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Hysterionica (Asteraceae: Astereae) para o Brasil

Hysterionica (Asteraceae: Astereae) in Brazil

Resumos

Hysterionica Willd. é um gênero de Asteraceae pertencente à tribo Astereae, subtribo Conyzinae e está estreitamente relacionado ao gênero Neja D. Don. O gênero posssui 11 espécies restritas ao sul do Brasil, Uruguai e centro e norte da Argentina. O presente trabalho apresenta um estudo taxonômico de Hysterionica para o Brasil, sendo que foram registradas cinco espécies: H. matzenbacheri A.A.Schneid., H. nebularis Deble, A.S.Oliveira & Marchiori, H. nidorelloides (DC.) Baker, H. pinnatiloba Matzenb. & Sobral e H. pinnatisecta Matzenb. & Sobral. Um novo sinónimo foi adicionado à H. nidorelloides (DC.) Baker: Hysterionica montevidensis Baker. São apresentadas chave de identificação, descrições, comentários taxonômicos, ilustrações, dados sobre floração e frutificação, distribuição geográfica e hábitats de cada táxon e análise do nível de ameaça das espécies segundo critérios da IUCN.

Compositae; diversidade; flora; taxonomia


Hysterionica Willd. is a genus of Asteraceae and belongs to the tribe Asterae, subtribe Conyzinae and it is closely related to genus Neja D. Don. The genus has 11 species restricted to southern Brazil, Uruguay and north and center of Argentina. This work presents a taxonomic study about Hysterionica from Brazil, where five species have been recorded: H. matzenbacheri A.A.Schneid., H. nebularis Deble, A.S. Oliveira & Marchiori, H. nidorelloides (DC.) Baker, H. pinnatiloba Matzenb. & Sobral e H. pinnatisecta Matzenb. & Sobral. One new synonym was added to H. nidorelloides (DC.) Baker: Hysterionica montevidensis Baker. Identification key, descriptions, taxonomic comments, illustrations, data about flowering and fruiting phenology, geographic distribution and habitat of each taxon are presented and analysis of the threat level of the species according IUCN criteria.

Compositae; diversity; flora; taxonomy


ARTIGOS ORIGINAIS

Hysterionica (Asteraceae: Astereae) para o Brasil

Hysterionica (Asteraceae: Astereae) in Brazil

Angelo Alberto Schneider1 1 Autor para correspondência: angeloschneider@yahoo.com.br ; Vanessa Modelski; Ilsi Iob Boldrin

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500, Porto Alegre, RS, 91501-970, Brasil

RESUMO

Hysterionica Willd. é um gênero de Asteraceae pertencente à tribo Astereae, subtribo Conyzinae e está estreitamente relacionado ao gênero Neja D. Don. O gênero posssui 11 espécies restritas ao sul do Brasil, Uruguai e centro e norte da Argentina. O presente trabalho apresenta um estudo taxonômico de Hysterionica para o Brasil, sendo que foram registradas cinco espécies: H. matzenbacheri A.A.Schneid., H. nebularis Deble, A.S.Oliveira & Marchiori, H. nidorelloides (DC.) Baker, H. pinnatiloba Matzenb. & Sobral e H. pinnatisecta Matzenb. & Sobral. Um novo sinónimo foi adicionado à H. nidorelloides (DC.) Baker: Hysterionica montevidensis Baker. São apresentadas chave de identificação, descrições, comentários taxonômicos, ilustrações, dados sobre floração e frutificação, distribuição geográfica e hábitats de cada táxon e análise do nível de ameaça das espécies segundo critérios da IUCN.

Palavras-chave: Compositae, diversidade, flora, taxonomia.

