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Croton L. (Euphorbiaceae) no Parque Estadual da Serra Dourada, Goiás, Brasil

Croton L. (Euphorbiaceae) in Serra Dourada State Park, Goiás, Brazil

Resumos

O Parque Estadual da Serra Dourada é uma das áreas serranas mais preservadas do estado de Goiás, porém sua flora é pouco conhecida. Visando contribuir com o conhecimento da diversidade de Euphorbiaceae no bioma cerrado, efetuou-se o estudo taxonômico do gênero Croton neste Parque. Foram registradas 10 espécies: Croton antisyphiliticus, C. campestris, C. chaetocalyx, C. didrichsenii, C. glandulosus, C. gracilescens, C. heliotropiifolius, C. sclerocalyx, C. urucurana e Croton sp. Destas, a última é uma provável espécie nova, enquanto C. gracilescens e C. sclerocalyx estão sendo primeiramente ilustradas. É apresentada uma chave para identificação das espécies, bem como descrições, ilustrações e dados relativos à fenologia e distribuição geográfica.

Crotoneae; diversidade; flora do Cerrado; taxonomia


Serra Dourada State Park is one of the most preserved montane areas in the state of Goiás, but the flora is poorly known. As part of a survey of Euphorbiaceae diversity in Cerrado, a taxonomic study of the genus Croton was carried out in this park. We recognized 10 species: Croton antisyphiliticus, C. campestris, C. chaetocalyx, C. didrichsenii, C. glandulosus, C. gracilescens, C. heliotropiifolius, C. sclerocalyx, C. urucurana and Croton sp. The last species is probably a new taxon, while C. gracilescens and C. sclerocalyx are illustrated for the first time. A species key, descriptions, illustrations, as well as phenological and geographic distribution data are provided.

Crotoneae; diversity; flora of the Cerrado; taxonomy


ARTIGOS ORIGINAIS

Croton L. (Euphorbiaceae) no Parque Estadual da Serra Dourada, Goiás, Brasil

Croton L. (Euphorbiaceae) in Serra Dourada State Park, Goiás, Brazil

Rodolfo Carneiro SodréI,1 1 Autor para correspondência: rodolfosodr@hotmail.com ; Marcos José da SilvaI; Margareth Ferreira de SalesII

IUniversidade Federal de Goiás, Inst. Ciências Biológicas, Depto. Botânica, Campus Samambaia II, C.P. 131, 74001-970, Goiânia, GO, Brasil

IIUniversidade Federal Rural de Pernambuco, Depto. Biologia, Área de Botânica, 52171-900, Recife, PE, Brasil

RESUMO

O Parque Estadual da Serra Dourada é uma das áreas serranas mais preservadas do estado de Goiás, porém sua flora é pouco conhecida. Visando contribuir com o conhecimento da diversidade de Euphorbiaceae no bioma cerrado, efetuou-se o estudo taxonômico do gênero Croton neste Parque. Foram registradas 10 espécies: Croton antisyphiliticus, C. campestris, C. chaetocalyx, C. didrichsenii, C. glandulosus, C. gracilescens, C. heliotropiifolius, C. sclerocalyx, C. urucurana e Croton sp. Destas, a última é uma provável espécie nova, enquanto C. gracilescens e C. sclerocalyx estão sendo primeiramente ilustradas. É apresentada uma chave para identificação das espécies, bem como descrições, ilustrações e dados relativos à fenologia e distribuição geográfica.

Palavras-chave: Crotoneae, diversidade, flora do Cerrado, taxonomia.

ABSTRACT

Serra Dourada State Park is one of the most preserved montane areas in the state of Goiás, but the flora is poorly known. As part of a survey of Euphorbiaceae diversity in Cerrado, a taxonomic study of the genus Croton was carried out in this park. We recognized 10 species: Croton antisyphiliticus, C. campestris, C. chaetocalyx, C. didrichsenii, C. glandulosus, C. gracilescens, C. heliotropiifolius, C. sclerocalyx, C. urucurana and Croton sp. The last species is probably a new taxon, while C. gracilescens and C. sclerocalyx are illustrated for the first time. A species key, descriptions, illustrations, as well as phenological and geographic distribution data are provided.

Key words: Crotoneae, diversity, flora of the Cerrado, taxonomy.

Introdução

Euphorbiaceae é uma das famílias mais diversificadas e complexas da ordem Malpighiales, sensu APG III (2009), com aproximadamente 6300 espécies alocadas em 246 gêneros (Wurdack & Davis 2009). No Brasil a família está representada por 63 gêneros e 918 espécies (Cordeiro et al. 2012) distribuídas nos diferentes tipos de vegetações.

Croton L. possui distribuição Pantropical e é o segundo maior gênero de Euphorbiaceae, com aproximadamente 1200 espécies, dentre as quais 350 ocorrem no Brasil (Berry et al. 2005). Inclui espécies herbáceas a arbóreas, monóicas ou dióicas, lactescentes, com tricomas estrelados a lepidotos, glandulares ou não, com folhas simples, alternas, inteiras e frequentemente com glândulas no ápice do pecíolo e/ou na margem do limbo, inflorescência racemosa, geralmente com flores pistiladas proximais e estaminadas distais, estames reflexos no botão, flores pistiladas com pétalas usualmente rudimentares ou nulas e sementes carunculadas (Webster 1993, 1994).

Devido ao seu elevado número de espécies, sua ampla distribuição geográfica e sua considerável diversidade morfológica, Croton pode ser considerado um grupo de alta complexidade taxonômica (Riina et al. 2009) e embora seja monofilético, a maioria de suas infracategorias não são (Berry et al. 2005; Riina et al. 2009; van Ee et al. 2011).

