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Checklist de Angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil

Checklist of Angiosperms from Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil

Resumo

Um checklist das espécies de Angiospermas provenientes do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil é apresentado. As coletas foram realizadas quinzenalmente durante o período de 2012 a 2015 e as amostras botânicas estão depositadas no Herbário VIES. Os resultados estão apresentados em forma de lista com um total de 562 espécies distribuídas em 345 gêneros e 110 famílias com suas respectivas formas de vida: arbustos e árvores; ervas terrestres; trepadeiras; epífitas e hemiepífitas; ervas aquáticas, parasitas (holo- e hemi-) e micoheterótrofas (saprófitas). Fabaceae, Myrtaceae, Cyperaceae, Rubiaceae, Bromeliaceae, Apocynaceae, Orchidaceae, Poaceae, Bignoniaceae e Melastomataceae são as famílias mais ricas em número de espécies. Os gêneros Eugenia (16 spp.) (Myrtaceae), Passiflora (10 spp.) (Passifloraceae), Myrcia (9 spp.) (Myrtaceae), Cyperus (7 spp.), Chamaecrista (Fabaceae) e Miconia (Melastomataceae) (6 spp., cada) são os mais representativos. A maioria dos checklists anteriormente realizados para o Espírito Santo apresenta números subestimados para a diversidade taxonômica de plantas. Os resultados aqui evidenciados confirmam a enorme importância ecológica das restingas na Mata Atlântica do Parque Estadual de Itaúnas.

Palavras-chave:
Inventários florísticos; neotrópicos; restingas

Abstract

This paper provides a floristic inventory of Angiosperms reported from Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil. The inventory was performed with fortnightly fieldwork from 2012 to 2015. The samples collected are available at the herbarium VIES. A checklist with 562 species, from 345 genera and 110 families is provided. Lifeforms categories were established: shrubs and trees; terrestrial herbs; herbaceous and woody climbers; epiphytes and hemiepiphytes; aquatic herbs, parasites (holo- and hemi-), and myco-heterotrophs (saprophytes). Fabaceae, Myrtaceae, Cyperaceae, Rubiaceae, Bromeliaceae, Apocynaceae, Orchidaceae, Poaceae, Bignoniaceae, and Melastomataceae presented the greatest species richness. The genera Eugenia (16 spp.) (Myrtaceae), Passiflora (10 spp.) (Passifloraceae), Myrcia (9 spp.) (Myrtaceae), Cyperus (7 spp.), and Chamaecrista (Fabaceae) and Miconia (Melastomataceae) (6 spp., each) presented the greatest species richness. Most of the previous checklists elaborated in the Espírito Santo state have underestimated plant species diversity. This floristic inventory confirms the ecological value of the restingas in the Atlantic Forest located at Parque Estadual de Itaúnas.

Key words:
Floristic inventories; neotropics; sandy soils

Introdução

O Espírito Santo possui área de aproximadamente 45.600 km2, dos quais 100% de sua superfície eram cobertos pela Mata Atlântica (MMA 2000MMA. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos sulinos. MMA/SBF, Brasília. 45p.), domínio considerado um dos hotspots mundiais para a conservação devido aos seus altos índices de diversidade e endemismo (Myers et al. 2000Myers, N.; Mittermeier, R.; Mittermeier, C.; Fonseca, G. & Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 845-853.). Porém, muito dessa riqueza já foi devastada e está reduzida a cerca de 9% de sua cobertura original no estado (MMA 2000MMA. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos sulinos. MMA/SBF, Brasília. 45p.; Pereira 2007aPereira, O.J. 2007a. A cobertura vegetal do Espírito Santo. In: Simonelli, M. & Fraga, C.N. (orgs.). Espécies da Flora ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. IPEMAP, Vitória. Pp. 17-20.) sob a forma de uma paisagem altamente fragmentada e descontínua. Constitui-se de mosaico de diversos tipos de vegetação, que segundo MMA (2000)MMA. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos sulinos. MMA/SBF, Brasília. 45p. e Pereira (2007a)Pereira, O.J. 2007a. A cobertura vegetal do Espírito Santo. In: Simonelli, M. & Fraga, C.N. (orgs.). Espécies da Flora ameaçadas de extinção no Estado do Espírito Santo. IPEMAP, Vitória. Pp. 17-20. no Espírito Santo é composta por florestas ombrófila e estacional semidecidual, além das formações pioneiras (brejos, restingas, mangues) e refúgios vegetacionais (Serra do Caparaó).