ABSTRACT

Hysterionica Willd. is a genus of Asteraceae and belongs to the tribe Asterae, subtribe Conyzinae and it is closely related to genus Neja D. Don. The genus has 11 species restricted to southern Brazil, Uruguay and north and center of Argentina. This work presents a taxonomic study about Hysterionica from Brazil, where five species have been recorded: H. matzenbacheri A.A.Schneid., H. nebularis Deble, A.S. Oliveira & Marchiori, H. nidorelloides (DC.) Baker, H. pinnatiloba Matzenb. & Sobral e H. pinnatisecta Matzenb. & Sobral. One new synonym was added to H. nidorelloides (DC.) Baker: Hysterionica montevidensis Baker. Identification key, descriptions, taxonomic comments, illustrations, data about flowering and fruiting phenology, geographic distribution and habitat of each taxon are presented and analysis of the threat level of the species according IUCN criteria.

Key words: Compositae, diversity, flora, taxonomy.

Introdução

O gênero Hysterionica pertence à tribo Astereae (Asteraceae), subtribo Conyzinae e foi descrito em 1807 pelo farmacêutico e botânico alemão Carl Ludwig von Willdenow. Conyzinae é representada por oito gêneros e 526 espécies e é caracterizada por apresentar receptáculos sem páleas; flores do raio em 1(-3) séries, corolas brancas a azuis, raramente amarelas; flores do disco bissexuais, ramos do estilete deltoides; cipselas 2-costadas (raramente multinervadas), comprimidas e eglandulares; pápus 1-2(-3)-seriado, série interna composta por cerdas barbeladas e a externa por escamas ou cerdas (Nesom & Robinson 2007).

O gênero Hysterionica é proximamente relacionado à Neja D. Don, correlação evidenciada por Noyes (2000) através de estudos moleculares. Muitas espécies de Neja foram descritas inicialmente como Hysterionica e posteriormente transferidas para este gênero por Nesom (1994).

Hysterionica e Neja compartilham características como hábito herbáceo, capítulos discóides, receptáculos epaleáceos, flores do raio pistiladas brancas ou amarelas, flores do disco tubulares amarelas, pápus em duas séries. Quanto à distinção dos gêneros, Hysterionica apresenta cipselas levemente comprimidas com 2-costas laterais e Neja possui cipselas cilíndrico-fusiformes 7-10-costadas (Nesom & Robinson 2007).

Hysterionica conta com 11 espécies encontradas no sul do Brasil, Uruguai e norte e centro da Argentina (Cabrera 1946; Nesom 2008; Schneider & Boldrini 2012) e ainda não possui estudo filogenético englobando todos seus táxons específicos.

Cabrera (1946) apresentou uma revisão taxonômica do gênero para o Uruguai e Argentina citando nove espécies, sendo que quatro atualmente pertencem ao gênero Neja D.Don. : N. dianthifolia (Griseb.) G.L. Nesom, N. filiformis (Spreng.) Nees, N. pinifolia (Poir.) G.L. Nesom. e N. pulvinata (Cabrera) G.L. Nesom (Nesom 1994).

Outros trabalhos que também abordam o gênero foram realizados por Ariza Espinar (1980), Nesom (1993, 1994) e Sancho & Ariza Espinar (2003), sendo que neste último, as espécies pertencentes ao gênero Neja são reconhecidas como Hysterionica.

Recentemente foram adicionadas quatro espécies para o Brasil: H. pinnatisecta Matzenb. & Sobral e H. pinnatiloba Matzenb. & Sobral (Matzenbacher & Sobral 1996); H. nebularis Deble, A.S. Oliveira & Marchiori (Deble et al. 2004) e H. matzenbacheri A.A. Schneid. (Schneider & Boldrini 2012).

Devido a inexistência de um estudo taxonômico e a descrição recente de novas espécies do gênero Hysterionica, este trabalho tem como objetivo descrever, apresentar uma chave de identificação, ilustrações, dados fenológicos, hábitat, distribuição geográfica e nível de ameaça das espécies brasileiras segundo critérios da IUCN.

Material e Métodos

Foram realizadas expedições a campo para coleta de espécimes de Hysterionica em diferentes regiões fisiográficas da Região Sul do Brasil, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre 2011-2012. As exsicatas foram depositadas no herbário ICN da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A análise morfológica foi realizada a partir de exsicatas provenientes das coletas e de diferentes herbários, citados de acordo com Thiers (continuamente atualizado): HAS, ICN, MO, PACA, PEL e RB. Foi realizada revisão bibliográfica dos principais trabalhos que abordam o gênero. Foram analisadas as imagens dos tipos nomenclaturais.

