Acessibilidade / Reportar erro

Religiosidade em Portugal: caracterização, comparação e evolução

Religiosity in Portugal: characterization, comparison, and evolution

Resumos

Resumo: Este artigo tem três objectivos: caracterizar a religiosidade em Portugal, compará-la com os países europeus de matriz católica e analisar a sua evolução. A análise assenta nas bases de dados do ESS, do EVS e do ISSP. Os indicadores da dimensão comunidade são os mais elevados e estão acima da média; os indicadores da dimensão crença são elevados ou médios; os indicadores da dimensão prática são baixos ou médios; os indicadores da dimensão norma são médios e estão próximos da média. Na generalidade, os indicadores parecem estar a decrescer. As crenças não cristãs são baixas e parecem estar a crescer ligeiramente. O tipo praticante parece estar a baixar, mas não a favor do tipo peregrino, pelo menos de forma significativa.

Palavras-chave:
religiosidade; Portugal; caracterização; comparação; evolução


Abstract: This article has three aims: to characterize religiosity in Portugal, to compare it with European countries of Catholic origin, and to analyze its evolution. The analysis is based on ESS, EVS and ISSP databases. Community dimension’s indicators are the highest and above average; belief dimension’s indicators are high or medium; practice dimension’s indicators are low or medium; religious norms dimension’s indicators are medium and close to the average. Overall, these indicators seem to be decreasing. Non-Christian beliefs are low and appear to be growing slightly. The practitioner type seems to be lowering, but not in favor of the pilgrim type, at least significantly.

Keywords:
religiosity; Portugal; characterization; comparison; evolution


Introdução

Apesar das mudanças no campo religioso português nas últimas décadas, fruto da passagem para a democracia, da Lei de Liberdade Religiosa e da imigração, o catolicismo mantém o seu domínio inalterado. No entanto, a despeito da hegemonia católica em Portugal, a sua pluralidade interna é visível nos vários tipos religiosos (Teixeira 2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.; Coutinho 2015COUTINHO, José P. (2015), “Clusters of religiosity of Portuguese population”. Análise Social, vol. L, nº 216: 604-631.) e nas transformações religiosas enquadráveis teoricamente na dicotomia do praticante e do peregrino (Hervieu-Léger 2005). A análise da religiosidade praticante, expressa nos indicadores clássicos de pertença, crenças, práticas e valores, tem dominado os estudos portugueses, até pela fraca expressão de indicadores da religiosidade peregrina nas bases de dados internacionais (European Social Survey - ESSEUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). (2018), European Social Survey Cumulative File, ESS 1-4-8. Data file edition 1.0. NSD - Norwegian Centre for Research Data, Norway - Data Archive and distributor of ESS data for ESS ERIC. doi:10.21338/NSD-ESS-CUMULATIVE.
doi:10.21338/NSD-ESS-CUMULATIVE...
, European Values Study - EVSEUROPEAN VALUES STUDY (EVS). (2015), European Values Study Longitudinal Data File 1981-2008 (EVS 1981-2008). GESIS Data Archive, Cologne. ZA4804 Data file Version 3.0.0. doi:10.4232/1.12253.
doi:10.4232/1.12253....
, International Social Survey Programme - ISSPINTERNATIONAL SOCIAL SURVEY PROGRAMME (ISSP). (2011), ISSP Research Group. International Social Survey Programme: Religion I-III - ISSP 1991-1998-2008. GESIS Data Archive, Cologne. ZA5070 Data file Version 1.0.0. doi:10.4232/1.10860
doi:10.4232/1.10860...
) e pela inexistência desse tipo de indicadores noutros estudos situacionais.

