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Composição florística e estrutura de trecho de Floresta Ombrófila Densa Atlântica aluvial na Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil1 1 Parte da tese de doutorado da primeira autora, apresentada ao Depto. Ecologia - USP.

Floristics and structure of the canopy of an alluvial forest in Rio de Janeiro

Resumo

Os remanescentes de Floresta Ombrófila Densa submontana aluvial Atlântica, fortemente submetidos à fragmentação no RJ, carecem de estudos florísticos e estruturais. Inventariou-se 1 ha de floresta aluvial empregando parcelas, adotando como critério de inclusão DAP ≥ 5 cm e, através de relações alométricas, estabeleceu-se como dossel os limites de DAPs e alturas superiores a 10 cm e 10 m, respectivamente. Foram amostrados 486 indivíduos, de 97 espécies e 31 famílias. O índice de diversidade de Shannon (H´) foi de 3,98 nats/ind e o de eqüabilidade (J) de 0,87, valores inferiores aqueles encontrados para trechos conservados de Floresta Ombrófila Densa submontana ou montana no estado. Dentre as famílias com maiores riquezas, reunindo 73% das espécies, destacam-se: Fabaceae, Euphorbiaceae, Lauraceae, Moraceae, Myrtaceae, Annonaceae, Bignoniaceae, Melastomataceae, Clusiaceae, Meliaceae e Sapotaceae. Destacam-se como espécies com maiores VIs: Eriotheca pentaphylla, Symphonia globulifera, Tabebuia umbellata, Xylopia brasiliensis, Calophyllum brasiliense, Euterpe edulis, Tabebuia cassinoides, Platymiscium floribundum e Guarea kunthiana. Caracterizam-se como espécies indicadoras para o trecho analisado de Floresta Ombrófila Densa submontana aluvial: Eriotheca pentaphylla, Calophyllum brasiliense e Eugenia expansa. Apesar do grau de interferência antrópica, os resultados indicam elevadas riqueza e diversidade para a Floresta Ombrófila Densa submontana aluvial, de várzea ou paludosa, decorrentes da distribuição espacial heterogênea, resultante dos diferentes tipos de habitats estabelecidos, numa área de transição ecológica temporal.

Palavras-chave:
Mata Atlântica; florística; estrutura de comunidade; dossel; floresta de baixada; mata aluvial

Abstract

Remnants of the highly fragmented Atlantic Coastal Forest on the alluvial plains of Rio de Janeiro State, Brazil, have been little studied. Sample plots, totaling one hectare, were inventoried using a DBH ≥ 5 cm exclusion criterion. Allometric relationships were used to define the canopy as having a DBH ≥ 10 cm and height ≥ 10 m. A total of 486 individuals were sampled, comprising 97 species belonging to 31 families. The Shannon diversity index (H´) was 3.98 nats/ind, and the equitability (J) was 0.87. These were considered significant values for an area of Atlantic Coastal Forest in that state. Among the families with the highest species richness (73% of the total number of species) were: Fabaceae, Euphorbiaceae, Lauraceae, Moraceae, Myrtaceae, Annonaceae, Bignoniaceae, Melastomataceae, Clusiaceae, Meliaceae, and Sapotaceae. Among the species with the highest VIs were: Eriotheca pentaphylla, Symphonia globulifera, Tabebuia umbellata, Xylopia brasiliensis, Calophyllum brasiliense, Euterpe edulis, Tabebuia cassinoides, Platymiscium floribundum, and Guarea kunthiana. The indicator species for alluvial lowland ombrophilous forests were: Eriotheca pentaphylla, Calophyllum brasiliense, and Eugenia expansa. The results of this survey pointed out high richness and diversity to the Atlantic Ombrophilous Dense Forest submontane alluvial, in spite the high human interference in the landscape, during a long scale the time, where, on the other hand, it's expected a greater number of species, in different kinds of habitats resulted, will provide a heterogeneity spatial distribution in area of ecological temporal transition.

Key words:
Atlantic Coastal Forest; floristics; community structure; canopy; lowland forest; alluvial forest

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  • 1
    Parte da tese de doutorado da primeira autora, apresentada ao Depto. Ecologia - USP.
  • Apoio financeiro: Petrobras/Jardim Botânico do Rio de Janeiro/MMA.

AGRADECIMENTOS

Ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro pelo irrestrito apoio à execução deste plano de tese de doutorado; ao CNPq pela bolsa de doutorado, concedida durante parte do período do curso, à primeira autora; à The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation e à Cia. Petrobrás, cuja alocação de recursos financeiros de longo prazo propiciam a execução dos objetivos do Programa Mata Atlântica do JBRJ; à Universidade de São Paulo - USP, assim como também à Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, cuja convivência com os colegas de pós-graduação e com seus docentes, em virtude da experiência profissional destes últimos, enriqueceram o desenvolvimento da proposta de estudo; aos colegas do Programa Mata Atlântica que, valendo-se de um objetivo comum, através de suas diferentes linhas de pesquisas, auxiliaram no processo de obtenção de dados no campo e interpretação de alguns resultados obtidos, especialmente: Gustavo Martinelli, Solange de V. A. Pessoa, Tânia S. Pereira, Lana da S. Sylvestre, Claudia F. Barros, Catia Callado e ao auxiliar de campo Jorge Caruso Gomes, por seu inesgotável devotamento nas atividades de campo; e finalmente, aos taxonomistas que participaram com seu fundamental conhecimento à compreensão da diversidade florística brasileira: Alexandre Quinet, Angela S.da Fonseca Vaz, Arline de Souza, Ary Gomes da Silva, Claudia M. Vieira, Genise V. Somner, Jorge Pedro Carauta, José Fernando A. Baumgratz e, especialmente, Haroldo C. de Lima e Dra. Graziela M. Barroso, esta última in memoriam.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2006

Histórico

  • Recebido
    Set 2005
  • Aceito
    Jun 2006
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