As ilustrações foram realizadas em nanquim, sendo que os detalhes foram realizados com uso de câmara-clara acoplada ao microscópio estereoscópico Meiji Techno RZ.

As espécies foram classificadas de acordo com estado de conservação nas categorias propostas pela IUCN (2010).

Resultados

A subtribo Conyzinae é representada no Brasil por cinco gêneros: Apopyros G.L. Nesom; Conyza Less.; Hysterionica Willd.; Leptostelma D. Don e Neja D. Don. As espécies de Conyzinae possuem receptáculos sem páleas; flores do raio em 1(-3) séries, corolas brancas a azuis, raramente amarelas; flores do disco bissexuais, ramos do estilete deltoides; cipselas 2-costadas (raramente multinervadas), comprimidas e eglandulares; pápus 1-2(-3)-seriado, série interna composta por cerdas barbeladas e a externa por escamas ou cerdas.

Chave para os gêneros da subtribo Conyzinae ocorrentes no Brasil 1. Flores marginais tubulares, filiformes ou com lígulas rudimentares (menores de 1 mm compr.) ...........................................................................................2 1'. Flores marginais com corola claramente ligulada (maiores de 2,5 mm compr.) ....... ...........................................................................................................3 2. Ervas perenes com xilopódios; flores marginais tubulares; cipselas cilíndricas, 4-5-costadas .........................................................Apopyros G.L. Nesom 2'. Ervas anuais ou perenes sem xilopódios; flores marginais filiformes ou com lígulas muito curtas; cipselas comprimidas, 2-costadas .............Conyza Less. 3. Cipselas cilíndricas, 7-10-costas .........................................NejaD. Don 3'. Cipselas comprimidas, 2-costas 4. Pápus unisseriado ...........................................Leptostelma D. Don 4'. Pápus bisseriado ..............................................Hysterionica Willd.

Hysterionica Willd., Ges. Naturf. Freunde Berlin Mag. Neuesten Entdeck. Gesammten Naturk. 1: 140. 1807. Espécie tipo: H. jasionoides Willd.

Ervas ou subarbustos, anuais ou perenes, raízes pivotantes; caules simples ou ramificados na base, glabros a hirsutos ou híspidos. Folhas alternas, lineares a oblongas, inteiras a pinatissectas. Capítulos radiados, heterógamos, solitários ou mais; invólucro hemisférico, brácteas involucrais 1-3-seriadas, subiguais. Receptáculo plano ou ligeiramente convexo, epaleáceo. Flores do raio liguladas, amarelas ou alvas, pistiladas; flores do disco tubulosas, amarelas, bissexuais. Cipselas levemente comprimidas, 1-2 mm compr., 2-costadas, geralmente pilosas; pápus bisseriado, série externa mais curta do que a interna, paleácea, interna com cerdas capilares. Gênero com 11 espécies, ocorrendo no sul do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai (Nesom 2008; Schneider & Boldrini 2012).

Etimologia: do grego hystera = útero e niche = vitória, triunfo, êxito (Barroso 1991).

Chave para as espécies de Hysterionica ocorrentes no Brasil 1. Limbo foliar inteiro, ou às vezes trilobado na base ..................3. H. nidorelloides 1'. Limbo foliar irregularmente inciso, lobado ou pinatissecto ...............................2 2. Folhas incisas a partidas, irregularmente denteadas do meio ao ápice .......... ............................................................................1. H. matzenbacheri 2'. Folhas lobadas ou pinatissectas ..........................................................3 3. Folhas lobadas ........................................................4. H. pinnatiloba 3'. Folhas pinatissectas ....................................................................4 4. Folhas de 15-30 mm compr., pilosas, 1-2 pares de segmentos, raque 1-2 mm larg.; lígula das flores do raio de 10,5-11,5 mm compr. .......... ..........................................................................2. H. nebularis 4'. Folhas de 35-60 mm. compr., glabras, 2-4 pares de segmentos, raque 2-3 mm larg.; lígula das flores do raio de 8-8,5 mm compr. ............... ......................................................................5. H. pinnatisecta