No Brasil, Croton é o gênero mais estudado de Euphorbiaceae (Secco et al. 2012), e trabalhos como os de Lucena (2001), Gomes (2006), Caruzo & Cordeiro (2007), Lima & Pirani (2008), Carneiro-Torres (2009), Guimarães & Secco (2009) e Silva et al. (2010) exemplificam os estudos recentes sobre o gênero e são de grande importância para o conhecimento taxonômico do mesmo. No entanto, esses estudos são insuficientes diante da diversidade do gênero no país (ca. 350 spp.), em particular para a Região Centro-Oeste, onde ainda não existem estudos em Croton.

Com o intuito de fomentar os estudos em Euphorbiaceae na região central do país, e contribuir para o conhecimento da rica flora do cerrado, é apresentado o tratamento taxonômico sobre Croton no Parque Estadual da Serra Dourada.

Material e Métodos

O Parque Estadual da Serra Dourada (PESD) dista 131 km de Goiânia e abrange os municípios de Mossâmedes e Goiás. Possui área de 30.000ha localizada entre 16º06'02"-16º03'52"S e 50º10'59"-50º10'12"W, recoberta por um mosaico de vegetação composto por cerrado s.s., cerrado rupestre, floresta semidecídua e de galeria e campos sujos (Rizzo 1970). Seu relevo varia de plano a fortemente ondulado, com afloramentos de arenito, incluindo "paredões" e está compreendido entre 726 e 1.080 metros de altitude. Seu clima é o Aw com período chuvoso de outubro a abril e temperatura média anual de 23,6ºC (Cochrane et al. 1985). Sua flora é diversificada, mas pouco conhecida (Rizzo 1970).

Foram realizadas excursões mensais de outubro de 2010 a agosto de 2012 para coleta de espécimes de Croton nas distintas fitofisionomias do PESD. Durante as coletas foram obtidos materiais férteis confome metodologia usual (Mori et al. 1989), adicionalmente, flores e frutos foram fixados em álcool etílico 70% para auxiliar nas descrições e ilustrações das espécies. As identificações basearam-se em literatura especializada e em comparações com coleções dos herbários CEN, IBGE, UB e UFG (acrônimos conforme Thiers et al. 2012). As descrições foram baseadas na análise morfológica das espécies seguindo as terminologias dos trabalhos de Webster (1993), Lima & Pirani (2003), Gomes (2006) e Carneiro-Torres (2009) e as ilustrações constam dos caracteres mais relevantes para o reconhecimento das mesmas.

Resultados e Discussão

Croton L., Sp. Pl. 2: 1004, 1753.

Subarbustos ou árvores, monóicos, lactescentes, indumento de tricomas estrelados, simples ou glandulares. Estípulas caducas ou persistentes. Folhas subsésseis a pecioladas, alternas, inteiras, com ou sem glândulas acropeciolares e, ou na margem do limbo; venação semi-craspedódroma ou broquidódroma. Racemo ou racemo-cimoso, usualmente terminal e bissexual com flores pistiladas comumente basais e estaminadas ao longo da raque. Flores estaminadas diclamídeas, estames 9-16, filetes livres, glabros ou vilosos, encurvados no botão, anteras basifixas com rimas longitudinais, receptáculo glabro ou indumentado. Flores pistiladas monoclamídeas ou diclamídeas com pétalas usualmente rudimentares ou raramente desenvolvidas, estiletes 2-fidos a multífidos, glabros ou indumentados. Cápsulas septicida-loculicidas. Sementes carunculadas; cinéreas, castanho-claras a castanho-escuras ou marmoreadas; maculadas ou não.

Croton é o gênero de Euphorbiaceae mais diverso na América, com aproximadamente 712 espécies, dispersas especialmente em vegetações xéricas e savânicas (van Ee et al. 2011). Neste estudo mostrou-se representado por 10 espécies, das quais segundo van Ee et al. (2011) distribuem-se nas seções: Croton sect. Adenophylli Griseb. (C. campestris e C. heliotropiifolius), C. sect. Barhamia (Klotzsch) Baill. (C. chaetocalyx), C. sect. Cyclostigma Griseb. (C. urucurana), C. sect. Geiseleria (A. Gray) Baill. (C. antisyphiliticus, C. glandulosus, C. gracilescens, C. sclerocalyx e Croton sp.) e C. sect. Julocroton (Mart.) Webster (C. didrichsenii).

Chave para as espécies de Croton ocorrentes no Parque Estadual da Serra Dourada

1.

Árvores 6-10 m alt.; pecíolo 8-12 cm compr. .............................9. C. urucurana

1'.

Subarbustos 0,16-1,10 m alt.; pecíolo 0,4-4 cm compr.

2.

Limbo com margem crenada ou serreada.

3. Limbo de base cordada, com 6-10 glândulas acropeciolares; sépalas pistiladas com glândulas cilíndrico-capitadas ..................3. C. chaetocalyx 3'.

Limbo de base nunca cordada, com 1 ou 2 glândulas acropeciolares ou estão ausentes; sépalas pistiladas sem glândulas.

4.

Glândulas acropeciolares pateliformes, sésseis; sépalas pistiladas ovais a lanceoladas; estiletes glabros.

5. Venação semi-craspedódroma, pecíolo 1,7-2,5 cm compr.; sementes elipsoides ....1. C. antisyphiliticus 5'. Venação broquidódroma; pecíolo 0,4-1 cm compr.; sementes oblongoides ......................................................................... 6. C. gracilescens 4'. Glândulas acropeciolares cilíndrico-pateliformes ou estipitado-pateliformes; sépalas pistiladas obovais, espatuladas, oblongo-elípticas ou oblongo-obovais; estiletes indumentados. 6. Inflorescência com flores descontínuas; sépalas pistiladas com margem serreada; ovário glabro a glabrescente; estiletes 4-fidos a multífidos ....................................................................... 8. C. sclerocalyx 6'. Inflorescência com flores contínuas; sépalas pistiladas inteiras; ovário tomentoso; estiletes 2-fidos. 7. Brácteas com glândulas piriformes; flores pistiladas com sépalas glabras internamente e pétalas rudimentares ....................... 5. C. glandulosus 7'. Brácteas sem glândulas; flores pistiladas com sépalas indumentadas em ambas as faces e pétalas desenvolvidas ..................... 10. Croton sp. 2'.