Do ponto de vista geológico, Amorim (1984)Amorim, H.B. 1984. Inventário Florestal Nacional: florestas nativas - Rio de Janeiro e Espírito Santo. Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, Brasília. 204p. divide o Espírito Santo em duas principais zonas: a serrana e a dos tabuleiros. A zona serrana, paisagem comum no interior centro-sul do estado, é formada por vales profundos e escavada nos prolongamentos da Serra da Mantiqueira. É comumente caracterizada pela floresta ombrófila aberta, com árvores menos espaçadas de altura média de 25 m, sub-bosque denso e maior abundância de epífitas. As florestas de encostas, bastante úmidas, são freqüentes até os 800 m de altitude. Acima de 1.200 m, a vegetação assume características de floresta montana, dando lugar aos refúgios vegetacionais quando acima dos 2.000 m de altitude (IPEMA 2005IPEMA. 2005. Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica. Conservação da Mata Atlântica no Espírito Santo: cobertura florestal e unidades de conservação. IPEMA, Vitória. 152p.).

A zona dos tabuleiros compreende a faixa litorânea, plana ou ondulada, com altitude média de 50 m a qual se localiza principalmente no meio-norte do estado. Nessa faixa, pode ser encontrada: a vegetação de restinga (que recobre as planícies costeiras), caracterizada por um conjunto de diferentes tipos fisionômicos, variando desde formações herbáceas, arbustivas a florestais; e a floresta ombrófila densa, a qual é caracterizada por uma vegetação acima de 30 m de altura com árvores espaçadas, sub-bosque pouco denso e menor abundância de epífitas (IPEMA 2005IPEMA. 2005. Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica. Conservação da Mata Atlântica no Espírito Santo: cobertura florestal e unidades de conservação. IPEMA, Vitória. 152p.).

Nesse contexto insere-se o Parque Estadual de Itaúnas (PEI), situado ao norte do estado, o qual representa uma amostra significativa de ecossistemas intrinsecamente ligados à bacia do Rio Itaúnas e à região costeira. No parque estão representados ambientes terrestres, como a Mata de Tabuleiro, ambientes costeiros na faixa de cordão arenoso formador das restingas e dunas, ambientes estuarinos de mangues e a mais representativa região de alagados do Espírito Santo. Essa variedade de habitats aliada a uma grande diversidade de espécies vegetais aponta o PEI como área de extrema importância para a manutenção de uma flora riquíssima (CEPEMAR 2004CEPEMAR. 2004. Serviços de consultoria em Meio Ambiente. Plano de manejo do Parque Estadual de Itaúnas, Vitória. 55p.).

Embora seja uma Unidade de Conservação (UC) com extensão relevante (3.481 ha), o Parque Estadual de Itaúnas ainda não foi contemplado por pesquisas sistemáticas que envolvam o inventário de sua diversidade e riqueza florística. Os poucos trabalhos existentes resumem-se a informações preliminares e artigos que citam amostras coletadas esporadicamente na região (CEPEMAR 2004CEPEMAR. 2004. Serviços de consultoria em Meio Ambiente. Plano de manejo do Parque Estadual de Itaúnas, Vitória. 55p.).

Com base na extrema riqueza biológica e no elevado número de espécies de distribuição restrita e sob ameaça (Prado et al. 2003Thomas, W.W.; Jardim, J.; Fiaschi, P. & Amorim, A. 2003. Lista preliminar das Angiospermas localmente endêmicas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo, Brasil. In: Prado, P.I.; Landau, E.C.; Moura, R.T.; Pinto, L.P.S.; Fonseca, G. A.B. & Alger, K. (eds.). Corredor de Biodiversidade da Mata Atlântica do Sul da Bahia. IESB/CI/CABS/UFMG/UNICAMP, Ilhéus. Pp. 1-10.; Aguiar et al. 2005Aguiar, A.P.; Chiarello, A.G.; Mendes, S.L. & Matos, E.N. 2005. Os corredores central e da Serra do Mar na Mata Atlântica brasileira. In: Galindo-Leal, C. & Câmara, I.G. (eds.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas. Fundação SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional e Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade, Belo Horizonte. Pp. 119-132.; IPEMA 2005IPEMA. 2005. Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica. Conservação da Mata Atlântica no Espírito Santo: cobertura florestal e unidades de conservação. IPEMA, Vitória. 152p.), o estado do Espírito Santo ainda é pouco estudado floristicamente flora (Peixoto & Gentry 1990Peixoto, A.L. & Gentry, A. 1990. Diversidade e composição florística da mata de tabuleiro na Reserva Florestal de Linhares (Espírito Santo, Brasil). Revista Brasileira de Botânica 13: 19-25.; Fabris 1995Fabris, L.C. 1995. Composição florística e fitossociológica de uma faixa de floresta arenosa litorânea do Parque Estadual de Setiba, Município de Guarapari, ES. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-graduação da Escola Nacional de Botânica Tropical. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 195p.; Fabris & Cesar 1996Fabris, L.C. & César, O. 1996. Estudos florísticos em uma mata litorânea no sul do estado do Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão (Nova Série) 5: 15-46.; Thomaz & Monteiro 1997Thomaz, L.D. & Monteiro, R. 1997. Composição florística da Mata Atlântica de encosta da Estação Biológica de Santa Lúcia, município de Santa Teresa, ES. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão (Nova Série) 7: 3-48.; Pereira & Araújo 2000Pereira, O.J. & Araújo, D.S.D. 2000. Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D. (eds.). Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Universidade Federal do Rio de Janeiro/NUPEM, Macaé. Pp. 25-63.; Pereira & Assis 2000Pereira, O.J. & Assis, A.M. 2000. Florística da restinga de Camburi. Acta Botanica Brasilica 14: 99-111.; Assis et al. 2004Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361.; Dutra et al., in press). Sendo assim, o presente trabalho propõe-se a inventariar a diversidade taxonômica da flora de angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil.

