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Análise da sintomatologia em pacientes com disfunções intra-articulares da articulação temporomandibular

Analysis of symptomatology in patients with intra-articular disorders of the temporomandibular joint

Resumos

Foi realizado estudo analisando a sintomatologia em pacientes com disfunções intra-articulares da articulação temporomandibular. A queixa mais citada foi de dor na região pré-auricular (40,7%). Sintomatologia dolorosa articular (63,2%) e ruídos articulares (83,3%) foram os achados mais comuns ao exame clínico. Os ruídos articulares mais freqüentes foram os estalos (66,6%). Dor muscular ocorreu, em especial, nos músculos pterigóideo medial e lateral e na inserção do temporal. Houve decréscimo na amplitude para a protrusão dentre os movimentos mandibulares máximos

Articulação temporomandibular


The study analyzed the symptomatology in patients with intra-articular disorders of the temporomandibular joint. The most frequent complaint was pain in the preauricular region (40.7%). Articular pain (63.2%) and articular sounds (83.3%) were the most common findings during clinical examination. Muscular pain occurred particularly in the medial and lateral pterygoid muscles and at the insertion of the temporalis muscle. The most frequent articular sound was clicking (66.6%). There was a decrease in extent of protrusion among the mandibular border positions.

Temporomandibular joint


ANÁLISE DA SINTOMATOLOGIA EM PACIENTES COM DISFUNÇÕES INTRA-ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

ANALYSIS OF SYMPTOMATOLOGY IN PATIENTS WITH INTRA-ARTICULAR DISORDERS OF THE TEMPOROMANDIBULAR JOINT

Sílvio Henrique de Paula DONEGÁ** Estagiário, Estagiário, ** Professor Doutor e *** Professor Associado da Disciplina de Traumatologia Maxilo-Facial do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo-Faciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Renato CARDOSO** Estagiário, Estagiário, ** Professor Doutor e *** Professor Associado da Disciplina de Traumatologia Maxilo-Facial do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo-Faciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Antonio Sílvio Fontão PROCÓPIO *** Estagiário, Estagiário, ** Professor Doutor e *** Professor Associado da Disciplina de Traumatologia Maxilo-Facial do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo-Faciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

João Gualberto de Cerqueira LUZ **** Estagiário, Estagiário, ** Professor Doutor e *** Professor Associado da Disciplina de Traumatologia Maxilo-Facial do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo-Faciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

DONEGÁ, S. H. P. et al.Análise da sintomatologia em pacientes com disfunções intra-articulares da articulação temporomandibular. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.77-83, 1997. Suplemento.

Foi realizado estudo analisando a sintomatologia em pacientes com disfunções intra-articulares da articulação temporomandibular. A queixa mais citada foi de dor na região pré-auricular (40,7%). Sintomatologia dolorosa articular (63,2%) e ruídos articulares (83,3%) foram os achados mais comuns ao exame clínico. Os ruídos articulares mais freqüentes foram os estalos (66,6%). Dor muscular ocorreu, em especial, nos músculos pterigóideo medial e lateral e na inserção do temporal. Houve decréscimo na amplitude para a protrusão dentre os movimentos mandibulares máximos.

UNITERMOS: Articulação temporomandibular.

INTRODUÇÃO

As disfunções da articulação temporomandibular (ATM) são divididas essencialmente em articulares e musculares. Seu diagnóstico é importante no plano de tratamento e no prognóstico.

Um dos sinais mais freqüentes das disfunções intra-articulares da ATM são os ruídos articulares. BARROS1 (1975) afirmou que estes são resultantes da falta de sincronismo entre o côndilo e o disco articular e preconizou a realização de ausculta na avaliação dos ruídos. GOMES5 (1977) afirmou que, embora os ruídos articulares sejam comuns nas disfunções articulares, estes podem estar associados a envolvimento do músculo pterigóideo lateral. TALLENTS et al.20 (1993) avaliaram a presença de ruídos articulares em pacientes assintomáticos. Observaram que 44% de todas as articulações apresentavam ruídos passíveis de gravação e que apenas 16% apresentavam articulações normais quando avaliadas pela ressonância magnética. Concluíram que os ruídos articulares são audíveis quando a articulação encontra-se comprometida por longo período, como os estalos, resultantes de deformação do disco ou remodelação das superfícies articulares, interferindo nos movimentos condilares normais.

