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RELAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE QUALIDADE DA DIETA DE NUTRIZES E O PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DO LEITE MATERNO MADURO

RESUMO

Objetivo:

Avaliar a relação entre a qualidade da dieta materna e a composição do leite humano em ácidos graxos no primeiro trimestre de lactação.

Métodos:

Trata-se de um estudo epidemiológico observacional e transversal com nutrizes. Os instrumentos de coleta dos dados foram questionário semiestruturado para caracterização da amostra e o recordatório de ingestão habitual. A qualidade da dieta foi avaliada por meio do índice de alimentação saudável (IAS). Amostras de leite materno maduro foram obtidas por meio de ordenha manual. A extração da gordura do leite ocorreu mediante o método de Bligh-Dyer, e essa gordura foi metilada com metóxido de sódio 0,25 mol/L em metanol dietil éter. O perfil de ácidos graxos do leite foi determinado por um cromatógrafo a gás equipado com detector por ionização de chamas. Realizaram-se teste de correlação de Pearson e teste de Spearman para verificar associação entre as variáveis. Posteriormente se aplicaram o modelo de regressão linear múltiplo e a análise de regressão multivariada.

Resultados:

Foi possível observar relação inversa entre o consumo de frutas totais e o perfil de ácidos graxos poli-insaturados e relação direta entre o consumo de frutas totais e cereais totais e os ácidos monoinsaturados e saturados.

Conclusões:

Sugere-se que a qualidade da dieta reflete na composição de ácidos graxos do leite materno.

Palavras-chave:
Consumo alimentar; Dieta saudável; Nutrição materna; Ácidos graxos; Leite humano

ABSTRACT

Objective:

To evaluate the relationship between the maternal diet quality and the fatty acid composition of breast milk in the first trimester of lactation.

Methods:

This is an observational cross-sectional epidemiological study of nursing mothers. The data collection instruments were a semi-structured questionnaire for sample characterization and a recall of usual intake. Diet quality was assessed based on the healthy eating index (HEI). Samples of mature breast milk were obtained by hand milking. Milk fat was extracted using the Bligh-Dyer method and methylated with 0.25 mol/L sodium methoxide in methanol diethyl ether. A gas chromatograph equipped with a flame ionization detector determined the milk fatty acid profile. Pearson’s and Spearman’s correlation tests evaluated association between the variables. Subsequently, a multiple linear regression model was built and multivariate regression analysis was applied.

Results:

Our findings revealed an inverse relationship between the consumption of total fruits and the polyunsaturated fatty acid profile and a direct association of the intake of total fruits and total grains with monounsaturated and saturated fatty acids.

Conclusions:

The results of this study suggest that maternal diet quality affects the fatty acid composition of breast milk.

Keywords:
Food consumption; Healthy diet; Maternal nutrition; Fatty acids; Human milk

INTRODUÇÃO

O leite materno é considerado o alimento adequado e ideal para a nutrição infantil, visto ser rico em vitaminas, proteínas, carboidratos, gorduras, sais minerais e água. Assim, a proteção e a promoção do aleitamento materno e o apoio a ele têm sido uma estratégia importante na melhoria das condições de saúde das crianças.11. Santos FS, Santos FC, Santos LH, Leite AM, Mello DF. Breastfeeding and protection against diarrhea: an integrative review of literature. Einstein (São Paulo). 2015;13:435-40. http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082015RW3107
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Entre os constituintes do leite humano, podem-se destacar os lipídeos, que são compostos de ácidos graxos (AG) que, quando ofertados à criança nos primeiros seis meses de vida, são importantes para o crescimento e desenvolvimento infantil, além de garantir a saúde da criança. Esses AG estão envolvidos no desenvolvimento do cérebro, do sistema nervoso e das funções visuais, previnem infecções gastrintestinais, respiratórias e urinárias, além de apresentar efeito protetor contra alergias.22. Tinoco SM, Sichieri R, Moura AS, Santos FS, Carmo MG. The importance of essential fatty acids and the effect of trans fatty acids in human milk on fetal and neonatal development. Cad Saúde Pública. 2007;23:525-34. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2007000300011
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Estudos relatam que o conteúdo total de lipídeos e a composição de AG do leite humano são variáveis, e fatores como estágio da lactação, idade materna, idade gestacional ao nascimento, variação diária entre as lactações, fatores genéticos, estado nutricional e hábito alimentar podem influenciar no teor de gordura e composição de AG do leite humano.33. Costa AG, Sabarense CM. Modulation and composition of fatty acids in human milk. Rev Nutr. 2010;23:285-95. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732010000300012
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,44. Argov-Argaman N, Mandel D, Lubetzky R, Hausman Kedem M, Cohen BH, Berkovitz Z, et al. Human milk fatty acids composition is affected by maternal age. J Matern Fetal Neonatal Med. 2017;30:34-7. https://doi.org/10.3109/14767058.2016.1140142
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Entretanto, tem sido evidenciado que os hábitos alimentares e a composição da dieta materna são os principais fatores moduladores da composição de AG do leite humano,33. Costa AG, Sabarense CM. Modulation and composition of fatty acids in human milk. Rev Nutr. 2010;23:285-95. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732010000300012
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surgindo o interesse em avaliar o efeito da qualidade global da dieta de nutrizes na composição do leite materno.