Material e Métodos

O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) é gerenciado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) e está localizado no distrito de Itaúnas, Conceição da Barra-ES. O PEI é uma UC de Proteção Integral, criada pelo Decreto nº 4.967-E e possui uma área de 3.481 ha, limitada à leste pelo mar (Fig. 1). A unidade abrange diferentes ecossistemas naturais (Fig. 2), tais como: restinga, mata de tabuleiro, dunas, áreas de alagados e manguezal. Apresenta temperatura média anual que varia entre 21,7ºC a 26,7ºC, precipitação média anual de 1.308 mm e clima Aw (segundo classificação de Köppen) com chuvas concentradas durante os meses de verão (CEPEMAR 2004CEPEMAR. 2004. Serviços de consultoria em Meio Ambiente. Plano de manejo do Parque Estadual de Itaúnas, Vitória. 55p.).

Figura 1
Mapa de localização do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil.
Figure 1
Location Map of Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil.
Figura 2
Diferentes ecossistemas naturais encontrados no Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. - a-b. dunas litorâneas; c-d. restingas; e. restingas arbóreas; f-h. ambientes aquáticos lóticos e lênticos.
Figure 2
Different natural ecosystems seen in Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil. - a-b. coastal dunes; c-d. "restingas" (sandy soils); e. arboreous "restingas"; f-h. lotic and lentic aquatic environments.

Expedições de coleta quinzenais foram realizadas ao longo de 2012-2015, onde cada expedição teve duração de um a dois dias. As coletas foram realizadas buscando inventariar as angiospermas nos diferentes ambientes do PEI através de caminhadas exploratórias. Os espécimes férteis (com flores e/ou frutos) foram coletados e processados de acordo com os métodos usuais em taxonomia vegetal (Bridson & Forman 1998Bridson, D. & Forman, L. 1998. The Herbarium Handbook Royal Botanic Gardens. Royal Botanic Gardens, Richmond. 346p.) e, em seguida, incorporados à coleção do Herbário VIES, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Duplicatas foram enviadas aos Herbários RB (Jardim Botânico do Rio de Janeiro) e UFP (Universidade Federal de Pernambuco). Quando necessário, amostras adicionais foram coletadas e acondicionadas em recipientes adequados e preservadas em álcool etílico 70%, para estudos morfológicos e posterior identificação.

As espécies foram identificadas por meio do método comparativo de vouchers e tipos nomenclaturais depositados e consultados nos principais herbários nacionais e internacionais: CEPEC, CVRD, G, K, MBML, MO, NY, P, R, RB, S, SP, SPF, UFP, acrônimos de acordo com Thiers (2016)Thiers, B. [continuously updated]. In: Index Herbariorum: A global directory of public herbaria and associated staff. New York Botanical Garden's Virtual Herbarium. Disponível em <http://sweetgum.nybg.org/ih/>. Acesso em 18 março 2016.
http://sweetgum.nybg.org/ih/...
, consultas a especialistas e de bibliografias especializadas. Para a definição das formas de vida seguiu-se o proposto por Font Quer (1992)Font Quer, P. 1992. Diccionario de Botánica. 7ª reimp. Labor, Barcelona. 1280p. e na confecção da lista florística, apenas os espécimes identificados minimamente em nível genérico foram incluídos. Para maiores informações sobre a Lista de espécies, ver Tabela 1 no material suplementar <https://dx.doi.org/10.6084/m9.figshare.3490523.v1>.

Resultados

Um total de 562 espécies pertencentes a 345 gêneros e 110 famílias de Angiospermas (Fig. 3, 4) foi registrado para o Parque Estadual de Itaúnas (PEI) (Tab. 1). Dentre as famílias listadas, 85 famílias são Eudicotiledôneas, 18 são Monocotiledôneas e sete são Angiospermas Basais. Fabaceae (57 spp.), Myrtaceae (41 spp.), Cyperaceae (26 spp.), Rubiaceae (22 spp.), Bromeliaceae (20 spp.), Apocynaceae (18 spp.), Orchidaceae e Poaceae (17 spp., cada), Bignoniaceae e Melastomataceae (14 spp., cada) estão entre as dez famílias mais ricas em número de espécies (Fig. 5). Os gêneros Eugenia L. (16 spp.) (Myrtaceae), Passiflora L. (10 spp.) (Passifloraceae), Myrcia DC. (9 spp.) (Myrtaceae), Cyperus L. (7 spp.), Chamaecrista Moench (Fabaceae) e Miconia Ruiz e Pav. (Melastomataceae) (6 spp., cada) foram os mais representativos em número de taxa (Fig. 6).

