AVALIAÇÃO LABORATORIAL EM AMBULATÓRIO NA ANOREXIA NERVOSA: A IMPORTÂNCIA DA GASOMETRIA VENOSA

Pires, Sofia Alexandra Pereira; Soares, Joana Costa; Luz, Alexandra Maria Branco da; Moleiro, Pascoal

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Revista Paulista de Pediatria

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. paul. pediatr. 38 • 2020 • https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018358 copiar

AVALIAÇÃO LABORATORIAL EM AMBULATÓRIO NA ANOREXIA NERVOSA: A IMPORTÂNCIA DA GASOMETRIA VENOSA

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivo:

Avaliar a evolução laboratorial, particularmente da gasometria venosa, na anorexia nervosa (AN), correlacionando os achados com parâmetros clínicos.

Métodos:

Estudo retrospetivo com adolescentes com AN seguidos em ambulatório, entre janeiro de 2014 e maio de 2017. Foram comparadas três avaliações: (t1) primeira consulta; (t2) consulta com escore Z de índice de massa corpórea (IMC) mais baixo; e (t3) consulta com escore Z de IMC mais elevado.

Resultados:

Incluídos 24 adolescentes, 87,5% do sexo feminino, idade média de apresentação de 14,9±1,7 anos, início dos sintomas 6,4±3,2 meses antes da primeira consulta. Em t1, escore Z de IMC de -1,91±1,11 kg/m² e % de peso ideal de 84,3±9,2. Tinham amenorreia 88%. Em t2 as alterações laboratoriais encontradas foram: gasometria venosa alterada em 100%, ferritina alterada (72% elevada), função tiroideia alterada (53% com diminuição da tiroxina), dislipidemia (31% com elevação de lipoproteína de alta densidade, 25% com hipercolesterolemia), elevação da ureia (25%), elevação da alanina aminotransferase (14%), hipoglicemia (14%) e anemia (9%). A acidose respiratória esteve presente em 91% em t1, 100% em t2 e 94% em t3. Verificou-se diminuição significativa entre t2 e t3 da pressão parcial de CO₂ (pCO₂) média (57,2 versus 53,6 mmHg; p=0,009) e HCO₃ médio (30,0 versus 28,8 mEq/L; p=0,023).

Conclusões:

A acidose respiratória e o aumento da ferritina foram comuns nesse grupo. Acidose respiratória foi a alteração mais frequente, com variação significativa de pCO2 e HCO₃ na fase de recuperação. A gasometria venosa deve ser considerada na avaliação laboratorial na AN, pois parece ser importante na avaliação da gravidade e monitorização da doença.

Palavras-chave:
Anorexia nervosa; Adolescente; Desnutrição; Gasometria

Parâmetros	Primeira consulta
Idade (anos)	14,9±1,7 (variação 11–18)
Sexo feminino/masculino (n)	21/3
Tempo desde o início dos sintomas (meses)	6,4±3,2 (variação 2–12)
% de peso ideal	84,3±9,2
Escore Z de IMC	-1,91±1,11
Gravidade^a
Leve	9
Moderada	7
Grave	4
Extrema	4
Amenorreia (com menarca n=17)	15 (88%)
FC (bpm)
Média±DP	58,3±13,7
% bradicardia	62,5
PA sistólica (mmHg)
Média±DP	99,3±9,0
% hipotensão	12,5

Parâmetros	t1	t2	t3	p-valor^a
Escore de IMC (média±DP)	-1,65±1,13	-2,41±1,31	-0,85±0,90	<0,001
FC (bpm)
Média±DP	58,3±13,7	60,1±13,4	70,8±14,6	0,022
% bradicardia	62,5	60	23,8	0,022
PA sistólica (mmHg)
Média±DP	99,3±9,0	97,3±10,1	102,2±11,2	0,031
% hipotensão	12,5	20	10	0,031

