Acessibilidade / Reportar erro

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Lacistemataceae

Flora of the cangas of the Serra dos Carajás, Pará, Brazil: Lacistemataceae

Resumo

Lacistema aggregatum (Lacistemataceae) é apresentada como contribuição à flora rupestre das cangas da Serra dos Carajás. São fornecidas descrição e ilustração da espécie, além de comentários sobre a taxonomia de espécies relacionadas.

Palavras-chave:
Floresta Nacional de Carajás; Lacistema; Malpighiales

Abstract

Lacistema aggregatum (Lacistemataceae) is presented as a contribution to the Rupestral Flora of the cangas of Serra dos Carajás. Description and illustration, besides comments on the taxonomy of related species are provided.

Key words:
National Forest of Carajás; Lacistema; Malpighiales

Lacistemataceae

Lacistemataceae Mart. (Malpighiales) foi circunscrita como uma tribo dentro da família Flacourtiaceae (sensuCronquist 1988Cronquist, A. 1988. The evolution and classification of flowering plants. New York Botanical Garden and Allen Press, New York. 396p.), a qual se mostrou parafilética na filogenia apresentada por Chase et al. (2002)Chase, M.W.; Zmarzty, S.; Lledó, M.D.; Wurdack, K.J.; Swensen, S.M. & Fay, M.F. 2002. When in doubt, put it in Flacourtiaceae: a molecular phylogenetic analysis based on plastid rbcL DNA sequences. Kew Bulletin 57: 141-181.. O grupo, composto pelos gêneros Lacistema Sw. e Lozania S. Mutis, emergiu como grupo irmão das Ctenolophonaceae, filogeneticamente posicionado distante das demais Flacourtiaceae s.l. (Chase et al. 2002Chase, M.W.; Zmarzty, S.; Lledó, M.D.; Wurdack, K.J.; Swensen, S.M. & Fay, M.F. 2002. When in doubt, put it in Flacourtiaceae: a molecular phylogenetic analysis based on plastid rbcL DNA sequences. Kew Bulletin 57: 141-181.). Davis et al. (2005)Davis, C.C.; Webb, C.O.; Wurdack, K.J.; Jaramillo, C.A. & Donoghue, M.J. 2005. Explosive radiation of Malpighiales supports a Mid-Cretaceous origin of modern tropical rain forests. American Naturalist 165: E36-E65. e Korotkova et al. (2009)Korotkova, N.; Schneider, J.V.; Quandt, D.; Worberg, A.; Zizka, G. & Borsch, T. 2009. Phylogeny of the eudicot order Malpighiales - analysis of a recalcitrant clade with sequences of the petD group II intron. Plant Systematic and Evolution 282: 201-228. resgataram Lacistemataceae como grupo irmão de Salicaceae. Atualmente, Lacistemataceae conta com 14 espécies amplamente distribuídas nas Américas Central e do Sul, ocorrendo desde o México até a Argentina (Sleumer 1980Sleumer, H.O. 1980. Flacourtiaceae. Flora Neotropica 22. The New York Botanical Garden, New York. Pp. 1-499.; Stevens 2016Stevens, P.F. 2016. Angiosperm Phylogeny Website. Versão 12 Jul. 2012 [and more or less continuously updated since]. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 20 janeiro 2016.
http://www.mobot.org/MOBOT/research/APwe...
). No Brasil ocorrem 11 espécies, das quais 10 pertencem a Lacistema (Marquete & Medeiros 2016Marquete, R. & Medeiros, E.S. 2016. Lacistemataceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB17847>. Acesso em 20 fevereiro 2016.
http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/florado...
).