Vários estudos sobre a população portuguesa analisaram essas bases de dados, mas encontram-se desatualizados, pois fizeram-no para rondas menos recentes: Monteiro (2012MONTEIRO, Teresa L. (2012), “Dinâmica social e religião”. In: A. Teixeira (org.). Identidades religiosas em Portugal: ensaio interdisciplinar. Lisboa: Paulinas.) para o EVS, ESS e ISSP; Fernandes (2003FERNANDES, António T. (2003), “Valores e atitudes religiosas”. In: J. Vala; M. V. Cabral; A. Ramos (org.). Valores sociais: mudanças e contrastes em Portugal e na Europa. Lisboa: ICS .) para o EVS; Cabral (2001CABRAL, Manuel V. (2001), “Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada”. In: J. M. Pais; M. V. Cabral; J. Vala (org.). Religião e Bioética. Lisboa: ICS.) e Vilaça (2001VILAÇA, Helena. (2001), “Identidades, práticas e crenças religiosas”. In: J. M. Pais; M. V. Cabral; J. Vala (org.). Religião e Bioética. Lisboa: ICS .) para o ISSP. Outros estudos analisaram os recenseamentos menos recentes da Igreja Católica (Silva 1979SILVA, Augusto. (1979), “Prática religiosa dos católicos portugueses”. Economia e Sociologia, vol. 25/26: 61-198.; França 1981FRANÇA, Luís. (1981), Comportamento religioso da população portuguesa. Lisboa: Moraes Editores/Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.; Antunes 2001ANTUNES, Manuel L. M. (2001), Resultados preliminares do recenseamento da prática dominical de 2001, em comparação com os resultados dos RPDs de 1977 e 1991, em Portugal. Lisboa: Centro de Estudos Sociais e Pastorais da Universidade Católica Portuguesa (Documento policopiado).) ou outros estudos mais antigos associados à Igreja (Falcão 1957FALCÃO, Manuel F. (1957), “Aspectos da situação moral e religiosa em Portugal”. In: Organismos Agrá rios da Acção Católica (org.). Semana de Estudos Rurais. Fátima: Direcções Gerais de L.A.C. - L.A.C.F. - J.A.C. - J.A.C.F.; Antunes 2000ANTUNES, Manuel L. M. (2000), “Catolicismo e cultura na sociedade portuguesa contemporânea”. In: M. B. Cruz; N. C. Guedes (coord.). A Igreja e a cultura contemporânea em Portugal. Lisboa: UCP.; Lages 2000LAGES, Mário. (2000), “A religiosidade popular na segunda metade do século XX”. In: M. B. Cruz; N. C. Guedes (coord.). A Igreja e a cultura contemporânea em Portugal . Lisboa: UCP .). Refira-se ainda o estudo de Pires e Antunes (1998PIRES, Maria L.; ANTUNES, Marinho. (1998), “Vida religiosa”. In: J. M. Pais (coord.). Gerações e valores na sociedade portuguesa contemporânea. Lisboa: ICS /SEJ.) sobre a comparação de gerações. Dos estudos recentes, apesar da manifesta qualidade de ambos, o de Teixeira (2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.), relativo ao último recenseamento eclesial (2011), não apresenta dados sobre crenças e valores, enquanto o de Duque (2014DUQUE, Eduardo. (2014), Mudanças culturais, mudanças religiosas: perfis e tendências da religiosidade em Portugal numa perspectiva comparada. Vila Nova de Famalicão: Húmus.) se cinge ao EVS (sobretudo 1990/2008 e, em poucos casos, 1999), não usando dados do ESS nem do ISSP.

Impõe-se assim uma análise para colmatar as lacunas de ambos os estudos: nos indicadores, por apresentar uma análise abreviada da religiosidade, pondo de lado suas dimensões e variáveis (Teixeira 2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.); nas bases de dados, por não utilizar aquelas disponíveis, perdendo a oportunidade da confirmação das tendências religiosas com elas (Duque 2014DUQUE, Eduardo. (2014), Mudanças culturais, mudanças religiosas: perfis e tendências da religiosidade em Portugal numa perspectiva comparada. Vila Nova de Famalicão: Húmus.). O que se pretende então com esta análise? Pretende-se aferir três aspectos: caracterização, comparação e evolução. Caracterizar as dimensões religiosas atualmente, empregando os dados disponíveis mais recentes. Situar Portugal no contexto católico europeu, comparando-o com os países respectivos. Analisar a evolução das dimensões religiosas, usando-se as rondas com o maior afastamento temporal possível.

