20% of protein. Maternal and fetal weights were weekly registered in the days 7,14 and 21 of the experiment. Serum triglycerides (mg/dL) were determined by kits (BioClin). The results demonstrated that the supplementation of the HERJ diet with 2% of MM did not increase maternal and fetal weight gain and did not alter the hypertriglyceridemia. In conclusion, the multimixture utilization during gestation does not affect these studied parameters.

multimixture; diet; triglycerides; rats; wistar; food; formulated


ORIGINAL | ORIGINAL

Influência da multimistura na gestação de ratas: pesos materno e fetal e triglicerídeos séricos

Multimixture influence on rats gestation: maternal and fetal weights and serum triglycerides

Vilma Blondet de AzeredoI; Marcelle Mattos DiasII; Gilson Teles BoaventuaraI; Maria das Graças Tavares do CaroIII; Núbia Regina FernandesIV

IDepartamento de Nutrição e Dietética, Faculdade de Nutrição, Universidade Federal Fluminense. Rua São Paulo, n.30, 4º andar, Centro, 24015-110, Niterói, RJ, Brasil

IIAcadêmica do Curso de Nutrição, Departamento de Nutrição e Dietética, Faculdade de Nutrição, Universidade Federal Fluminense. Bolsista do PIBIC/CNPq

IIIInstituto de Nutrição Josué de Castro, Universidade Federal do Rio de Janeiro

IVNutricionista, Bolsista de Apoio Técnico, Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Vilma Blondet de Azeredo E-mail: vilmab@provide.psi.b

RESUMO

O presente estudo visa determinar a influência da multimistura (MM) sobre o ganho de peso materno e fetal e sobre a hipertrigliceridemia materna no final do período gestacional. Foram utilizadas ratas Wistar (n= 120), divididas em quatro grupos: a) à base da dieta habitual do Estado do Rio de Janeiro (HERJ); b) à base da dieta habitual do Estado do Rio de Janeiro adicionada de 2% de MM (HERJ+MM); c) à base de caseína (CAS1) com 12% de proteína; d) controle caseína (CAS2) com 20% de proteína. Os pesos materno e fetal foram registrados semanalmente nos dias 7, 14 e 21 do experimento. Para a determinação dos triglicerídeos séricos (mg/dL) foram usados Kits BioClin (Química Básica-Quibasa, BH). De acordo com os resultados, a complementação da dieta HERJ com 2% de multimistura não aumentou o ganho de peso materno e fetal e não alterou a hipertrigliceridemia fisiológica. Conclui-se que a utilização da multimistura, na proporção usada durante a gestação, não possui nenhum efeito sobre os parâmetros estudados.

Termos de indexação: multimistura, dieta, triglicérides, ratos de wistar, alimentos fortificados.

ABSTRACT

The objective of this study was to determine the influence of the multimixture (MM) on maternal and fetal weight gain and on maternal hypertriglyceridemia at the end of gestational period. Female Wistar rats (n = 120) were divided into four groups: a) typical diet of the state of Rio de Janeiro/Brazil (HERJ); b) HERJ diet supplemented with 2% of MM (HERJ+MM); c) casein diet (CAS1) with 12% of protein; d) casein control (CAS2) with 20% of protein. Maternal and fetal weights were weekly registered in the days 7,14 and 21 of the experiment. Serum triglycerides (mg/dL) were determined by kits (BioClin). The results demonstrated that the supplementation of the HERJ diet with 2% of MM did not increase maternal and fetal weight gain and did not alter the hypertriglyceridemia. In conclusion, the multimixture utilization during gestation does not affect these studied parameters.

Index terms: multimixture, diet, triglycerides, rats, wistar, food, formulated.

INTRODUÇÃO

Nos períodos de gestação acontecem várias alterações no organismo materno com o objetivo de garantir o crescimento e desenvolvimento fetal e manter a higidez da gestante. Todas estas modificações levam a maiores demandas nutricionais, havendo a necessidade de um aumento proporcional dos nutrientes da alimentação materna, tanto nos períodos pré como pós-natal (Baker, 1979; Yazlle, 1998).

Outros fatores, tais como preferências alimentares e aspectos socioeconômicos, podem interferir positiva ou negativamente na simples escolha de alimentos e da forma de se alimentar e comprometer a qualidade da dieta ingerida e, conseqüentemente, o estado nutricional (Yazlle, 1998).

Atualmente, já é bem conhecida a influência da dieta materna sobre o processo de gestação. Sabe-se, também, que a deficiência, tanto qualitativa quanto quantitativa, dos nutrientes ingeridos atinge um grande número de pessoas no mundo todo. De acordo com diversos estudos dietéticos, parte da população de baixa renda não apresenta consumo de proteínas em quantidades e qualidade adequadas (Instituto Nacional..., 1996; Malheiros et al., 1997; Instituto Brasileiro..., 1998), predispondo o organismo materno a mobilizar os seus estoques corporais em casos de alta demanda deste nutriente e levando a um balanço negativo.