CORREIA3 (1983) realizou estudo sobre a prevalência de sintomatologia nas disfunções da ATM e suas relações com dados pessoais e perdas de elementos dentais. Concluiu que existe maior prevalência no gênero feminino, na faixa etária entre 21 e 30 anos. A presença de dor bilateral foi a principal queixa, seguida de limitação funcional (30,77%). SANTOS et al.16 (1986) verificaram em sua casuística predominância de ruídos articulares do tipo estalo em 51% dos casos, com maior freqüência no gênero feminino, sendo que a presença de dor foi a queixa mais comum. SOUZA18 (1980) notou predominância do gênero feminino (97,9%), compreendida na faixa etária entre 21 e 30 anos, seguida da de 31 e 40 anos. Verificou que 63% dos pacientes apresentavam estalos, 30%, crepitação e 18%, limitação da abertura bucal. JAGGER; WOOD7 (1992) avaliaram os sinais e sintomas de sua casuística de pacientes com disfunção de ATM. Verificaram que 36% dos pacientes apresentavam ruídos articulares, com predominância do gênero feminino e com idade média de 35 anos, com abertura bucal média de 49mm. COOPER; COOPER2 (1993) descreveram que, de acordo com sua casuística, 68% dos pacientes apresentavam dor à palpação e 31%, estalos ou crepitação, com maior freqüência no gênero feminino (80%). Sensibilidade muscular foi predominante nos músculos pterigóideo lateral (84%), pterigóideo medial (71%) e temporal (54%). RAMOS et al.15 (1992) também descreveram maior prevalência de disfunções da ATM no gênero feminino e na faixa etária de 21 a 30 anos. Relataram sintomatologia variável, compreendendo sintomas dolorosos, limitações funcionais, ruídos articulares e sintomas auditivos. LUZ; OLIVEIRA9 (1994) descreveram casuística de pacientes atendidos em um pronto-socorro com distúrbios da ATM. Destes, a maioria (70,9%) era portadora de dor-disfunção miofascial/disfunção da ATM e o restante (22,5%), de luxação da ATM. A queixa principal apresentada foi bem definida: dor facial, na síndrome de dor miofascial/ATM, e deslocamento na luxação da ATM. MAGNUSSON et al.10 (1994) relataram que a dor muscular à palpação foi o achado clínico mais comum (cerca de 50%), sendo freqüentes os estalos, mas não havendo ocorrência de travamento. A média de abertura máxima foi de 56,5mm e poucos pacientes (10%) apresentaram sensibilidade à palpação lateralmente à ATM.