Com o crescente interesse na avaliação da qualidade global da dieta de diversos grupos populacionais, muitos métodos têm sido desenvolvidos e adaptados aos diferentes grupos populacionais, bem como utilizados para avaliar resultados de saúde específicos.55. Kennedy ET, Ohls J, Carlson S, Fleming K. The Healthy Eating Index: design and applications. J Am Diet Assoc. 1995;95:1103-8. https://doi.org/10.1016/S0002-8223(95)00300-2
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,66. Guenther PM, Reedy J, Krebs-Smith SM, Reev BB, Basiotis PP [Internet]. Development and evaluation of the Healthy Eating Index-2005: technical report. United State: Center for Nutrition Policy and Promotion, U.S.; 2007. [acessado em 15 abr. 2015]. Disponível em: <Disponível em: https://vtechworks.lib.vt.edu/bitstream/handle/10919/18682/HEI-2005TechnicalReport.pdf?sequence=3 >.
https://vtechworks.lib.vt.edu/bitstream/...
,77. Previdelli AN, Andrade SC, Pires MM, Ferreira SR, Fisber RM, Marchioni DM. A revised version of the Healthy Eating Index for the Brazilian population. Rev Saúde Pública. 2011;45:794-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102011005000035
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Entre os índices criados que avaliam a qualidade global das dietas, o índice de alimentação saudável (IAS), elaborado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos em 1995, por Kennedy et al.,55. Kennedy ET, Ohls J, Carlson S, Fleming K. The Healthy Eating Index: design and applications. J Am Diet Assoc. 1995;95:1103-8. https://doi.org/10.1016/S0002-8223(95)00300-2
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tem como objetivo avaliar a qualidade global da dieta, incorporando, em uma única medida, o atendimento às recomendações alimentares e nutricionais.

A composição dos índices tem sido constantemente atualizada e revisada de acordo com as recomendações de guias alimentares e diretrizes nutricionais específicas, originando novos índices aplicáveis a grupos populacionais específicos,88. Previato HD, Volp AC, Freitas RN. Evaluation of diet quality by the Healthy Eating Index and its variations: a bibliographical review. Nutr Clin Diet Hosp. 2014;34:88-96. http://dx.doi.org/10.12873/342previato
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porém instrumentos padronizados, como o IAS, adaptado a nutrizes são escassos na literatura, e também são raros os estudos sobre o consumo alimentar no período pós-parto. No Brasil, foi encontrado um estudo realizado por Tavares et al.,99. Tavares MP, Devincenzi MU, Sachs A, Abrão AC. Nutritional status and diet quality of nursing mothers on exclusive breastfeeding. Acta Paul Enferm. 2013;26:294-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002013000300015
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publicado em 2013, com a finalidade de avaliar a qualidade da dieta de nutrizes em amamentação utilizando o IAS adaptado.

Nesse contexto, por causa da escassez de estudos que investigam a relação entre a qualidade global da dieta materna e a composição do leite materno, estudos que avaliam a composição lipídica do leite materno e a ingestão de lipídios pela nutriz por meio dos inquéritos alimentares se tornam relevantes. Diante desse pressuposto, este estudo teve como objetivo avaliar a relação entre a qualidade da dieta materna e a composição de AG do leite humano no primeiro trimestre de lactação.

MÉTODO

Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado Avaliação da relação entre estado nutricional de iodo materno durante a gestação e lactação e incidência da deficiência de iodo entre recém-nascidos e lactentes no município de Diamantina, Alto do Vale do Jequitinhonha, MG. Trata-se de um estudo epidemiológico observacional, transversal, realizado mediante a avaliação dietética das mães e da composição do leite materno maduro em AG de nutrizes cadastradas na Estratégia Saúde da Família (ESF) de Diamantina (MG).

