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Aquifoliaceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil

Aquifoliaceae in the Serra Negra, Minas Gerais, Brazil

Resumo

Apresenta-se um estudo taxonômico de Aquifoliaceae para a Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. A Serra Negra faz parte do Complexo da Mantiqueira, localizada na porção sul da Zona da Mata Mineira. O inventário florístico foi realizado com base em materiais de expedições vinculadas ao projeto “Estudos Florísticos na Serra Negra”. Essas expedições ocorreram entre 2003 e 2010. Na Serra Negra, Aquifoliaceae está representada por quatro espécies: Ilex dumosa, I. paraguariensis, I. subcordata e I. theezans. São fornecidas descrições, chave de identificação, ilustrações de caracteres diagnósticos e comentários sobre a taxonomia, ecologia e distribuição das espécies.

Palavras-chave:
Aquifoliales; área prioritária para conservação; flora; taxonomia

Abstract

A taxonomic study of Aquifoliaceae is presented for Serra Negra, Minas Gerais, Brazil. Serra Negra is part of the Mantiqueira Complex, located in the southern portion of Zona da Mata of Minas Gerais. The floristic inventory was performed based on materials from expeditions linked to the “Estudos florísticos na Serra Negra, Minas Gerais” project. Those expeditions occurred between 2003 and 2010. In Serra Negra, Aquifoliaceae is represented by four species: Ilex dumosa, I. paraguariensis, I. subcordata, and I. theezans. Descriptions, identification key, illustrations of diagnostic characters and comments on the taxonomy, ecology and distribution of the species are provided.

Key words:
Aquifoliales; priority area for conservation; floristics; taxonomy

Introdução

Aquifoliaceae está inserida em Aquifoliales, juntamente com Cardiopteridaceae, Helwingiaceae, Stemonuraceae e Phyllonomaceae (APG IV 2016APG - The Angiosperm Phylogeny Group (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20.). Em sua atual circunscrição, Aquifoliaceae é representada unicamente pelo gênero Ilex L., com mais de 600 espécies (Loizeau et al. 2016Loizeau PA, Savolainen V, Andrews S, Barriera G & Spichiger R (2016) Aquifoliaceae. In: Kadereit JW & Bittrich V (eds.) The families and genera of vascular plants - flowering plants Eudicots. Vol. 14. Springer, New York. Pp. 31-36.). Ilex possui uma distribuição predominantemente tropical, se estendendo até regiões temperadas dos hemisférios Norte e Sul, sendo o leste Asiático e a América do Sul seus centros globais de diversidade (Loizeau et al. 2016Loizeau PA, Savolainen V, Andrews S, Barriera G & Spichiger R (2016) Aquifoliaceae. In: Kadereit JW & Bittrich V (eds.) The families and genera of vascular plants - flowering plants Eudicots. Vol. 14. Springer, New York. Pp. 31-36.; Yao et al. 2016Yao X, Tan YH, Liu YY, Song Y, Yang JB & Corlett RT (2016) Chloroplast genome structure in Ilex (Aquifoliaceae). Scientific Reports 6: 28559.).

No Brasil, ocorrem 58 espécies de Ilex e quatro variedades, das quais 42 são endêmicas, podendo ser encontradas em diversos tipos de ambientes nos domínios da Amazônia, Caatinga, Cerrado e Floresta Atlântica. O gênero está amplamente distribuído pelo território brasileiro, não ocorrendo apenas nos estados do Amapá, na Região Norte, e Ceará, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte, na Região Nordeste (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.).

Poucos estudos com enfoque taxonômico foram realizados até então para a família no Brasil, podendo ser citados os trabalhos em áreas de Floresta Atlântica realizados nos estados de Santa Catarina (Edwin & Reitz 1967Edwin G & Reitz R (1967) Aquifoliáceas. In: Reitz R (ed.) Flora ilustrada catarinense. Tipografia e Livraria Blumenauense, Itajaí. 47p.), São Paulo (Groppo & Pirani 2002Groppo M & Pirani JR (2002) Aquifoliaceae. In: Wanderley MGL, Shepherd GJ, Melhem TS, Giulietti AM & Martins SE (eds.) Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. HUCITEC, São Paulo. Vol. 2, pp. 31-37.), Sergipe (Groppo 2015Groppo M (2015) Aquifoliaceae. In: Prata AP, Farias MCV & Landim MF (orgs.) Flora de Sergipe Vol. 2. Criação, Aracaju. Pp. 55-59.) e na Serra de Araçatuba no Paraná (Brotto et al. 2007Brotto ML, Vieira T & Santos EP (2007) Flórula do Morro dos Perdidos, Serra de Araçatuba, Paraná, Brasil: Aquifoliaceae. Estudos de Biologia 29: 129-135.). Em áreas de Cerrado, Aquifoliaceae foi abordada nos tratamentos para as serras do Cipó e Grão-Mogol em Minas Gerais (Groppo & Pirani 2003Groppo M & Pirani JR (2003) Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais: Aquifoliaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 21: 97-98., 2005Groppo M & Pirani JR (2005) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Aquifoliaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 23: 257-265.), além do tratamento disponível para o Distrito Federal (Groppo 2003Groppo M (2003) Aquifoliaceae. In: Cavalcanti TB & Ramos AE (orgs.) Flora do Distrito Federal, Brasil. Vol. 3. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília. Pp. 51-62.). Para o estado de Minas Gerais, não existem estudos disponíveis com este enfoque para a Floresta Atlântica.