OLIVEIRA11 (1980) realizou estudo de pacientes portadores de disfunção da ATM com ruídos articulares. O tipo mais freqüente foi o estalo, com 73,3%, sendo que dor articular foi constatada em parte dos pacientes. A maior incidência ocorreu no gênero feminino, com 68,4%, e na faixa etária de 21 a 40 anos (57,7%). PEDERSEN; HANSSEN12 (1987), em sua casuística de desarranjo interno, encontraram predomínio do gênero feminino (75%) com faixa etária predominante de 20 a 30 anos. As queixas mais comuns foram: ruídos articulares (64%), sensibilidade ou dor (ATM/ouvido/jugal, 50%) e redução da mobilidade mandibular (47%). Os sinais mais freqüentes foram os estalos, seguidos por sensibilidade muscular, desarmonia oclusal, limitação da abertura da boca, sensibilidade na ATM e desvio à abertura. LUNDH; WESTESSON8 (1991) afirmaram, com base em estudo epidemiológico, que há associação relevante entre sinais e sintomas nos casos de desarranjo interno. Verificaram relação de estalos com dor à abertura da boca ou com limitação de movimento, bem como história de travamento com dor, com limitação à abertura da boca ou com sensibilidade na ATM. ISHIGAKI et al.6 (1992), através de artrografia, verificaram que a maioria dos pacientes apresentava desarranjo interno, com predomínio do deslocamento do disco com redução. A queixa principal foi dor na ATM (93,6%), seguida de ruídos articulares (42,5%) e limitação da abertura da boca (40,3%). A queixa de ruídos foi maior nos casos de deslocamento do disco com redução ou perfuração, enquanto que a limitação da abertura da boca foi mais freqüente nos casos de deslocamento do disco sem redução. STETENGA et al.19 (1992) descreveram que as queixas mais freqüentes foram dor pré-auricular, estalos, travamento e limitação do movimento, sendo que nenhum sinal ou sintoma foi patognomônico para os tipos de deslocamento do disco verificados por imagem. Houve predomínio do gênero feminino, com faixa etária média de 26anos e envolvimento unilateral. RAMOS et al.14 (1993) relataram que ruídos articulares estavam presentes em 82,1% dos pacientes com disfunção de ATM, predominando na faixa etária de 21 a 30anos e no gênero feminino. O estalo foi o ruído mais freqüente, de ocorrência bilateral. SCHOLTE et al.17 (1993) verificaram que pacientes com desarranjo interno apresentam faixa etária menor e maior freqüência de limitação de abertura da boca que pacientes com disfunções musculares. Houve predomínio da faixa etária de 21 a 40 anos e do gênero feminino (71%).

PROCÓPIO13 (1992), em estudo das relações de amplitudes máximas dos movimentos mandibulares, numa amostra de pacientes com disfunções da ATM, verificou que 32,6% apresentavam abertura máxima £ 39mm, 40% apresentavam protrusão máxima £ 4mm, 20%, lateralidade direita máxima £ 4mm, e 14,5%, lateralidade esquerda máxima £ 4mm. Os músculos com maior comprometimento foram o masseter, o temporal e o pterigóideo medial. UONO et al.21 (1993) avaliaram os movimentos mandibulares em pacientes com disfunção dolorosa da ATM, encontrando os seguintes valores em milímetros: abertura máxima, 47,56 ± 8,43; protrusão máxima, 3,95 ± 2,19; lateralidade direita, 7,19 ± 2,58 e lateralidade esquerda, 8,00 ± 2,52.

Entretanto, muitas casuísticas de disfunções da ATM não especificam a sintomatologia em relação aos subtipos. Assim, é importante o estudo dos sinais e sintomas das disfunções intra-articulares visando o seu reconhecimento.

A proposta deste trabalho foi analisar as características da sintomatologia de pacientes com disfunções intra-articulares da ATM.

MATERIAIS E MÉTODOS

Selecionaram-se 30 casos de pacientes com diagnóstico de disfunções intra-articulares entre portadores de disfunções da ATM atendidos em ambulatório. Realizou-se a coleta de dados pessoais, como gênero e idade. A queixa principal foi obtida através de entrevista, como parte inicial do exame clínico. A seguir, através de palpação bilateral, foi verificada a presença de dor articular, lateral e posterior à cápsula, bem como realizada ausculta para verificação de ruídos articulares. A presença de dor muscular foi avaliada por palpação bilateral dos seguintes músculos ou regiões: masseter superficial, masseter profundo, temporal anterior, temporal posterior, região frontal, região de vértex, cervicais posteriores, digástrico e esternocleidomastóideo, por via extrabucal; inserção do temporal, pterigóideo medial e pterigóideo lateral, por via intrabucal. Foram mensuradas, ainda, as amplitudes dos movimentos mandibulares, a saber: abertura máxima, distância vertical interincisal adicionada da sobremordida; lateralidade direita e esquerda, mensuradas através da linha mediana e com contato dental; protrusão máxima, distância horizontal entre as faces vestibulares dos incisivos superior e inferior esquerdos adicionada da sobressaliência, conforme critérios previamente estabelecidos (YAMAMOTO; LUZ22, 1992; UONO et al.21, 1993).