Para definir o universo amostral, foi considerado o número total de gestantes registradas e acompanhadas em cada uma das nove unidades da rede pública de saúde da sede do município nos dois últimos anos: 264 e 282 em 2013 e 2014, respectivamente. Com base no cálculo da média aritmética, o universo amostral contou com 273 gestantes. Para este estudo, foram utilizadas amostras de leite materno de um conjunto de 106 nutrizes que fizeram parte da amostra do estudo maior e cujo nascimento dos filhos compreendeu o período de agosto de 2014 a dezembro de 2015, ou seja, as 106 primeiras mulheres a serem incluídas no estudo principal. Os critérios de inclusão foram: parto único e residente na zona urbana. Mães que tiveram hospitalização prolongada ou com diagnóstico de doenças que implicaram a suspensão do aleitamento materno foram excluídas do estudo. Participaram do estudo somente as nutrizes que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os dados foram coletados por uma equipe previamente treinada, que utilizou um questionário que abordava aspectos demográficos (idade, cor da pele, estado conjugal, escolaridade materna), socioeconômicos (atividade remunerada, renda familiar e valor do benefício), nutricionais (índice de massa corpórea - IMC - pré-gestacional e na última consulta pré-natal) e história obstétrica (idade gestacional) e o recordatório de ingestão habitual. Além do questionário, amostra de leite materno maduro foi coletada para avaliação do teor de AG. Amostras de colostro e leite de transição não foram analisadas. Os resultados do IMC pré-gestacional foram classificados segundo os critérios da World Health Organization (WHO)1010. World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultation on obesity. Genebra: WHO; 2000. em adultos: baixo peso (<18,5); eutrofia (≥18,5 e <25), sobrepeso (≥25 e <30) e obesidade (≥30). Para a classificação do estado nutricional inicial das mulheres em baixo peso, eutrofia, sobrepeso e obesidade, consideraram-se os níveis críticos de IMC para a idade gestacional adotados pelo Ministério da Saúde.1111. Brazil - Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília: Mistério da Saúde; 2011.

A definição da idade gestacional em pré-termo e termo ocorreu segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, que aponta pré-termo como aquele que nasce com menos de 37 semanas de idade gestacional e termo como aquele que nasce com idade gestacional ≥37 semanas.1212. Organização Mundial da Saúde. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde: 10ª revisão. São Paulo: Centro Colaborador da OMS para a Classificação de Doenças em Português/EDUSP; 1994.

Informações referentes ao consumo alimentar foram obtidas aplicando-se um recordatório de ingestão habitual baseado em um recordatório 24 horas, no qual as perguntas se referiam à ingestão habitual em cada refeição. Os dados obtidos em medidas caseiras foram transformados em gramas ou mililitros, possibilitando assim a análise nutricional detalhada do consumo alimentar. A análise da composição nutricional da dieta usual de cada nutriz foi feita com o auxílio do software Avanutri® versão 3.

Para a avaliação da qualidade global da dieta, utilizou-se o IAS proposto por Guenther et al.1313. Guenther PM, Reedy J, Krebs-Smith SM. Development of the Healthy Eating Index-2005. J Am Diet Assoc. 2008;108:1896-901. https://doi.org/10.1016/j.jada.2008.08.016
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,1414. Guenther PM, Reedy J, Krebs-Smith SM, Reeve BB. Evaluation of the Healthy Eating Index-2005. J Am Diet Assoc. 2008;108:1854-64. https://doi.org/10.1016/j.jada.2008.08.011
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e adaptado por Previdelli et al.77. Previdelli AN, Andrade SC, Pires MM, Ferreira SR, Fisber RM, Marchioni DM. A revised version of the Healthy Eating Index for the Brazilian population. Rev Saúde Pública. 2011;45:794-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102011005000035
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Esse índice é composto de 12 componentes, sendo nove grupos de alimentos (cereais totais, cereais integrais; carnes, ovos e leguminosas; frutas totais; frutas integrais; vegetais totais; vegetais verdes escuros e alaranjados e leguminosas; leite e derivados; óleos), dois componentes baseados em nutrientes (gordura saturada e sódio) e um elemento que corresponde à soma do valor energético proveniente da ingestão de gorduras sólidas (saturada e trans), álcool e açúcar de adição (Gord_AA).88. Previato HD, Volp AC, Freitas RN. Evaluation of diet quality by the Healthy Eating Index and its variations: a bibliographical review. Nutr Clin Diet Hosp. 2014;34:88-96. http://dx.doi.org/10.12873/342previato
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Na construção do IAS, foram avaliadas as quantidades ingeridas de alimentos obtidos no recordatório, ponderando-as pelas porções recomendadas para ingestão diária do Guia Alimentar para a População Brasileira,1515. Brazil - Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. com ajuste para 1.000 Kcal.