A Serra da Mantiqueira abrange áreas dos quatro estados da Região Sudeste, possuindo 20% dos remanescentes da Floresta Atlântica mineira (Costa & Herrmann 2006Costa C & Herrmann G (2006) Plano de ação do Corredor Ecológico da Mantiqueira. Valor Natural, Belo Horizonte. 64p.). A Serra Negra está inserida no complexo da Serra da Mantiqueira, e atualmente não se encontra protegida por unidades de conservação públicas, contando apenas com algumas RPPNs (Menini Neto et al. 2009Menini Neto L , Matozinhos CN , Abreu NL, Valente ASM, Antunes K, Souza FS, Viana PL & Salimena FRG (2009) Flora não-arbórea de uma floresta de grota na Serra da Mantiqueira, Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil. Biota Neotropica 9: 1-13.; Souza et al. 2012Souza FS, Salino A, Viana PL & Salimena FRG (2012) Pteridófitas da Serra Negra, Minas Gerais. Acta Botanica Brasilica 26: 378-390.; Salimena et al. 2013Salimena FRG , Matozinhos CN , Abreu NL, Ribeiro JHC, Souza FS & Menini Neto L (2013) Flora fanerogâmica da Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 64: 311-320.). Dada a limitada ação das políticas conservacionistas, a região da Serra Negra tem sofrido com o turismo desordenado, especulação imobiliária, atividades agropecuárias e coleta ilegal de espécimes vegetais (Drummond et al. 2005Drummond GM, Martins CS, Machado ABM, Sebaio FA & Antonini Y (2005) Biodiversidade em Minas Gerais: mm atlas para sua conservação. 2a ed. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte. 222p.).

Inventários florísticos e tratamentos taxonômicos fornecem dados essenciais sobre a diversidade vegetal de determinada região, podendo contribuir diretamente na criação de novas unidades de conservação e no desenvolvimento de estratégias de manejo. Para a região da Serra Negra, alguns estudos já abordaram a sua diversidade vegetal (Menini Neto et al. 2009Menini Neto L , Matozinhos CN , Abreu NL, Valente ASM, Antunes K, Souza FS, Viana PL & Salimena FRG (2009) Flora não-arbórea de uma floresta de grota na Serra da Mantiqueira, Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil. Biota Neotropica 9: 1-13.; Abreu & Menini Neto 2010Abreu NL & Menini Neto L (2010) As subfamílias Vanilloideae e Orchidoideae (Orchidaceae) em um fragmento da Serra da Mantiqueira, Minas Gerais, Brasil. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 28: 15-33.; Abreu et al. 2011Abreu NL , Menini Neto L & Konno TUP (2011) Orchidaceae das Serras Negra e do Funil, Rio Preto, Minas Gerais, e similaridade florística entre formações campestres e florestais do Brasil. Acta Botanica Brasilica 25: 58-70.; Feliciano & Salimena 2011Feliciano EA & Salimena FRG (2011) Solanaceae A. Juss. na Serra Negra, Rio Preto, Minas Gerais. Rodriguésia 62: 55-76.; Matozinhos & Konno 2011Matozinhos CN & Konno TUP (2011) Diversidade taxonômica de Apocynaceae na Serra Negra, MG, Brasil. Hoehnea 38: 569-595.; Valente et al. 2011Valente ASM, Garcia PO, Salimena FRG & Oliveira-Filho AT (2011) Composição, estrutura e similaridade florística da Floresta Atlântica, na Serra Negra, Rio Preto - MG. Rodriguésia 62: 321-340.; Blaser et al. 2012Blaser J, Salimena FRG & Chautems A (2012) Gesneriaceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 63: 705-714.; Dutra et al. 2012Dutra SM, Salimena FRG & Menini Neto L (2012) Annonaceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 63: 785-793.; Souza et al. 2012Souza FS, Salino A, Viana PL & Salimena FRG (2012) Pteridófitas da Serra Negra, Minas Gerais. Acta Botanica Brasilica 26: 378-390.; Mezzonato-Pires et al. 2013Mezzonato-Pires AC, Salimena FRG & Bernacci LC (2013) Passifloraceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 64: 123-136.; Salimena et al. 2013Salimena FRG , Matozinhos CN , Abreu NL, Ribeiro JHC, Souza FS & Menini Neto L (2013) Flora fanerogâmica da Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 64: 311-320.; Gonzaga et al. 2014Gonzaga DR, Zappi D, Furtado SG & Menini Neto L (2014) Cactaceae da Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 65: 443-453.; Oliveira et al. 2014Oliveira JA, Salimena FRG & Zappi DC (2014) Rubiaceae da Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 65: 471-504.; Cabral et al. 2016Cabral A, Romão GO, Roman SA & Menini Neto L (2016) Ericaceae da Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 67: 225-236.; Justino et al. 2016Justino LL, Salimena FRG, Campos BC & Menini Neto L (2016) O clado Merianthera e as tribos Merianieae e Microliceae (Melastomataceae) na Serra Negra, Minas Gerais. Rodriguésia 67: 823-838.; Miloski et al. 2017Miloski J, Somner GV, Salimena FRG & Menini Neto L (2017) Sapindaceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 68: 1-20.; Mota et al. 2017Mota MCA, Pastore JFB, Marques Neto R, Harley RM & Salimena FR (2017) Lamiaceae na Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 68: 143-157.). Com o objetivo de dar continuidade aos estudos da flora na Serra Negra, bem como contribuir para o melhor entendimento da taxonomia e distribuição geográfica de Aquifoliaceae, o presente estudo visa fornecer um inventário das espécies ocorrentes nesta área, com descrições, ilustrações e uma chave para sua identificação, além de comentários de distribuição geográfica, ecológicos e taxonômicos dessas espécies.