RESULTADOS

A distribuição dos pacientes, de acordo com o gênero e a faixa etária, é observada na Tabela 1. Nota-se predominância do gênero feminino, com 23pacientes, numa proporção de 3,2:1 em relação ao masculino. A maior ocorrência dos casos foi na faixa etária compreendida entre 21 e 30anos, com 10 pacientes (33,3%), seguida pela de 11 a 20anos, com 8 pacientes (26,6%).

Faixa etária11-2021-3031-4041-5051-60+60TotalMasculino1240007Feminino78331123Total810731130
TABELA 1 - Distribuição dos pacientes de acordo com o gênero e a faixa etária.

A freqüência do tipo de queixa principal é indicada na Tabela 2. A queixa mais comum foi dor pré-auricular, com 22 casos (40,7%), seguida de estalos, com 15casos (27,7%) e travamento, com 6 casos. O total de queixas supera o de pacientes da amostra, pois muitos apresentaram mais de uma queixa.

Queixa principalDor pré-auricularEstalosTravamentoCefaléiaFadiga muscularBriquismo/ apertamentoDesvioZumbidoSurdezTotalCasos2215643111154Porcentagem40,727,711,17,45,51,851,851,851,85100,0
TABELA 2 - Freqüência da queixa principal apresentada.

A freqüência da dor articular à palpação é verificada na Tabela 3. A sintomatologia dolorosa articular estava presente na maioria dos casos, tanto lateral quanto posteriormente à cápsula.

LocalizaçãoLadoDireitoEsquerdoBilateralTotalNº%Nº%Nº%Nº%Lateral à cápsula723,3516,6826,62066,5Posterior à cápsula516,6620,0826,61963,2
TABELA 3 - Freqüência da sintomatologia dolorosa articular à palpação.

A distribuição dos pacientes de acordo com os ruídos articulares verificados à ausculta é analisada na Tabela 4. A presença de estalos foi o achado clínico mais comum, com 20 casos (66,6%), sendo predominante a forma bilateral, com 10 casos (33,3%).

LadoRuídoDireitoEsquerdoBilateralTotalNº%Nº%Nº%Nº%Estalos310,0723,31033,32066,6Crepitação26,713,326,7516,7Total516,7826,61240,02583,3
TABELA 4 - Distribuição dos pacientes de acordo com o tipo de ruído articular verificado na ausculta.

A freqüência de dor muscular à palpação é observada na Tabela 5. O músculo mais atingido foi o pterigóideo lateral, com 20 casos (66,6%), sendo predominante a ocorrência bilateral, com 16casos (53,3%). A presença de dor na inserção do músculo temporal foi representada por 20 casos (66,6%), seguindo-se o pterigóideo medial, com 19casos (63,3%), ambos na forma bilateral. O total de casos supera o de pacientes da amostra, pois muitos apresentaram dor em mais de um músculo.

A distribuição dos pacientes de acordo com a amplitude do movimento de abertura máxima da boca é observada na Tabela 6. Verificamos que, dos 30 pacientes estudados, 7 pacientes (23,4%) apresentavam abertura máxima entre 40-44mm, seguidos de 5 pacientes (16,7%) com abertura máxima compreendida entre 50-54mm.

LadoMúsculoDireitoEsquerdoBilateralTotalNº%Nº%Nº%Nº%Pterigóideo lateral26,026,01653,32066,6Inserção temporal620,0310,01136,62066,6Pterigóideo medial413,3310,01240,01963,3Masseter profundo516,0516,6723,31756,6Esternocleidomastóideo26,0620,0620,01446,6Masseter superficial516,026,0620,01343,3Cervicais posteriores26,013,3826,61136,6Digástrico00,026,0723,3930,0Temporal anterior13,000,0723,3826,6Temporal posterior00,000,0723,3723,3Frontal00,000,0413,3413,3Vértex00,000,026,626,6Total27-24-93-144-
TABELA 5 - Freqüência de dor muscular à palpação.