Limbo com margem inteira ou subinteira.

8. Cálice pistilado com 3 sépalas desenvolvidas e 2 vestigiais, as desenvolvidas com margem laciniada; estames vilosos; estiletes 4-fidos ......................... .............................................................................. 4. C. didrichsenii 8'.

Cálice pistilado com 5(-6) sépalas desenvolvidas de margem inteira; estames glabros; estiletes 2-fidos

9. Ramos e folhas amarelo-dourados; ápice foliar obtuso e não mucronulado; face externa das sépalas pistiladas e frutos tomentosos ................... .........................................................................2. C. campestris 9'. Ramos e folhas esverdeados a verde-acinzentados; ápice foliar agudo e mucronulado; face externa das sépalas pistiladas e frutos pubescentes ...................................................................7. C. heliotropiifolius

1. Croton antisyphiliticus Mart., Reise Bras. 1: 282. 1823. Fig. 1a-k


 




Subarbusto 13-45 cm alt., látex hialino. Ramos, face externa das estípulas, folhas, raque da inflorescência, ovário, face externa das brácteas e das sépalas e ovário com tricomas estrelado-porrectos, sésseis ou subsésseis; estípula 3,5-6 × 0,8-1,5 mm, oblonga a lanceolada, sem glândulas; pecíolo 1,7-2,5 cm compr., com 2 glândulas pateliformes, sésseis; limbo 5-15,5 × 1,7-5,5 cm, elíptico, cartáceo, base cuneada a truncada, ápice agudo, margem dupla a triplamente serreada com glândulas pateliformes entre as serras; venação semi-craspedódroma. Racemo-cimoso 2,5-7 cm compr., bissexual, terminal, com flores contínuas, címulas unissexuais; bráctea estaminada 1,8-2 × 0,25-0,3 mm, elíptica a lanceolada, bráctea pistilada 1,9-2,2 × 0,5-1, oval a lanceolada, ambas sem glândulas. Flores estaminadas 4-5 mm compr.; sépalas 5, 2-2,2 × 1-1,2 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 2-2,5 × 0,4-0,6 mm, oblanceoladas a oblongas, glabras; estames 10-12, glabros; disco 5-lobado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 4-6 mm compr.; sépalas 5, 2,5-3,5 × 0,7-1,8 mm, ovais a lanceoladas, margem inteira, sem glândulas; pétalas 5, rudimentares, filiformes, glabras; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,2-1,6 × 1,5-2 mm, globoso; estiletes 2-4 fidos, glabros. Cápsula 4-5 × 4-6 mm, globosa, verde-amarronzada. Semente 3,2-3,5 × 1,6-1,8 mm, elipsoides, castanho-escura.

Material examinado: Cabeceira do Rio Índio Grande, 17.VI.1994, fl., J.A. Rizzo 11493 (UFG). Entre os Córregos do Cafundó e do Piçarrão, 18.X.1994, fl., J.A. Rizzo 11922 (UFG). Abaixo do Mirante, 29.X.2010, fl., M.J. Silva et al. 3112 (UFG). Próximo à sede, 30.X.2010, fl., M.J. Silva et al. 3135 (UFG). Flanco Nordeste da Reserva, 25.XI.2010, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3173 (UFG). 10 m à esquerda da sede, 25.XI.2010, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3174 (UFG). Após mata semidecidual do Córrego do Piçarrão, 30.IX.2011, fl., J.E.C. Júnior et al. 71 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Abadiânia, rodovia entre Planalmira e Abadiânia, 18.XI.2011, fl., J.E.C. Júnior et al. 75, 76 e 79 (UFG). Alto Paraíso de Goiás, nas proximidades do Morro da Baleia, 14º37, 915'S, 47º09,494'W, 1168 m, 13.XII.2012, fr., R.C. Sodré et al. 371, 372 (UFG). Silvânia, Floresta Nacional de Silvânia, 31.VIII.2012, fl., R.C.Sodré et al. 137 (UFG)

Croton antisyphiliticus encontra-se amplamente distribuída na região Neotropical, e no Brasil é comum nos campos e cerrados de todas as regiões (Carneiro-Torres 2009). No PESD, habita campos limpos, cerrado s.s. e cerrado rupestre associado a solos arenosos e areno-pedregosos. Floresce e frutifica de junho a dezembro com frutificação mais abundante em novembro.

Entre as espécies estudadas, C. gracilescens é a que mais se assemelha a C. antisyphiliticus, pelas glândulas pateliformes sésseis acropeciolares e entre as serras da margem do limbo, flores pistiladas com sépalas ovais a lanceoladas, além de pétalas rudimentares e estiletes glabros. No entanto, o limbo elíptico, o pecíolo com comprimento entre 1,7 e 2,5 cm, os estiletes 2-4-fidos, o ovário com tricomas estrelado-porrectos e as sementes elípticas em C. antisyphiliticus, a difere de C. gracilescens, que possui limbo linear a estreitamente elíptico, pecíolo 0,4-1 cm compr., estiletes sempre 2-fidos, ovário com tricomas estrelados e sementes oblongoides.