A erosão da civilização paroquial: dos praticantes aos peregrinos

A “civilização paroquial”, inscrita na comunidade, na ruralidade, no imobilismo e na tradição, dominou o campo religioso católico português, representando a comunidade de Tönnies (1887TÖNNIES, Ferdinand. (1887), Gemeinschaft und Gesellschaft. Leipzig: Fues’s Verlag.) e a tradição de Weber (1921-1922WEBER, Max. (1921-1922), Wirtschaft und Gesellschaft. Tübingen: Verlag von J. C. B. Mohr (Paul Siebeck) .). Assentando na paróquia e na sua ligação ao território, os seus contornos essenciais vinham da época medieval, sendo configurados sobretudo no Concílio de Trento (1545-1563), associados ao bom governo pastoral (Teixeira 2012aTEIXEIRA, Alfredo. (2012a), “Catolicismo: entre o território e a rede”. In: A. Teixeira (org.). Identidades religiosas em Portugal: ensaio interdisciplinar . Lisboa: Paulinas .:178), e perdurando até o Concílio Vaticano II (1962-1965) (Mattoso 2001MATTOSO, José. (2001), “Paróquia”. In: C. M. Azevedo (dir.). Dicionário de história religiosa de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores:376-377). Tudo se regia pela ligação contínua do passado ao futuro, pela centralidade do grupo, do nós e da família em detrimento do eu, das relações pessoais em desfavor da impessoalidade e da burocracia. Mas, acima de tudo, o que estruturava essa civilização era a paróquia, na qual assentava a vida comunitária. Esta primazia religiosa inscrevia-se no território e na consciência, imbricando paróquia e comunidade. A comunidade centrava-se na igreja matriz, exatamente por ser a sua mãe, de onde emanava a sua vida; as casas construíam-se à sua volta e da sua torre tocavam os sinos para pautar a vida da aldeia.

O controlo sacerdotal, da vida religiosa e moral dos fregueses, reforçado pelo controlo comunitário, dificultava as transformações sociais e garantia a permanência da tradição e das normas sociais. Justamente, a existência da vida circunscrita à aldeia, e a pouco mais à sua volta, impedia a mudança, sobretudo porque eram débeis os fluxos para dentro, pela inexistência de meios de comunicação de massas. Assim, este “dossel sagrado”, este chapéu religioso, que enformava todas as esferas sociais e que pautava a vida pessoal e social, “aprisionava” a vida das comunidades. O domínio religioso, visível na unicidade da igreja matriz, associado ao isolamento e à impossibilidade de escolha, prendia o homem à sua terra, aos seus valores e normas. Não havia alternativas, por isso as vidas reproduziam-se inalteravelmente geração após geração.

As mudanças foram ocorrendo ao longo do século XX, sendo mais notórias em Portugal, a partir dos anos 1960, pela acentuação da emigração e do êxodo rural, incrementadas, depois, com a mudança política em abril de 1974 e a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986. Imersa na modernidade tardia, a geração pós-1970 pauta-se crescentemente pela sua individualização, decorrente do desenvolvimento socioeconómico português1 1 O índice de desenvolvimento humano (IDH) passou de 0.711, em 1990, para 0.845, em 2016. Fonte: Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/PRT. Acesso em: 24/10/2019. , expresso no aumento da educação2 2 Em 1990 e 2016, as taxas brutas de escolarização para o ensino secundário/ensino superior foram, respectivamente, 60.9%/20.2% e 114.7%/50.4%. Fonte: https://www.pordata.pt/. Acesso em: 24/10/2019. , do rendimento disponível3 3 Entre 1995 e 2016, o rendimento médio das famílias passou de 19.837€ para 31.246€. Fonte: https://www.pordata.pt/. Acesso em: 24/10/2019. e da urbanização4 4 A população rural passou de 84.2%, em 1900 (DGEPN 1905:2, 30), para 13%, em 2011 (INE 2015:55). . Contudo, esta vaga individualizadora não tem afetado a população portuguesa da mesma forma, pois o desenvolvimento ocorre desigualmente no território português, pela distribuição dissemelhante do capital cultural e financeiro. Como refere Duque (2014DUQUE, Eduardo. (2014), Mudanças culturais, mudanças religiosas: perfis e tendências da religiosidade em Portugal numa perspectiva comparada. Vila Nova de Famalicão: Húmus.:231), as tendências individualistas e pós-materialistas são interiorizadas, primeiro, pelos indivíduos socialmente mais favorecidos, espalhando-se, depois, para o resto da sociedade. De fato, em termos relativos, no meio urbano, mais capitalizado, há significativamente menos católicos (maioria populacional), que estão mais no meio rural, e mais pessoas sem religião (não crentes e crentes sem religião)5 5 A amostra do inquérito nacional compunha-se de 79.5% de católicos, 9.6% de não crentes e 4.6% de crentes sem religião (Teixeira 2013:120), sendo a sua distribuição no tipo urbano igual a 26.7%, 53% e 56.8%, respectivamente, e no tipo rural igual a 44.1%, 17.4% e 25%, respectivamente (Teixeira 2013:132). . Entretanto, a força do catolicismo varia com as regiões, pois Lisboa (e Vale do Tejo) tem uma taxa de urbanização6 6 Índice de concentração da população residente em cidades: Norte (39.6%), Centro (38.5%), Área Metropolitana de Lisboa (39.7%). Fonte: INE, base de dados, dados de 2018. Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE&xlang=pt. Acesso em: 24/10/2019. muito semelhante às do Norte e do Centro, mas, nestas regiões, o peso dos católicos é claramente superior e o peso dos sem religião é claramente inferior7 7 Norte/Centro/Lisboa e Vale do Tejo (%): católicos (89.5/87.5/68.1), não crentes (5.0/6.7/16.1), crentes sem religião (2.8/2.9/6.1) (Teixeira 2013:130). . Para além dos sem religião, as minorias religiosas também se encontram mais no meio urbano8 8 Meio urbano/meio rural (%): protestantes e evangélicos (52.7/8.8), outros cristãos (57.7/5.8), Testemunhas de Jeová (40.8/24.5), outras religiões (55.6/18.5) (Teixeira 2013:132). , estando a presença de ambos os grupos a crescer nas últimas décadas9 9 As pessoas sem religião e as minorias religiosas passaram de 1.7% e 0.4%, respectivamente, em 1960 (INE 1963:364), para 6.8% e 3.9%, respectivamente, em 2011 (INE 2012: 530). .