Figura 3
Árvores e arbustos registrados para o Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. - a. Kielmeyera albopunctata Saddi (Calophyllaceae); b. Pera furfuracea Müll. Arg. (Peraceae); c. Swartzia apetala Raddi (Fabaceae); d. Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn. (Solanaceae); e. Cnidoscolus urens (L.) Arthur (Euphorbiaceae); f. Hancornia speciosa Gomes (Apocynaceae); g. Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A.Berger (Cactaceae); h. Trigonia nivea Cambess. (Trigoniaceae).
Figure 3
Trees and shrubs recorded from Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil. - a. Kielmeyera albopunctata Saddi (Calophyllaceae); b. Pera furfuracea Müll. Arg. (Peraceae); c. Swartzia apetala Raddi (Fabaceae); d. Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn. (Solanaceae); e. Cnidoscolus urens (L.) Arthur (Euphorbiaceae); f. Hancornia speciosa Gomes (Apocynaceae); g. Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A.Berger (Cactaceae); h. Trigonia nivea Cambess. (Trigoniaceae).
Figura 4
Ervas, epífitas, trepadeiras e ervas micoheterótrofas registrados para o Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. - a. Aechmea alba Mez (Bromeliaceae); b. Hippeastrum reticulatum (L'Hér.) Herb. (Amaryllidaceae); c. Tillandsia stricta Sol. ex Ker Gawl. (Bromeliaceae); d. Actinocephalus ramosus (Wikstr.) Sano (Eriocaulaceae); e. Blepharodon pictum (Vahl) W.D.Stevens (Apocynaceae); f. Temnadenia odorifera (Vell.) J.F.Morales (Apocynaceae); g. Passiflora mucronata Lam. (Passifloraceae); h. Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. (Orchidaceae); i. Voyria obconica Progel (Gentianaceae).
Figure 4
Herbs, epiphytes, vines, and micoheterotrophic herbs recorded from Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil. - a. Aechmea alba Mez (Bromeliaceae); b. Hippeastrum reticulatum (L'Hér.) Herb. (Amaryllidaceae); c. Tillandsia stricta Sol. ex Ker Gawl. (Bromeliaceae); d. Actinocephalus ramosus (Wikstr.) Sano (Eriocaulaceae); e. Blepharodon pictum (Vahl) W.D.Stevens (Apocynaceae); f. Temnadenia odorifera (Vell.) J.F.Morales (Apocynaceae); g. Passiflora mucronata Lam. (Passifloraceae); h. Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. (Orchidaceae); i. Voyria obconica Progel (Gentianaceae).
Figura 5
Famílias mais ricas em número de espécies no Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil.
Figure 5
Species-richest families from Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil.
Figura 6
Gêneros mais ricos em número de espécies no Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. (número de espécies por gênero = área vazia; total de espécies por família = área preenchida).
Figure 6
Richest genera from Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brazil. (number of species per genus = hollow area; total of species per family = filled area).

Árvores e arbustos (subarbustos) são os hábitos mais comuns com 306 taxa registrados, seguidas por ervas terrestres com 130 espécies, trepadeiras (herbáceas e lenhosas) por 86 espécies, epífitas (obrigatórias e facultativas, aqui incluídas) e hemiepífitas por 26 espécies; e, plantas aquáticas, micoheterótrofas e parasitas (holo- e hemi-) foram representadas por 14 espécies.

Dentre as espécies arbustivas e arbóreas destacam-se as das famílias Fabaceae e Myrtaceae com 46 e 41 spp., respectivamente. Cyperaceae (26 spp.), Poaceae (17 spp.), Orchidaceae (9 spp.) e Bromeliaceae (7 spp.) são as famílias de ervas terrestres mais representativas.

Dentre as ervas terrestres, os taxa da família Poaceae registrados para o PEI são, em sua maioria, taxa com ampla distribuição geográfica, sendo Paspalum L. (4 spp.) o mais rico em número de espécies. No entanto, salienta-se especial atenção para este grupo devido às dificuldades para determinação taxonômica nas coleções em contraponto à grande quantidade de amostras indeterminadas.

O grupo de plantas trepadeiras é mais bem representado pelas famílias Bignoniaceae (11 spp.), Passifloraceae (10 spp.) e Apocynaceae (9 spp.). Aristolochiaceae (trepadeiras herbáceas), menos expressiva em número de espécies, encontra-se representada por duas entidades taxonômicas: Aristolochia trilobata L. e uma nova espécie para ciência.