1. Hysterionica matzenbacheri A.A.Schneid., Phytotaxa 49: 51. 2012, 'matzenbacherii'. Tipo: BRASIL. SANTA CATARINA: Lauro Müller, Serra do Rio do Rastro, rodovia SC-438, 12.XII.1996, N.I. Matzenbacher 2218 (holótipo: ICN!, isótipo: MO!). Fig. 1a-d


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Ervas anuais, 10-22 cm de altura; raízes fasciculadas; caule herbáceo, densamente folhoso desde a base, esparsamente piloso. Folhas alternas, agregadas, sésseis, incisas a irregularmente partidas do meio em direção ao ápice, limbo 50-105 × 8-25 mm, obovadas a obtruladas, face adaxial estrigosa, abaxial esparsamente estrigosa, peninérveas, segmentos denticulados de 2-12 × 1-3 mm, acuminados; ápice apiculado, atenuadas na base. Capítulos solitários no ápice dos ramos, pedunculados, pedúnculo 35-50 mm compr., piloso; invólucro 4-5 × 9-12 mm, hemisférico; brácteas involucrais 2-3-seriadas, 4,1-4,6 × 0,5-0,6 mm, lanceoladas, laxamente pilosas no dorso, glandulosas, uninervadas, margem hialina; receptáculo convexo, alveolado, glabro, epaleáceo. Flores do raio pistiladas, unisseriadas, corola ligulada, tubo 1,8-2 mm compr., lígula 5-6,2 × 0,5-0,8 mm, alva, ápice truncado a 3-dentado, trinervada; estilete 3-4 mm compr. Flores do disco bissexuais, corola tubulosa amarela ou amarelo-esverdeada 3,5-4 × 0,5-0,8 mm, ápice pentalobado; estilete bífido, 4-4,5 mm compr., ramos lanceolados, pilosos no dorso. Cipselas 1-1,2 mm compr., levemente comprimidas, 2-nervadas, pilosas, eglandulares, castanho-claro. Pápus alvo, externa 0,5-1 mm compr., interna com 12-20 cerdas barbeladas, 2,8-4 mm compr.

Material examinado: SANTA CATARINA: Lauro Müller, Serra do Rio do Rastro, rodovia SC-438, 12.XII.1996, fl. e fr., N.I. Matzenbacher 2218 (ICN, holótipo).

Hysterionica matzenbacheri é caracterizada por apresentar folhas de borda incisa ou irregularmente partida da porção mediana do limbo ao ápice. Espécie até o momento coletada apenas na Serra do Rastro, no município de Lauro Müller em Santa Catarina. Ocorre somente em altitudes entre 900-1400 m em escarpas rochosas de neblina e umidade constante. Em recentes expedições de coleta realizadas em dezembro de 2011 na área de ocorrência não foi possível localizar espécimes. Foi coletada com flores e frutos no mês de janeiro. É considerada segundo os critérios da IUCN como em perigo de extinção (EN).

2. Hysterionica nebularis Deble, A.S.Oliveira & Marchiori, Ci. Florest. 14: 9. 2004. Tipo: BRASIL. RIO GRANDE DO SUL: Cambará do Sul, Cânion Fortaleza (Parque Nacional da Serra Geral), 10. X. 2003, L. P. Deble et al. 826 (holótipo: PACA!). Fig.1e-i, 2a-c