	Valores de referência	t1 (n=24) (média±DP) (valor normal em %)	t2 (n=21) (média±DP) (valor normal em %)	t3 (n=21) (média±DP) (valor normal em %)	p-valor^a
Hb (g/dL)	M (12,5–16,1) F (12–15)	13,6±1,5 88	13,4±1,6 86	13,1±1,2 81	0,395
Glicose (mg)	60–100	75,5±12,1 83	76,2±15,7 81	79,2±10,9 86	0,438
Proteínas totais (g/dL)	66-82	74,3±4,5 95	72,9±5,3 94	72,8±3,6 93	0,735
AST (U/L)	10–15A(10–40) 16–19A(15–45)	25,2±7,4 96	24,1±5,6 100	25,9±6,7 100	0,137
ALT (U/L)	5–45	26,3±11,7 92	27,5±12,9 86	32,7±21,7 85	0,366
LDH (U/L)	120–330	208,1±47,7 100	183,7±27,0 100	185,5±20,8 100	0,973
CK (U/L)	5–130	97,8±45,8 75	68,7±20,9 100%	72,4±26,8 100	0,715
Ureia (mmol/L)	2,5–6,4	6,2±3,9 75	5,3±1,4 75	6,4±4,2 76	0,224
Creatinina (mg/dL)	10–14A (0,31–0,88) 15–19A (0,5–1,06)	0,8±0,2 96	0,7±0,1 100	0,7±0,1 95	0,051
HDL (mg/dL)	>35	58,4±11,3 100	57,0±9,23 100	61,3±14,6 100	0,332
LDL (mg/dL)	<130	98,6±39,4 80	99,8±41,7 69	84,7±28,2 94	0,025
CT (mg/dL)	<200	165,5±53,2 70	165,0±45,4 75	151,2±47,0 89	0,026
TG (mg/dL)	<150	72,3±22,9 100	68,6±24,6 100	71,9±0,4 94%	0,999
TSH (uUI/mL)	0,5–4,5	1,8±0,8 95	1,55±0,8 94	1,7±0,7 100	0,173
T4L (pmol/L)	9–25,7	9,9±1,3 84	9,3±1,6 47	8,9±2,3 53	0,748
K (mmol/L)	3,3–4,6	4,3±0,3 96	4,0±0,3 100	4,1±0,3 90	0,257
Na (mmol/L)	134–145	139,3±1,6 100	140,0±1,6 100	139,7±2,7 100	0,419
Ca (mmol/L)	2,2–2,7	2,4±0,4 86	2,3±0,5 79	2,2±0,4 89%	0,924
Mg (mmol/L)	0,6–0,95	0,9±0,1 77%	0,9±0,1 88	0,8±0,1 94	0,401
Fosfato (mmol/L)	12–15A: 0,95–1,75; 16–19A: 0,9–1,5	1,3±0,2 100	1,3±0,2 100	1,3±0,2 100	0,975
Ferritina (ng/mL)	M: 10–300 F: 10–70	160,8±159,9 (F: 163,2±169,4)^b 10	191,7±182,7 (F: 191,6±182,7)^b 14	70,0±39,6 (F: 74,2±40,9)^b 37	0,196 (F 0,196)
pH venoso	7,35–7,45	7,34±0,03^b 59	7,33±0,02^b 30	7,34±0,02^b 47	0,213
pCO₂ (mmHg)	<45	53,8±6,5^b 5	56,6±5,1^b 0	53,5±5,2^b 6	0,009
HCO₃ (mmHg)	22–29 (venoso) 21–28 (arterial)	28,9±2,0 36	29,9±1,6 25	28,7±2,5 47	0,023

Gasometria venosa	t1 (n=22)	t2 (n=20)	t3 (n=17)	p-valor
pH	7,34±0,03^a	7,33±0,02^a	7,34±0,02^a	0,213^b
pCO₂ (mmHg)	53,8±6,5^a	56,6±5,1^a	53,5±5,2^a	0,009^b
HCO₃ (mEq/L)	28,9±2,0	29,9±1,6	28,7±39,7	0,230^b
Acidose respiratória	20 (91%)	20 (100%)	16 (95%)	NA
Acidose respiratória compensada (pH 7,35–7,45 e pCO₂>45)	11 (50%)	7 (35%)	7 (41%)	NA
Acidose respiratória não compensada (pH <7,35 e pCO₂>45)	9 (41%)	13 (65%)	9 (53%)	0,453^c

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[1] *Autor correspondente. E-mail: sofia.pires88@gmail.com (S.A.P. Pires).