1. Lacistema Sw., Prodr. 1, 12. 1788.

Lacistema possui baixa amostragem em coleções de herbários supostamente devido às inflorescências diminutas, o que as tornam pouco perceptivas visualmente. Geralmente, as espécies possuem espigas de pouco mais de um centímetro com flores 1-estaminadas e uma bráctea envolvendo as estruturas florais. Os caracteres diagnósticos que definem as espécies são principalmente referentes à presença ou ausência de tricomas nos ramos, nas folhas e no ovário. A Flora Neotropica (Sleumer 1980Sleumer, H.O. 1980. Flacourtiaceae. Flora Neotropica 22. The New York Botanical Garden, New York. Pp. 1-499.), somada aos poucos estudos taxonômicos que apresentam chaves taxonômicas regionais e ilustrações [Flora de São Paulo (Torres & Ramos 2005Torres, R.B & Ramos, E. 2005 Lacistemataceae. In: Wanderley, M.G.L.; Shepherd, G.J.; Melhem, T.; Giulietti, A.M. (eds.). Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. FAPESP & Rima, São Paulo. Vol. 4, pp. 231-237.) e Flora da Bahia (Marinho & Amorim 2015Marinho, L.C. & Amorim, A.M. 2015. Flora da Bahia: Lacistemataceae. Sitientibus série Ciências Biológicas 15: 1-6.)] fornecem a base para a identificação das espécies do gênero no Brasil. No Pará são registradas quatro espécies, mais comumente encontradas em áreas florestadas (Marquete & Medeiros 2016Marquete, R. & Medeiros, E.S. 2016. Lacistemataceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB17847>. Acesso em 20 fevereiro 2016.
http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/florado...
). Destas, apenas Lacistema aggregatum ocorre nas cangas da Serra de Carajás geralmente nos limites entre as cangas e as formações florestais adjacentes.

1.1. Lacistema aggregatum (P.J. Bergius) Rusby, Bull. New York Bot. Gard. 4(14): 447. 1907. Fig. 1a-g

Figura 1
Lacistema aggregatum - a. ramo com inflorescências (A.S.L. Silva et al. 3976); b. flor em vista frontal (brácteas e bractéolas retiradas); c. bractéola; d. sépala; e. estame e nectário; f. gineceu; g. fruto aberto (L.V.C. Costa et al. 1024).
Figure 1
Lacistema aggregatum - a. branch with inflorescences (A.S.L. Silva. et al. 3976); b. flower in front view (bracts and bracteoles laid out); c. bracteole; d. sepal; e. stamen and nectary; f. gynoecium; g. open fruit (L.V.C. Costa et al. 1024).

Arbustos de até 4 m alt.; ramos glabros; estípula terminal com tricomas simples esparsos em ramos jovens, 5-7 mm compr. Pecíolos 8-10 mm compr., glabros, enegrecidos in sicco. Lâminas foliares 8,5-13 × 3-4,7 cm, subcoriáceas, oblongas, ápice agudo a apiculado, margens inteiras, base arredondada a cuneada, glabras em ambas as faces; 5-6 pares de nervuras secundárias, adpressas na face adaxial, levemente salientes na face abaxial, arqueadas próximo a margem da lâmina, formando um padrão camptódromo-broquidódromo. Inflorescências axilares, 2-8 por axila, espiciformes, esverdeadas a creme, 3-7 mm compr.; raque com tricomas esparsos simples; bráctea basal 0,8-1 × 0,8-1 mm, suborbicular, glabra, margens erosas; bractéolas 4, 0,3-0,4 × 0,1-0,15 mm, lanceoladas a lineares, base truncada, margens erosas, ápice agudo. Flores monoclamídeas; sépalas 5, 0,5-0,6 × 0,2-0,25 mm, lanceoladas a oblongas, base truncada, margens erosas, ápice agudo a arredondado; estame 0,7-0,9 mm compr., fundido ao nectário, filete frequentemente curvo, glabro, antera extrorsa, conectivo espessado 0,3-0,4 mm larg.; nectário 4-5-lobado, carnoso; gineceu glabro, ovário 0,2-0,23 mm compr., súpero, 3-carpelar, 1 óvulo por lóculo, cônico a ovoide, estigmas 3, sésseis. Cápsulas 5-6 × 5-6 mm, esferoides, verdes passando a vermelhas quando maduras, glabras. Semente 1, 4-5 mm compr., esferoide, arilo branco.

Material selecionado: Canaã dos Carajás, S11D, 700 m, 04.VIII.2010, bt., L.V.C. Costa et al. 1024 (BHCB, MG).

Material adicional selecionado: BRASIL. AMAZONAS: Serra do Aracá, 26.II.1977, fl., N.A. Rosa & M.R. Cordeiro 1670 (MG). PARÁ: Novo Progresso, Serra do Cachimbo, 09º16'19"S, 54º56'22"W, 20.VII.2003, fl., A.S.L. Silva et al. 3976 (MG).