Material e Métodos

A Serra Negra localiza-se no sul da Zona da Mata mineira, inserida nos municípios de Lima Duarte, Santa Bárbara do Monte Verde, Rio Preto e Olaria (22º05'S e 43º49'W). A região possui uma área aproximada de 10.000 ha., apresentando relevo marcadamente montanhoso, com altitudes variando entre 800 e 1.700 m. A cobertura vegetal compreende um mosaico de fitofisionomias composto por campos rupestres, remanescentes de Floresta Ombrófila Densa Aluvial, Floresta Ombrófila Densa Montana, Floresta Ombrófila Densa Alto Montana e fragmentos da Floresta Estacional Semidecidual, além de áreas antrópicas. O clima é do tipo Cwb (Köppen), mesotérmico úmido, com invernos secos e frios e verões brandos e úmidos, apresentando uma precipitação média anual de 1.886 mm e temperatura média anual entre 17 e 20 ºC (Menini Neto et al. 2009Menini Neto L , Matozinhos CN , Abreu NL, Valente ASM, Antunes K, Souza FS, Viana PL & Salimena FRG (2009) Flora não-arbórea de uma floresta de grota na Serra da Mantiqueira, Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil. Biota Neotropica 9: 1-13.; Valente et al. 2011Valente ASM, Garcia PO, Salimena FRG & Oliveira-Filho AT (2011) Composição, estrutura e similaridade florística da Floresta Atlântica, na Serra Negra, Rio Preto - MG. Rodriguésia 62: 321-340.; Salimena et al. 2013Salimena FRG , Matozinhos CN , Abreu NL, Ribeiro JHC, Souza FS & Menini Neto L (2013) Flora fanerogâmica da Serra Negra, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 64: 311-320.).

O inventário florístico foi realizado por meio de expedições entre os anos de 2003 e 2010 vinculadas ao projeto "Estudos Florísticos na Serra Negra, Minas Gerais" desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Espécimes férteis foram amostrados, herborizados segundo metodologia de Fidalgo & Bononi (1984)Fidalgo O & Bononi VL (1984) Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico (Manual n. 4). Instituto de Botânica, São Paulo. 62p. e depositados no acervo do herbário CESJ, com duplicatas enviadas ao herbário SPFR (acrônimo segundo Thiers, continuamente atualizado). Dados relevantes para a identificação das espécies, como atributos morfológicos, condições do habitat, altitude e coordenadas geográficas, foram anotados em campo. A descrição de gênero foi baseada nos espécimes coletados na Serra Negra. Foram adotadas as terminologias morfológicas propostas por Radford et al. (1974)Radford AE, Dickinson WC, Massey JR & Bell CR (1974) Vascular plant systematics. Harper Collins, New York. 891p., Harris & Harris (2003)Harris JG & Harris MW (2003) Plant identification terminology: an illustrated glossary. 2nd ed. Spring Lake Publ., Spring Lake. 216p. e Gonçalves & Lorenzi (2007)Gonçalves EG & Lorenzi H (2007) Morfologia vegetal: organografia e dicionário ilustrado de morfologia das plantas vasculares. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 416p., e para inflorescências por Loizeau & Spichiger (1992)Loizeau PA & Spichiger R (1992) Proposition d'une classification des inflorescences d'Ilex L. (Aquifoliaceae). Candollea 47: 97-112. e Coelho & Mariath (1996)Coelho GC & Mariath JEA (1996) Inflorescences morphology of Ilex L. (Aquifoliaceae) species from Rio Grande do Sul, Brazil. Feddes Repertorium 107: 19-30.. O material examinado está listado em ordem alfabética de município e localidades específicas, sendo utilizada a ordem cronológica no caso de haver mais de um material nestas condições. Foi analisado material adicional na ausência de flores pistiladas, estaminadas ou frutos.