Alguns profissionais da saúde e de áreas correlatas buscam alternativas alimentares capazes de melhorar o conteúdo de proteínas e de micronutrientes da dieta habitualmente consumida, de forma a melhorar o estado nutricional da população. Nesse sentido, a multimistura vem sendo amplamente utilizada com o objetivo de eliminar os problemas nutricionais em crianças e adultos. A multimistura é baseada no conceito da alimentação alternativa e pode ser definida como o produto obtido através da mistura de farelos de trigo e de arroz (80%), pó de folhas verde-escuras (5%), pó de sementes (5%) e pó de casca de ovo (10%). Brandão (1988) defende que o uso de farelos, pó de folhas, pó de sementes, pó de casca de ovo, em doses mínimas, mas constantemente acrescidas à nossa alimentação tradicional, fornece nutrientes indispensáveis para promover um ótimo crescimento da criança e do feto, aumentar a resistência a infecções, prevenir e curar a anemia nutricional, diminuir diarréias, reduzir doenças respiratórias, manter a saúde e elevar a produção do leite materno.

Entretanto, não existem evidências científicas a respeito dessa afirmação. Alguns argumentos a favor do uso da multimistura baseiam-se no potencial nutricional desses alimentos. Aqueles contrários a essa proposta apontam a falta de comprovação científica (Instituto Nacional..., 1996). E, segundo alguns estudos experimentais, a implementação e utilização dessas alternativas alimentares ainda não mostrou-se eficiente, a ponto de minimizar os diversos problemas nutricionais existentes (Azeredo, 1998; Leite, 1999).

Assim, em decorrência da falta de comprovação científica quanto à recomendação da utilização de farelos e de multimistura, durante a gestação, para aumentar o ganho de peso materno e fetal, foi realizado este estudo, com o objetivo de determinar a contribuição desta alimentação alternativa na performance gestacional de ratas alimentadas com a dieta habitual do Estado do Rio de Janeiro com e sem a adição de multimistura, avaliando a sua capacidade de manter/assegurar o desenvolvimento adequado no decurso da gravidez.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas fêmeas de Rattus norvegicus, variedade albinus, da linhagem Wistar, provenientes do Laboratório de Nutrição Experimental da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal Fluminense, pesando entre 200 e 220 gramas, com idade entre 90 e 100 dias. O experimento foi efetuado no período gestacional (dias 7, 14 e 21). Após realizado o diagnóstico de gestação, os animais foram mantidos em biotério e colocados em gaiolas individuais, sob idênticas condições experimentais, com temperatura constante (em torno de 24º ± 2ºC) e ciclo claro-escuro de 12 em 12 horas. O primeiro dia de gestação foi determinado através da visualização de espermatozóides na secreção vaginal, obtida pela técnica de esfregaço vaginal, e, a partir deste momento, os animais receberam as rações manipuladas e água em livre acesso durante todo o experimento.

As ratas foram distribuídas em quatro grupos (cada grupo composto por 30 animais): a) grupo da dieta habitual do Estado do Rio de Janeiro (HERJ); b) grupo HERJ suplementado com 2% de Multimistura (HERJ+MM); c) grupo Caseína 1 (CAS1), com 12% de proteínas; e d) grupo Caseína 2 (CAS2) controle, com 20% de proteína. Cada grupo foi subdividido em três subgrupos (n= 10), em função do dia de sacrifício (7, 14 e 21).

A introdução do Grupo Herj teve como objetivo permitir diferenciar os efeitos da MM sobre a dieta Herj e a introdução do grupo Caseína 1 deveu-se à necessidade de comparar os efeitos da dieta Herj com o de uma dieta com o mesmo teor protéico, porém com proteínas de alto valor biológico. Já o Grupo Caseína 2 (20% de proteínas) serviu como grupo controle/padrão, visto que atendeu a todas as necessidades nutricionais requeridas neste período reprodutivo, segundo as recomendações do AIN-93 (Reeves et al., 1993).

A dieta HERJ foi baseada no estudo do consumo alimentar realizado pelo Instituto Brasileiro... (1978) e foi similar, em termos de qualidade e quantidade, àquela consumida pela população da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Assim, para a manipulação da ração HERJ foram selecionados os alimentos mais consumidos de cada grupo alimentar, obtendo-se, dessa forma, o percentual de representação de cada alimento baseado na quantidade per capita de 986g (Tabela 1).