Os alimentos que não constavam da relação de porções dos grupos de alimentos do Guia Alimentar para a População Brasileira1515. Brazil - Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. foram ponderados nos grupos de alimentos pelo valor calórico da porção do guia. Alimentos que tinham composição predominante de carboidratos simples (refrigerantes, balas, doces, gelatinas etc.) foram considerados como do grupo dos açúcares e doces.

Para a análise do IAS, preparações com ingredientes de diferentes grupos de alimentos (bolos, massas com molho, preparações de carne) foram desmembradas por ingredientes e estes computados em cada grupo correspondente. Do mesmo modo, os alimentos industrializados com ingredientes de diferentes grupos de alimentos (biscoitos e doces) também foram desmembrados, sendo seus componentes padronizados segundo informações dos rótulos.1616. Mota JF, Rinaldi AE, Pereira AF, Maestá N, Scarpin MM, Burini RC. Adaptation of the healthy eating index to the food guide of the Brazilian population. Rev Nutr. 2008;21:545-52. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732008000500007
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Para a construção do IAS, cada componente do índice recebeu uma pontuação, que é calculada com base no número de porções consumidas por 1.000 Kcal para os grupos de alimentos, em mg/1.000 Kcal para sódio e em proporção do consumo energético total pelo nutriente para Gord_AA. Para o IAS total, a pontuação máxima era de 100 pontos. Para os componentes individuais, a pontuação mínima era igual a zero; e as pontuações máximas variavam entre 5, 10 ou 20, dependendo do componente.77. Previdelli AN, Andrade SC, Pires MM, Ferreira SR, Fisber RM, Marchioni DM. A revised version of the Healthy Eating Index for the Brazilian population. Rev Saúde Pública. 2011;45:794-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102011005000035
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,1313. Guenther PM, Reedy J, Krebs-Smith SM. Development of the Healthy Eating Index-2005. J Am Diet Assoc. 2008;108:1896-901. https://doi.org/10.1016/j.jada.2008.08.016
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A pontuação para os valores intermediários de ingestão, compreendidos no intervalo entre os critérios de pontuação mínima e máxima, foi atribuída de forma proporcional.

Para o componente carne, ovos e leguminosas, a pontuação foi estimada pelo somatório do valor energético dos grupos carnes e ovos e leguminosas. Havendo calorias excedentes, o valor calórico proveniente das leguminosas foi computado nos grupos vegetais verdes-escuros e alaranjados e leguminosas e vegetais totais, simultaneamente.77. Previdelli AN, Andrade SC, Pires MM, Ferreira SR, Fisber RM, Marchioni DM. A revised version of the Healthy Eating Index for the Brazilian population. Rev Saúde Pública. 2011;45:794-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102011005000035
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Em relação à pontuação total, quanto mais próximo da pontuação máxima, melhor a qualidade da dieta. Como o índice foi desenvolvido para refletir diversos aspectos da dieta, não existe uma classificação adequada e inadequada considerando a pontuação total. Por isso, deve-se avaliar a pontuação de cada componente isoladamente.1313. Guenther PM, Reedy J, Krebs-Smith SM. Development of the Healthy Eating Index-2005. J Am Diet Assoc. 2008;108:1896-901. https://doi.org/10.1016/j.jada.2008.08.016
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,1414. Guenther PM, Reedy J, Krebs-Smith SM, Reeve BB. Evaluation of the Healthy Eating Index-2005. J Am Diet Assoc. 2008;108:1854-64. https://doi.org/10.1016/j.jada.2008.08.011
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Para analisar o perfil de AG, foram coletados até 15 mL do leite humano, utilizando a técnica de ordenha manual pela lactante em jejum, após a primeira mamada matinal, do seio que a criança amamentou. O leite foi armazenado a -80ºC até a análise.

