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ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS DOS PACIENTES ATENDIDOS NAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO - USP

SOCIO-ECONOMIC CONDITIONS OF PATIENTS SEEN AT THE CLINICS OF THE RIBEIRÃO PRETO SCHOOL OF DENTISTRY, UNIVERSITY OF SÃO PAULO, BRAZIL

Resumos

O objetivo deste estudo foi conhecer as condições sócio-econômicas dos pacientes atendidos nas clínicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP no segundo semestre de 1994. Para tanto, foi aplicado um questionário, obtendo-se 532 (76%) respostas. Os resultados mostraram que, em média, moravam 4 pessoas por casa, dentre as quais 1,8 trabalhavam. Além disso, 55,7% das famílias dos pacientes possuíam renda mensal inferior a 5 salários mínimos; 66,5% possuíam casa própria e 50,2% dos pacientes não concluíram o primeiro grau. Concluiu-se, então, que os pacientes que participaram do estudo possuíam, em sua maioria, baixa renda familiar mensal e baixo nível de escolaridade.

Saúde pública; Pacientes; Escolas de odontologia.


The aim of this study was to determine the socio-economic conditions of patients seen at the clinics of the Ribeirão Preto School of Dentistry, University of São Paulo, during the second half of 1994. A total of 532 (78%) patients responded to a questionnaire given to them. The results showed that, on average, 4 persons lived in each house and 1.8 worked. A total of 55.7% of the patients' families had a monthly income of less than 5 minimum wages, 66.5% owned their home and 50.2% had not finished elementary school. We conclude that the majority of the patients who participated in this study had low monthly income and low level of formal education.

Public health; Patients; Schools, dental


ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS DOS PACIENTES ATENDIDOS NAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE RIBEIRÃO PRETO - USP

SOCIO-ECONOMIC CONDITIONS OF PATIENTS SEEN AT THE CLINICS OF THE RIBEIRÃO PRETO SCHOOL OF DENTISTRY, UNIVERSITY OF SÃO PAULO, BRAZIL

Marlívia Gonçalves de Carvalho WATANABE* * Professora Assistente da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. ** Acadêmicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Alessandra Marçal AGOSTINHO** * Professora Assistente da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. ** Acadêmicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

Alessandra MOREIRA** * Professora Assistente da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. ** Acadêmicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

WATANABE, M. G. C. et al. Aspectos sócio-econômicos dos pacientes atendidos nas clínicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - USP. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, n.2, p.147-151, abr./jun. 1997.

O objetivo deste estudo foi conhecer as condições sócio-econômicas dos pacientes atendidos nas clínicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP no segundo semestre de 1994. Para tanto, foi aplicado um questionário, obtendo-se 532 (76%) respostas. Os resultados mostraram que, em média, moravam 4 pessoas por casa, dentre as quais 1,8 trabalhavam. Além disso, 55,7% das famílias dos pacientes possuíam renda mensal inferior a 5 salários mínimos; 66,5% possuíam casa própria e 50,2% dos pacientes não concluíram o primeiro grau. Concluiu-se, então, que os pacientes que participaram do estudo possuíam, em sua maioria, baixa renda familiar mensal e baixo nível de escolaridade.

UNITERMOS: Saúde pública; Pacientes * condição sócio-econômica; Escolas de odontologia.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, têm-se observado alterações nas características sócio-econômicas da população brasileira, tais como a piora na distribuição de renda, com conseqüente diminuição do poder aquisitivo da classe média. Paralelamente, em relação à assistência à saúde, houve um estrangulamento dos serviços públicos, pelo aumento da demanda, piora das condições de atendimento e um crescimento das empresas de medicina de grupo. Em meio a isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) tenta se fortalecer e garantir o cumprimento de suas diretrizes, porém, ainda com avanços isolados nesse sentido.

O atendimento odontológico prestado pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP) é gratuito e realizado principalmente por alunos de Graduação. Pesquisa realizada em 1984 pelo serviço de assistência socialI I, II, IV RAMOS, Nibi Maria Cintra e Oliveira. Comunicação Pessoal. III Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP. Serviço de Triagem. Comunicação Pessoal.

O objetivo deste trabalho foi conhecer as condições sócio-econômicas dos pacientes atendidos nas clínicas da FORP-USP no segundo período letivo de 1994 e verificar possíveis alterações nas mesmas, ocorridas nos últimos dez anos.