Epífitas apresentaram-se com uma baixa riqueza de espécies (16 spp.) distribuídas exclusivamente nas famílias Bromeliaceae (9 spp.) e Orchidaceae (7 spp.), com os respectivos gêneros Tillandsia L. (3 spp.) e Catasetum Rich. ex Kunth (2 spp.), os mais ricos em espécies. Ao passo que Araceae foi o único grupo taxonômico com hábito hemiepifítico registrado, sendo Philodendron Schott o gênero mais diverso (3 spp.), seguido de Anthurium Schott, Heteropsis Kunth e Monstera Adans. com uma espécie cada.

Micoheterótrofas [Gentianaceae: Voyria Aubl. - 2 spp.; e Burmanniaceae: Apteria aphylla (Nutt.) Barnhart ex Small e Burmannia capitata (Walter ex J.F. Gmel.) Mart.] e parasitas (holo- e hemi-) (Santalaceae: Phoradendron Nutt. - 3 spp. e Loranthaceae: Psittacanthus cf. tenellus Kuijt e Struthanthus retusus Brume ex Roem. & Schult.; e Lauraceae: Cassytha filiformis L.) foram consideradas raras.

A lista de espécies aponta 26 novos registros (Tab. 1) para o Espírito Santo: Cayaponia cabocla (Vell.) Mart. (Cucurbitaceae), Struthanthus retusus Brume ex Roem. & Schult. (Loranthaceae), Clidemia bullosa DC. (Melastomataceae), Ficus mollis Vahl e Ficus pallida Vahl (Moraceae), Vanilla planifolia Jacks. ex Andrews (Orchidaceae), dentre outras; e sete relatadas como de ocorrência restrita para o estado: Ruellia furcata Lindau (Acanthaceae), Unonopsis aurantiaca Maas & Westra (Annonaceae), Clusia spiritu-sanctesis G.Mariz & B. Weinberg (Clusiaceae), Ocotea arenicola L.C.S. Assis & Mello-Silva (Lauraceae), Guarea penningtoniana Pinheiro (Meliaceae), Eugenia inversa Sobral e Myrcia limae G.M. Barroso & Peixoto (Myrtaceae).

Discussão

O número de espécies é considerado alto frente ao apresentado por outros trabalhos envolvendo restingas e formações vegetacionais similares às encontradas no Parque Estadual de Itaúnas (Pereira & Assis 2000Pereira, O.J. & Araújo, D.S.D. 2000. Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D. (eds.). Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Universidade Federal do Rio de Janeiro/NUPEM, Macaé. Pp. 25-63.; Assis et al. 2004Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361.; Scherer et al. 2005Scherer, A.; Maraschin-Silva, F. & Baptista, L.R.M. 2005. Florística e estrutura do componente arbóreo de matas de Restinga arenosa no Parque Estadual de Itapuã, RS, Brasil. Acta Botanica Brasilica 19: 717-726.; Almeida Jr. et al. 2007Almeida Jr., E.B.; Pimentel, R.M.M. & Zickel, C.S. 2007. Flora e formas de vida em uma área de restinga no litoral norte de Pernambuco, Brasil. Revista de Geografia 24: 19-34.). Levando-se em consideração o citado por Pereira (2007b)Pereira, O.J. 2007b. Diversidade e Conservação das restingas do Espírito Santo. In: Menezes, L.F.T. Pires, F.R. & Pereira, O.J. (orgs.). Ecossistemas costeiros do Espírito Santo. Edufes, Vitória. Pp. 33-44., em que o autor assinala a ocorrência de 749 espécies nas restingas do Espírito Santo, o Parque Estadual de Itaúnas detém 74,23% de toda a diversidade taxonômica listada nessa fisionomia no estado, evidenciando sua elevada importância frente à conservação.