A distribuição dos pacientes de acordo com a amplitude dos movimentos de lateralidade é observada na Tabela 7. Encontramos uma predominância para os movimentos de lateralidade entre 5-9mm, distribuída em lateralidade direita, com 15 pacientes (50%), e esquerda, com 17 pacientes (56,6%).

A distribuição dos pacientes de acordo com o movimento de protrusão máxima é observada na Tabela 8. Observa-se a predominância dos casos na faixa compreendida entre 0-4mm (60%), seguida da faixa compreendida entre 5-9mm (23,3%).

PacientesAmplitudeNº%£ 24mm413,325 - 29mm13,330 - 34mm310,035 - 39mm00,040 - 44mm723,445 - 49mm413,350 - 54mm516,755 - 59mm26,7£ 60mm413,3
TABELA 6 - Distribuição dos pacientes de acordo com a amplitude de movimento de abertura máxima.

AmplitudeLadoDireitoEsquerdoNº%Nº%0 - 4mm620,0620,05 - 9mm1550,01756,610 - 14mm620,0516,6£ 15mm310,026,6
TABELA 7 - Distribuição dos pacientes de acordo com a amplitude dos movimentos de lateralidade.

PacientesAmplitudeNº%0 -4mm1860,05 -9mm723,310 - 14mm310,0£15mm26,7
TABELA 8 - Distribuição dos pacientes de acordo com a amplitude dos movimentos de protrusão máxima.

DISCUSSÃO

Foi realizada análise da sintomatologia das disfunções intra-articulares da ATM através do estudo de 30 pacientes com esse diagnóstico. A predominância do gênero feminino, verificada nesse grupo, está consonante ao demonstrado em outros estudos sobre disfunções intra-articulares (OLIVEIRA11, 1980; PEDERSEN; HANSSEN12, 1987; STETENGA et al.19, 1992; RAMOS et al.14, 1993; SCHOLTE et al.17, 1993). Resultados semelhantes têm sido relatados em casuísticas de disfunções da ATM, sem contudo especificar se o envolvimento é articular ou muscular (SOUZA18, 1980; CORREIA3, 1983; SANTOS et al.16, 1986; JAGGER; WOOD7, 1992; RAMOS et al.15, 1992; COOPER; COOPER2, 1993). Também foi observada maior freqüência para a faixa etária entre 21 e 30anos, concorde com o encontrado em outros estudos de disfunções intra-articulares (OLIVEIRA11, 1980; PEDERSEN; HANSSEN12, 1987; STETENGA et al.19, 1992; RAMOS et al.14, 1993; SCHOLTE et al.17, 1993). Dados semelhantes têm sido descritos em casuísticas de disfunções da ATM, sem especificação de envolvimento articular ou muscular (SOUZA18, 1980; CORREIA3, 1983; RAMOS et al.15, 1992). Assim, verificamos que não houve diferença para a freqüência de dados pessoais entre as disfunções intra-articulares e o conjunto de disfunções da ATM (articulares + musculares).

A queixa principal mais freqüente foi de dor na região pré-auricular. Esse achado era esperado para as disfunções intra-articulares, sendo representado por dor lateral ou posterior à cápsula (OLIVEIRA11, 1980; PEDERSEN; HANSSEN12, 1987; ISHIGAKI et al.6, 1992; STETENGA et al.19, 1992). Por outro lado, os trabalhos que não especificam o tipo de disfunção limitam-se a descrever a ocorrência de dor facial, sem definir a localização (CORREIA3, 1983; RAMOS et al.15, 1992; LUZ; OLIVEIRA9, 1994). A segunda queixa mais referida foram os estalos. Esse dado era esperado diante da amostra de disfunções intra-articulares, conforme demonstrado em outros estudos (PEDERSEN; HANSSEN12, 1987; ISHIGAKI et al.6, 1992; STETENGA et al.19, 1992). Correlação importante entre a presença de sinais e de sintomas tem sido relatada para as disfunções intra-articulares (LUNDH; WESTESSON8, 1991).