MATERIAL E MÉTODO

A população de estudo foi composta por pacientes de ambos os sexos, atendidos por alunos de graduação (6 e 8 períodos) e residentes da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto-USP, no segundo semestre de 1994.

Foi elaborado um questionário de forma a abordar aspectos relacionados à condição sócio-econômica dos pacientes, tais como: número de moradores por casa, tipo de habitação, escolaridade, renda mensal familiar, renda per capita mensal e condição de trabalho (Quadro 1).


O paciente foi convidado a respondê-lo através de um "rapport", explicando o objetivo do estudo e esclarecendo sobre a não necessidade de identificação e que o tratamento não seria influenciado em função das respostas obtidas. Para os pacientes da clínica de Odontopediatria, foi feita uma adaptação no questionário, a fim de que as informações fossem fornecidas pelos pais, excluindo-se aquelas referentes a condição de trabalho, renda individual e escolaridade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Responderam o questionário 532 (76%) pacientes atendidos nas clínicas da FORP-USP no segundo semestre de 1994 (Tabela 1), sendo a maioria do sexo feminino (70,7%) e pertencente à faixa de 18 a 50 anos (56,4%). Essa concentração de pacientes nas idades jovem e adulta condiz com a característica de atendimento realizado principalmente por alunos de graduação, ou seja, de baixa complexidade, o que praticamente exclui as pessoas de idade mais avançada, já que, no Brasil, os estudos epidemiológicos demonstram que essa população apresenta processos de cárie e periodontopatias avançados, levando a perdas múltiplas de elementos dentais2,4. Vale ressaltar que as transformações demográficas observadas nos países desenvolvidos há algumas décadas, e mais recentemente, nos países em desenvolvimento sugerem um grande aumento da população de idade mais avançada nas próximas três décadas; conforme afirmam KALACHE et al.3, isso fará com que aumente a demanda nos serviços de saúde, inclusive odontológicos, os quais terão que se adaptar às características específicas desse grupo etário.

Os resultados mostraram que moravam, em média, 4 pessoas por casa, sendo que 1,8 trabalhavam fora. Dentre os pacientes que participaram do estudo, 53,1% das mulheres não trabalhavam, contra apenas 29,2% dos homens (Tabela 2). Na faixa etária de 18 a 50 anos, a qual abrange a maior parte das pessoas economicamente ativas, observa-se que a quase totalidade dos homens relatou trabalhar fora, ou seja, 91,9%, contra 57,0% das mulheres. A grande proporção de pacientes acima de 50 anos, de ambos os sexos, que relatou não trabalhar deve-se às aposentadorias e pensões.

Isso demonstra que os pacientes atendidos são, na sua maioria, mulheres que não possuem atividade de trabalho fora de casa e, portanto, podem dispor de longos períodos do dia para usufruir do tipo de serviço prestado nessa unidade, ou seja, demorado no sentido de duração da sessão e do tratamento. Um outro fator que pode explicar a predominância de mulheres é o fato de as mesmas procurarem o tratamento odontológico com mais freqüência, tanto por razões estéticas quanto de saúde, conforme coloca WALLACE et al.5. Conclusões semelhantes foram obtidas de um estudo realizado por ABRAMOWICZ et al.1, em 1975, na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, entre os pacientes selecionados para tratamento pelo Serviço de Triagem e Emergência.

Em relação à renda, a Tabela 3 mostra que 55,7% das famílias dos pacientes que participaram do estudo tinham uma renda mensal inferior a 5 salários mínimos. Observa-se, ainda, que 91,8% delas possuíam renda per capita mensal de 0 a 2 salários mínimos. Comparando-se com pesquisa realizada anteriormenteII I, II, IV RAMOS, Nibi Maria Cintra e Oliveira. Comunicação Pessoal. III Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP. Serviço de Triagem. Comunicação Pessoal. , nota-se que houve uma pequena melhora na renda familiar mensal, que era de 3 salários mínimos em 1984.

No que diz respeito ao tipo de habitação, a Tabela 4 mostra que a maior parte dos pacientes morava em casa própria, incluindo-se nessa categoria os financiamentos habitacionais, proporção essa semelhante à observada na Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP em 1993III, ou seja, 61,8%, e ligeiramente superior à da FORP-USP em 1984 (56,9%)IV I, II, IV RAMOS, Nibi Maria Cintra e Oliveira. Comunicação Pessoal. III Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP. Serviço de Triagem. Comunicação Pessoal. . Em São Paulo, ABRAMOWICZ et al.1 (1975) observaram maior proporção de pacientes triados para tratamento na Faculdade de Odontologia da USP morando em casa alugada (41,49%).