Subarbusto perene, 10-20 cm de altura; raíz principal pivotante levemente engrossada e raízes adventícias finas; caule lenhoso, ramificado, densamente folhoso no ápice e desprovido de folhas na base, glabro, com cicatrizes foliares. Folhas pinatissectas, 15-30 × 5-12 mm, sésseis, pilosas com tricomas glandulares em ambas as faces, alternas, uninérvias, segmentos 1-2 pares, lineares, 5-10 × 1-1,5 mm, ápice levemente agudo a obtuso, raque de 1-2 mm larg., ápice levemente agudo a obtuso, base decurrente. Capítulos solitários no ápice dos ramos, heterógamos, radiados, pedunculados, pedúnculo 10-30 × 0,6-0,8 mm, piloso; invólucro 6-7 × 7-8 mm, hemisférico; brácteas involucrais 3-4-seriadas, 4-6 × 0,8-1 mm, lineares, margem hialina, laxamente pilosas no dorso, glandulosas, uninervadas, ápice agudo; receptáculo convexo, alveolado, glabro, epaleáceo. Flores do raio 15-25, pistiladas, 2-3-seriadas, corola ligulada, tubo 2-2,5 mm compr., lígula 10,5-11,5 × 1-1,2 mm, branca, ápice agudo a obtuso, 2-3 dentado, 3-5-nervada; estilete 1,5-2,5 mm compr. Flores do disco 50-100, bissexuais, corola tubulosa amarela ou amarelo-esverdeada, 3,5-4 × 1-1,2 mm, ápice pentalobado; estilete bífido com ramos lanceolados, levemente separados, papilosos no dorso. Cipselas 1-1,7 mm compr., levemente comprimidas, 2-nervadas, pilosas, eglandulares, castanho-claro. Pápus branco, em duas séries, a externa de cerdas aplanadas, curtas, 0,3-0,6 mm compr., a interna com 12-20 cerdas barbeladas, longas, 2,5-3 mm compr.

Material examinado: RIO GRANDE DO SUL: Cambará do Sul, Cânion Fortaleza, 3.XI.2011, fl. e fr., A.A. Schneider 1801 (ICN).

Esta espécie assemelha-se à H. pinnatiloba, mas pode ser diferenciada pelos segmentos foliares mais estreitos (lineares) de ápice agudo e pelo maior comprimento da lígula das flores marginais. Assemelha-se também com H. pinnatisecta Matzenb. & Sobral, mas possui folhas de menor comprimento (15-30 mm vs. 35-60 mm), com menos segmentos (1-2 pares vs. 2-4 pares) e raque mais estreita (1-2 mm de largura vs. 2-3 mm) e lígulas mais longas (10,5-11,5 mm vs. 8-8,5 mm).

Heiden et al. (2012) consideram H. nebularis como sinônimo de H. pinnatisecta, mas a análise criteriosa dos tipos nomenclaturais, juntamente com a observação in loco das espécies, evidenciaram diferenças no formato, tamanho e indumento das folhas. Sendo assim, optamos por manter a identidade das duas espécies.

Espécie restrita ao Rio Grande do Sul na região da Serra Geral, H. nebularis ocorre em penhascos rochosos (casmófita) em altitudes superiores a 900 m. Foi coletada com flores e frutos nos meses de outubro e novembro. De acordo com os critérios da IUCN (2001) esta espécie é considerada como vulnerável (VU) pela sua restrita ocorrência.

3. Hysterionica nidorelloides (DC.) Baker in Martius, Eichler & Urban, Fl. bras. 6(3): 12. 1882. Neja nidorelloides DC., Prodr. 5: 325. 1836. Tipo: BRASIL. RIO GRANDE DO SUL: 1833, C. Gaudichaud1048 (holótipo: G-DC, foto!; isótipo: P, foto!).

Hysterionica montevidensis Baker in Martius, Eichler & Urban, Fl. bras. 6(3): 13. 1882. Tipo: BRASIL. RIO GRANDE DO SUL: "Habitat in Brasiliae australi prov. Rio Grande do Sul", s.d., F. Sellow s.n. (lectótipo K, aqui designado, foto!); 1835, M. Isabelles.n. (síntipo remanescente: K, P, foto!) syn. nov. Fig. 1j-n, 3a-d

