Acessibilidade / Reportar erro

Flora do Rio de Janeiro: Juncaginaceae

Flora of Rio de Janeiro: Juncaginaceae

Resumo

O presente estudo tem como objetivo contribuir para o conhecimento das espécies de Juncaginaceae ocorrentes no estado do Rio de Janeiro. O trabalho tem por base a análise morfológica de materiais depositados em herbários e trabalho de campo, além da compilação de dados de literatura. Foi registrado um gênero com uma espécie: Triglochin striata. Descrições, ilustrações, dados sobre hábitat, fenologia e distribuição geográfica são apresentados.

Palavras-chave:
florística; plantas paludosas; taxonomia; Triglochin

Abstract

This study focuses on the Juncaginaceae found in the state of Rio de Janeiro. It is based on a morphological analysis of herbaria collections, as well as on a review of the relevant literature and field work. A total of one species were recorded for the state: Triglochin striata. Descriptions, illustrations, habitat data, phenology, and species distribution are also provided.

Key words:
floristic inventory; marshy plants; taxonomy; Triglochin

Juncaginaceae Rich.

Ervas perenes ou anuais, frequentemente aquáticas, glabras. Rizoma presente ou não, curto, subterrâneo, ereto, geralmente cilíndrico e estolonífero. Folhas alternas dísticas ou espiraladas, simples, basais e sésseis; lígula frequentemente presente no ápice da bainha. Inflorescência em espiga ou racemo. Flores uni ou bissexuais, actinomorfas ou raramente zigomorfas, prefloração valvar; tépalas (0-)1-6 em 1-2 verticilos, livres, inconspícuas; estames 0-6, livres, férteis ou abortivos; anteras sésseis ou subsésseis, adnatas à base das tépalas, rimosas e basifixas. Ovário súpero, 1-2-4 locular, 1-6 carpelar, geralmente uniovulado; carpelos livres ou conados; placentação basal; estiletes curtos, longos, filiformes ou ausentes; estigmas papilosos ou fimbriados. Fruto folículo, aquênio ou núcula, semente linear ou ovoide.

Família representada por quatro gêneros e ca. 15 espécies de distribuição subcosmopolita (Haynes et al. 1998Haynes, R.R.; Les, D.H. & Holm-Nielsen, L.B. 1998. Juncaginaceae In: Kubitzki, K.; Huber, H.; Rudall, P.J.; Stevens, P.S. & Stützel, T. The families and genera of vascular plants. Vol. 4. Springer-Verlag, Berlin. Pp. 260-263.; Pansarin & Amaral 2003Pansarin, E.R. & Amaral, M.C.E. 2003. Juncaginaceae In: Wanderley, M.G.L.; Shepherd, G.J.; Giulietti, A.M. & Melhem, T.A. Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. Instituto de Botânica, São Paulo. Vol. 2, pp. 129-130.). No Brasil ocorrem dois gêneros e duas espécies, distribuindo-se pelo Sul e Sudeste. No Rio de Janeiro está representada por uma espécie (BFG 2015).

1. Triglochin L.

Ervas monoicas, paludosas ou emergentes. Rizoma presente. Folhas alternas dísticas; lâmina linear, venação uninérvea ou paralelinérvea. Inflorescência escaposa, raramente reduzida a uma única flor terminal. Flores bissexuais; tépalas 6, em dois verticilos, deltoides ou conchiformes, frequentemente caducas; estames 6, em 2 séries; anteras subsésseis, ápice frequentemente emarginado. Ovário 1-locular, geralmente 3-6 carpelar, carpelos parcialmente férteis, livres; estiletes nulos. Fruto nucáceo.

Possui distribuição cosmopolita com ca. 12 espécies (Haynes et al. 1998Haynes, R.R.; Les, D.H. & Holm-Nielsen, L.B. 1998. Juncaginaceae In: Kubitzki, K.; Huber, H.; Rudall, P.J.; Stevens, P.S. & Stützel, T. The families and genera of vascular plants. Vol. 4. Springer-Verlag, Berlin. Pp. 260-263.), sendo o centro de diversidade na Austrália (Köcke et al. 2010Köcke, A.V.; Mering, S.; Mucina, L. & Kadereit, J.W. 2010. Revision of the Mediterranean and Southern African Triglochin bulbosa complex (Juncaginaceae). Edinburgh Journal of Botany 67: 353-398.). O gênero está representado por apenas uma espécie no Brasil (BFG 2015).