Resultados e Discussão

Aquifoliaceae está representada na Serra Negra por quatro espécies: Ilex dumosa Reissek, I. paraguariensis A.St.-Hil., I. subcordata Reissek e I. theezans Mart. ex Reissek. Destas, I. subcordata apresenta distribuição mais restrita, sendo endêmica de Minas Gerais, e no presente estudo seus limites de distribuição geográfica foram corrigidos em relação àqueles apresentados por BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113., com o registro para o domínio Atlântico no estado. As demais espécies apresentam distribuição mais ampla, sendo I. paraguariensis e I. theezans encontradas nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul, e I. dumosa nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.).

Os estudos realizados com enfoque taxonômico para a família em Minas Gerais registraram nove espécies de Aquifoliaceae na Serra do Cipó (Groppo & Pirani 2005Groppo M & Pirani JR (2005) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Aquifoliaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 23: 257-265.) e três em Grão-Mogol (Groppo & Pirani 2003Groppo M & Pirani JR (2003) Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais: Aquifoliaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 21: 97-98.), sendo que apenas a Serra do Cipó compartilha táxons com a Serra Negra: Ilex dumosa I. paraguariensis e I. theezans.

Tratamento taxonômico

Aquifoliaceae Bercht. & J.Presl

Árvores, arvoretas ou arbustos. Folhas alternas, simples, com nervação broquidódroma ou semicraspedódroma, geralmente com estípulas. Inflorescências axilares ou extra-axilares, fascículos, dicásios, tirsos, racemos ou outros tipos. Flores dióicas, funcionalmente unissexuadas, diclamídeas, heteroclamídeas, 4-6(-22)-meras, actinomorfas, gamossépalas, pétalas conatas basalmente, alternas ao cálice, androceu isostêmone; estames livres, alternipétalos, adnatos basalmente às pétalas; ovário súpero, sincárpico, carpelos 4-6, lóculos 4-6, lóculos uniovulados, placentação axial, estilete curto ou estigma séssil. Fruto do tipo drupa, sementes 4-6, envoltas por endocarpo coriáceo formando pirenos.

1. Ilex L.

Arvoretas, arbustos ou árvores, dióicos. Lenticelas presentes ou não nos ramos. Tricomas tectores presentes nas folhas, pedúnculo da inflorescência e flores; tricomas glandulares ausentes, glândulas punctiformes enegrecidas presentes ou não. Folhas pecioladas, coriáceas, margem plana a revoluta, inteira, denteada ou crenada; estípulas pequenas, triangulares, caducas. Inflorescência em fascículo, tirso ou dicásio. Flores 4-5-meras; sépalas persistentes no fruto; pétalas alvas ou alvo-esverdeadas, imbricadas; flor estaminada com pistilódio; flor pistilada com estaminódios, estigma subséssil, persistente no fruto. Fruto drupa, oval a globosa, sulcada, glabra.