Ervas anuais, 15-30 cm de altura; raíz principal pivotante levemente engrossada e raízes adventícias finas; caule herbáceo a fracamente lenhoso na base, ramificado, densamente folhoso a moderado, piloso, com tricomas tectores simples e tricomas glandulares, estriado. Folhas inteiras a levemente trilobadas na base, 20-70 × 1,8-5 mm, sésseis, oblongo-lanceoladas, pilosas com tricomas tectores simples e tricomas glandulares em ambas as faces, alternas, espiraladas, uninérvias a peninérvias nas folhas mais desenvolvidas, ápice apiculado, atenuadas na base. Capítulos solitários no ápice dos ramos, heterógamos, radiados, pedunculados, pedúnculo 5-44 mm compr., eventualmente com algumas brácteas lineares; invólucro 6-12 × 4-8 mm, hemisférico; brácteas involucrais 2-seriadas, 3-5 × 0,7-1,3 mm, lanceoladas, margem hialina, laxamente pilosas no dorso, glandulosas, uninervadas, ápice agudo; receptáculo convexo, alveolado, glabro, epaleáceo. Flores do raio 15-25, pistiladas, unisseriadas, corola ligulada, tubo 1-2 mm compr., lígula 2,5-6 × 0,4-1 mm, branca, ápice agudo 1-2 dentado, trinervada; estilete 1,5-2,5 mm compr. Flores do disco 50-100, bissexuais, corola tubulosa amarela ou amarelo-esverdeada 2,1-3 × 0,1-0,8 mm, ápice pentalobado; estilete bífido, com ramos lanceolados, levemente separados, papilosos no dorso. Cipselas 1-1,9 mm compr., levemente comprimidas, 2-nervadas, pilosas, eglandulares, castanho-claro. Pápus branco, em duas séries, a externa de cerdas aplanadas, curtas, 0,5-1 mm compr. e a interna com 12-20 cerdas barbeladas, longas, 2,3-2,8 mm compr.

Material selecionado: RIO GRANDE DO SUL: Alegrete, Arroio Regalado, X.1985, fl. e fr., M. Sobral & E. Moraes 4395 (ICN). Arroio do Tigre, Barragem de Itaúba, 13.IV.1978, fl. e fr., O. Bueno 629 (HAS). Barra do Quaraí, 15.I.1941, fl. e fr., B. Rambo 4226 (PACA). Caibaté, Caaró para São Luiz Gonzaga, 28.I.1938, fl., B. Rambo 2346 (PACA). Caçapava do Sul, rodovia BR-290, km 223, V.1985, fl. e fr., M. Sobral 3915 (ICN); Pedra do Segredo, 19.IV.2011, fl. e fr., E. Pasini 849 (ICN). Carazinho, 27.II.1944; I. Augusto s.n. (ICN 019195). Cerro Largo, 4.II.1949, fl. e fr., A. Sehnem 3626 (PEL). Ijuí, 30.I.1942; fl. e fr., B. Rambo 9997 (PACA). Quaraí, Fazenda do Jarau, I.1945, fl. e fr., B. Rambo 26120 (PACA). Rosário do Sul, Serra do Caverá, 29.V.1976,fl., J.L. Waechter et. al. 259 (ICN). Santana do Livramento, Cerro Palomas; 2.III.2002, fl. e fr., A. Iob et al. 199 (PACA). Santo Ângelo, 9.XII.1977; K. Hagelund 11912 (ICN). São Borja, próximo ao Banhado São Donato, 7.XI.2007, fl. e fr., A.A. Schneider 1563 (ICN). São Francisco de Assis, Beira de estrada entre São Francisco de Assis e Santiago, 9.II.1990, fl. e fr., D.B. Falkenberg & M. Sobral 5077 (PEL). Uruguaiana, Arroio Imbaá, II.1990, M. Sobral & D.B. Falkenberg 6336 (ICN).

Embora Nesom (2008) tenha considerado H. nidorelloides como Neja nidorelloides DC., este nome sempre foi tratado com dúvidas, sendo que Baker (1882) já havia transferido Neja nidorelloides para Hysterionica nidorelloides, não utilizado por Nesom. A observação dos tipos nomenclaturais permitiu a sinonimização de H. montevidensis Baker em H. nidorelloides.

