Acessibilidade / Reportar erro

Uso de recursos vegetais em comunidades rurais limítrofes à Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro: estudo de caso na Gleba Aldeia Velha

The use of plant resources in traditional communities close to the Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro: A case study in the Gleba Aldeia Velha

RESUMO

São reunidas informações sobre uso de plantas numa comunidade rural, Gleba Aldeia Velha, nos arredores da Reserva Biológica de Poço das Antas (Silva Jardim, Rio de Janeiro), a partir de entrevistas com 19 moradores selecionados. Foram obtidas 549 citações de uso de 210 espécies, subordinadas a 74 famílias. Asteraceae, Leguminosae, Lamiaceae, Euphorbiaceae, Myrtaceae e Poaceae apresentam maiores riquezas. A categoria medicinal reúne o maior número de espécies utilizadas, as quais, em sua maioria, são cultivadas (71,9%). O índice de Shannon (H') obtido corresponde a 2,20, indicando que a comunidade detém um bom conhecimento sobre o uso de recursos vegetais. A extração seletiva, um dos fatores da redução das populações de espécies típicas às matas de baixada, como o ipê-tamanco (Tabebuia cassinoides) e o pau-pereira (Picramnia ciliata), restringe-se ao passado. O reconhecimento que a comunidade tem da importância da conservação dos remanescentes florestais da região, aliado ao conhecimento tradicional fixado constituem importantes instrumentos na estratégia de ações para uso sustentado destes recursos genéticos salvaguardados nas Unidades de Conservação e valorização das comunidades circunvizinhas.

Palavras chave:
Floresta Atlântica; etnobotânica; plantas medicinais; comunidades rurais; unidades de conservação

ABSTRACT

This paper describes the different uses of the plants found in the rural community, Gleba Aldeia Velha, located in the outskirts of the Poço das Antas Biological Reserve (Silva Jardim County, Rio de Janeiro). Selective interviewing was done with 19 different residents in order to obtain the data here presented. Of these intereviews, 549 different uses were cited of the 210 species, which are subordinate to 74 families. Asteraceae, Leguminosae, Lamiaceae, Euphorbiaceae, Myrtaceae and Poaceae were presented with the most frequency and richness. Medicinal plants, mainly cultivated, unite the majority of the species utilized (71.9%). The Shannon index (H') corresponds to 2.20 and indicates that the community is knowledgeable about the use of plant life. Selective removal, which is a factor in the reduction of native species in the lowland forests, such as ipê-tamanco (Tabebuia cassinoides) and pau-pereira (Picramnia ciliata), no longer exist today. The knowledge that the community has of the remaining forested areas of the region, along with traditional knowledge, constitute important instruments in the making of strategies for the conservation and sustained use of the genetic resources protected by the conservation areas and gives value to the communities nearby in the process.

Key words:
Atlantic Forest; ethnobotany; medicinal plants; rural communities; conservation areas

