Acessibilidade / Reportar erro

Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Cleomaceae

Flora of the cangas of Serra dos Carajás, Pará, Brasil: Cleomaceae

Resumo

Neste estudo são retratadas as espécies de Cleomaceae que foram registradas para as cangas da Serra dos Carajás, no estado do Pará. São apresentadas descrições morfológicas, ilustração, imagens e comentários sobre as espécies. Foram registradas duas espécies para a área de estudo: Melidiscus giganteus e Tarenaya spinosa, ambas com ampla distribuição na região Neotropical.

Palavras-chave:
Amazônia; diversidade; FLONA Carajás; flora; norte do Brasil

Abstract

The species of Cleomaceae that occur in the cangas of Serra dos Carajás, Pará state, Brazil, are described in this study. Morphological descriptions, illustrations, images and notes about the species are given here. Melidiscus giganteus and Tarenaya spinosa, both species with broad geographic distribution in the Neotropical region, were recorded in the area studied.

Key words:
Amazônia; diversity; FLONA Carajás; flora; north of Brazil

Cleomaceae

Cleomaceae Bercht. & J. Presl inclui ervas a arbustos, com folhas palmado-compostas (3-12-folioladas), inflorescências racemosas, ebracteadas ou bracteadas, flores bissexuais, actinomorfas ou zigomorfas, com nectário disciforme, cônico, obsoleto ou ausente, estames 6-27 e frutos em cápsulas ou síliquas elevadas por um ginóforo bem desenvolvido ou ausente. A família atualmente é composta por 18 gêneros e 350 espécies (Patchell et al. 2014Patchell MJ, Roalson EH & Hall JC (2014) Resolved phylogeny of Cleomaceae based on all three genomes. Taxon 63: 315-328.). Seus representantes apresentam distribuição pantropical, ocorrendo com mais frequência nas regiões tropicais e subtropicais dos neotrópicos (Tucker 2009Tucker GC (2009) Neotropical Cleomaceae. In: Milliken W, Klitgård B & Baracat A (2009 onwards) Neotropikey - Interactive key and information resources for flowering plants of the Neotropics. Disponível em <http://www.kew.org/science/tropamerica/neotropikey/families/Cleomaceae.htm>. Acesso em 11 agosto 2016.
http://www.kew.org/science/tropamerica/n...
; Iltis & Cochrane 2014Iltis HH & Cochrane TS (2014) Cleomaceae. In: Davidse G, Sousa Sánchez S, Knapp S & Cabrera FC (eds.) Flora Mesoamericana. St. Louis, Missouri Botanical Garden. Vol. 2. Disponível em <http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf>. Acesso em 11 agosto 2016.
http://www.tropicos.org/docs/meso/cleoma...
; Patchell et al. 2014Patchell MJ, Roalson EH & Hall JC (2014) Resolved phylogeny of Cleomaceae based on all three genomes. Taxon 63: 315-328.). No Brasil, a família está representada por oito gêneros e 29 espécies ocorrendo em todo território brasileiro (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.).

Na Serra dos Carajás foram registradas duas espécies: Melidiscus giganteus (L.) Raf. e Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf.

    Chave de identificação dos gêneros de Cleomaceae das cangas da Serra dos Carajás
  • 1. Estípulas ausentes; racemos laxifloros, ebracteados; sementes lisas ................................. 1. Melidiscus

  • 1'. Estípulas espinescentes; racemos densifloros, bracteados; sementes com estrias longitudinais e geralmente com cristas transversais ..................................................................................... 2. Tarenaya

1. Melidiscus Raf.

Ervas anuais a perenes ou arbustos; ramos revestidos por indumento pubescente-glandular. Estípulas ausentes. Folhas palmada-compostas, 5-11 folioladas. Racemos laxifloros; ebracteados. Pétalas unguiculadas, esverdeadas. Estames 6. Sementes pequenas e numerosas, pretas, lisas e brilhantes.

Melidiscus compreende apenas duas espécies de distribuição desde o México a Argentina e no Brasil (Iltis & Cochrane 2014Iltis HH & Cochrane TS (2014) Cleomaceae. In: Davidse G, Sousa Sánchez S, Knapp S & Cabrera FC (eds.) Flora Mesoamericana. St. Louis, Missouri Botanical Garden. Vol. 2. Disponível em <http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf>. Acesso em 11 agosto 2016.
http://www.tropicos.org/docs/meso/cleoma...
).