O perfil de AG do leite foi analisado no Laboratório de Cromatografia da Universidade Federal de Minas Gerais. Usaram-se alíquotas de 0,8 mL de leite humano para extrair gordura por meio do método de Bligh-Dyer, e esse extrato foi metilado com metóxido de sódio 0,25 mol/L em metanol dietil éter (1:1).1717. Bligh EG, Dyer WJ. A rapid method of total lipid extraction and purification. Can J Bioch Physiol. 1959;37:911-7. https://doi.org/10.1139/o59-099
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As análises foram desenvolvidas em um cromatógrafo a gás HP7820A Agilent Technologies (Wilmington, Estados Unidos) equipado com detector por ionização de chamas - programa de aquisição de dados EZChrom Elite Compact (Agilent, Wilmington, Estados Unidos). Utilizou-se uma coluna SP2560 30 m × 0,25 mm × 0,20 µm (Supelco, Pine Hall Rd, Estados Unidos) com gradiente de temperatura 80ºC, 0 min, 7ºC/min até 240ºC; injetor (split de 1/30) a 250ºC e detector a 260ºC. Hidrogênio como gás de arraste (3,0 mL/min) e volume de injeção de 1 µL. A identificação dos picos foi feita por comparação com padrões de AG metilados FAME C14-C22 (Supelco cat nº 18917, Pine Hall Rd, Estados Unidos).

A análise dos dados foi realizada no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0 (Chicago, Estados Unidos). Para tal, foram estimados as porcentagens médias e os desvios padrão, as medianas e os intervalos interquartílicos do IAS total e de cada componente e dos AG presentes no leite materno, como também o percentual das pontuações mínima e máxima. Utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para testar a normalidade dos dados.

Foram realizados os testes de correlação de Pearson e de Spearman, para verificar associação entre as variáveis. As variáveis que obtiveram p<0,20 nessa análise foram selecionadas para inclusão no modelo de regressão linear múltiplo. Posteriormente, fez-se a análise de regressão multivariada, tendo como variável independente a pontuação total do IAS e seus componentes e como variável dependente os teores dos diferentes AG no leite materno. Foi adotado para todas as análises o nível de significância de 5%.

Este estudo atende às normas regulamentares de pesquisa envolvendo seres humanos - Resolução nº 466/12, do Conselho Nacional de Saúde - e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, com Parecer nº 1.321.802.

RESULTADOS

Foram avaliadas 106 nutrizes e 48,1% delas apresentavam faixa etária entre 20 e 29 anos. A maioria possuía cor da pele negra/parda (81,2%), era casada (59,4%) e apontou o marido como chefe da família (89,4%). Em relação à escolaridade, 44,3% das nutrizes tinha entre nove e 11 anos completos de estudo e 51,5% exerciam atividade remunerada. No que se refere à renda, a maioria das nutrizes relatou receber menos de três salários mínimos (91,5%), incluindo os benefícios, e 28,8% recebiam Bolsa Família, 4,8% aposentadoria e 1,9% pensão ou fundo cristão.

Acerca do estado nutricional das nutrizes pelo IMC, a maioria estava com o peso adequado, tanto na avaliação do IMC pré-gestacional (68,8%) quanto no cálculo do IMC na última consulta pré-natal (46,8%). Sobre o tempo de gestação, 90,6% das crianças nasceram a termo e com o peso adequado (3,0 a 3,9 kg) (66%).

Entre os AG saturados, foram observados valores mais elevados para os palmítico (C16:0), esteárico (C18:0), mirístico (C14:0) e láurico (C12:0), respectivamente. Entre os AG monoinsaturados, verificou-se maior contribuição dos AG oleico (C18:1) e palmitoleico (C16:1), respectivamente. O total de AG essenciais (linoleico e α- linolênico) foi de 14,94% (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição da pontuação e das porções dos componentes do índice de alimentação saudável.

No que tange à pontuação dos componentes do IAS, foi maior a frequência de notas máximas para o grupo dos vegetais total, vegetais verdes-escuros e alaranjados, carne, ovos e leguminosas, óleo e gordura saturada. Alimentos do grupo das frutas total, fruta inteira, cereal total e cereal integral e leite e derivados foram os componentes do IAS com maior frequência de notas mínimas (Tabela 2).

Tabela 2
Composição percentual de ácidos graxos do leite materno de nutrizes.

Foi testada a correlação de Pearson entre o perfil de AG do leite materno e os componentes do IAS, sendo possível observar que a variável frutas total apresentou correlação negativa com a concentração de ácidos caprílico, oleico, linoleico e com o grupo total de AG poli-insaturados. Já com o grupo dos ácidos monoinsaturados, essa correlação foi positiva. A variável fruta inteira apresentou correlação negativa com o ácido margárico, linoleico e com o grupo dos ácidos poli-insaturados. Houve correlação negativa entre o grupo dos vegetais verdes-escuros e alaranjados com o ácido araquídico, e os cereais totais associaram-se negativamente com a concentração do ácido behênico e positivamente com as concentrações de ácido mirístico e com outros AG que não foram identificados. A pontuação total do IAS associou-se negativamente somente ao ácido margárico e ao ácido linoleico (Tabela 3).