Os resultados aqui apresentados evidenciaram a discrepância quanto ao número de espécies encontradas por diferentes estudos prévios, decorrentes, principalmente, da metodologia empregada. Dentre estudos que utilizaram metodologia similar ao do presente trabalho cita-se Assis et al. (2004)Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361., realizado no Parque Estadual Paulo César Vinha (Guarapari-ES), onde os autores amostraram 172 espécies distribuídas em 54 famílias de angiospermas, sendo Myrtaceae e Bromeliaceae as famílias mais ricas em número de espécies com 25 e 14 spp., respectivamente. Já Pereira & Assis (2000)Pereira, O.J. & Araújo, D.S.D. 2000. Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D. (eds.). Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Universidade Federal do Rio de Janeiro/NUPEM, Macaé. Pp. 25-63. produziram uma lista com 211 espécies de angiospermas para a restinga de Camburi (Vitória-ES) com Fabaceae (19 spp.) despontando como principal táxon, seguido de Myrtaceae (14 spp.), Rubiaceae e Euphorbiaceae (10 spp., cada). Apesar do menor número de espécies listado, a alternância no ranking entre as famílias mais ricas, entre os trabalhos já realizados em restingas, é detida principalmente por Myrtaceae, Fabaceae e Bromeliaceae (Assis et al. 2004Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361.; Pereira 2007bPereira, O.J. 2007b. Diversidade e Conservação das restingas do Espírito Santo. In: Menezes, L.F.T. Pires, F.R. & Pereira, O.J. (orgs.). Ecossistemas costeiros do Espírito Santo. Edufes, Vitória. Pp. 33-44.; Araújo et al. 2009Araujo, D.S.D.; Sá, C.F.C.; Fontella-Pereira, J.; Garcia, D.S.; Ferreira, M.V.; Paixão, R.J.; Schneider, S.M. & Fonseca-Kruel, V.S. 2009. Área de proteção ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: Caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia 60: 67-96.). Fato esse que assinala esses três grupos taxonômicos como importantes elementos para formação de paisagem no ambiente.

Dados numéricos semelhantes ao aqui encontrados foram apresentados por Araújo et al. (2009)Araujo, D.S.D.; Sá, C.F.C.; Fontella-Pereira, J.; Garcia, D.S.; Ferreira, M.V.; Paixão, R.J.; Schneider, S.M. & Fonseca-Kruel, V.S. 2009. Área de proteção ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: Caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia 60: 67-96. em um sistema de restingas na APA da Massambaba no Rio de Janeiro. Os autores listaram 664 espécies distribuídas em 118 famílias de plantas vasculares, dentre elas 641 espécies sendo angiospermas. Quanto aos hábitos/formas de vida, os autores afirmam o predomínio de plantas herbáceas (30%), seguidas de arbustos (23%), árvores (21%), "lianas" (termo aplicado para trepadeiras sem distinção de herbáceas ou lenhosas) (19%), epífitas (6%) e parasitas/micoheretótrofas (saprófitas) (1%). No entanto, quando de forma equiparada, em que o componente lenhoso (arbustos + árvores, exceto trepadeiras lenhosas) é considerado na sua totalidade (283 espécies = 45%), os resultados obtidos pelos autores corroboram o observado na composição florística do PEI na exata ordem de predominância, excetuando a forma de vida "ervas aquáticas" que não foi citada.

Apesar da extrema importância paisagística atribuída aos diferentes estratos vegetacionais nas restingas, a maioria das informações florísticas é proveniente de investigações que envolvem exclusivamente o componente arbustivo/arbóreo ou apenas arbóreo. Exemplos disso são os trabalhos realizados por Fabris & Cesar (1996)Fabris, L.C. & César, O. 1996. Estudos florísticos em uma mata litorânea no sul do estado do Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão (Nova Série) 5: 15-46., Sá & Araújo (2009)Sá, C.F.C. & Araújo, D.S.D. 2009. Estrutura e florística de uma floresta de restinga em Ipitangas, Saquarema, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguésia 60: 147-170., Assis et al. (2011)Assis, M.A.; Prata, E.M.B.; Pedroni, F.; Sanchez, M.; Eisenlohr, P.V.; Martins, F.R.; Santos, F.A.M.; Tamashiro, J.Y.; Alves, L.F.; Vieira, S.A.; Piccolo, M.C.; Martins, S.C.; Camargo, P.B.; Carmo, J.B.; Simões, E.; Martinelli, L.A. & Joly, C.A. 2011. Florestas de restinga e de terras baixas na planície costeira do sudeste do Brasil: vegetação e heterogeneidade ambiental. Biota Neotropica 11: 103-121., Santos-Filho et al. (2011)Santos-Filho, F.S.; Almeida Jr., E.B.; Soares, C.J.R.S. & Zickel, C.S. 2010. Fisionomias das restingas do delta do Parnaíba, Nordeste, Brasil. Revista Brasileira de Geografia Física 3: 218-227., Giaretta et al. (2013)Giaretta, A.; Menezes, L.F.T. & Pereira, O.J. 2013. Structure and floristic pattern of a coastal dune in southeastern Brazil. Acta Botanica Brasilica 27: 87-107..

