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RESPOSTA AO ARTIGO: CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS POR CRIANÇAS MENORES DE 24 MESES DE IDADE E FATORES ASSOCIADOS

Prezados autores,

De fato, as mudanças dos padrões alimentares têm aumentado nas últimas décadas e ampliado o espaço para o crescimento de comorbidades relacionadas ao ganho de peso, com ênfase na população infantil. Assim, a ascensão dos produtos ultraprocessados, principalmente na dieta das crianças menores de 24 meses, teve papel fundamental na alteração de p adrões alimentares e pode ser atribuída a vários fatores, como, por exemplo, o retorno da figura materna ao ambiente de trabalho e o consequente desmame precoce.11. Lopes WC, Pinho L, Caldeira AP, Lessa AC. Consumption of ultra-processed foods by children under 24 months of age and associated factors. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018277. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018277
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O presente estudo realizado no Estado de Minas Gerais identificou que 74,3% dos pesquisados, principalmente aqueles com mais de 6 meses, já consumiam ultraprocessados.11. Lopes WC, Pinho L, Caldeira AP, Lessa AC. Consumption of ultra-processed foods by children under 24 months of age and associated factors. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2018277. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018277
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Em contrapartida, outro estudo realizado no mesmo Estado evidenciou que o aleitamento exclusivo até os 6 meses ocorria em apenas 24,9% dos entrevistados e que apenas 49% das mães participavam de grupos sobre amamentação.22. Souza JP, Ferreira CS, Lamounier DM, Pereira LA, Rinaldi AE. Caracterização da alimentação de crianças menores de 24 meses em unidades da estratégia saúde da família. Rev Paul Pediatr. 2020;38:e2019027. http://dx.doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2019027
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Tais dados, encontrados em diferentes pesquisas, confluem que o desmame é, de fato, precoce no âmbito familiar brasileiro.

Um estudo realizado para atualizar os indicadores de aleitamento materno no Brasil nas últimas três décadas demonstrou que havia uma tendência ascendente até 2006, com estabilização a partir dessa década, resultando em um sinal de alerta nacional, pois estudos recentes reafirmam a proteção da amamentação contra doenças infecciosas e menor risco de doenças crônicas.33. Boccolini CS, Boccolini PM, Monteiro FR, Venâncio SI, Giugliani ER. Breastfeeding indicators trends in Brazil for three decades. Rev Saúde Pública. 2017;51:108. http://dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051000029
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Nesse viés, a ingestão de leite materno está associada a um consumo reduzido de ultraprocessados. Demonstrando a indispensabilidade de medidas para mudar o cenário atual da amamentação, ocasionando benefícios como melhora dos hábitos alimentares e prevenindo problemas de saúde infantil.44. Spaniol AM, Costa TH, Bortolini GA, Gubert MB. Breastfeeding reduces ultra-processed foods and sweetened beverages consumption among children under two years old. BMC Public Health. 2020;20:330. https://doi.org/10.1186/s12889-020-8405-6
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Logo, o questionamento que deve ser levantado é: de que maneira pode-se aumentar o número de meses de amamentação e, consequentemente, reduzir a introdução de ultraprocessados?

Conclui-se, então, que o artigo em questão não apresenta as medidas estratégicas que se pode utilizar para o combate do problema. É necessário que haja reavaliação das políticas públicas estabelecidas, propondo novas estratégias de intervenção na Atenção Primária à Saúde que tragam melhor engajamento social e apoio ao aleitamento materno, principalmente ao capacitar os profissionais de saúde para aconselhamento e apoio às mães, ampliando a responsabilidade da Estratégia Saúde da Família (ESF) em levar informação e cuidado a todos os usuários, em especial as populações mais vulneráveis. Deve-se, portanto, buscar ferramentas eficazes para o aumento do período de aleitamento materno, pois, assim, promoveremos melhor qualidade de vida às crianças.

REFERENCES

CARTA-RESPOSTA

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Prezados editores,

O artigo em questão não teve como objetivo avaliar ou propor estratégias de intervenções, mas aquele descrito no último parágrafo do capítulo da introdução “…avaliar o consumo de alimentos ultraprocessados por crianças do município de Montes Claros, com idade inferior a 24 meses de idade, e identificar fatores associados…”. Ele foi baseado em uma pesquisa observacional e diagnóstica. Portanto, os resultados obtidos, a discussão e as conclusões finais foram desenvolvidos com base no que permite um estudo com esse tipo de desenho.11. Rothman KJ, Greenland S, Lash TL. Modern Epidemiology. 3rd ed. Philadelphia, PA: Lippincott, Williams & Wilkins; 2008.

Entretanto, entendendo que a discussão do artigo também é uma sessão destinada para que os autores se posicionem sobre os achados,22. Pereira MG. A seção de discussão de um artigo científico. Epidemiol Serv Saúde. 2013;22:537-8. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742013000300020
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apontamos um caminho como o descrito no 5º parágrafo da discussão: “A associação, aqui observada, entre o cuidador e a introdução precoce de alimentos ultraprocessados precisa ser considerada sob a ótica dos programas destinados à promoção da alimentação saudável para as crianças...”. Dessa forma, compreende-se que o estudo oferece uma evidência que poderá auxiliar gestores e profissionais de saúde na definição de políticas e programas destinados ao grupo.

Na conclusão do artigo, foi citado que “Dessa forma, este estudo poderá contribuir para a orientação dos profissionais de saúde no aconselhamento das famílias para a alimentação nos primeiros anos de vida, com ênfase na introdução adequada da alimentação complementar e desestimulando a introdução de produtos ultraprocessados”.

Importante ressaltar que estudos diagnósticos são realizados para embasar cientificamente e contribuir para pesquisas e trabalhos de intervenções. E esse estudo teve relevância em apontar o alto consumo de ultraprocessados introduzidos precocemente na alimentação infantil.

Diante disso, fica o convite aos acadêmicos, professores, pesquisadores e profissionais de saúde para que invistam mais nas intervenções e ferramentas e publiquem trabalhos sobre o assunto, para que se possa fazer uma análise das melhores estratégias para aumentar o tempo de aleitamento materno, melhorar a adequação da alimentação complementar e desestimular o uso de ultraprocessados nessa faixa etária.

Finalmente, entendemos que o comentário é sobretudo uma reflexão que se soma ao interesse dos autores em despertar o interesse dos leitores para o tema. E, considerando que em sua maioria são profissionais de saúde, muitos dos quais em posições de comando em políticas e programas de saúde, esperamos que nosso trabalho possa auxiliar em seus trabalhos.

  • 1
    Rothman KJ, Greenland S, Lash TL. Modern Epidemiology. 3rd ed. Philadelphia, PA: Lippincott, Williams & Wilkins; 2008.
  • 2
    Pereira MG. A seção de discussão de um artigo científico. Epidemiol Serv Saúde. 2013;22:537-8. http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742013000300020
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742013000300020

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Nov 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    12 Maio 2020
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