2. Croton campestris A. St.-Hil., Pl. usuel. bras. pt. 12: tab. 60. 1827. Fig. 1l-p

Subarbusto 25-60 cm alt., látex turvo. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, face externa das brácteas e das sépalas, ovário e estiletes com tricomas estrelado-porrectos, subsésseis a longamente estipitados, ramos e folhas amarelo-dourados; estípula 3-8 × 1,5-2,5 mm, triangular a lanceolada, sem glândulas; pecíolo 0,4-1,5 cm compr., sem glândulas; limbo 7,5-12 × 2,5-3 cm, lanceolado, oblongo, oboval ou oblanceolado, membranáceo, base cuneada, ápice obtuso, não mucronulado, margem inteira com inconspícuas glândulas globosas; venação broquidódroma. Racemo-cimoso 2,5-12 cm compr., unissexual ou bissexual, terminal, com flores contínuas, címulas unissexuais; brácteas 2,5-3 × 0,5-1 mm, lanceoladas, com diminutas glândulas basais. Flores estaminadas 5,5-6 mm compr.; sépalas 5, 2,8-3 × 1,4-1,7 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 3,3-3,5 × 1-1,3 mm, oblanceoladas, vilosas na porção basal da face interna; estames 15-16, glabros; disco 5-lobado; receptáculo viloso. Flores pistiladas 5-6 mm compr.; sépalas 5(ou 6), 2,5-3 × 0,7-1,1 mm, lanceoladas, face externa tomentosa, margem inteira, sem glândulas; pétalas 5, rudimentares, filiformes, glabras; disco inteiro a levemente 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,8-2 × 1,9-2,2 mm, globoso; estiletes 2-fidos. Cápsula 5-5,5 × 5,5-6 mm, globosa, tomentosa, amarelada. Semente não vista.

Material examinado: Reserva Biológica Prof. José Ângelo Rizzo, entre o alojamento dos guardas e a porteira, 25.IX.2009, fl. e fr., A.M. Teles et al. 623 (UFG). Entre a porteira e o mirante, 29.X.2010, fl., M.J. Silva et al. 3104 (UFG). Imediações da sede do Parque, 30.X.2010, fl., M.J. Silva 3136 (UFG). Após a mata semidecidual acima do Córrego do Piçarrão, 17.XII.2010, fr., M.J. Silva 3222 (UFG).

Ocorre na Argentina, Bolívia, Paraguai e em todas as regiões no Brasil (AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RN, RS, SP, TO) (Lima & Pirani 2003; Carneiro-Torres 2009). Na área estudada foi encontrada na borda de mata semidecidual ou em cerrado rupestre sobre solo areno-pedregoso ou concrecionário. Floresce e frutifica de setembro a dezembro.

Croton campestris assemelha-se muito a C. heliotropiifoius, principalmente pelas folhas sem glândulas acropeciolares e com margem inteira, androceu com 15-16 estames glabros e estiletes 2-fidos e indumentados. No entanto, C. campestris possui limbo com ápice obtuso e não mucronulado e de coloração amarelo-dourada (vs. ápice agudo e mucronulado e de coloração esverdeada em C. heliotropiifolius), inflorescências unissexual ou bissexual (vs. sempre bissexual), face externa das sépalas pistiladas e frutos tomentosos (vs. ambos pubescentes).

3. Croton chaetocalyx Müll. Arg., Linnaea 34: 133. 1865. Fig. 2a-j


 




Subarbusto 25-110 cm alt., látex hialino. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, brácteas e sépalas pistiladas, face externa das brácteas e das sépalas estaminadas e ovário com tricomas estrelado-porrectos, sésseis a curtamente estipitados; estípula 1,8-2 mm compr., oval a lanceolada, com glândulas cilíndrico-capitadas; pecíolo 1-2,7 cm compr., com 6-10 glândulas curto estipitado-pateliformes; limbo 2,5-8,5 × 1,6-6,2 cm, oval, membranáceo, base cordada, ápice agudo, margem serreada a crenada com glândulas cilíndrico-capitadas, estas últimas também presentes na face abaxial do limbo; venação semi-craspedódroma. Racemo-cimoso 4-11,5 cm compr., bissexual, terminal, com flores contínuas, címulas unissexuais; bráctea estaminada 2,6-3,3 × 0,6-0,8 mm, lanceolada, bráctea pistilada ca. 5 mm compr., estreitamente triangular, ambas com glândulas na base. Flores estaminadas 0,7-1 cm compr.; sépalas 5, 2-2,5 × 0,8-1 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 2-2,5 × 1-1,2 mm, elípticas, vilosas internamente; estames 9-12, glabros; disco 5-segmentado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 1,5-2 cm compr.; sépalas 5, 9-13 × 1,3-2 mm, lanceoladas a lineares, margem inteira, com glândulas cilíndrico-capitadas; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 2-3 × 2,5-3 mm, globoso; estiletes 2-fidos, glabros. Cápsula 5-6 × 4-4,5 mm, globosa, amarronzada. Semente 4-4,5 × 2,5-3 mm, oblongoide, clara com máculas escuras.

Material examinado: Sul da Reserva, 1.II.1970, fl., J.A. Rizzo 4596,4702 (UFG). Cabeceira do rio Índio Grande, 13.I.1994, fl., J.A. Rizzo 10907 (UFG). Próximo à antiga Pedra Goiana, 25.XI.2010, fl., M.J. Silva 3159 (UFG). 30.IV.2011, fl. e fr., M.J. Silva 3628 (UFG). Após a torre de capitação, 26.XI.2011, fl. e fr., M.J. Silva 3973 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Alto Paraíso de Goiás, Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Rio Preto, 15.XII.2012, fl., R.C. Sodré et al. 423, 427 (UFG).

Espécie brasileira com ocorrência no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Pará (Cordeiro et al. 2012). No PESD foi coletada próximo ao Mirante e abaixo deste, em cerrado s.s. e cerrado rupestre sobre solo argiloso ou areno-pedregoso. Encontrada com flores de novembro a abril, e com frutos no primeiro e no último.