Tabela 3
Pontuação dos componentes do índice de alimentação saudável em nutrizes.

Na análise de regressão linear múltipla para avaliar a relação entre a qualidade da dieta materna e a composição do leite humano em AG, observou-se que a variável do IAS fruta total apresentou relação negativa com a porcentagem de AG poli-insaturados e com o ácido linoleico. Já com os ácidos monoinsaturados, oleico e behênico, a relação foi positiva. Alguns AG não identificados se associaram com os componentes vegetal total e cereal total, e o ácido mirístico associou-se com o grupo dos cereais totais, como pode ser observado na Tabela 4. Percebeu-se que o grupo de AG poli-insaturados e o ácido linoleico apresentaram correlação inversa com o componente do IAS fruta total, enquanto o grupo dos AG monoinsaturados, o ácido oleico e o ácido behênico apresentaram relação positiva com o componente frutas totais. Os componentes vegetais totais e cereais totais demonstraram correlação positiva com os outros ácidos graxos não identificados, e os cereais totais também exibiram correlação positiva com o ácido mirístico.

Tabela 4
Correlação entre o perfil de ácidos graxos do leite materno e os componentes do índice de alimentação saudável.
Tabela 5
Modelo final da análise de regressão linear múltipla do perfil de ácidos graxos do leite materno relacionado aos componentes do índice de alimentação saudável.

DISCUSSÃO

A alimentação adequada das nutrizes é importante, pois afeta diretamente a qualidade do leite materno, o que pode trazer consequências para o lactente.99. Tavares MP, Devincenzi MU, Sachs A, Abrão AC. Nutritional status and diet quality of nursing mothers on exclusive breastfeeding. Acta Paul Enferm. 2013;26:294-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002013000300015
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Assim, buscou-se com este estudo avaliar a relação entre a qualidade da dieta materna e a composição de AG do leite humano no primeiro trimestre de lactação.

Com relação ao perfil lipídico, a porcentagem média de AG saturados e monoinsaturados estava abaixo dos achados de Santos et al.,1818. Santos FS, Chaves CR, Costa RS, Oliveira OR, Santana MG, Conceição FD, et al. Status of cis and trans fatty acids in Brazilian adolescent mothers and their newborns. J Pediatr Adolesc Gynecol. 2012;25:270-6. https://doi.org/10.1016/j.jpag.2012.05.001
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que, avaliando o perfil de AG séricos de nutrizes adolescentes do Rio de Janeiro, verificaram 36% de AG saturados e 19,4% de AG monoinsaturados. Entretanto, esse mesmo estudo encontrou porcentagem média de AG poli-insaturados superior à dos achados do presente trabalho. A concentração de ácidos palmítico, mirístico, láurico, oleico, palmitoleico, linoleico e α- linolênico foi próxima aos valores reatados na literatura.1919. Nishimura RY, Castro GS, Jordão Junior AA, Sartorelli DS. Breast milk fatty acid composition of women living far from the coastal area in Brazil. J Pediatr (Rio J). 2013;89:263-8. https://doi.org/10.1016/j.jped.2012.11.007
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Em relação aos achados desta investigação, considerando-se a pontuação de referência para cada componente do IAS, a maioria das nutrizes avaliadas apresentou pontuação mínima para a ingestão de frutas total, fruta inteira, cereal total e cereal integral e leite e derivados, contrariando as recomendações do Dietary Guidelines Advisory Committee2020. Dietary Guidelines Advisory Committee. Report of the dietary guidelines advisory committee on the dietary guidelines for Americans, 2000. Washington, D.C.: Department of Agriculture; 2000. e do Guia Alimentar para a População Brasileira,1515. Brazil - Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. que preconizam o consumo de duas ou três porções de leite e derivados e três porções de fruta por dia no pós-parto.