Hysterionica nidorelloides caracteriza-se pelas folhas inteiras ou com dois lobos laterais nas folhas da base da planta, distribuídas espiraladamente pelo caule, indumento glanduloso pubescente. Esta espécie ocorre no Brasil apenas no Rio Grande do Sul, porém é de distribuição ampla no estado. Ocorre também no Paraguai, Uruguai e nordeste da Argentina até Entre Rios (Cabrera 1974). Hysterionica nidorelloides cresce em solos arenosos e rochosos, sendo encontrada até mesmo em margem de rodovias. Coletada com flores e frutos nos meses de setembro a fevereiro. Esta espécie não se encontra ameaçada pelos critérios da IUCN (2010).

4. Hysterionica pinnatiloba Matzenb. & Sobral, Comun. Mus. Ciênc. PUCRS, Sér. Bot. 2: 17. 1996. Tipo: BRASIL. RIO GRANDE DO SUL: Candelária, Cerro Boa Vista, 12.X.1995, J. Larocca e P. Backes95/17 (holótipo: ICN!, isótipos MBM, RB). Fig. 4a-d


 




Subarbustos perenes, 20-60 cm de altura; raizes fasciculadas e adventícias finas; caule lenhoso, ramificado na parte superior, densamente folhoso no ápice e desprovido de folhas na base, glabro, com cicatrizes foliares. Folhas pinatilobadas, às vezes trilobadas, 20-50 × 10-20 mm, sésseis, pilosas com tricomas glandulares e tricomas tectores em ambas as faces, alternas, uninérvias, segmentos 2-3 pares, elípticos a obovalados, 5-15 × 2-4 mm, com ápice obtuso a acuminado, raque com 2-4 mm larg., ápice levemente acuminado a obtuso, base atenuada. Capítulos 1-6, no ápice dos ramos, heterógamos, radiados, pedunculados, pedúnculo 30-50 × 0,6-1 mm; invólucro 6-7 × 8-15 mm, hemisférico; brácteas involucrais 3-4-seriadas, 4-6 × 0,8-1 mm, lineares, margem hialina, laxamente pilosas no dorso, glandulosas, uninervadas, ápice agudo; receptáculo convexo, alveolado, glabro, epaleáceo. Flores do raio 15-25, pistiladas, 2-3-seriadas, corola ligulada, tubo 2-2,5 mm compr., lígula 4-6 × 0,2-0,5 mm, branca, ápice agudo a obtuso 2-3 dentado, 3-5-nervada; estilete 2-3 mm compr. Flores do disco 50-100, bissexuais, corola tubulosa amarela ou amarelo-esverdeada 3,3-3,5 × 0,5-0,9 mm, ápice pentalobado; estilete bífido, ramos lanceolados, levemente separados, papilosos no dorso. Cipselas 1,2-1,5 mm compr., levemente comprimidas, 2-nervadas, pilosas, eglandulares, castanho-claro. Pápus branco, em duas séries, a externa de cerdas aplanadas, curtas, 0,3-0,5 mm compr. e a interna com 10-11 cerdas barbeladas, longas, 2-3 mm compr.

Material examinado: RIO GRANDE DO SUL: Bom Jesus, 4&º distrito, Fazenda Potreirinho, 4.XII.1977, O.R. Camargo 5640 (HAS); Serra da Rocinha, 19.IX.1981, fl. e fr., R. Bueno (ICN 51191). São José dos Ausentes, Silveira, VIII.1994, M. Sobral et al. 7675 (ICN, parátipo).

Apresenta afinidade com H. nebularis e H. pinnatisecta pelas folhas sectadas, mas diferencia-se por apresentar folhas com segmentos mais arredondados. Espécie pouco frequente e restrita ao Rio Grande do Sul na região da borda da Serra Geral. Ocorrendo na borda de penhascos basálticos e fendas de rochas em margens de rios, em altitudes superiores a 900 m, ocorrendo também no Cerro Boa Vista no município de Candelária. Foi coletada com flores e frutos nos meses de outubro e novembro. De acordo com os critérios da IUCN (2001) esta espécie é considerada como vulnerável (VU) pela sua restrita ocorrência.