Tradicionalmente, as espécies de Ilex são diferenciadas entre si pelo tamanho e forma das folhas, pela complexidade das inflorescências cimosas e pelo número de partes florais ou ainda se são plantas perenes ou decíduas (Loizeau et al. 2005Loizeau PA, Barriera G, Manen JF & Broennimann O (2005) Towards an understanding of the distribution of Ilex L. (Aquifoliaceae) on a world-wide scale. Biologiske Skrifter 55: 501-520.). Entretanto, ao mesmo tempo, é conhecida a grande uniformidade interespecífica da morfologia floral e a grande variabilidade da morfologia foliar mesmo em um nível intraespecífico, tornando frequente a dificuldade na delimitação dos táxons (Groppo & Pirani 2002Groppo M & Pirani JR (2002) Aquifoliaceae. In: Wanderley MGL, Shepherd GJ, Melhem TS, Giulietti AM & Martins SE (eds.) Flora fanerogâmica do estado de São Paulo. HUCITEC, São Paulo. Vol. 2, pp. 31-37., 2003Groppo M & Pirani JR (2003) Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais: Aquifoliaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 21: 97-98., 2005Groppo M & Pirani JR (2005) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Aquifoliaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 23: 257-265.; Loizeau et al. 2005Loizeau PA, Savolainen V, Andrews S, Barriera G & Spichiger R (2016) Aquifoliaceae. In: Kadereit JW & Bittrich V (eds.) The families and genera of vascular plants - flowering plants Eudicots. Vol. 14. Springer, New York. Pp. 31-36.; Manen et al. 2010Manen JF , Barriera G , Loizeau PA & Naciri Y (2010) The history of extant Ilex species (Aquifoliaceae): evidence of hybridization within a Miocene radiation. Molecular Phylogenetics and Evolution 57: 961-977.).

    Chave de identificação para as espécies de Aquifoliaceae da Serra Negra
  • 1. Glândulas punctiformes enegrecidas presentes nas folhas; flores com sépalas pubérulas; pétalas apenas ciliadas ......................................................................................................................... 1.1. Ilex dumosa

  • 1'. Glândulas punctiformes enegrecidas ausentes; flores com sépalas ciliadas ou pubescentes, pétalas glabras ou pubescentes na face abaxial ............................................................................................................ 2

    • 2. Lenticelas ausentes; folhas com face adaxial pubescente, lustrosa, face abaxial pubescente, margem inteira, base obtusa a arredondada, pecíolo 1,3-3 mm compr., pubescente; flores com pedicelo 2,1-3,3 mm compr. ........................................................................................ 1.3. Ilex subcordata

    • 2'. Lenticelas presentes nos ramos; folhas com face adaxial glabra a esparsamente pubérula na porção basal, frequentemente apenas na nervura central, não lustrosa, face abaxial glabra a esparsamente pubérula na nervura central, margem crenada ou denteada na metade distal, base atenuada a cuneada, pecíolo 3-14,5 mm compr., glabro a pubérulo; flores com pedicelo 3,5-7,2 mm compr. .......... 3

      • 3. Ramos pubérulos; folhas com ápice cuneado, arredondado ou levemente retuso, margem crenada; flores 4-meras; pedicelo 4,5-7,2 mm compr., pubescente; sépalas pubescentes; pétalas pubescentes na face abaxial ................................................. 1.2. Ilex paraguariensis

      • 3'. Ramos glabros; folhas com ápice agudo-acuminado, margem denteada na metade distal; flores 5-meras; pedicelo 3,5-4 mm compr., esparsamente pubérulo; sépalas apenas ciliadas; pétalas glabras ........................................................................................................ 1.4. Ilex theezans

1.1. Ilex dumosaReissek, Fl. bras. 11(1): 64. 1861Reissek S (1861) Ilex subcordata. In: Martius CFP & Eichler A (eds.) Flora brasiliensis. Lipsiae apud Frid. Fleischer in comm. Vol. 11, p. 49.. Figs. 1a-e; 3a,b