Croton chaetocalyx é caracterizada pelas estípulas e sépalas pistiladas com glândulas cilíndrico-capitadas, pecíolo com 6 a 10 glândulas curto estipitado-pateliformes, limbo oval a orbicular de margem serreada a crenada e base cordada com glândulas semelhantes às da estípula na margem, na face abaxial e ladeando as sépalas pistiladas. Estas características a torna facilmente reconhecida e distinta das demais congêneres estudadas.

4. Croton didrichsenii G.L. Webster, Novon 2(3): 271. 1992. Fig. 2k-q

Subarbusto 0,3-1 m alt., látex hialino. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, brácteas, sépalas pistiladas, face externa das sépalas estaminadas, ovário e estiletes com tricomas estrelado-porrectos, curto a longamente estipitados; estípula 4-5 × 0,2-0,5 mm, linear a lanceolada, sem glândulas; pecíolo 1-1,5 cm compr., sem glândulas; limbo 3-9 × 1,5-4 cm, oval a lanceolado, membranáceo, base atenuada, ápice agudo, margem inteira ou subinteira, sem glândulas; venação broquidódroma. Racemo-cimoso 4-7 cm compr., bissexual, terminal, com flores contínuas, címulas unissexuais; brácteas 7-8 mm compr., linear, sem glândulas. Flores estaminadas 7-9 mm compr.; sépalas 5, 3-3,5 × 1-2 mm, ovais, unidas até a metade do seu comprimento; pétalas 5, 3-3,2 × 0,4-0,5 mm, linear-oblanceoladas, glabras; estames 10-11, vilosos; disco segmentado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 8-9 mm compr.; sépalas 5, 3 desenvolvidas 7-7,5 × 5,5-6 mm, lanceoladas, margem laciniada, sem glândulas e 2 vestigiais; disco 3-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,5-1,7 mm compr., globoso; estilete 4-fidos. Cápsula 4,5-5 × 4-4,5 mm, globosa, amarelada. Semente 3,8-4,2 × 2,3-4,2 mm, oblongoide, cinéreas.

Material examinado: Após a floresta semidecidual do Córrego do Piçarrão, 28.X.2011, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3901 (UFG). 26.XI.2011, fl. e fr., M.J.Silva 3959 (UFG).Após a torre de capitação, 26.XI.2011, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3968, 3969, 3971 (UFG).

Ocorre na Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil (BA, DF, GO, MG, MS, MT, PR, SC, SP, RS), em cerrado s. l. e campos limpos (Caruzo & Cordeiro 2007). Foi coletada na borda de mata semidecidual em transição com cerrado s.s. e em cerrado rupestre sobre solo argilo-pedregoso ou areno-pedregoso, florescendo e frutificando em outubro e novembro.

O limbo com base atenuada, cálice pistilado com apenas três lobos desenvolvidos com margem fortemente laciniada, disco da flor pistilada fortemente 3-lobado, bem como as sépalas estaminadas unidas até a metade do seu comprimento e os estames vilosos são caracteres que tornam essa espécie inconfundível às demais estudadas.

5. Croton glandulosus L., Syst. Nat. (10) 2: 1275. 1759. Fig. 3a-i


 




Subarbusto 20-70 cm alt., látex hialino. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, face externa das brácteas e das sépalas, ovário e estiletes com tricomas estrelado-porrectos, sésseis a curtamente estipitados; estípula 1-5 × 0,3-1 mm, linear a oblanceolada, sem glândulas; pecíolo 0,5-2,5 cm compr., com 2 glândulas, curto estipitado-pateliformes; limbo 1,5-5,5 × 1-3,3 cm, oval, lanceolado ou estreitamente oblongo, membranáceo, base truncada, cuneada ou obtusa, ápice agudo ou obtuso, margem serreada com glândulas pateliformes entre as serras; venação broquidódroma. Racemo-cimoso 1-3,5 cm compr., bissexual, terminal ou na dicotomia dos ramos, com flores contínuas, címulas unissexuais; bráctea estaminada 1,3-1,5 × 0,15-0,2 mm, linear, bráctea pistilada 1,2-2 × 0,3-0,5 mm, linear, lanceolada ou triangular, ambas com glândulas piriformes sésseis a subsésseis. Flores estaminadas 3-4 mm compr.; sépalas 5, 1,8-2,5 × 0,9-1,3 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 2-2,5 mm compr., elípticas a obovais, vilosa internamente na porção basal; estames 9-10, glabros; disco 5-segmentado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 3-6 mm compr.; sépalas 5, 2,5-3,5 × 1,1-1,4 mm, espatuladas a obovais, margem inteira, sem glândulas; pétalas 5, piriformes rudimentares, glabras; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,4-1,8 × 1-1,5 mm, globoso, tomentoso; estiletes 2-fidos, Cápsula 4,5-5 × 4-5 mm, globosa, verde-escura. Semente 3,6-3,8 × 2,1-2,2 mm, oblongoide, castanha com máculas negras e claras.

Material examinado: Acima do mata-burro no início da estrada que leva à sede, 28.XI.2010, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3203 (UFG). 17.XII.2010, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3217 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Alto Paraíso de Goiás, Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, próximo a porteira que dá acesso à sede do Parque, 19.I.2012, fl. e fr., R.C. Sodré et al. 02 (UFG). Goiânia, setor Goiânia II em área de várzea, 6.VI.2012, fl. e fr., M.M. Dantas 352 (UFG). São João d'Aliança, em frente à chácara Cantinho dos Batistas, 8.III.2012, fl. e fr., R.C. Sodré 40 (UFG).

Espécie neotropical, registrada para todas as regiões brasileiras, crescendo em áreas abertas de florestas, restingas, pantanal, cerrado e caatinga (Lucena 2001). Neste estudo foi encontrada na borda da floresta semidecidual, em áreas antropizadas. Floresce e frutifica de novembro a junho.