O impacto da individualização no fenómeno religioso é nítido. Primeiro: pelo declínio da religiosidade tradicional, embora dependente da cultura religiosa nacional (Norris & Inglehart 2004NORRIS, Pippa; INGLEHART, Ronald. (2004), Sacred and secular: religion and politics worldwide. Cambridge: Cambridge University Press.:13-21), como se vê em Dix (2013DIX, Steffen. (2013), “A visibilidade e a invisibilidade das pessoas «sem religião» na sociedade portuguesa. Didaskalia, vol. XLIII, nº 1/2: 57-80.:65), em que o perfil irreligioso em Portugal pode definir-se pelo elevado nível de educação. Segundo: pela revolução espiritual, da ênfase do transcendente para fontes internas de sentido e autoridade (Heelas & Woodhead 2005HEELAS, Paul; WOODHEAD, Linda. (2005), The spiritual revolution: why religion is giving way to spirituality. Oxford: Blackwell.:3-4) ou formas de religião não institucionalizadas (Inglehart & Welzel 2005INGLEHART, Ronald; WELZEL, Christian. (2005), Modernization, cultural change, and democracy. The human development sequence. New York: Cambridge University Press. :31-32). Terceiro: pela possibilidade de escolha, de criação de religião à carta, de bricolage religiosa, também pelo incremento da pluralização, do mercado religioso (Dobbelaere 1999DOBBELAERE, Karel. (1999), “Towards an integrated perspective of the processes related to the descriptive concept of secularization”. Sociology of Religion , vol. 60, nº 3: 229-247.:239-241). Esta erosão religiosa institucional, resultante da individualização, foi demonstrada por Duque (2014DUQUE, Eduardo. (2014), Mudanças culturais, mudanças religiosas: perfis e tendências da religiosidade em Portugal numa perspectiva comparada. Vila Nova de Famalicão: Húmus.:218-219) ou Menéndez (2007MENÉNDEZ, Millán A. (2007), “Religiosidade e valores em Portugal: comparação com a Espanha e a Europa católica”. Análise Social , vol. XLII, nº 184: 757-787.:776-777). Há mais de um século, autores como James (1902JAMES, William. (1902), The varieties of religious experience: a study in human nature. London: Longmans, Green and Co.), Simmel (1906SIMMEL, Georg. (1906), Die religion. Frankfurt: Rütten & Loening.) e Troeltsch (1912TROELTSCH, Ernst. (1912), Die Soziallehren der christlichen Kirchen und Gruppen. Tübingen: Verlag von J. C. B. Mohr (Paul Siebeck).) tinham defendido a centralidade da experiência e da subjectividade religiosa: a religião pessoal no primeiro, a religiosidade no segundo e o misticismo no terceiro.