Texto completo disponível apenas em PDF.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, através do PIBIC/CNPq e ao CNPq pelas facilidades concedidas à realização do presente estudo e pela bolsa concedida ao primeiro autor; aos moradores de GAV pela colaboração e amizade; à PETROBRAS pelo financiamento ao Programa Mata Atlântica do qual este estudo faz parte; à Reserva Biológica de Poço das Antas/IBAMA pelo apoio logístico; à Antônio Tavares de Oliveira e Adilson Pintor, do Programa Mata Atlântica, pelo auxílio nos trabalhos de campo; aos taxonomistas Alexandre Quinet, Ângela S. F. Vaz, Claudine M. Myssen, Elsie Franklin Guimarães, Genise Vieira Somner, Haroldo C. de Lima, Inês Macline da Silva, José Fernando A. Baumgratz, José Marcelo A. Braga, Lana S. Sylvestre, Marcelo da Costa Souza, Maria Verônica P. Leite-Moura, Mássimo G. Bovini e Sebastião José da Silva Neto, pelo auxílio na identificação/confirmação de parte do material botânico; ao médico Willian Salomão Rahy (UFRRJ) pelo auxílio na ordenação das doenças nas categorias propostas pela OMS; ao Prof. Dr. Jarbas M. Queiroz (UFRRJ) pelo auxílio nos métodos estatísticos; ao Prof. Dr. Cláudio Urbano Pinheiro (UFMA), Profa. Dra. Sonia Lagos (Jardín Botánico Nacional, Santo Domingo, República Dominicana) e ao Prof. Dr. Antônio Carlos Diegues (NUPAUB-USP) pelas valiosas críticas e sugestões e à Profa. Meggin Lindgren pelo auxílio na elaboração do abstract.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Albuquerque, U. P. & Andrade, L. H. C. 2002. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta Botanica Brasilica 16(3): 273-285.
  • Alexiades, M. N. & Sheldon, J. W. (eds.) 1996. Selected guidelines for ethnobotanical research: A field manual. The New York Botanical Garden Press. New York. Advances in Economic Botany 10: 1-306.
  • Almeida, C. F. C. B. R. & Albuquerque, U. P. 2002. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): um estudo de caso. Interciencia 27(6): 276-285.
  • Amorozo, M. C. M. 2002. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica 16(2): 189-203.
  • ______ & Gély, A. 1988. Uso de plantas medicinais por caboclos do baixo Amazonas, Barcarena, PA, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Ghoeldi, Nova Série Botânica 4(1): 47-131.
  • Begossi, A. 1996. Use of ecological methods in ethnobotany: Diversity indices. Economic Botany 50(3): 280-289.
  • Bennett, B. C. & Prance, G. T. 2000. Introduced plants in the indigenous pharmacopoeia of Northern South America. Economic Botany 54(1): 90-102.
  • Bernard, R. H. 1989. Research methods in cultural anthropology. SAGE Publications, Inc. London. 520p.
  • Born C. G. 2000. Plantas Medicinais da Mata Atlântica (Vale do Ribeira): extrativismo e sustentabilidade. Tese de Doutorado. Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 289p.
  • Chambers, R. 1992. Rural appraisal: Rapid, relaxed and participatory. Institute Development Studies. London. Discussion Paper 311. 90p.
  • Cotton, C. M. 1998. Ethnobotany: Principles and applications. John Wiley and Sons. Chichester, England, 424p.
  • Cronquist, A. 1988. The evolution and classification of flowering plants. 2ª ed. The New York Botanical Garden, New York, 555p.
  • Diegues, A. C. 2000. O mito moderno da natureza intocada. 3ª ed. Hucitec, NUPAUB, USP, São Paulo, 169p.
  • ______. 2002. Aspectos sociais e culturais do uso dos recursos florestais da Mata Atlântica. In: Simões, L. L. & Lino, C. F. (orgs.). Sustentável Mata Atlântica: a exploração de seus recursos vegetais. Ed. SENAC. São Paulo. Pp. 135-158.
  • ______ & Arruda, R. S. V. (orgs.). 2001. Saberes tradicionais e biodiversidade no Brasil. Ministério do Meio Ambiente, Brasília/USP, São Paulo. Série Biodiversidade 4. 176p.
  • ______ & Viana, V. M. (orgs.). 2000. Comunidades tradicionais e manejo de recursos naturais da Mata Atlântica. Piracicaba, SP. NUPAUB-USP, ESALQ-USP, São Paulo, 273p.
  • EMBRAPA. 2004. A utilização do diagnóstico participativo na avaliação de um projeto de governo: uma análise crítica. Disponível na internet em: <http://gipaf.cnptia.embrapa.br/itens/publ/sober/trab015.pdf>. Consulta: 25 de agosto de 2004.
    » http://gipaf.cnptia.embrapa.br/itens/publ/sober/trab015.pdf
  • Figueiredo, G. M.; Leitão-Filho, H. F. & Begossi, A. 1993. Ethnobotany of Atlantic Forest coastal communities: Diversity of plant uses in Gamboa (Itacuruçá Island, Brazil). Human Ecology 21(4): 419-430.
  • ______. 1997. Ethnobotany of Atlantic Forest coastal communities: II. Diversity of plant uses at Sepetiba Bay (SE Brazil). Human Ecology 25(2): 353-360.
  • Fonseca-Kruel, V. S. & Peixoto, A. L. 2004. Etnobotânica na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica 18(1): 177-190.
  • Fundação SOS Mata Atlântica 2002. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica período 1995-2000. Relatório parcial. Estado do Rio de Janeiro. [on line] Disponível na internet em: <http://www.sosmatatlantica.org.br>. Arquivo capturado em 15 de junho de 2004.
    » http://www.sosmatatlantica.org.br
  • Guedes-Bruni, R. R. 1998. Composição, estrutura e similaridade de dossel em seis unidades fisionômicas de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Tese de Doutorado. Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 231p.
  • Guedes-Bruni, R. R.; Silva Neto, S. J.; Morim, M. P. & Mantovani, W. 2006a. Composição florística e estrutura de trecho de Floresta Ombrófila Densa Atlântica aluvial na Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ. Rodriguésia 57(3): 413-428.