A Tabela 5 mostra os resultados referentes ao grau de escolaridade dos participantes do estudo. Observa-se que 50,2% não concluíram o 1º grau e 10,1% sequer freqüentaram a escola, caracterizando uma população desfavorecida do ponto de vista educacional.

Apesar de a maior parte dos pacientes que responderam o questionário possuir uma condição sócio-econômica considerada menos privilegiada, ou seja, com baixa renda familiar e per capita mensal e baixo nível de escolaridade, observa-se que o serviço também é procurado por pessoas com condições de vida "teoricamente" mais favorecidas (melhor condição de renda e nível de escolaridade), ou porque este constitui um centro de excelência na área ou porque, mesmo para essas pessoas, o acesso à assistência odontológica privada torna-se proibitivo.

CONCLUSÕES

Pôde-se concluir do que foi exposto que os pacientes atendidos nas clínicas da FORP-USP no segundo semestre de 1994 e que participaram do estudo, em sua maioria:

1. eram mulheres, as quais não exerciam atividade remunerada fora de casa;

2. pertenciam a famílias de tamanho médio (4 pessoas);

3. apresentaram baixa renda familiar e per capita mensal e baixo nível de escolaridade;

4. moravam em casa própria, mesmo que financiadas pelo sistema habitacional.

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos à Sra. Nibi Maria Cintra e Oliveira Ramos, Assistente Social da FORP-USP, e ao Serviço de Triagem da FOA-UNESP, pelas informações concedidas.

WATANABE, M. G. C. et al. Socio-economic conditions of patients seen at the clinics of the Ribeirão Preto School of Dentistry, University of São Paulo, Brazil. Rev Odontol Univ São Paulo, v.11, n.2, p.147-151, abr./jun. 1997.

The aim of this study was to determine the socio-economic conditions of patients seen at the clinics of the Ribeirão Preto School of Dentistry, University of São Paulo, during the second half of 1994. A total of 532 (78%) patients responded to a questionnaire given to them. The results showed that, on average, 4 persons lived in each house and 1.8 worked. A total of 55.7% of the patients' families had a monthly income of less than 5 minimum wages, 66.5% owned their home and 50.2% had not finished elementary school. We conclude that the majority of the patients who participated in this study had low monthly income and low level of formal education.

UNITERMS: Public health; Patients * condition, socio-economic; Schools, dental.

Recebido para publicação em 28/10/96

Aceito para publicação em 16/12/96

  • 1
    ABRAMOWICZ, M. et al. Contribuição para o estudo dos pacientes que freqüentam as clínicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Rev Fac Odontol Univ São Paulo, v.14, n.2, p.259-270, jul./dez. 1976.
  • 2
    BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Levantamento epidemiológico em saúde bucal: Brasil, zona urbana, 1986. Brasília : Divisão Nacional de Saúde Bucal, 1988. 1v.
  • 3
    KALACHE, A. et al. O envelhecimento da população mundial: um desafio novo. Rev Saúde Públ, v.21, n.3, p.200-210, jun. 1987.
  • 4
    ROSA, A. G. F. et al. Condições de saúde bucal em pessoas de 60 anos ou mais no Município de São Paulo: Brasil. Rev Saúde Públ, v.26, n.3, p.155-160, jun. 1992.
  • 5
    WALLACE, M. C. et al. Prevalence of root caries in a population of older adults. Gerodontics, v.4, n.2, p.84-89, Apr. 1988.
  • dessa unidade definiu o paciente atendido como "a dona de casa, com idade média de 35 anos, tendo uma família de 4 a 6 membros, com casa própria (COHAB) e a média de 3 salários mínimos para seu sustento".
  • *
    Professora Assistente da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
    **
    Acadêmicas da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
  • Idessa unidade definiu o paciente atendido como "a dona de casa, com idade média de 35 anos, tendo uma família de 4 a 6 membros, com casa própria (COHAB) e a média de 3 salários mínimos para seu sustento".,
    II,
    IV RAMOS, Nibi Maria Cintra e Oliveira. Comunicação Pessoal.
    III Faculdade de Odontologia de Araraquara-UNESP. Serviço de Triagem. Comunicação Pessoal.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Mar 1999
    • Data do Fascículo
      Abr 1997

    Histórico

    • Aceito
      16 Dez 1996
    • Recebido
      28 Out 1996
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