Como Campiche et al. (1997CAMPICHE, Roland J. et al. (1997), “Socialisation religieuse et reproduction familiale de l’identité religieuse”. In: R. J. Campiche (dir.). Cultures jeunes et religions en Europe. Paris: Cerf.:171) explicam, a família é o factor-chave na socialização religiosa, na qual, segundo Hervieu-Léger (1998HERVIEU-LÉGER, Danièle. (1998), “The transmission and formation of socioreligious identities in modernity: an analytical essay on the trajectories of identification”. International Sociology, vol. 13, nº 2: 213-228.:216-217), certas crenças são transmitidas de uma geração a outra, bem como normas, orientações e valores, produzindo uma “cadeia de memória”. Vários estudos empíricos confirmam que a religiosidade dos pais influencia positivamente a religiosidade infantil (Teixeira 2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.:198-201; Coutinho 2011COUTINHO, José P. (2011), Modernidade, religiosidade e universidade. Lisboa: Tese de Doutoramento em Sociologia, ISCTE-IUL.:195; Duque 2007DUQUE, Eduardo. (2007), Os jovens e a religião na sociedade actual. Braga: IPJ.:140-141; Cabral 2001CABRAL, Manuel V. (2001), “Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada”. In: J. M. Pais; M. V. Cabral; J. Vala (org.). Religião e Bioética. Lisboa: ICS.:44-45; Bader & Desmond 2006BADER, Christopher D.; DESMOND, Scott A. (2006), “Do as I say and as I do: the effects of consistent parental beliefs and behaviors upon religious transmission”. Sociology of Religion, vol. 67, nº 3: 313-329.:326; Okagaki, Hammond & Seamon 1999OKAGAKI, Lynn; HAMMOND, Kimberly; SEAMON, Laura. (1999), “Socialization of religious beliefs”. Journal of Applied Developmental Psychology, vol. 20, nº 2: 273-294.:291). No entanto, essa continuidade encontra-se ameaçada pela individualização (Campiche et al. 1997:191-192). Primeiro: a tradição não continua mais a apoiar a vida individual e coletiva, a qual se assinala agora pela descontinuidade e pela fragmentação. Segundo: as crenças são legitimadas, não, pela autoridade tradicional, mas apenas pela sua utilidade. Terceiro: as crenças não são recebidas passivamente, mas consumidas activamente para satisfazer necessidades. Portanto, as famílias religiosas atuais, com pais mais tolerantes e enquadradas num mundo avesso à tradição, são desafiadas a vincular os seus filhos, marcados pelas suas experiências pessoais, a determinada linhagem crente. Ou seja, a individualização, com a sua descontinuidade, autonomia e consumo, molda a socialização religiosa das famílias e dificulta a manutenção da cadeia de memória.

O trabalho de Hervieu-Léger (2005HERVIEU-LÉGER, Danièle. (2005), O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Lisboa: Gradiva.) afigura-se essencial para entender o sentido dessa mudança e para teorizá-la em volta de tipos religiosos10 10 Hervieu-Léger menciona ainda um terceiro tipo, o convertido. De facto, só se usou os tipos praticante e peregrino, pois nestas bases de dados não existem indicadores suficientes para o tipo convertido. Aliás, só existe no EVS um indicador que poderia ser utilizado: pertença religiosa a outra denominação no passado com outra pertença agora. Além disso, provavelmente, este tipo será mais bem estudado com análises qualitativas, pois implicam análises de histórias de vida, mais bem esmiuçadas com essas abordagens em profundidade. Desta forma, optou-se por não estender a discussão teórica sobre esse tipo, por estar ausente da análise empírica, além de que o artigo tem limite de palavras. . Para a autora (2005:109-111), o praticante caracteriza-se pela prática obrigatória, institucional, fixa, comunitária, territorialmente delimitada e regular, em oposição à prática voluntária, autónoma, moldável, individual, móvel e excepcional do peregrino. Estes tipos ideais transportam para dois referentes de espaço e tempo distintos: o primeiro associa-se às comunidades estáveis da civilização paroquial, o segundo liga-se ao tempo actual de mobilidade e de percurso pessoal. Embora opostos teoricamente, por representarem tipos ideais distintos de sociabilidade, mesclam-se na vida real. O praticante é a referência de um mundo religioso pleno e utópico, associando-se à estabilidade das identidades religiosas e à permanência das comunidades no seio das quais aquelas se transmitem e se exprimem, ideal que se estilhaçou com a mobilidade hodierna (Hervieu-Léger 2005:93, 95). O tipo peregrino emerge como figura típica do religioso em movimento em dois sentidos: pela fluidez dos percursos espirituais organizados como trajectórias de identificação religiosa; pela sociabilidade religiosa assinalada pela mobilidade e a associação temporária (Hervieu-Léger 2005:99).