1.1. Melidiscusgiganteus (L.) Raf., Sylva Tellur. 110. 1838.Fig. 1a-b

Figura 1
a-b. Melidiscus giganteus – a. folha palmada-composta 7-foliolada; b. ramo portando botões florais, flores abertas e fruto maduro.
Figure 1
a-b. Melidiscus giganteus – a. palmately compound 7-foliolate leaf; b. branche bearing buds, open flowers and mature fruit.

Arbusto; ramos revestidos por indumento pubescente-glandular. Folha 7-foliolada; pecíolo 14-16 cm compr., densamente pubescente; folíolos elípticos, ápice acuminado, base cuneada, margem ciliada, ambas as faces revestidas por indumento tomentoso, o central 8-10 × 2-3 cm, os laterais 6-9,5 × 1,5-2 cm; sésseis. Racemo maior que 40 cm compr., terminal. Pedicelo 3-4 cm compr., pubescente-glandular. Sépalas 12-20 × 1 mm, linear-triangulares, ápice longo acuminado. Pétalas 14-23 × 3-7 mm, lâmina elíptica, ápice obtuso, puberulentas externamente. Filetes 6-7 cm compr.; anteras não visualizadas. Ovário cilíndrico a fusiforme, puberulento; estigma séssil, discoide. Síliqua 15 cm compr., cilíndrica a fusiforme, puberulenta; ginóforo 6,5 cm compr., puberulento. Sementes 2-2,5 × 1,5 mm, suborbiculares, lisa.

Material examinado: Parauapebas, Serra da Bocaina, 6°18'53"S, 49°53'38"W, 18.XII.2010, fl. e fr., N.F.O. Mota et al. 1946 (BHCB, RB).

Melidiscus giganteus é caracterizada pelo indumento pubescente-glandular, estípulas ausentes, inflorescência ebracteada e de longo comprimento (maior que 40 cm compr.), pétalas esverdeadas e pelas síliqua cilíndrica a fusiforme, puberulenta.

Ocorre no México, América Central, Colômbia, Venezuela, Guiana Francesa, Equador, Peru, Bolívia, Brasil, Paraguai e Argentina (Iltis & Cochrane 2014Iltis HH & Cochrane TS (2014) Cleomaceae. In: Davidse G, Sousa Sánchez S, Knapp S & Cabrera FC (eds.) Flora Mesoamericana. St. Louis, Missouri Botanical Garden. Vol. 2. Disponível em <http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf>. Acesso em 11 agosto 2016.
http://www.tropicos.org/docs/meso/cleoma...
). No Brasil, foi registrada no Amazonas, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e nos estados da região Sul (BFG 2015BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.). Na Serra dos Carajás foi coletada na Serra da Bocaina em vegetação rupestre. Coletada com flores e fruto em dezembro.

2. Tarenaya Raf.

Ervas anuais ou perenes a subarbustos ou arbustos; ramos revestidos por indumento puberulento-glandular a pubescente ou sem indumento. Estípulas espinescentes. Folhas palmada-compostas, 3-12 folioladas. Racemos densifloros; bracteados. Pétalas unguiculadas, creme a brancas, róseas a purpúreas ou bicolores com um par de cada cor. Estames 6. Sementes pequenas e numerosas, verdes, castanhas ou marrons, raramente pretas, com estrias longitudinais e geralmente com cristas transversais e opacas.

Tarenaya é um gênero composto por 30 espécies, das quais 29 ocorrem na região Neotropical e uma única na África tropical (Iltis & Cochrane 2014Iltis HH & Cochrane TS (2014) Cleomaceae. In: Davidse G, Sousa Sánchez S, Knapp S & Cabrera FC (eds.) Flora Mesoamericana. St. Louis, Missouri Botanical Garden. Vol. 2. Disponível em <http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf>. Acesso em 11 agosto 2016.
http://www.tropicos.org/docs/meso/cleoma...
).

2.1. Tarenayaspinosa (Jacq.) Raf., Sylva Tellur. 111. 1838.Fig. 2a,b

Figura 2
a-b. Tarenaya spinosa – a. visão geral dos racemos densifloros bracteados com flores e frutos imaturos; b. detalhe das pétalas brancas unguiculadas e fruto imaturo.
Figure 2
a-b. Tarenaya spinosa – a. highlight of bracteate densiflorous racemes with flowers and immature fruits; b. detail of unguiculate white petals and immature fruit.