Os resultados do presente estudo vão ao encontro dos achados de George et al.,2121. George GC, Hanss-Nuss H, Milani TJ, Freeland-Graves JH. Food choices of low-income women during pregnancy and postpartum. J Acad Nutr Diet. 2005;105:899-907. https://doi.org/10.1016/j.jada.2005.03.028
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que observaram que no pós-parto há redução na ingestão de grãos e frutas, aumentando o consumo de açúcar. Durham et al.2222. Durham HA, Lovelady CA, Brouwer RJ, Krause KM, Østbye T. Comparison of dietary intake of overweight postpartum mothers practicing breastfeeding or formula feeding. J Am Diet Assoc. 2011;111:67-74. https://doi.org/10.1016/j.jada.2010.10.001
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também relataram que o consumo de frutas, cereais e produtos lácteos é baixo. No Brasil, outros estudos com o mesmo grupo populacional também mostraram que as dietas eram limitadas na variedade de alimentos, com baixo consumo de vegetais e frutas.99. Tavares MP, Devincenzi MU, Sachs A, Abrão AC. Nutritional status and diet quality of nursing mothers on exclusive breastfeeding. Acta Paul Enferm. 2013;26:294-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002013000300015
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,2323. Castro MB, Kac G, Sichieri R. Dietary patterns among postpartum women treated at a municipal health center in Rio de Janeiro, Brazil. Cad Saúde Pública. 2006;22:1159-70. https://doi.org/10.1590/s0102-311x2006000600005
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No que se refere às variáveis que se relacionaram com o índice de alimentação saudável das nutrizes, ao modelo final da análise de regressão linear múltipla, foi possível observar que os componentes do IAS fruta total, vegetal total e cereal total se associaram com os ácidos graxos poli-insaturados e monoinsaturados, com os ácidos linoleico, oleico, behêmico, mirístico e outros AG não identificados.

A relação entre o componente fruta total e o ácido linoleico e o grupo dos ácidos poli-insaturados foi inversamente proporcional, o que significa que, quanto maior a ingestão de frutas, menor a concentração de ácidos graxos poli-insaturados. Segundo Valenzuela e Nieto,2424. Valenzuela AB, Nieto MS. Docosahexaenoic acid (DHA) in fetal development and in infant nutrition. Rev Med Chil. 2001;129:1203-11. essa informação procede, uma vez que as principais fontes de AG poli-insaturados, como o ácido linoleico, são os pescados, incluindo os peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou salgada, e o atum, a sardinha e o salmão são as principais fontes desses nutrientes, fornecendo-os em maior quantidade.

Alimentos como os frutos oleaginosos, as sementes, os vegetais, a gema de ovo, o polvo e as carnes de ruminantes também se apresentam como importantes fontes de ômega-3.2525. Valenzuela AB, Nieto SK. Omega-6 and omega-3 fatty acids in perinatal nutrition: their importance in the development of the nervous and visual systems. Rev Chil Pediatr. 2003;74:149-57. http://dx.doi.org/10.4067/S0370-41062003000200002
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Estudo realizado por Leite et al.2626. Leite CD, Vicente GC, Suzuki A, Pereira AD, Boaventura GT, Santos RM, et al. Effects of flaxseed on rat milk creamatocrit and its contribution to offspring body growth. J Pediatr (Rio J). 2012;88:74-8. https://doi.org/10.2223/JPED.2168
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em ratas observou que a semente de linhaça é uma boa fonte proteica e lipídica, proporcionando crescimento adequado aos filhotes durante a lactação, entretanto salientou a relevância da realização de mais estudos para avaliar a transferência de AG da série ômega-3 dessa oleaginosa para o leite materno.

Valenzuela e Nieto2424. Valenzuela AB, Nieto MS. Docosahexaenoic acid (DHA) in fetal development and in infant nutrition. Rev Med Chil. 2001;129:1203-11. relatam a importância da alimentação rica em vegetais e pescados, especialmente os produtos do mar, que são aporte nutricional de ácidos graxos poli-insaturados da série ômega-3 e ômega-6, porém são os alimentos menos consumidos pela população em geral, inclusive por gestantes e nutrizes.

A relação entre o componente fruta total e o ácido oleico e o grupo dos ácidos monoinsaturados foi diretamente proporcional, o que significa que, quanto maior a ingestão de frutas, maior a concentração de AG monoinsaturados no leite materno. Segundo Nascimento et al.,2727. Nascimento RJ, Couri S, Antoniassi R, Freitas SP. Fatty acids composition of açaí pulp oil obtained by enzymatic technology and hexane. Rev Bras Frutic. 2008;30:498-502. http://dx.doi.org/10.1590/S0100-29452008000200040
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frutos oleaginosos como o açaí, a oliva e o abacate são ricos em AG monoinsaturados. Sendo assim, o consumo de frutas oleaginosas durante a gestação e lactação aumentaria também o perfil lipídico dos ácidos graxos monoinsaturados, como o ácido oleico, no leite materno.