Os alimentos foram adquiridos no comércio local e manipulados segundo as técnicas de preparo convencionais para cada um. Posteriormente, foram desidratados (55°C) em estufa com ventilação, triturados e homogeneizados, para obtenção do "pó da dieta HERJ", o qual constituiu a base da ração HERJ.

A concentração de multimistura (MM) adicionada à dieta HERJ foi estimada considerando-se a recomendação de ingestão de 20g por dia ou duas colheres de sopa na refeição (Brandão, 1988). Baseado nesta orientação, foi adicionado o correspondente a 20g de MM ao per capita da dieta HERJ (986g/dia) e assim determinou-se que 20g de MM na alimentação humana correspondem, aproximadamente, a 2% do consumo diário, extrapolando-se, então, este valor para o animal (Azeredo, 1998).

A concentração de proteína da ração CAS1 foi ajustada com base no teor protéico encontrado nas rações HERJ e HERJ+MM, de modo a manter as dietas isoprotéicas. O óleo foi adicionado em um percentual de 9% nas rações à base de caseína e 5% nas rações HERJ e HERJ+MM, garantindo, desta forma, a manutenção do mesmo teor lipídico nas dietas e satisfazendo as necessidades do animal (Reeves et al., 1993) (Tabelas 2 e 3).

As medidas do peso corporal materno e fetal foram efetuadas semanalmente, nos dias 7, 14 e 21 de gestação. Para a pesagem dos fetos foram realizadas cesarianas. O consumo alimentar foi estimado pela pesagem da dieta antes e após a disponibilidade para o animal, através da diferença entre a oferta e a sobra da ração oferecida. Os animais tiveram livre acesso à ração e à água.

Aos 7, 14 e 21 dias de gestação, os animais foram pesados e transferidos para a sala de experimento, onde receberam anestesia com éter etílico para a realização de coleta de sangue por punção cardíaca. O sangue coletado foi colocado em tubos de ensaios e centrifugado a 2000 rpm, durante 10 minutos, para obtenção do soro e análise dos triglicerídeos séricos, a partir da utilização de kits BioClin (Química Básica-Quibasa, BH). Em seguida, os animais foram sacrificados e os tecidos maternos (útero, fígado e tecido adiposo branco) foram retirados, pesados, adequadamente acondicionados e congelados para posteriores análises.

Empregou-se a estatística descritiva para apresentar os resultados como média aritmética ± erro-padrão. O Microsoft Excel foi utilizado para as comparações entre os grupos a partir da análise de variância, ANOVA, para um fator (Walpole & Myers, 1989). Quando a ANOVA, identificava diferença entre os grupos, considerando um nível de significância de 0,05%, comparações pareadas eram realizadas através do teste de Duncam (Vieira & Hoffmann, 1989), para detectar variações entre médias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos dias 7, 14 e 21 não houve diferença significativa (p<0,05) entre os grupos. Contudo, ocorreu uma significativa diminuição no consumo alimentar antes do parto (Tabela 4). Sabe-se que a ingestão dietética materna é de grande importância no período gestacional, tanto para a saúde da mãe quanto para o feto. Assim, durante esta fase a ingestão de alimentos aumenta para favorecer um adequado suprimento de substrato ao feto, através da placenta. A média de consumo alimentar do período de gestação, neste estudo, manifestou-se de acordo com o referenciado por Baker (1979), o qual sugere valores de 19g/dia (aproximadamente 7g/100g de peso corporal). Da mesma forma, os valores de ingestão de proteínas e energia não ficaram distantes das recomendações sugeridas para ratas gestantes. As dietas ofereciam, em média, 4,0kcal por grama de ração por dia ou 72,81kcal/dia, e um valor de proteínas em torno de 2,0g/dia, cabendo ressaltar que, segundo Warner & Breuer (1972), as necessidades diárias de proteína e energia da rata gestante são de 2,3g/dia e 76kcal/dia, respectivamente. Outros pesquisadores, utilizando baixo percentual de proteínas, no período de gestação, relatam um consumo alimentar próximo ao encontrado neste estudo (Zeman, 1967; Anderson et al., 1980).

Observou-se, também, não ter havido diferença significativa no peso corporal total materno (Tabela 4), do início ao fim do período gestacional, nem no ganho de peso materno, entre os grupos estudados. Além disso, na presente pesquisa, o ganho de peso encontrado nos grupos HERJ (85,8g .&plusmn; .1,6), HERJ+MM (91,8 .&plusmn;. 6,8), CAS 1 (83,7 &plusmn; 11,3) e CAS 2 (88,0 &plusmn; 4,5) foi similar ao referenciado por Baker (1979), segundo o qual, com uma dieta adequada, a rata pode ter um ganho de peso de aproximadamente 85g neste período.