Croton glandulosus pode ser reconhecida pelas brácteas com glândulas piriformes, racemos com flores contínuas e flores pistiladas com cinco sépalas inteiras, pétalas rudimentares, ovário pubescente e estiletes 2-fidos. Croton sclerocalyx compartilha com C. glandulosus o limbo oval a lanceolado, com margem serreada e glândulas pateliformes entre as serras, as sépalas pistiladas obovais a espatuladas e os estiletes indumentados. Contudo, C. sclerocalyx difere por ter brácteas sem glândulas, racemo com flores descontínuas e flores pistiladas monoclamídeas com seis a sete sépalas serreadas, além de ovário glabro a glabrescente e estiletes 4-fidos a multífidos.

6. Croton gracilescens Müll. Arg., Linnaea 34: 110. 1865. Fig. 3j-q

Subarbusto 30-50 cm alt., látex hialino. Ramos, face externa das estípulas, folhas, raque da inflorescência e face externa das brácteas e das sépalas com tricomas estrelado-porrectos, sésseis a subsésseis e ovário com tricomas estrelados; estípula 1-3 × 0,5-0,8 mm, linear a lanceolada, sem glândulas; pecíolo 0,4-1 cm compr., com 2 glândulas pateliformes, sésseis; limbo 5-10 × 0,8-1,5 cm, linear a estreitamente elíptico, cartáceo, base truncada, ápice agudo, margem duplamente serreada, glândulas pateliformes entre as serras; venação broquidódroma. Racemo-cimoso 7-13 cm compr., bissexual, terminal, com flores contínuas, címulas unissexuais; brácteas 1,5-3 × 0,6-1 mm, lanceoladas, sem glândulas. Flores estaminadas 3,5-5 mm compr.; sépalas 5, 2,5-3 × 1,8-2,5 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 2,3-3 × 1-2,2 mm, lanceoladas a elípticas, ciliadas; estames 10-12, glabros; disco 5-lobado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 3,5-5 mm compr.; sépalas 5, 2,8-4 × 1,8-2,6 mm, ovais, margem inteira, sem glândulas; pétalas 5, filiformes, rudimentares, glabras; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 2-3 × 2,5-3 mm, globoso; estiletes 2-fidos, glabros. Cápsula 4-5 × 4-6 mm, globosa, amarronzada. Semente 4-4,5 × 2,5-3 mm, oblongoide, cinéreas.

Material examinado: Abaixo do Mirante, 9.X.2010, fl. e fr., M.J. Silva 3112, 3113, 3123, 3125 (UFG). Caminho para a Pedra Goiana, 25.XI.2010, fl., M.J. Silva 3169 (UFG). 26.XI.2011, fl., M.J. Silva et al. 3978 (UFG). A 50 metros da sede do Parque, 29.VIII.2012, fl., R.C. Sodré 126 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Alto Paraíso de Goiás, Chapada dos Veadeiros, Vale da Lua, 15.XI.2010, fl., M.J.Silva 3057 (UFG). Imediações do povoado de São Jorge, 14º09,678'S, 47º48,104'W, 1134 m, 29.IX.2012, fl., R.C. Sodré et al. 180, 181, 182 (UFG).

Espécie registrada, até o momento, apenas para Goiás (Cordeiro et al. 2012). Na área de estudo habita campos e cerrado s.s. em meio a solos quartzarênicos nas imediações da Pedra Goiana e do Mirante. Croton gracilescens foi encontrada com flores de agosto a novembro e com frutos em outubro

As relações morfológicas deste táxon com C. antisyphiliticus foram apresentadas na discussão deste último.

7. Croton heliotropiifolius Kunth, Nov. Gen. Sp. (4) 2: 83. 1817. Fig. 4a-f


 




Subarbusto 30-45 cm alt., látex hialino. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, face externa das brácteas e das sépalas, ovário e estiletes com tricomas estrelado-porrectos, sésseis a estipitados, ramos e folhas esverdiados; estípula 1,2-1,5 × 0,5-0,7 mm, lanceolada, sem glândulas; pecíolo 2,4-3,3 cm, sem glândula; limbo 6-10 × 3-4,5 cm, oval, elíptico ou lanceolado, membranáceo, base cuneada a obtusa, ápice agudo, mucronulado, margem inteira, sem glândulas; venação broquidódroma. Racemo-cimoso 16-20 cm. compr., bissexual, terminal ou na dicotomia dos ramos, com flores contínuas, címulas unissexuais; bráctea 3-3,5 × 1-1,2 mm, lanceolada, sem glândulas. Flores estaminadas 4,5-5,5 mm compr.; sépalas 5, 2,5-3 × 1-1,3 mm compr., ovais, livres até a base; pétalas 5, 2-2,8 × 0,8-1 mm, oblanceoladas, vilosas na porção basal da face interna; estames 15, glabros; disco 5-segmentado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 5-7,2 mm compr.; sépalas 5, 2,7-3,5 × 1-1,2 mm, lanceoladas, face externa pubescente, margem inteira, sem glândulas; pétalas 5, rudimentares, filiformes, glabras; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,3-1,5 × 1,4-1,5 mm, globoso; estiletes 2-fidos. Cápsula 6-6,5 × 5-6 mm, globosa, pubescente, castanho-amarelada. Semente 4,2-5 × 2,5-3 mm, oblongoide, castanho-escura.

Material examinado: Cerrado acima da Floresta semidecidual, 16º5'21"S, 50º1'51"W, 788 m, 28.I.2011, fl. e fr., M.J. Silva et al. 3345 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Alexânia, BR-060, km 20, 20.I.2011, fr., M.J. Silva et al. 3316 (UFG).