O modelo do peregrino faz cada vez mais sentido a par do modelo do praticante, pois a socialização, associada à individualização, se encontra ameaçada. A socialização, para ser mais eficaz, ou seja, para permitir a reprodução mais fiel das crenças, práticas e valores da geração anterior, implica maior isolamento ou desapego em relação ao ambiente envolvente, algo só possível em comunidades fechadas, daí que actual e geralmente seja sempre permeada de descontinuidades e rupturas. Aqui se encontra a razão pela qual a civilização paroquial, por ser inerte e estável, permitia a socialização eficaz dos seus novos membros, em “perfeita” sintonia com as gerações anteriores, numa continuidade geracional de longuíssimo prazo. Num mundo aberto, repleto de ofertas diversificadas, em que a escolha catalisa a autonomia individual, a socialização infantil e juvenil encontra-se bombardeada pelas tecnologias de informação e comunicação, tornando a família, e mesmo os pares, fontes socializadoras menos importantes, mesmo que esta envolvente próxima se assinale pela pertença religiosa. Ou seja, o dinamismo e a mobilidade actual, a modernidade líquida de Bauman (2000BAUMAN, Zygmunt. (2000), Liquid modernity. Cambridge: Polity Press.), dificultam a solidificação da vontade individual e, por isso, das identidades religiosas.

E o que fica então do tipo praticante? Faz sentido falar em tipo praticante? O tipo praticante é um tipo ideal, que não se encontra empiricamente a 100%, mas que serve somente para balizar a apreensão da realidade. Apesar da pertinência desses tipos ideais e da importância do movimento como característica do nosso tempo, e que rege também a esfera religiosa, o tipo praticante continua a ser o referente analítico utilizado. Como menciona Hervieu-Léger (2005:95-96), as instituições religiosas continuam a olhar para a realidade religiosa tendo o tipo praticante como figura do homem religioso por excelência, mesmo que a prática religiosa, sobretudo a assistência dominical, se encolha.

Deste modo, este estudo assenta em variáveis da religiosidade praticante, que dominam claramente, e nas poucas variáveis disponíveis da religiosidade peregrina. As hipóteses deste trabalho apoiam-se na disseminação da individualização e no enfraquecimento subsequente na socialização religiosa. Espera-se, assim, o deslaçamento em relação às instituições e a busca de soluções pessoais, que se expressa, por um lado, pela eventual descida da pertença religiosa e das práticas religiosas, sobretudo de teor mais institucional, como a assistência aos serviços religiosos, ou pela descida do acatamento das normas religiosas, como a homossexualidade, e, por outro lado, pela busca de crenças não cristãs, como a reencarnação.