Verifica-se (Tabela 5), que não houve diferença no peso do útero (feto) nos dias 7, 14 e 21 de gestação entre os grupos avaliados. O mesmo aconteceu com o peso do fígado e do tecido adiposo branco, havendo um aumento de peso crescente destes tecidos, no período estudado. Estes resultados foram semelhantes aos obtidos por Moura et al. (1991), o qual constatou um aumento significativo do peso do fígado durante a gestação.

Azeredo et al. (2000), em um estudo anterior, observaram que as proteínas da dieta HERJ apresentam valores de digestibilidade protéica compatíveis com os referenciados pela Food... (1991) para alimentos de origem vegetal e de dietas "mistas". Além disso, estes autores não encontraram diferença na Digestibilidade Aparente (DAp) desta dieta entre os períodos de gestação e lactação, mostrando um aproveitamento das proteínas da dieta HERJ na mesma proporção em ambas as fases, mas em quantidade significativamente menor que na dieta à base de Caseína. Na presente pesquisa, a dieta HERJ mostrou-se suficiente para manter adequada elevação do peso gestacional (Tabela 4) e fetal e dos tecidos maternos, inclusive com aumento da reserva energética sob a forma de tecido adiposo (Tabela 5). Em resumo, foi capaz de satisfazer a demanda nutricional no período estudado.

Observou-se que a ração HERJ+MM apresentou resultado similar ao obtido pela HERJ, não proporcionando ganho de peso materno-fetal significativamente maior, como tem sido preconizado pela proposta das alternativas alimentares. Ressalta-se, então, a importância de a população carente ter maior acesso aos alimentos, não só em termos de qualidade, mas também de quantidade, principalmente daqueles considerados boas fontes protéicas (de alto valor biológico).

Observou-se não ter havido diferença significativa entre os níveis de triglicerídios séricos maternos dos grupos estudados, nos dias 7 e 14 (Tabela 6). Porém, no 21&ordm; dia, verifica-se uma grande elevação nos níveis de triglicerídeos (hipertrigliceridemia) em todos os grupos, destacando-se que os grupos HERJ e HERJ+MM apresentaram valores significativamente (p<0,05) mais elevados em relação ao CAS 1 e ao CAS 2.

Os resultados encontrados neste estudo mostram-se coerentes com a literatura, na qual diversos autores enfatizam que a hipertrigliceridemia materna é comum durante a gravidez tanto em mulheres quanto em ratas, e que esta constitui uma reserva de lipídios utilizada pouco antes do parto para captação pelas glândulas mamárias, sendo substrato para a síntese de leite, na preparação da lactação. Assim, a hipertrigliceridemia materna é considerada uma alteração fisiológica normal iniciada na última fase da gestação a partir da qual a rata se prepara para a lactação (Knopp et al., 1973; Knopp et al., 1975; Montes et al., 1978; Argiles & Herrera, 1981; Ramirez et al., 1983; Desoye et al., 1987 Herrera, 1988; Knopp et al., 1992; Montelongo et al., 1992).

A diferença encontrada entre os níveis de triglicerídeos séricos, dos grupos à base da dieta HERJ e à base de Caseína, no 21&ordm; dia de gestação, talvez possa ser explicada pelas diferentes fontes de nutrientes existentes nestas dietas (Tabela 6). Entretanto, maiores estudos deverão ser realizados de modo a esclarecer as possíveis causas desta elevação, significativamente mais acentuada com a utilização da dieta HERJ.

A situação alimentar e nutricional do país não será solucionada apenas com o uso da multimistura, mas sim a partir de outras medidas de ordem social e política as quais venham a ser adotadas. E segundo diferentes autores (Farfan, 1998; Azeredo, 1999), a multimistura não apresenta características tão especiais que justifiquem a sua utilização e recomendação na alimentação humana. Além disso, a quantidade de multimistura recomendada (20g/dia) é insuficiente para aumentar de forma significativa o conteúdo de proteínas, vitaminas e minerais da dieta, como vem sendo defendido (Azeredo, 1999).

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo permitem as seguintes conclusões: 1) a qualidade nutricional da dieta HERJ é boa e capaz de satisfazer as necessidades especiais durante a gestação; 2) a multimistura adicionada a um percentual de 2% não é capaz de aumentar, significativamente, o ganho de peso materno gestacional e fetal; 3) a utilização da multimistura não altera a hipertrigliceridemia materna que ocorre no final da gestação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq/PIBIC e FAPERJ pelo suporte para a realização desta pesquisa.

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Recebido para publicação em 19 de fevereiro e aceito em 20 de setembro de 2001

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  • Endereço para correspondência
    Vilma Blondet de Azeredo
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Abr 2003
    • Data do Fascículo
      Jan 2003

    Histórico

    • Aceito
      20 Set 2001
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