Croton heliotropiifolius distribui-se amplamente nas Américas (Lucena 2001) sendo no Brasil referido para as Regiões Centro-Oeste (DF e GO), Nordeste (AL, BA, CE, MA, PB, PE, PI, RN, SE) e Sudeste (RJ e SP), embora seja mais comum na caatinga nordestina (Lucena 2001; Carneiro-Torres 2009). No PESD é rara e esta representada por apenas um espécime crescendo em transição de floresta semidecidual para cerrado s.s. com flores e frutos em Janeiro.

Esta espécie é conhecida por sua ampla plasticidade fenotípica, o que dificulta sua delimitação taxonômica (Carneiro-Torres 2009). No entanto, pode ser reconhecida por um conjunto de caracteres que inclui o caule ramificado com ramos e folhas esverdeados, limbo com ápice agudo e mucronulado, inflorescências sempre bissexuais, estames em número de 15, sépalas pistiladas lanceoladas e estiletes bífidos e indumentados. As relações morfológicas entre Croton heliotropiifolius e C. campestris, espécie dentre as estudadas com a qual mais se assemelha, foram discutidas nos comentário desta última.

8. Croton sclerocalyx (Didr.) Müll. Arg. Linnaea 34: 134. 1865. Fig. 4g-m

Subarbusto 35-70 cm alt., látex hialino. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, face externa das brácteas e das sépalas estaminadas, sépalas pistiladas, ovário e estiletes com tricomas estrelado-porrectos, sésseis a subsésseis; estípula 3,5-9 × 0,7-1,5 mm, linear ou lanceolada, sem glândulas; pecíolo 0,5-1,5 cm compr., com 2 glândulas, curto estipitado-pateliformes; limbo 5-8,5 × 2,4-5 cm, oval a lanceolado, membranáceo, base obtusa, arredondada ou truncada, ápice agudo, margem duplamente serreada com glândulas pateliformes e subsésseis entre as serras; venação semi-craspedódroma. Racemo-cimoso 2-4,2 cm compr., bissexual, terminal, com flores descontínuas, címulas unissexuais; bráctea estaminada 1,5-2 × 0,2-0,3 mm, linear a oblanceolada, bráctea pistilada 2,5-3 × 0,2-0,4 mm, linear a estreitamente oblongas, ambas sem glândulas. Flores estaminadas 3-3,5 mm compr.; sépalas 5, 1,6-2 × 0,5-1 mm, ovais a lanceoladas, livres até a base; pétalas 5, 1,8-2 × 0,7-0,9 mm, elípticas a oblanceoladas, vilosas na face interna; estames 9-10, glabros; disco segmentado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 6-8 mm compr.; sépalas 6-7, 4,5-7 × 2-4 mm, obovais, margem serreada, sem glândulas, tomentosa na face externa e glabrescente internamente; pétalas ausentes; disco 6-7-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,5-1,8 × 1,2-1,5 mm, oblongo, glabro a glabrescente; estiletes 4-fidos a multífidos. Frutos e sementes não vistos.

Material examinado: 300 metros acima do Córrego do Piçarrão, 17.XII.2010, fl., M.J. Silva et al. 3213, 3217 (UFG). Acima do Córrego do Piçarrão, 16º05'12,9"S, 50º10'41,4"W, 829 m, 28.X.2011, fl., M.J. Silva et al. 3908 (UFG). Base do morro da Asa Delta, 3.III.2012, fl., M.M. Dantas et al. 131 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Silvânia, Floresta Nacional de Silvânia, 7.XII.2012, fl., R.C. Sodré et al. 318, 319 (UFG).

Espécie com distribuição no Brasil (DF, GO, MG, MT, SP) e no Paraguai em cerrado s.l. (Caruzo & Cordeiro 2007). No PESD foi encontrada na borda da floresta semidecidual acima do Córrego do Piçarrão e na base do morro da Asa Delta, florescendo entre outubro e março.

Croton sclerocalyx pode ser prontamente reconhecida pelas inflorescências com flores descontínuas, cálice pistilado com seis a sete sépalas serreadas, estiletes 4-fidos a multífidos e ovário glabro a glabrescente. Relaciona-se morfologicamente com C. glandulosus como já discutido.

9. Croton urucurana Baill., Adansonia 4: 335. 1864. Fig. 5a-g


 




Árvore 6-10 m alt., látex hialino a turvo. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, face externa das brácteas e das sépalas e ovário com tricomas estrelados e estrelado-porrectos, sésseis a estipitados; estípula 1-1,2 × 0,4-0,6 mm, lanceolada, sem glândulas; pecíolo 8-12 cm compr., com 2 glândulas pateliformes, sésseis; limbo 18-22 × 8,5-11 cm, oval, membranáceo, base cordada, ápice agudo a acuminado, margem inteira, sem glândulas; venação broquidódroma. Racemo-cimoso 8-12 cm compr., bissexual, terminal, com címulas bissexuais e estaminadas contínuas; bráctea estaminada 2-3 × 1-2 mm, oval a lanceolada, bráctea pistilada 1,5-2 × 0,8-1 mm, oval a lanceolada, ambas sem glândulas. Flores estaminadas 6-8 mm compr.; sépalas 5, 2,5-3 × 1,5-2 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 2,5-3,2 × 1-1,4 mm, elípticas, glabras externamente, internamente vilosas; estames 15-16, glabros; disco 5-segmentado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 4-5 mm compr.; sépalas 5, 2-2,8 × 1,7-2 mm, ovais, margem inteira, sem glândulas; pétalas 5, vestigiais; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 1,5-2 × 2-3 mm, globoso; estilete 2-fidos, glabros. Cápsula 5-5,5 × 6-6,5 mm, globosa, verde-amarronzada. Semente 3,8-4,2 × 2,9-3,1 mm, elipsoide, cinérea.

