Acessibilidade / Reportar erro

Estudos moleculares em esquizofrenia

EDITORIAL

Estudos moleculares em esquizofrenia

Daniel Martins-de-souzaI, Bruno M. De oliveiraII

IInstituto Max Planck de Psiquiatria e Universidade Ludwig Maximilians de Munique (LMU), Alemanha; Laboratório de Neurociências (LIM-27), Instituto de Psiquiatria, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-FMUSP), São Paulo, SP, Brasil

IILaboratório de Proteômica, Departamento de Bioquímica, Universidade Estadual de Campinas, (Unicamp), Campinas, SP, Brasil

São alarmantes as previsões da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação ao número de pessoas que serão acometidas por doenças psiquiátricas na população mundial nas décadas a virem. Até 2030, estima-se que 4 em cada 10 pessoas que se afastarão do trabalho por motivos de saúde o farão devido a uma desordem psiquiátrica. Ainda, ao passo que a atenção e o investimento no cuidado de doenças cardíacas, cânceres e diabetes aumentam, o mesmo não ocorre em relação a distúrbios psiquiátricos. Pelo contrário: clínicas psiquiátricas têm sido fechadas e tem-se observado o deferimento de planos de saúde em relação a tratamentos psi-quiátricos. Sendo o objetivo da medicina a melhora das condições de vida humana, e já que a evolução biológica do homem moderno não acompanhou a sua evolução social, levando ao aparecimento de inúmeras patologias, inclusive psíquicas, é importante que a pesquisa médica visando à saúde física acompanhe aquela voltada à sua saúde mental.

A esquizofrenia não é somente um dos mais intrigantes distúrbios psiquiátricos, mas provavelmente o mais complicado de ser estudado. Isso se deve à numerosa gama de sintomas desencadeados, à sobreposição deles com aqueles de outras desordens psiquiátricas, à sua característica multifatorial molecular e ambiental e ao fato de que a validação de modelos pré-clínicos é bastante controversa.

As bases patogênicas da esquizofrenia têm sido amplamente investigadas nos últimos anos. Artigos científicos têm sido publicados sobre estudos de conhecimento básico, pré-clínicos, clínicos e inclusive envolvendo células-tronco, denotando os crescentes esforços e o interesse científico em relação à esquizofrenia. Entretanto, alguns dos fatores mais elementares de sua patogênese ainda não foram resolvidos. Alguns pontos das bases moleculares da esquizofrenia são bem caracterizados, mas ainda faltam dados que integrem tais resultados. O diagnóstico ainda é essencialmente clínico e apresenta caráter muito subjetivo. Além disso, praticamente não existe intervenção prognóstica. Efeitos medicamentosos precisam ser mais bem caracterizados para que tratamentos mais efetivos e direcionados a cada paciente sejam desenvolvidos, visando também excluir os tão indesejáveis efeitos colaterais. O momento mostra que há necessidade de desvendar os aspectos moleculares da esquizofrenia e das diversas desordens psiquiátricas.

Com isso em mente, a Revista de Psiquiatria Clínica oferece esta edição especial sobre "Estudos moleculares em esquizofrenia". Esta edição conta com oito artigos de grupos de pesquisa de diferentes universidades e centros de pesquisa de todo o mundo que abordam desde ciência básica, passando por modelos e estudos pré-clínicos, até a identificação de biomarcadores. Nossa intenção é proporcionar aos leitores conhecimento a respeito das abordagens mais atuais na pesquisa psiquiátrica, de forma a gerar potencial para ideias e inspirar projetos inovadores que adicionem peças ao quebra-cabeça da esquizofrenia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    2013
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Rua Ovídio Pires de Campos, 785 , 05403-010 São Paulo SP Brasil, Tel./Fax: +55 11 2661-8011 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: archives@usp.br