1.1. Triglochin striata Ruiz & Pav., Fl. Peruv. 3: 72. 1802 Fig.1

Ervas perenes, 18-32 cm alt., geralmente halófitas. Folhas 2,5-40 × 0,2-0,5 cm; lâmina linear, ápice agudo, venação paralelinérvea. Inflorescência racemosa, escapo 3-20 cm compr.; pedicelos 1,5-2 mm compr. Flores esverdeadas, brácteas ausentes; tépalas 1-1,7 × 0,8-1,2 mm, conchiformes, membranáceas; anteras 0,3-0,6 × 0,2-0,4 mm. Ovário 6-carpelar, 3 férteis alternando com 3 estéreis; estigmas fimbriados. Fruto subgloboso, 1,5-2,5 × 1-1,5 mm; semente 0,5-1,2 × 0,2-0,5 mm, ovoide.

A espécie distribui-se pelo oeste dos Estados Unidos até o sudeste do Brasil, Austrália e Nova Zelândia (Pansarin & Amaral 2003Pansarin, E.R. & Amaral, M.C.E. 2003. Juncaginaceae In: Wanderley, M.G.L.; Shepherd, G.J.; Giulietti, A.M. & Melhem, T.A. Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. Instituto de Botânica, São Paulo. Vol. 2, pp. 129-130.; Kirizawa 2000). No Brasil ocorre no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (BFG 2015). No Rio de Janeiro sua ocorrência, assim como nos demais estados brasileiros, é restrita às restingas, em associação com Cyperaceae. É encontrada em N30, T23, T24, T27 e U15.

Material selecionado: Araruama, 18.IV.1965, fl. e fr., D. Sucre 208 (RB); Cabo Frio, Arraial do Cabo, Pontal Beach, 24.IV.1953, fr., F.S. Vianna et al. 1304 (R); Carapebus, Praia de Carapebus, bem próximo à lagoa, 1.X.1999, fl. e fr., C.P. Bove et al. 459 (R); Rio de Janeiro, Recreio dos Bandeirantes, Avenida Sernambetiba, 18.VII.1968, fl. e fr., M. Honorina 44 (R); Saquarema, Praia do Sossego, lado esquerdo do Mun. de Saquarema, 28.VIII.1999, fl. e fr., C.B. Moreira et al. 52 (R).

Figura 1
Triglochin striata - a. hábito, com Bacopa monnieri (Plantaginaceae) ao fundo (C.P. Bove 459); b. flor evidenciando tépalas conchiformes e estigma fimbriado; c. anteras subsésseis com tépala ao fundo (b-c: C.B. Moreira 52); d. parte da infrutescência (F.S. Vianna 4345). Escalas: b-c = 0,5 mm; d = 1 mm.
Figure 1
Triglochin striata - a. habit, with Bacopa monnieri (Plantaginaceae) in the background (C.P. Bove 459); b. flower evidencing conchiform tepals and fimbriated stigma; c. anthers subssesile with tepal in the background (b-c: C.B. Moreira 52); d. part of the infructescence (F.S. Vianna 4345). Scales: b-c = 0.5 mm; d = 1 mm.

Lista de exsicatas

  • Bove, C.P. 459; Honorina, M. 44; Moreira, C.B. 52; Vianna, F.S. 1304; Sucre, D. 208.

Agradecimentos

Aos curadores e equipe dos herbários GUA, HB, R e RB. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Edital PROTAX, Processo 562251/2010-3), a bolsa de Produtividade de C.P.B., e a bolsa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq de I.G.C.M.C.

Referências

  • BFG 2015. Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.
  • Haynes, R.R.; Les, D.H. & Holm-Nielsen, L.B. 1998. Juncaginaceae In: Kubitzki, K.; Huber, H.; Rudall, P.J.; Stevens, P.S. & Stützel, T. The families and genera of vascular plants. Vol. 4. Springer-Verlag, Berlin. Pp. 260-263.
  • Kirizawa, M. 2000. Juncaginaceae In: Melo, M.M.R.F. et alVol. 7. Flora Fanerogâmica da Ilha do Cardoso. Instituto de Botânica, São Paulo. Pp. 71-73.
  • Köcke, A.V.; Mering, S.; Mucina, L. & Kadereit, J.W. 2010. Revision of the Mediterranean and Southern African Triglochin bulbosa complex (Juncaginaceae). Edinburgh Journal of Botany 67: 353-398.
  • Pansarin, E.R. & Amaral, M.C.E. 2003. Juncaginaceae In: Wanderley, M.G.L.; Shepherd, G.J.; Giulietti, A.M. & Melhem, T.A. Flora Fanerogâmica do estado de São Paulo. Instituto de Botânica, São Paulo. Vol. 2, pp. 129-130.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2017

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2015
  • Aceito
    22 Set 2015
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br