A alta riqueza de espécies herbáceas terrestres pode ser explicada dada a predominância de formações abertas presentes em grandes áreas de dunas e alagados. Dentre as famílias mais ricas, Cyperaceae destaca-se pela elevada diversidade taxonômica (26 espécies) a qual é atribuída, principalmente, às áreas de alagados. O número supera em praticamente o triplo e o dobro do número de espécies apontado por Pereira & Assis (2000)Pereira, O.J. & Araújo, D.S.D. 2000. Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D. (eds.). Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Universidade Federal do Rio de Janeiro/NUPEM, Macaé. Pp. 25-63. e por Araújo et al. (2009)Araujo, D.S.D.; Sá, C.F.C.; Fontella-Pereira, J.; Garcia, D.S.; Ferreira, M.V.; Paixão, R.J.; Schneider, S.M. & Fonseca-Kruel, V.S. 2009. Área de proteção ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: Caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia 60: 67-96. em áreas de restingas de Camburi (Vitória-ES) (9 spp.) e APA da Massambaba (Rio de Janeiro-RJ) (15 spp.), respectivamente. Apesar da variação na representatividade entre áreas, Cyperaceae e Poaceae sempre estiveram presentes em levantamentos florísticos de restingas que incluíram o estrato herbáceo em suas análises, a exemplo de Pereira & Assis (2000)Pereira, O.J. & Assis, A.M. 2000. Florística da restinga de Camburi. Acta Botanica Brasilica 14: 99-111. e Araújo et al. (2009)Araujo, D.S.D.; Sá, C.F.C.; Fontella-Pereira, J.; Garcia, D.S.; Ferreira, M.V.; Paixão, R.J.; Schneider, S.M. & Fonseca-Kruel, V.S. 2009. Área de proteção ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: Caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia 60: 67-96.. No entanto, o estudo realizado por Assis et al. (2004)Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361. não cita os dois taxa em sua listagem para a área de restinga do Parque Estadual Paulo César Vinha (Guarapari-ES).

A informação sobre a diversidade de trepadeiras no Brasil ainda está muito aquém em relação a sua elevada diversidade taxonômica e isso pode ser explicado pela escassez de estudos que envolvam esforços direcionados a este grupo de plantas (Morellato & Leitão-Filho 1998Morellato, L.P. & Leitão-Filho, H. 1998. Levantamento florístico da comunidade de trepadeiras de uma floresta semidecídua no Sudeste do Brasil. Boletim do Museu Nacional, Nova Série, Botânica 103: 1-115.; Tiribiçá et al. 2006Tibiriçá, Y.; Coelho, L. & Moura, L. 2006. Florística de lianas em um fragmento de floresta semidecidual, Parque Estadual de Vassanunga, Santa Rita do Passa Quatro, SP, Brasil. Acta Botânica Brasilica 20: 339-346.).

Para o PEI, Passifloraceae apresentando 10 espécies foi um resultado surpreendente, uma vez que geralmente são citadas no máximo até cinco espécies para as restingas capixabas (Assis et al. 2004Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361.; Pereira & Assis 2000Pereira, O.J. & Araújo, D.S.D. 2000. Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D. (eds.). Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Universidade Federal do Rio de Janeiro/NUPEM, Macaé. Pp. 25-63.). E, corroborando a alta diversidade taxonômica de trepadeiras do PEI, pode-se citar Aristolochiaceae que é reconhecidamente uma família de difícil taxonomia. No PEI foram registradas Aristolochia trilobata, espécie que apresenta pseudoestípulas e pode ser confundida, quando em estádio vegetativo, com espécies do gênero Passiflora L. (Passifloraceae), no entanto, a presença de gavinhas neste último define sua identidade; e Aristolochia zebrina a qual está bem representada nas coleções do estado, porém comumente determinada como Aristolochia cordigera (Klotzsch) Duch. No entanto, devido às várias dissimilaridades morfológicas, concluiu-se que se trata de uma nova espécie para a ciência e que foi recentemente publicada (Freitas et al. 2016Freitas, J.; Lirio, E.J.; González, F.& Alves-Araújo, A. 2016. Aristolochia zebrina sp. nov. (Aristolochiaceae) from southeastern Brazil. Nordic Journal of Botany 34: 54-59.).

Epífitas e hemi-epífitas formam um grupo altamente diverso nos Neotrópicos. Elas estão distribuídas de maneira bastante esparsa nas restingas e no PEI são consideradas com baixa diversidade de taxa e representadas, principalmente, por Orchidaceae, Bromeliaceae e Araceae. Os resultados obtidos corroboram Araújo et al. (2009)Araujo, D.S.D.; Sá, C.F.C.; Fontella-Pereira, J.; Garcia, D.S.; Ferreira, M.V.; Paixão, R.J.; Schneider, S.M. & Fonseca-Kruel, V.S. 2009. Área de proteção ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: Caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia 60: 67-96. na ordem de importância das famílias, exceto para Cactaceae que aparece como a terceira mais rica em espécies, logo à frente de Araceae. Além de aspectos edafo-climáticos das restingas, outros fatores podem ser atribuídos para a baixa riqueza de espécies dessa categoria de forma de vida no PEI como a redução de polinizadores e dispersores, redução de forófitos e altas taxas de exploração comercial.