Figura 1
a-e. Ilex dumosa – a. hábito; b. face abaxial da folha; c. detalhe das glândulas punctiformes e da margem da folha; d. vista frontal da flor; e. vista superior da flor. f-j. I. paraguariensis – f. face abaxial da folha; g. detalhe do indumento na nervura central; h. ramo; i. detalhe do indumento no ramo; j. frutos. (a-e. N.L. Abreu 29; f-j. F.R.G. Salimena 1366).
Figure 1
a-e. Ilex dumosa – a. habit; b. leaf abaxial surface; c. detail of the leaf punctiform glands and margin; d. flower front view; e. flower top view. f-j. Ilex paraguariensis – f. leaf abaxial surface; g. detail of the midvein indument; h. branch; i. detail of the branch indument; j. fruits. (a-e. N.L. Abreu 29; f-j. F.R.G. Salimena 1366).
Figura 2
a-g. Ilex subcordata – a. ramo com flores; b. ramo com frutos; c. face abaxial da folha; d. detalhe da nervura central; e. detalhe do indumento no pecíolo; f. flor; g. fruto. h-l. I. theezans – h. face adaxial da folha; i. margem da folha; j. detalhe do ramo; k. inflorescência; l. vista externa da flor. (a. C.N. Matozinhos 144; b. N.L. Abreu 140; c-f. C.N. Matozinhos 144; g. N.L. Abreu 140; h-l. N.L. Abreu 36).
2
a-g. Ilex subcordata – a. branch with flowers; b. branch with fruits; c. leaf abaxial surface; d. detail of the midvein; e. detail of the peciole indument; f. flower; g. fruit. h-l. Ilex theezans – h. leaf adaxial surface; i. leaf margin; j. detail of the branch; k. inflorescence; l. flower external view. (a. C.N. Matozinhos 144; b. N.L. Abreu 140; c-f. C.N. Matozinhos 144; g. N.L. Abreu 140; h-l. N.L. Abreu 36).
Figura 3
a,b. Ilex dumosa – a. face abaxial da folha; b. botão floral. c-e. I. paraguariensis – c. detalhe das lenticelas no ramo; d. inflorescência; e. drupa. f-h. I. subcordata – f. ápice da folha, face adaxial; g. ápice da folha, face abaxial; h. corola e androceu, uma pétala e estame removidos. i-l. I. theezans – i. detalhe das lenticelas no ramo; j. ápice da folha, face adaxial; k. botões florais; l. drupa. (a,b. N.L. Abreu 29; c,d. O. Handro 259; e. F.S. Souza et al. 29; f-h. CESJ 13249; i-k. N.L. Abreu et al. 36; l. F.R.G. Salimena et al. 1366).
Figure 3
a,b. Ilex dumosa – a. leaf abaxial surface; b. flower bud. c-e. Ilex paraguariensis – c. detail of the lenticels on branch; d. inflorescence; e. drupe. f-h. Ilex subcordata – f. leaf apex, adaxial surface; g. leaf apex, abaxial surface; h. corolla and androecium, one petal and stamen removed. i-l. Ilex theezans – i. detail of the lenticels on branch; j. leaf apex, adaxial surface; k. flower buds; l. drupe. (a,b. N.L. Abreu 29; c,d. O. Handro 259; e. F.S. Souza et al. 29; f-h. CESJ 13249; i-k. N.L. Abreu et al. 36; l. F.R.G. Salimena et al. 1366).

Arvoreta, ca. 6 m alt. Tricomas tectores presentes nos ramos, folhas, pedúnculo da inflorescência e flores; tricomas glandulares ausentes; glândulas punctiformes enegrecidas presentes nas folhas. Ramos pubérulos, lenticelas ausentes. Folhas 0,7-3,4 × 0,4-1,8 cm, coriáceas, obovais a elíptica-obovais, face adaxial pubérula, não lustrosa, face abaxial pubérula próximo ao pecíolo, com glândulas conspícuas, ápice arredondado ou levemente obtuso, margem levemente revoluta, crenada nos ¾ apical e inteira no ¼ basal, crenas terminando em apículo enegrecido, base atenuada a aguda, pecíolo 2,9-5,5 mm compr., pubérulo. Inflorescências em tirsos, pistiladas formadas por dicásios 3-floros, frequentemente reduzidos a uma única flor, estaminadas formadas por dicásios 3-floros. Flores 4-meras, 3-4,6 mm diâm., pedicelo 1,6-4,2 mm compr., pubérulo, sépalas arredondadas, pubérulas, pétalas alvas, arredondadas, apenas ciliadas. Drupa negra, globosa, 3,4-3,9 mm diâm., glabra.

Material examinado: Rio Preto, Serra Negra, trilha para a cachoeira do Ninho da Égua: 9.XI.2005, fl., N.L. Abreu et al. 29 (CESJ, SPFR); 9.XI.2005, fl., N.L. Abreu et al. 32 (CESJ, SPFR).

Material adicional examinado: PARANÁ. Guaratuba, 8.XII.1971, fr., L. Krieger 11039 (CESJ, MBM, SPFR). SÃO PAULO. Itararé, Fazenda Ibiti (Ripasa), 30.X.1993, fl., V.C. Souza 4537A (CESJ, ESA).

Ilex dumosa é encontrada na Argentina, Paraguai, Uruguai e no Brasil (Zuloaga et al. 2008Zuloaga F, Morrone O & Belgrano M (2008) Catálogo de las plantas vasculares del Cono Sur (Argentina, southern Brazil, Chile, Paraguay y Uruguay). Monographs in Systematic Botany from the Missouri Botanical Garden 107: 1-3486.; BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). No Brasil, essa espécie ocorre nas regiões Norte, Sudeste e Sul, além dos estados da Bahia e Sergipe nos domínios da Caatinga, Cerrado e Floresta Atlântica (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra Negra ocorre em campo rupestre. Dentre as outras espécies ocorrentes na área de estudo, I. dumosa pode ser facilmente identificada pela presença de glândulas punctiformes enegrecidas na face abaxial das folhas. Os espécimes foram coletados com flores no mês de novembro.