Subarbusto 0,7 m alt.; ramos revestidos por indumento puberulento-glandular. Estípulas 1-3 mm compr., retas. Folha 5-7-foliolada; pecíolo 2,5-9,5 cm compr., puberulento-glandular; folíolos lanceolados, ápice agudo, base cuneada, margem ciliada, ambas as faces revestidas por indumento puberulento-glandular; o central 5-6,5 × 0,5-2,3 cm, os laterais 1,5-5 × 0,5-1,6 cm; peciólulo 1-5 mm compr. Racemo 10-26 cm compr., terminal; bráctea 7-12 × 21 mm, cordiforme. Pedicelo 2-3 cm compr., puberulento-glandular. Sépalas 5-18 × 1-1,5 mm, lanceoladas, ápice acuminado. Pétalas 4-50 × 2-14 mm, lâmina elíptica, ápice obtuso, glabras em ambas as faces. Filetes 2-4,8 cm compr.; anteras 2,2-3 mm compr. Ovário linear-cilíndrico, glabro; estigma séssil, capitado. Síliqua 8-11 cm compr., linear-cilíndrica, glabra; ginóforo 2,5-6,5 cm compr., glabro. Sementes 1,8-2 × 1,8-2 mm compr., orbiculares, estriada longitudinalmente com cristas transversais.

Material examinado: Parauapebas, Serra dos Carajás, próximo ao antigo alojamento da SOS, 1.II.1989, fl. e fr., J.P. Silva 311 (HCSJ).

Tarenaya spinosa é caracterizada pela presença de estípulas espinescentes retas, folhas 5-7-folioladas, racemo com brácteas cordiformes, flores com pétalas brancas a purpúreas, e síliqua linear-cilíndrica que pode alcançar até duas vezes o comprimento do ginóforo. Está espécie é amplamente distribuída na região Neotropical (Iltis & Cochrane 2014Iltis HH & Cochrane TS (2014) Cleomaceae. In: Davidse G, Sousa Sánchez S, Knapp S & Cabrera FC (eds.) Flora Mesoamericana. St. Louis, Missouri Botanical Garden. Vol. 2. Disponível em <http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf>. Acesso em 11 agosto 2016.
http://www.tropicos.org/docs/meso/cleoma...
). Na Serra dos Carajás foi registrada na Serra Norte: N5, em áreas de canga. Coletada com flores e fruto em fevereiro.

  • Editora de área: Dra. Daniela Zappi

Agradecimentos

À equipe técnica dos herbários BHCB, HCJS e RB, o empréstimo e consulta dos materiais examinados. A Rhudson Cruz, a confecção da prancha ilustrativa. Ao Instituto Tecnológico Vale (01205.000250/2014-10) e ao CNPq (processo 455505/2014-4), o financiamento do projeto. À CAPES, a bolsa de Doutorado concedida ao autor.

Referências

  • BFG - The Brazil Flora Group (2015) Growing knowledge: an overview of seed plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66: 1085-1113.
  • Iltis HH & Cochrane TS (2014) Cleomaceae. In: Davidse G, Sousa Sánchez S, Knapp S & Cabrera FC (eds.) Flora Mesoamericana. St. Louis, Missouri Botanical Garden. Vol. 2. Disponível em <http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf>. Acesso em 11 agosto 2016.
    » http://www.tropicos.org/docs/meso/cleomaceae.pdf
  • Patchell MJ, Roalson EH & Hall JC (2014) Resolved phylogeny of Cleomaceae based on all three genomes. Taxon 63: 315-328.
  • Tucker GC (2009) Neotropical Cleomaceae. In: Milliken W, Klitgård B & Baracat A (2009 onwards) Neotropikey - Interactive key and information resources for flowering plants of the Neotropics. Disponível em <http://www.kew.org/science/tropamerica/neotropikey/families/Cleomaceae.htm>. Acesso em 11 agosto 2016.
    » http://www.kew.org/science/tropamerica/neotropikey/families/Cleomaceae.htm

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2017

Histórico

  • Recebido
    12 Abr 2017
  • Aceito
    25 Maio 2017
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Pacheco Leão, 915 - Jardim Botânico, 22460-030 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21)3204-2148, Fax: (55 21) 3204-2071 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: rodriguesia@jbrj.gov.br