Método

No método, abordam-se os seguintes aspectos: rondas das bases de dados, dimensões, variáveis, indicadores e tratamento estatístico. Para o ESS11 11 O ESS é um programa de pesquisa europeu, com sede na Universidade de Londres, que se realiza de dois em dois anos, sendo o primeiro em 2002 e o último em 2018, em que participaram trinta países europeus. O ESS mede atitudes, crenças e comportamentos dos europeus sobre política, bem-estar subjectivo, exclusão social, religião, discriminação percepcionada, identidade nacional e étnica, valores humanos, uso e confiança nos meios de comunicação social, para além de muitos indicadores sociodemográficos. Amostragem para Portugal: aleatória estratificada da população com 15 ou mais anos residente em Portugal continental. Dimensão amostral/recolha de dados: 1.511/26-09-2002 - 20-01-2003 (2002); 2.367/09-10-2008 - 08-03-2009 (2008); 1.270/20-10-2016 - 15-06-2017 (2016). Disponível em: https://www.europeansocialsurvey.org/about/country/portugal/methods.html. , foram usadas as rondas de 2002, 2008 e 2016: para além da primeira e da última, usou-se a ronda de 2008, pois corresponde às últimas rondas do EVS e do ISSP. Para o EVS12 12 https://www.europeansocialsurvey.org/data/methodological_data.html. Acesso em: 24/10/2019. O EVS é um programa de pesquisa europeu, com sede na Universidade de Tilburg, que se realiza de nove em nove anos, sendo o primeiro em 1981 e o último em 2017, em que participaram 44 países (incluindo três da Ásia Ocidental, havendo outros países que ainda não têm dados disponíveis, como Portugal). O EVS mede ideias, crenças, preferências, atitudes, valores e opiniões dos europeus sobre a vida, família, trabalho, religião, política e sociedade, para além de muitos indicadores sociodemográficos. Amostragem para Portugal: não aleatória por quotas (1990) ou aleatória estratificada (1999/2008) da população com 18 ou mais anos residente em Portugal continental. Dimensão amostral/recolha de dados: 1.185/11-05-1990 - 13-07-1990 (1990); 1.000/01-10-1999 - 31-12-1999 (1999); 1.553/26-05-2008 - 31-08-2008 (2008). Disponível em: https://europeanvaluesstudy.eu/methodology-data-documentation/evs-methodology/. Acesso em: 24/10/2019. e para o ISSP13 13 O ISSP é um programa de pesquisa internacional, com sede em Mannheim, no GESIS, que se realiza anualmente desde 1985. No último inquérito disponível (2017), participaram trinta países, sendo dezessete europeus. Todos os anos o tema difere, havendo até agora os temas seguintes: papel do governo, relações sociais, desigualdade social, família e papéis de género em mudança, trabalho, religião, ambiente, identidade nacional, cidadania, lazer e desporto, saúde e cuidados de saúde, para além de muitos indicadores sociodemográficos em cada inquérito. Sobre religião houve três rondas (1991, 1998 e 2008), sendo a próxima em 2018, embora indisponível ainda. Amostragem para Portugal: aleatória estratificada da população com 18 ou mais anos residente em Portugal continental. Dimensão amostral/recolha de dados: 1.201/Abril de 1999 (1998); 1.000/Junho a Novembro de 2009 (2008). Disponível em: http://w.issp.org/data-download/by-topic/. Acesso em: 24/10/2019. , utilizaram-se aquelas em que Portugal participou: 1990, 1999 e 2008 para o EVS, 1998 e 2008 para o ISSP. As rondas intermédias do ESS e do EVS serviram para aferir se as tendências entre os extremos são observadas a meio, ou seja, se elas são sustentadas no longo prazo.

Os estudos seminais sobre dimensões religiosas começaram com Fichter (1951FICHTER, Joseph H. (1951), Dynamics of a city church. Chicago, IL: University of Chicago Press.) e Glock e Stark (1969GLOCK, Charles Y.; STARK, Rodney. (1969), Religion and society in tension. Chicago, IL: Rand McNally & Co.). Fichter (1951:5) foi o primeiro a produzir uma abordagem multidimensional da religião, compondo-a de quatro dimensões: credo (crenças), código (normas), culto (práticas) e comunidade (pertença). Glock e Stark (1969:20-21) desenvolveram este modelo incluindo cinco dimensões: experiencial (experiências com o divino), ideológica (crenças), ritualista (práticas), intelectual (conhecimento religioso) e consequencial (normas e atitudes). Em Portugal, Fernandes (1972FERNANDES, António T. (1972), A religião na sociedade secularizada. Factores sociais na transformação da personalidade religiosa. Porto: Livraria Civilização.:18-19) considera a religião caracterizada pela crença e a relação com um ser transcendente, pela pertença comunitária, por práticas institucionalizadas e por atitudes e comportamentos provenientes da fé. Também Coutinho (2011COUTINHO, José P. (2011), Modernidade, religiosidade e universidade. Lisboa: Tese de Doutoramento em Sociologia, ISCTE-IUL.:17), ao analisar dezenas de definições de religião, concluiu pela presença de quatro dimensões, se considerarmos a experiência como parte da prática, ou de cinco dimensões, se considerarmos a experiência como dimensão autónoma. Resumindo, considera-se a religião composta por cinco dimensões: comunal, ideológica, ritualista, experiencial e consequencial. Neste estudo, foram consideradas quatro dimensões (comunal - “comunidade”, ideológica - “crença”, ritualista - “prática”, consequencial - “norma”), pois a dimensão experiencial não apresenta variáveis nestas bases de dados.