Material examinado: Estrada que leva à reserva, 14.IX.1994, J.A. Rizzo 11755 (UFG). A 300 metros do Córrego do Piçarrão, 14.XII.1994, fl., J.A. Rizzo 11899 (UFG). Cabeceira do Rio Índio Grande, 18.XII.1994, J.A. Rizzo 11706 (UFG). Entrada do PESD, 17.XII.2010, fl., M.J. Silva 3215 (UFG)

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Alto Paraíso de Goiás, Chapada dos Veadeiros, imediações do Morro da Baleia, 28.IX.2012, fr., R.C. Sodré et al. 156, 157 (UFG).

Croton urucurana distribui-se na Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. No Brasil é registrada para todos os estados das Regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, sendo menos representativa no Nordeste (AL, BA, CE e MA) e Norte (AC, AM e TO), (Carneiro-Torres 2009; Guimarães & Secco 2009; Lima & Pirani 2003). No PESD, foi encontrada habitando cabeceiras ou margem de rios em solos hidromórficos ou argilosos com flores e frutos de setembro a dezembro.

Destaca-se dentre as outras espécies do gênero estudadas por ser a única arbórea e por possuir pecíolo e limbo com comprimento superior a 8 e 18 cm compr., respectivamente e inflorescências com címulas bissexuais e estaminadas.

10. Croton sp. Fig. 5h-l

Subarbusto 16-28 cm alt., látex hialino. Ramos, estípulas, folhas, raque da inflorescência, face externa das brácteas e das sépalas estaminadas, brácteas e sépalas pistiladas, ovário e estiletes com tricomas estrelado-porrectos, sésseis a subsésseis; estípula 0,4-1 mm compr., lanceolada, com glândulas; pecíolo 2,5-4 cm compr., sem glândulas, raro uma glândula cilíndrico-pateliforme; limbo 2,7-6,3 × 1,5-3,2 cm, elíptico, membranáceo, base cuneada, ápice agudo, margem irregularmente serreada, com diminutas glândulas estipitado-pateliformes entre as serras e glândulas globosas no ápice dessas; venação broquidódroma. Racemo 2,5-5,5 cm compr., bissexual, terminal, com flores contínuas, címulas unissexuais; bráctea estaminada 2,1-2,3 × 0,2-0,3 mm, linear-oblanceolada, bráctea pistilada 3-5 × 0,25-0,9 mm, linear, lanceolada ou oblanceolada, ambas sem glândulas. Flores estaminadas 4,5-5 mm compr.; sépalas 5, 1,6-2 × 0,8-1,1 mm, ovais, livres até a base; pétalas 5, 2-2,3 × 0,6-0,8 mm, elípticas a oblanceoladas, vilosas em ambas as faces; estames 10-11, vilosos; disco 5-lobado, receptáculo viloso. Flores pistiladas 5-9 mm compr.; sépalas 5-6, 2,5-4 × 0,9-2,5 mm, oblongo-obovais a oblongo-elípticas, margem inteiras, sem glândulas; pétalas 5, bem desenvolvidas, 2,2-2,8 × 0,3-0,4 mm, lineares a lanceoladas, glabras externamente e vilosas internamente; disco 5-lobado, receptáculo glabro; ovário 1-1,8 × 1,3-2 mm, globoso, tomentoso; estiletes 2-fidos. Cápsula 4,9-5 × 4,7-4,8 mm, globosa, verde-acastanhada. Semente 3,5-4 × 2,9-3 mm, ovoide, marmoreada.

Material examinado: Reserva Prof. Ângelo Rizzo, nos arredores do alojamento, 29.X.2010, fl., M. J. Silva et al. 3103 (UFG). 30.X.2010, fl., A.M. Teles et al. 948 (UFG). 25.XI.2010, fr., M.J. Silva et al. 3178 (UFG).

Material adicional examinado: BRASIL. GOIÁS: Alto Paraíso de Goiás, Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, estrada para Colinas do Sul, a 14 km de Alto Paraíso de Goiás de Goiás, 24.XI.1994, fl. e fr., F.C.A. Oliveira 224 (IBGE).

Espécie provavelmente restrita ao Planalto Central Brasileiro, sendo registrada até o momento para os Parques Estadual da Serra Dourada e Nacional da Chapada dos Veadeiros, ambos situados no estado de Goiás. No PESD foi encontrada apenas nas proximidades do alojamento crescendo em cerrado rupestre coletada com flores e frutos de outubro a novembro.

Morfologicamente Croton sp. difere das outras espécies desse estudo pelas estípulas inconspícuas (até 1 mm compr.) e precocemente caducas, pecíolo geralmente sem glândulas ou raramente com uma glândula cilíndrico-pateliforme, flores pistiladas com sépalas oblongo-elípticas a oblongo-obovais, indumentadas em ambas as faces, e com pétalas desenvolvidas e estiletes 2-fidos e indumentados, além de flores estaminadas com pétalas vilosas em ambas as faces, estames vilosos, e sementes marmoreadas.

Esta espécie se enquadra em Croton sect. Geiseleria, por apresentar glândulas acropeciolares e entre as serras da margem do limbo, além das sépalas pistiladas inteiras e levemente desiguais, porém não é nenhuma das espécies reconhecidas nesta seção e, portanto, para nós trata-se de uma provável espécie nova para a ciência.

Agradecimentos

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Bolsa de Iniciação Científica concebida ao primeiro autor (proc. 36550/2012-3), ao Prof. Dr. Aristônio Magalhães Teles, o apoio logístico por meio do projeto "Estudo Florístico do Parque Estadual da Serra Dourada" e aos curadores dos herbários listados no texto a boa recepção e empréstimo de coleções.

Artigo recebido em 17/01/2013.

Aceito para publicação em 20/08/2013.

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    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Abr 2014
    • Data do Fascículo
      Mar 2014

    Histórico

    • Aceito
      20 Ago 2013
    • Recebido
      17 Jan 2013
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