Houve grande freqüência, dentre os sinais, de dor articular tanto lateral como posterior à cápsula. Esse achado revela o envolvimento intra-articular, como já verificado (OLIVEIRA11, 1980; PEDERSEN; HANSSEN12, 1987). Entretanto, é interessante notar que uma casuística de disfunções articulares e musculares da ATM revelou grande freqüência de dor articular aliada a outros sinais (COOPER; COOPER2, 1993).

Ruídos articulares foram comuns, com predomínio dos estalos. Esse achado revela a incoordenação disco-côndilo, característica das disfunções intra-articulares (BARROS1, 1975; GOMES5, 1977; TALLENTS et al.20, 1993). Os estalos são próprios do deslocamento do disco com redução (STETENGA et al.19, 1992). A maioria das casuísticas de disfunções intra-articulares tem destacado a freqüência de estalos (OLIVEIRA11, 1980; PEDERSEN; HANSSEN12, 1987; STETENGA et al.19, 1992; RAMOS et al.14, 1993). Também casuísticas do conjunto de disfunções da ATM têm destacado sua freqüência (SOUZA18, 1980; SANTOS et al.16, 1986; JAGGER; WOOD7, 1992; RAMOS et al.15, 1992; MAGNUSSON et al.10, 1994).

Dor muscular foi freqüente, em especial, nos músculos pterigóideo lateral e medial e na inserção do temporal. A ocorrência de dor muscular na disfunção intra-articular tem sido descrita (PEDERSEN; HANSSEN12, 1987). A possibilidade da ocorrência, em associação às disfunções intra-articulares, de contração muscular de proteção, de um segundo diagnóstico de disfunção muscular ou de hábitos parafuncionais, promovendo sobrecarga articular e contração muscular, deve ser considerada (FRICTON et al.4, 1988). O envolvimento do músculo pterigóideo lateral pode estar associado às disfunções intra-articulares (GOMES5, 1977). Estudos sobre o conjunto de disfunções da ATM relataram ser freqüente o envolvimento dos grupos musculares citados (PROCÓPIO13, 1992; COOPER; COOPER2, 1993).

Na avaliação dos movimentos mandibulares máximos, foram observados com maior freqüência abertura ³ 40mm e lateralidade direita e esquerda ³ 9mm. Esses dados mostram valores semelhantes aos encontrados em estudos do conjunto de disfunções da ATM (JAGGER; WOOD7, 1992; PROCÓPIO13, 1992, UONO et al.21, 1993; MAGNUSSON et al.10, 1994). Esses valores podem ser considerados dentro da normalidade (FRICTON et al.4, 1988). Por outro lado, houve maior freqüência de protrusão máxima £ 4mm, o que se considera como diminuição dessa amplitude (FRICTON et al.4, 1988). Assim, verificamos que a maioria dos movimentos mandibulares máximos avaliados contrastou com o descrito para as disfunções articulares, que é a diminuição da mobilidade mandibular (PEDERSEN; HANSSEN12, 1987; ISHIGAKI et al.6, 1992; STETENGA et al.19, 1992; SCHOLTE et al.17, 1993).

CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos nas condições desta pesquisa, podemos concluir que:

1. Houve uma maior freqüência de pacientes do gênero feminino, numa proporção de 3,2:1 em relação ao masculino.

2. A faixa etária com maior freqüência foi de 21 a 30 anos (33,3%).

3. A queixa mais freqüente foi de dor na região pré-auricular (40,7%).

4. Sintomatologia dolorosa articular estava presente, na maioria dos casos, tanto lateral quanto posteriormente à cápsula.

5. Os ruídos articulares mais freqüentes foram os estalos.

6. Dor muscular ocorreu na maioria dos casos, havendo predomínio do envolvimento dos músculos pterigóideo lateral e medial e da inserção do temporal.

7. Houve predomínio de amplitude do movimento de abertura máxima ³ 40mm.

8. Houve predomínio de amplitude do movimento de lateralidade direita e esquerda £ 9mm.

9. Houve predomínio de amplitude do movimento de protrusão £ 4mm.

DONEGÁ, S. H. P. et al. Analysis of symptomatology in patients with intra-articular disorders of the temporomandibular joint. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, p.77-83, 1997. Suplemento.