As plantas aquáticas estão representadas apenas por quatro espécies: Hydrocleys nymphoides (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Buchenau (Alismataceae), Cabomba haynesii Wiersema (Cabombaceae), Utricularia biloba R.Br. (Lentibulariaceae) e Nymphoides indica (L.) Kuntze (Menyanthaceae). para este grupo de plantas. A metodologia aplicada neste trabalho não contemplou a diversidade observada e, por isso, os dados de macrófitas serão posteriormente divulgados em um trabalho a parte. Uma vez que as macrófitas exigem esforço de coleta diferenciado, a baixa riqueza de espécies apresentada, na verdade, não reflete o cenário real ocorrente no PEI.

As plantas parasitas (holo- e hemi-) e as micoheterótrofas são naturalmente consideradas mais raras em diversos ambientes. No PEI, o número encontrado de espécies parasitas encontra-se dentro do esperado para as restingas e vai de acordo com o BFG (2015)BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113., entretanto, o de micoheterótrofas é maior que o triplo do registrado por Araújo et al. (2009)Araujo, D.S.D.; Sá, C.F.C.; Fontella-Pereira, J.; Garcia, D.S.; Ferreira, M.V.; Paixão, R.J.; Schneider, S.M. & Fonseca-Kruel, V.S. 2009. Área de proteção ambiental de Massambaba, Rio de Janeiro: Caracterização fitofisionômica e florística. Rodriguésia 60: 67-96..

Plantas exóticas também fazem parte da composição florística do PEI, duas delas não foram incluídas na listagem por se tratarem de escape de cultivo local, sendo Mangifera indica L. (Anacardiaceae) e Artocarpus heterophyllus Lam. (Moraceae) tratadas na literatura como cultivada e naturalizada, respectivamente (BFG 2015BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Contudo, Acacia mangium Willd. (Fabaceae), espécie conhecida popularmente como Acácia australiana, é considerada um risco à biodiversidade local devido às suas altas taxas de reprodução e ocupação (observação pessoal). Para o BFG (2015)BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113., A. mangium consta como não ocorrente em território brasileiro.

Dada a grande variação de biomas e fitofisionomias do Brasil juntamente com o avanço do conhecimento taxonômico, não é raro o registro de novas ocorrências para diversos grupos de plantas. Dentre os novos registros aqui apresentados, chama-se atenção para Clidemia bullosa DC. (Melastomataceae) e Ficus pallida Vahl (Moraceae) que constituem novos registros para o Domínio da Mata Atlântica. Clidemia bullosa, espécie anteriormente registrada para as regiões Norte, Centro-Oeste (exceto Distrito Federal) e Nordeste (Ceará) em áreas com alterações antrópicas e de florestas de terra firme, de várzea, pluviais e savanas amazônicas (BFG 2015BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Já Ficus pallida era citada apenas para as regiões Norte (Acre, Amazonas, Rondônia) e Centro-Oeste (Goiás) em áreas de florestais de terra firme, de várzea, estacional semi-decidual e ombrófila (BFG 2015BFG. 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.).

Os resultados aqui mostrados adicionam novos registros ao listado por Dutra et al. (2015)Dutra, V.F.; Alves-Araújo, A. & Carrijo, T.T. 2015. Angiosperm checklist of Espírito Santo: using electronic tools to improve the knowledge of an Atlantic Forest biodiversity hotspot. Rodriguésia 66: 1145-1152. e, além disso, confirmam as ocorrências de espécies amplamente distribuídas no território brasileiro e não registradas para o Espírito Santo, a exemplo de Digitaria fuscescens (J.Presl) Henrard e Eragrostis maypurensis (Kunth) Steud. (Poaceae), Coccoloba mollis Casar. (Polygonaceae) e Cissus spinosa Cambess. (Vitaceae).

Amostras já coletadas e até então não identificadas minimamente em nível genérico (totalizando cerca de 50 morfo-espécies) não foram contabilizadas com a finalidade de deixar mais clara a contribuição dos resultados aqui apresentados. Porém, com a resolução da identidade taxonômica e posterior inclusão dessas amostras juntamente com refinamento da informação a partir de estudos taxonômicos já iniciados na área, estima-se o aumento do número de taxa ocorrentes no Parque Estadual de Itaúnas.

Agradecimentos

Ao CNPq, o auxílio financeiro através da concessão de bolsa de Iniciação Científica CNPq/UFES à primeira autora. À Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo - Fapes, a concessão da bolsa de Pesquisador Capixaba à autora MMPT. Ao IEMA, a concessão de licença de coleta e à equipe do Parque Estadual de Itaúnas. Ao gestor do PEI, Gustavo Rosa, o suporte e colaboração. E ao setor de transporte CEUNES/UFES, o apoio logístico. Aos revisores ad hoc que contribuíram para melhoria deste trabalho.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016

Histórico

  • Recebido
    24 Set 2015
  • Aceito
    08 Out 2015
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