Lacistema aggregatum possui extensa lista de sinônimos devido, principalmente, à variação na textura e número de nervuras das folhas, além da variação no número de sépalas. Lacistema aggregatum assemelha-se a L. robustum Schnizl., espécie que ocorre na Bahia, Espírito Santo e Pernambuco (Marquete & Medeiros 2016Marquete, R. & Medeiros, E.S. 2016. Lacistemataceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB17847>. Acesso em 20 fevereiro 2016.
http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/florado...
), podendo ser diferenciada pelos ramos e pecíolos glabros e estigmas sésseis em L. aggregatum (vs. ramos e pecíolos com tricomas e estiletes alongados). Nas florestas de terra firme da Serra do Carajás ocorre também L. grandifolium Schnizl., da qual é facilmente diferenciada pelas lâminas foliares com face abaxial glabra em L. aggregatum.

Lacistema aggregatum ocorre desde o México e Ilhas Caribenhas até a Argentina (Sleumer 1980Sleumer, H.O. 1980. Flacourtiaceae. Flora Neotropica 22. The New York Botanical Garden, New York. Pp. 1-499.). No Brasil, Lacistema aggregatum é amplamente distribuída nas regiões Norte e Centro-Oeste, ocorrendo também no Maranhão e São Paulo. Na Serra dos Carajás, foi registrada na Serra Sul: S11D.

Lista de exsicatas

  • Costa, L.V.C. 1024 (1.1).

Agradecimentos

Agradecemos ao projeto objeto do convênio MPEG/ITV/FADESP (01205.000250/2014-10) e ao projeto aprovado pelo CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento. Aos curadores dos herbários BHCB, IAN e MG, o acesso às coleções. Ao Pedro Viana, a Nara Mota e a Ana M. Giulietti, o apoio durante a realização do trabalho. Ao CNPq, a bolsa de Doutorado concedida a LCM (141561/2015-7), a bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida a AMA (310717/2015-9) e o Edital Universal (486079/2013-9).

Referências

  • Chase, M.W.; Zmarzty, S.; Lledó, M.D.; Wurdack, K.J.; Swensen, S.M. & Fay, M.F. 2002. When in doubt, put it in Flacourtiaceae: a molecular phylogenetic analysis based on plastid rbcL DNA sequences. Kew Bulletin 57: 141-181.
  • Cronquist, A. 1988. The evolution and classification of flowering plants. New York Botanical Garden and Allen Press, New York. 396p.
  • Davis, C.C.; Webb, C.O.; Wurdack, K.J.; Jaramillo, C.A. & Donoghue, M.J. 2005. Explosive radiation of Malpighiales supports a Mid-Cretaceous origin of modern tropical rain forests. American Naturalist 165: E36-E65.
  • Korotkova, N.; Schneider, J.V.; Quandt, D.; Worberg, A.; Zizka, G. & Borsch, T. 2009. Phylogeny of the eudicot order Malpighiales - analysis of a recalcitrant clade with sequences of the petD group II intron. Plant Systematic and Evolution 282: 201-228.
  • Marinho, L.C. & Amorim, A.M. 2015. Flora da Bahia: Lacistemataceae. Sitientibus série Ciências Biológicas 15: 1-6.
  • Marquete, R. & Medeiros, E.S. 2016. Lacistemataceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB17847>. Acesso em 20 fevereiro 2016.
    » http://reflora.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB17847
  • Sleumer, H.O. 1980. Flacourtiaceae. Flora Neotropica 22. The New York Botanical Garden, New York. Pp. 1-499.
  • Stevens, P.F. 2016. Angiosperm Phylogeny Website. Versão 12 Jul. 2012 [and more or less continuously updated since]. Disponível em <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em 20 janeiro 2016.
    » http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/
  • Torres, R.B & Ramos, E. 2005 Lacistemataceae. In: Wanderley, M.G.L.; Shepherd, G.J.; Melhem, T.; Giulietti, A.M. (eds.). Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. FAPESP & Rima, São Paulo. Vol. 4, pp. 231-237.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    02 Maio 2016
  • Aceito
    12 Jul 2016
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br