The study analyzed the symptomatology in patients with intra-articular disorders of the temporomandibular joint. The most frequent complaint was pain in the preauricular region (40.7%). Articular pain (63.2%) and articular sounds (83.3%) were the most common findings during clinical examination. Muscular pain occurred particularly in the medial and lateral pterygoid muscles and at the insertion of the temporalis muscle. The most frequent articular sound was clicking (66.6%). There was a decrease in extent of protrusion among the mandibular border positions.

UNITERMS: Temporomandibular joint.

Recebido para publicação em 22/10/96

Aceito para publicação em 04/08/97

  • 1
    BARROS, J. J. Um estetoscópio para ausculta da articulação temporomandibular. Rev Assoc Paul Cir Dent, v.29, n.2, p.20-21, mar. 1975.
  • 2
    COOPER, R. C.; COOPER, D. L. Recognizing otolaryngologic symptoms in patients with temporomandibular disorders. J Craniomand Pract, v.11, p.260-267, 1993.
  • 3
    CORREIA, F. A. S. Prevalência da sintomatologia nas disfunções da articulação temporomandibular e suas relações com idade, sexo e perdas dentais São Paulo, 1983. p.84-85. Tese (Mestrado) - Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo.
  • 4
    FRICTON, J. R. et al. TMJ and craniofacial pain: Diagnosis and management. St. Louis: Ishiyaku Euroamerica, 1988. 183p.
  • 5
    GOMES, L. C. N. T. Ruídos na articulação temporomandibular. Quintessência, v.4, n.12, p.27-29, dez. 1977.
  • 6
    ISHIGAKI, S. et al. The distribution of internal derangement in patients with temporomandibular dysfunction: prevalence, diagnosis and treatments. J Craniomandib Pract, v.10, p.289-296, 1992.
  • 7
    JAGGER, R. G.; WOOD, C. Signs and symptoms of temporomandibular joint dysfunction in a Saudi Arabia population. J Oral Rehabil, v.19, p.353-359, 1992.
  • 8
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  • 9
    LUZ, J. G. C.; OLIVEIRA, N. G. Incidence of temporomandibular joint disorders in patients seen at a hospital emergency room. J Oral Rehabil, v.21, p.349-351, 1994.
  • 10
    MAGNUSSON, T. et al. Changes in clinical signs of craniomandibular disorders from the age of 15 to 25 years. J Orofac Pain, v.8, p.207-213, 1994.
  • 11
    OLIVEIRA, M. J. F. Ruídos da ATM: contribuição ao seu estudo. Fortaleza, 1980. p.166-171. Tese (Livre Docência) - Universidade Federal do Ceará.
  • 12
    PEDERSEN, A.; HANSSEN, H. J. Internal derangement of the temporomandibular joint in 211 patients: symptoms and treatment. Community Dent Oral Epidemiol, v.15, p.339-343, 1987.
  • 13
    PROCÓPIO, A. S. F. Estudo da relação entre as amplitudes máximas dos movimentos mandibulares e os principais sinais e sintomas em pacientes portadores de disfunção da articulação temporomandibular São Paulo, 1992. 76p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo.
  • 14
    RAMOS, H. A. D. et al. Incidência de ruídos articulares em pacientes portadores de disfunção dolorosa da articulação temporomandibular. Rev Odontol Univ São Paulo, v.7, p.43-46, jan./mar. 1993.
  • 15
    RAMOS, H. A. D. et al. Sinais e sintomas das disfunções dolorosas da articulação temporomandibular. Odonto Cad Doc, v.2, n.2, p.252-255, 1992.
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  • * Estagiário,
    Estagiário, ** Professor Doutor e *** Professor Associado da Disciplina de Traumatologia Maxilo-Facial do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilo-Faciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jan 2000
    • Data do Fascículo
      1997

    Histórico

    • Recebido
      22 Out 1996
    • Aceito
      04 Ago 1997
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