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Uma reavaliação do diazepam intramuscular para emergências psiquiátricas

CARTA AO EDITOR

Uma reavaliação do diazepam intramuscular para emergências psiquiátricas

Pedro Vieira da Silva Magalhães

M.D., M.Sc., Molecular Psychiatry Laboratory, Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Pedro Vieira da Silva Magalhães Laboratório de Psiquiatria Molecular Hospital das Clínicas Rua Ramiro Barcelos, 2350 90035-003 E-mails: pedromagaz@gmail.com e maga@ufpel.tche.br

Mesmo que medicações orais sejam preferidas sempre que possível, o uso intramuscular (IM) de psicotrópicos é frequentemente necessário em emergências psiquiátricas. O uso de benzodiazepínicos tem sido recomendado em diretrizes recentes por terem eles menor incidência de efeitos colaterais, especialmente sintomas extrapiramidais, quando comparados com antipsicóticos típicos1.

O lorazepam tem sido o benzodiazepínico de escolha em razão da confiabilidade de sua absorção; sua formulação parenteral, entretanto, não está disponível no Brasil. Isso provavelmente explica a adição de prometazina, um anti-histamínico sedativo, ao haloperidol em emergências2. Essa combinação tem a virtude de ter sido testada em vários ensaios clínicos randomizados de alta qualidade, com centenas de pacientes expostos3. A adição de prometazina ao haloperidol, entretanto, não foi comparada à combinação de benzodiazapíco e antipsicótico, que é prática-padrão, ao menos em países onde o lorazepam parenteral está disponível1.

O uso intramuscular de diazepam foi pouco explorado em pesquisa clínica; isso está provavelmente relacionado a dificuldades farmacocinéticas na sua administração glútea por via IM. Embora a absorção de certas drogas após injeção IM possa ser errática, levando à resposta clínica imprevisível, músculo é mais vascular que tecido subcutâneo, com a absorção mais rápida após administração no deltóide e mais vagarosa após injeções no glúteo4. Dois estudos demonstraram que o uso IM de diazepam foi tão efetivo quanto o de lorazepam contra a ansiedade5 e como sedação antes de eletroconvulsoterapia em pacientes com psicose crônica6.

Alguns estudos demonstraram que a administração no deltoide torna a absorção do diazepam mais confiável. Em um ensaio clínico randomizado, do tipo cross-over, a absorção do diazepam após injeção no deltoide foi rápida e completa7. Em outro experimento com sujeitos saudáveis, a absorção foi mais rápida e teve efeito clínico mais pronunciado após administração no ombro que na coxa8.

Com os dados farmacocinéticos disponíveis, é possível argumentar que a administração deltoide de diazepam em adição ao haloperidol poderia ser testada em um ensaio clínico em comparação ao haloperidol e prometazina. Entre os benzodiazepínicos disponíveis no Brasil, o diazepam tem vantagens claras sobre o midazolam, já que é aproximadamente 15 vezes mais barato e amplamente disponível em serviços de emergência para o tratamento de convulsões. Caso a administração deltoide de diazepam se demonstre efetiva em emergências psiquiátricas, deverá haver benefício para os pacientes por terem outra opção útil no tratamento da agitação.

Recebido: 6/10/2008

Aceito: 29/10/2008

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  • Endereço para correspondência:
    Pedro Vieira da Silva Magalhães
    Laboratório de Psiquiatria Molecular
    Hospital das Clínicas
    Rua Ramiro Barcelos, 2350
    90035-003
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Ago 2009
    • Data do Fascículo
      2009
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