5. Hysterionica pinnatisecta Matzenb. & Sobral, Comun. Mus. Ciênc. PUCRS, Sér. Bot. 2(1): 16. 1996. Tipo: BRAZIL. SANTA CATARINA: Lauro Müller, Serra do Rio do Rastro, 9.XII.1994, N. Matzenbacher 1675 (holótipo: ICN!, isótipos: MBM, RB). Figs. 4e-i, 5a-b


Subarbustos perenes, 20-50 cm de altura; raízes fasciculadas e adventícias finas, na base do caule lenhoso, ramificado na parte superior, densamente folhoso no ápice dos ramos, glabro, com cicatrizes foliares muito aproximadas. Folhas profundamente pinatissectas, 35-60 × 15-25 mm, sésseis, glabras ou inconspicuamente seríceo-pubescentes na face adaxial, glabras ou com tricomas restritos à parte basal na face abaxial, alternas, peninérvias, segmentos 2-4 pares, lineares, de 5-20 × 0,8-1,0 mm, ápice agudo; ráquis linear, 2-3 mm larg., aguda no ápice e atenuada na base. Capítulos 1-3, no ápice dos ramos, radiados, 20-35 mm diâm.; pedunculados, pedúnculos aplanados, 13-70 × 0,8-1,0 mm, eventualmente com algumas brácteas lineares, 5-8 × 0,2-3,0 mm; invólucro 5-6 × 6-7 mm, campanulado, com algumas bractéolas linear-lanceoladas como calículo, 3-4 × 0,1-2,0 mm; brácteas involucrais em várias séries, 5-8 × 0,7-1,0 mm, linear-lanceoladas, subuladas, margem ciliada, laxamente pilosas no dorso; receptáculo levemente convexo, alveolado, glabro, epaleáceo. Flores do raio pistiladas, em várias séries, corola ligulada, tubo 2,3 mm compr., lígula, 8-8,5 × 1,0-1,2 mm, branca, ápice agudo, bidentada, trinervada; estilete 2,5-3,3 mm. Flores do disco numerosas (até 100 ou mais), bissexuais, corola tubulosa amarela ou amarelo-esverdeada, 3,8-4 mm compr., ápice pentalobado, estilete bífido, com ramos lanceolados, levemente separados, papilosos no dorso. Cipselas 2-2,3 mm compr., comprimidas, obovaladas a elípticas, costadas na margem, laxamente pilosas, mais acentuadamente na margem e na base, eglandulares, marrom quando maduras. Pápus branco, em duas séries, a externa de cerdas aplanadas, curtas, 0,5 mm compr. e a interna com 11-12 cerdas barbeladas, longas, 2,8-3 mm compr.

Material examinado: SANTA CATARINA: Lauro Müller, Serra do Rio do Rastro, XI.1994, M. Sobral et al. 7712,7722 (ICN, parátipos); 9.XII.1994, N.I. Matzenbacher et al. (ICN, parátipo); 28.XI.2011, fl. e fr., A.A. Schneider 1826 (ICN); 29.XI.2011, fl. e fr., A.A. Schneider 1838 (ICN).

Hysterionica pinnatisecta distingue-se de todas as demais espécies do gênero pelas folhas pinatissectas com segmentos lineares, glabros. Restrita aos penhascos basálticos da formação Rio do Rastro, em uma faixa entre 1000 a 1200 m de altitude. Foi coletada com flores e frutos nos meses de novembro e dezembro. De acordo com os critérios da IUCN (2001) esta espécie é considerada como vulnerável (VU) pela sua restrita ocorrência.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Anelise Scherer, as ilustrações e ao CNPq, o apoio financeiro: MCT/CNPq/MEC/CAPES/PROTAX nº 52/2010 - Programa de Capacitação em Taxonomia, processo 562192/2010-7.

Artigo recebido em 13/07/2012

Aceito para publicação em 02/05/2013

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    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      13 Jul 2012
    • Aceito
      02 Maio 2013
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