1.2. Ilex paraguariensis A.St.-Hil., Mém. Mus. Hist. nat. 9: 350. 1822. Figs. 1f-j; 3c-e

Árvore, ca. 4 m alt. Tricomas tectores presentes nos ramos, folhas, pedúnculo da inflorescência e flores; tricomas glandulares ausentes; glândulas punctiformes enegrecidas ausentes. Ramos pubérulos, lenticelas presentes. Folhas 1,4-9,8 × 0,7-3,7 cm, coriáceas, obovais a elípticas, face adaxial glabra a esparsamente pubérula na porção basal, frequentemente apenas na nervura central, não lustrosa, face abaxial glabra a esparsamente pubérula na nervura central, ápice agudo, arredondado ou levemente retuso, margem levemente revoluta, crenada, crenas terminando em apículo enegrecido, base atenuada a cuneada, pecíolo 3-12 mm compr., pubérulo. Inflorescências pistiladas em fascículos, 3-9-floros, estaminadas em tirsos, formadas por agrupamentos de dicásios 3-floros. Flores 4-meras, 4,35-5,5 mm diâm., pedicelo 4,5-7,2 mm compr., pubescente, sépalas oval-triangulares, pubescentes, pétalas alvas, arredondadas, pubescentes na face abaxial e glabras na face adaxial. Drupa vermelha ou negra, oval a globosa, 4,5-6,5 mm diâm., glabra.

Material examinado: Rio Preto, Serra Negra, Cachoeira da Água Vermelha, 26.VI.2008, fr., F.S. Souza et al. 29 (CESJ); região do Ninho da Égua, 10.IV.2010, fr., N.L. Abreu et al. 192 (CESJ).

Material adicional examinado: MINAS GERAIS. Carvalhos, Franceses, 25.IX.2008, fl., D. Pimenta 10 (CESJ, JABU, MBM). SÃO PAULO. Jabaquara, 15.XI.1943, fl., O. Handro 259 (CESJ, RB).

Ilex paraguariensis é nativa de regiões de clima temperado, resistindo a baixas temperaturas. Ocorre no Brasil, Argentina e Paraguai (Oliveira & Rotta 1985Oliveira YMM & Rotta E (1985) Área de distribuição natural de erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hil.). In: Anais do Seminário sobre Atualidades e Perspectivas Florestais. EMBRAPA-CNPF, Curitiba. Pp.17-36.). No Brasil a espécie distribui-se nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, pelos domínios do Cerrado e Floresta Atlântica (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra Negra é encontrada em campo rupestre e interior de floresta semidecídua próximo a cursos d'água. Pode ser confundida com I. theezans, pela presença de lenticelas nos ramos de ambas as espécies, pelas folhas com face adaxial não lustrosa e dimensões semelhantes, além da sobreposição no comprimento do pecíolo. Em contrapartida, I. paraguariensis distingue-se de I. theezans principalmente pela presença de ramos pubérulos, folhas com margem crenada, flores tetrâmeras e pedicelo medindo de 4,5-7,2 mm compr. (vs. ramos glabros, folhas com margem denteada na metade distal, flores pentâmeras e pedicelo com 3,5-4 mm compr. em I. theezans). Os espécimes foram coletados com frutos nos meses de abril e junho.

1.3. Ilex subcordataReissek Fl. bras. 11(1): 49. 1861Reissek S (1861) Ilex subcordata. In: Martius CFP & Eichler A (eds.) Flora brasiliensis. Lipsiae apud Frid. Fleischer in comm. Vol. 11, p. 49.. Figs. 2a-g; 3f-h

Arbusto, 1,5-2 m alt. Tricomas tectores presentes nos ramos, folhas, pedúnculo da inflorescência e flores; tricomas glandulares ausentes; glândulas punctiformes enegrecidas ausentes. Ramos pubérulos, lenticelas ausentes. Folhas 0,7-2,5 × 0,5-2 cm, coriáceas, elípticas, largo-elípticas a orbiculares, face adaxial pubescente, densamente nas folhas jovens, lustrosa, face abaxial pubescente, densamente na nervura central, ápice agudo, obtuso ou arredondado, margem revoluta, inteira, base obtusa a arredondada, pecíolo 1,3-3 mm compr., pubescente. Inflorescências fasciculadas, pistiladas formadas por dicásios 3-floros, frequentemente reduzidos a uma única flor, estaminadas formadas por dicásios 3-floros. Flores 5-meras, 3-3,1 mm diâm., pedicelo 2,1-3,3 mm compr., pubescente, sépalas triangulares, pubescentes, pétalas alvas, arredondadas, glabras. Drupa verde, roxa ou negra, globosa, 4-5 mm diâm., glabra.