  • ______. 2006b. Composição florística e estrutura de trecho de Floresta Ombrófila Densa Atlântica sobre morrote mamelonar na Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ. Rodriguésia 57(3): 429-442.
  • Hanasaki, N.; Tamashiro, J. Y.; Leitão-Filho, H. F. & Begossi, A. 2000. Diversity of plants uses in two caiçara communities from the Atlantic Forest coast, Brazil. Biodiversity and Conservation 9: 597-615.
  • Heywood, V. H. (ed.). 1995. Global Biodiversity Assessment. Cambridge University Press, Cambridge, 1140p.
  • Höft, M.; Barik, S. K. & Lykke, A. M. 1999. Quantitative ethnobotany. Applications of multivariate and statistical analyses in ethnobotany. People and Plants working paper 6. UNESCO, Paris, 46p.
  • IBAMA. 2003. Unidade: Reserva Biológica de Poço das Antas/RJ. Disponível na internet em: <http://www.ibama.gov.br/>. Consulta: 26/10/2003.
    » http://www.ibama.gov.br/
  • IBGE. 1992. Manual técnico da vegetação brasileira. Ser. Manuais Técnicos em Geociências 1, Rio de Janeiro, 92p.
  • ______. 2004. Censo Demográfico 2000: Resultados do universo nas grandes regiões. População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação. Disponível na internet em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tabelagrandes_regioes211.shtm>. Consulta: 31 de agosto de 2004.
    » http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tabelagrandes_regioes211.shtm
  • INPI. 2004. The International Plant Names Index. On line: <http://www.ipni.org/index.html>. Consulta: junho-julho de 2004.
    » http://www.ipni.org/index.html
  • JBRJ. 2003. Descrição da Reserva Biológica de Poço das Antas. Disponível na internet em: <http://www.jbrj.gov.br/>. Consulta: 22/02/2003.
    » http://www.jbrj.gov.br/
  • Laraia, R. B. 2002. Cultura: um conceito antropológico. 15a ed. Jorge Zahar Editora, Rio de Janeiro, 11p.
  • Larrère, R.; Lepart, J.; Marty, J. & Franck-Dominique, V. 2003. École thematique du CNRS: Biodiversité: quelles interactions entre sciences de la vie et sciences de l'homme et de la société?. Natures Sciences Sociétés 11: 304-314.
  • Lima, H. C.; Pessoa, S. V. A.; Guedes-Bruni, R. R.; Moraes, L. F. D.; Granzotto, S. V.; Iwamoto, S. & Di Ciero, J. 2006. Caracterização fisionômico-florística e mapeamento da vegetação da Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguésia 57(3): 369-389.
  • Lima, R. X.; Silva, S. M.; Kuniyoshi, Y. S. & Silva, L. B. 2000. Etnobiologia de comunidades continentais da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Etnoecológica 4(6): 33-55.
  • Lorenzi, H. & Matos, F. J. A. 2002. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Instituto Plantarum, São Paulo, 512p.
  • Machado, A. 1985. Monografia de Silva Jardim. Silva Jardim, RJ, Arquivos da Prefeitura de Silva Jardim, RJ, 66p.
  • Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Princeton University Press, New Jersey, 192p.
  • Martin, G. J. 1995. Ethnobotany: A method manual. Chapman & Hall, London, 268p.
  • Myers, N; Mittermeier, R. A.; Mittermeier, C. G.; Fonseca, G. B. A.; Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 853-858.
  • Pavan-Fruehauf, S. 2000. Plantas medicinais da Mata Atlântica: manejo sustentado e amostragem. Annablume: FAPESP, São Paulo, 216p.
  • Pinheiro, C. U. 2002. Extrativismo, cultivo e privatização do Jaborandi (Pilocarpus microphyllus Stapf ex Holm.; Rutaceae) no Maranhão, Brasil. Acta Botanica Brasisila 16(2): 141-150.
  • Polhill, R. M.; Raven, P. H. & Stirton, C. H. 1981. Evolution and systematics of the Fabaceae. In: Polhill, R. M. & Raven, P. H. (eds). Advances in Legume Systematics. London. Royal Botanic Gardens, Kew 1: 1-26.
  • Rios, M. 2002. La comunidad Benjamin Constant y las plantas útiles de la "capoeira": un enlace etnobotánico en la Región Bragantina, Pará, Amazonía Brasileña. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos-Estudos Amazônicos, Belém, 539p.
  • Rossato, S.C.; Leitão-Filho, H.F. & Begossi, A. 1999. Ethnobotany of Caiçaras of the Atlantic Forest Coast (Brazil). Economic Botany 53(4): 387-395.
  • Shepherd, G. J. 1995. FITOPAC 1: Manual do usuário. Departamento de Botânica. Unicamp.
  • Silva, J. G. 2002. Velhos e novos mitos do rural brasileiro: implicações para as políticas públicas. In: Castro, A. C. (org.) Desenvolvimento em debate: painéis do desenvolvimento brasileiro II. Mauad: BNDES. Rio de Janeiro. Pp. 411-436.
  • Sneath, P. H. A. & Sokal, R. R. 1973. Numerical taxonomy. The principle and practices of numerical classification. W.H. Freeman & Co., San Francisco, CA, 573p.
  • Trotter, R. & Logan, M. 1986. Informant consensus: A new approach for identifying potentially effective medicinal plants. In: Indigenous Medicine and Diet: Biobehavioural approaches. Redgrave, New York. Pp. 91-112.
  • W3 TROPICOS. 2004. Missouri Botanical Garden VAST (VAScular Tropicos) nomenclatural database and associated authority files. Disponível na internet em: <http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html>. Consulta: junho-julho de 2004.
    » http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html
  • Weller, S. C. & Romney, A. K. 1988. Systematic data collection. SAGE Newbury Park, CA, 95p.
  • Williams, V. L.; Balkwill, K. & Witkowski, E. T. F. 2000. Unraveling the commercial market for medicinal plants and plant parts on the Witwatersrand, South Africa. Economic Botany 54(3): 310-327.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2006

Histórico

  • Recebido
    Fev 2005
  • Aceito
    Jun 2006
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br