Foi possível observar relação diretamente proporcional entre o componente fruta total e a concentração de AG behênico e do componente cereal total e o ácido mirístico. Os AG saturados são considerados fonte de energia, ou substratos para síntese de compostos intermediários.2828. Giovannini M, Agostoni C, Salari PC. The role of lipids in nutrition during the first months of life. J Inter Med Res. 1991;19:351-62. https://doi.org/10.1177/030006059101900501
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Parte do teor desses AG encontrados no leite materno pode ser sintetizada pela via de novo na glândula mamária, por meio da glicose, cujo primeiro resultado é a formação de AG saturados com 10 a 14 átomos de carbono,33. Costa AG, Sabarense CM. Modulation and composition of fatty acids in human milk. Rev Nutr. 2010;23:285-95. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732010000300012
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o que justifica a relação positiva entre o AG behênico e o consumo de frutas totais. A geração de AG saturados é intensificada ainda quando a alimentação materna é composta de baixos teores de lipídeos e altos teores de cereais, conforme mostra os resultados de estudo realizado por Glew et al.2929. Glew RH, Elliot JA, Huang YS, Chuang LT, Vanderjagt DJ. Constancy of the fluidity of the milk lipids of three different human populations. Nutr Res. 2002;22:1231-41. https://doi.org/10.1016/S0271-5317(02)00460-8
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Diante desses achados, é possível perceber que a modulação lipídica do leite não se dá por efeitos isolados, mas por diversos fatores intrínsecos e extrínsecos à nutriz. Existem evidências de que a alimentação materna é o principal fator modulador da composição lipídica do leite humano,33. Costa AG, Sabarense CM. Modulation and composition of fatty acids in human milk. Rev Nutr. 2010;23:285-95. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-52732010000300012
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entretanto ressalta-se que são poucas as pesquisas que avaliam a relação entre o perfil de AG do leite humano e o consumo materno desses nutrientes, o que sugere a necessidade de uma criteriosa avaliação da alimentação materna.

Poucos estudos compararam a qualidade da dieta de nutrizes utilizando o IAS com o perfil de AG do leite materno, o que limita a comparação dos resultados. Por intermédio deste estudo, foi possível verificar relação inversa entre o consumo de frutas totais e o perfil de AG poli-insaturados e relação direta entre o consumo de frutas totais e cereais totais e os ácidos monoinsaturados e saturados, o que sugere que a qualidade da dieta reflete na composição de AG do leite materno. Sendo assim, orientações nutricionais deveriam ser realizadas com nutrizes, estimulando a adoção de práticas alimentares mais saudáveis, com redução de alimentos ricos em gorduras saturadas e trans e aumento do consumo de gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas.

O principal objetivo deste estudo foi avaliar a relação entre a qualidade da dieta materna e a composição do leite humano em AG no primeiro trimestre de lactação, porém algumas limitações devem ser assumidas, de modo que os resultados aqui demonstrados sejam interpretados com cautela. Inicialmente, não foram explorados todos os possíveis fatores que poderiam interferir no perfil dos AG do leite materno, como, por exemplo, tabagismo e alcoolismo. Outra limitação deste estudo se refere ao instrumento de coleta de dados dietéticos (recordatório de ingestão habitual), que depende da memória do entrevistado e da capacidade do entrevistador de estabelecer canais de comunicação com os entrevistados, além da dificuldade em estimar o tamanho das porções. Todavia, os pesquisadores adotaram algumas medidas para minimizar o viés de aferição durante a coleta dos dados, tais como treinamentos prévios e periódicos dos entrevistadores para correta abordagem e padronização dos utensílios, a fim de facilitar a identificação das medidas caseiras.

Levando-se em consideração a importância dos AG essenciais, faz-se necessário que, na consulta gestacional, sobretudo nos últimos trimestres de gestação, e na consulta pediátrica, seja verificada a dieta materna, orientando as mães no que se refere ao consumo dietético dos alimentos ricos em AG essenciais, como o ácido docosaexaenoico, uma vez que a WHO recomenda a ingestão entre 200 e 600 mg desse ácido pelas gestantes e lactantes, seja na forma de alimentos fonte, como peixes de águas frias, seja por suplementação.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e à Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), pelo apoio financeiro. Ao professor doutor Flaviano Oliveira Silvério, a Erica Soares, a Ane Cacique e aos mestrandos do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA/UFMG), por abrirem as portas do Laboratório de Cromatografia, onde realizei parte das análises do leite. A Mayara Rodrigues Lessa e Alexandre Alves da Silva, do Laboratório de Tecnologia e Biomassa do Cerrado da UFVJM, pelo apoio no preparo das amostras.

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Financiamento

  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) - Bolsa de Iniciação Científica. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Processo nº 481025/2013-8. Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    13 Mar 2019
  • Aceito
    30 Jul 2019
  • Publicado
    26 Jun 2020
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