Material examinado: Rio Preto, Serra Negra, Fazenda da Tiririca, IV.2006, fl., C.N. Matozinhos et al. 144 (CESJ, SPFR); IV.2006, fr., C.N. Matozinhos et al. 170 (CESJ, SPFR); R.P.P.N. São Lourenço do Funil, 7.XII.2007, fl., F.R.G. Salimena et al. 2578 (CESJ); trilha atrás da Gruta do Funil, 16.III.2007, fr., N.L. Abreu et al. 140 (CESJ).

Material adicional examinado: MINAS GERAIS. Serra de Ibitipoca, 3.XI.1973, fl., L. Krieger (CESJ 13249, RB 508371).

Ilex subcordata foi considerada endêmica de Minas Gerais, no domínio do Cerrado (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). No entanto, dada sua ocorrência na Serra Negra, a espécie também habita o Domínio Atlântico. Além disso, em sua opus princeps há indicação de ocorrência para o estado do Rio de Janeiro, além de Minas Gerais (Reissek 1861Reissek S (1861) Ilex subcordata. In: Martius CFP & Eichler A (eds.) Flora brasiliensis. Lipsiae apud Frid. Fleischer in comm. Vol. 11, p. 49.) e baseando-se nesta informação I. subcordata poderia não ser endêmica de Minas Gerais. Na Serra Negra foi encontrada em campo rupestre. Dentre as outras espécies existentes na área, I. subcordata pode ser caracterizada pela presença de folhas com margem inteira, enquanto em I. dumosa e I. paraguariensis as folhas apresentam margem crenada e em I. theezans apresentam margem denteada. Distingue-se de I. dumosa também pela ausência de glândulas punctiformes enegrecidas na face abaxial das folhas, e de I. paraguariensis e I. theezans pelas folhas medindo de 0,7-2,5 cm compr. com face adaxial lustrosa, em contraste com as folhas de maior comprimento e face adaxial não lustrosa em I. paraguariensis e I. theezans. Os espécimes foram coletados com flores nos meses de abril e dezembro e com frutos em março e abril.

1.4. Ilex theezans Mart. ex Reissek, Fl. bras. 11(1): 51, tab. 12, pl. 17. 1861. Figs. 2h-l; 3i-l

Arvoreta ou árvore, ca. 5 m alt. Tricomas tectores presentes folhas, pedúnculo da inflorescência e flores; tricomas glandulares ausentes; glândulas punctiformes enegrecidas ausentes. Ramos glabros, lenticelas presentes. Folhas 3,2-10,1 × 1,4-3,1 cm, coriáceas, obovais, face adaxial glabra, não lustrosa, face abaxial glabra, ápice agudo-acuminado, margem plana a levemente revoluta, denteada na metade distal, não ultrapassando a metade da margem, base cuneada, pecíolo 4,1-14,5 mm compr., glabro a esparsamente pubérulo na região basal. Inflorescências pistiladas e estaminadas em aglomerados de dicásio, formadas por 3-floros, frequentemente reduzidos a uma única flor. Flores 5-meras, 4-6 mm diâm., pedicelo 3,5-4 mm compr., esparsamente pubérulo, sépalas oval-triangulares, apenas ciliadas, pétalas alvo-esverdeadas, arredondadas, glabras. Drupa verde, globosa, 3,8-4,5 mm diâm., glabra.

Material examinado: Rio Preto, Funil, trilha para a ponte em direção ao Serrote de São Gabriel, 2.VI.2006, fr., F.R.G. Salimena et al. 1366 (CESJ, SPFR). Serra Negra, trilha para a cachoeira do Ninho da Égua, 9.XI.2005, fl., N.L. Abreu et al. 36 (CESJ, SPFR).

Ilex theezans distribui-se no Brasil, Paraguai e Argentina. No Brasil ocorre desde a Bahia até o Rio Grande do Sul nos domínios da Amazônia, Caatinga, Cerrado e Floresta Atlântica (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra Negra é encontrada em campo rupestre e floresta ciliar. Na área de estudo, a espécie apresenta afinidades morfológicas com I. paraguariensis, como mencionado anteriormente. Os espécimes foram coletados com flores em novembro e com frutos em junho.

  • Editor de área: Dr. Leandro Giacomin

Agradecimentos

Os autores agradecem à equipe do Herbário Leopoldo Krieger (CESJ) da Universidade Federal de Juiz de Fora, a disponibilização da coleção para realização do estudo; à FAPEMIG, a concessão de auxílio ao projeto "Estudos Florísticos na Serra Negra, Minas Gerais" (CRA 1891/06 e CRA 1810-5.02/07), e aos revisores, as contribuições ao manuscrito.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2018

Histórico

  • Recebido
    06 Mar 2017
  • Aceito
    01 Jul 2017
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