As variáveis foram seleccionadas pela sua importância na explicação ou definição de determinada dimensão. Foram escolhidas duas variáveis para cada dimensão, para simplificar a análise, respeitando-se quatro critérios pela ordem seguinte: indicadores com semelhança na pergunta e nas categorias respectivas do questionário português nas duas rondas, para permitir a sua comparabilidade; indicadores do EVS em cada variável, por ser a base de dados principal; variáveis com indicadores de, pelo menos, duas bases de dados diferentes, para aumentar a capacidade preditiva; indicadores usados na análise anterior. Veja-se agora, para cada dimensão, com a ajuda do quadro 1, as variáveis usadas, indicadores respectivos14 14 Para simplificar, menciona-se somente a referência da pergunta do questionário de Portugal da última ronda e as categorias como estão nele referidas. e tipo de indicador (nominal, ordinal, escala tipo Likert15 15 Como escala tipo Likert, foram considerados somente os indicadores cujas categorias de resposta se apresentam numa escala simétrica bem definida em número par ou ímpar. Pelo rigor analítico, quando as categorias não são completamente simétricas, consideraram-se esses indicadores como ordinais. , quantitativo).

A dimensão “comunidade” refere-se à pertença ou à importância da instituição religiosa para as pessoas. A primeira variável mede o nível da pertença católica, pois o catolicismo domina o campo religioso em Portugal, enquanto a segunda variável afere o grau de atitude em relação às organizações religiosas. A dimensão “crença” refere-se às crenças cristãs, relativas à ortodoxia cristã, ao que o cristianismo defende. Neste caso, optou-se pelas crenças em Deus e no céu, por duas razões: a primeira tem sido amplamente analisada; a segunda é a crença cristã com maior capacidade de distinguir os respondentes entre si, segundo Coutinho (2015COUTINHO, José P. (2015), “Clusters of religiosity of Portuguese population”. Análise Social, vol. L, nº 216: 604-631.:611). No ESS, não há indicadores de crenças e, no ISSP, o indicador de crença em Deus comparável não é exactamente igual. Nas crenças não cristãs, optou-se pelos dois indicadores do EVS, excluindo-se outra opção disponível, o indicador “crença no destino” do ISSP, para simplificar e porque esses indicadores são mais adequados. A dimensão “prática” refere-se à prática institucional, apesar da ambiguidade da oração. A frequência da assistência aos serviços religiosos afigura-se das principais variáveis da religiosidade, a primeira utilizada na sociologia religiosa tanto na Europa, na década de 1930, como em Portugal, na década de 1950. Pelo contrário, a oração, muito mais plástica do que a anterior, pode relacionar-se a práticas cristãs e não cristãs. A dimensão “norma” refere-se às atitudes relativas à vida e à sexualidade, as mais apropriadas para incluir na religiosidade, por serem frequentemente as mais controversas dentro do campo religioso. Dentre estas, destacam-se as atitudes em relação à homossexualidade e ao aborto, como demonstrou Coutinho (2016:172). A Igreja não defende apenas a sexualidade responsável, valorizando a heterossexualidade e a sexualidade dentro do casamento, como meio para procriação e conjugalidade, mas também a vida, como dádiva de Deus, considerado o criador todo-poderoso e único senhor da vida.

Assente no SPSS, foi aplicada a análise univariada, na qual se consideraram as frequências em percentagem, nas variáveis nominais e ordinais, e as médias, nas variáveis quantitativas e com escala tipo Likert. Consideraram-se as categorias sem resposta16 16 Recusa na resposta, não sabe, não responde, não se aplica, pergunta não realizada, outras. . Foram aplicadas as instruções relativas ao peso (ponderador) fornecidas por cada organização em todas as análises: no ESS, havendo dois pesos possíveis (desenho amostral e pós-estratificação), optou-se pelo segundo, pois é mais vantajoso, segundo ESS (2014EUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). (2014), “Weighting European Social Survey data”. European Social Survey . Disponível em Disponível em https://www.europeansocialsurvey.org/methodology/ess_methodology/data_processing_archiving/weighting.html . Acesso em: 06/10/2019.
https://www.europeansocialsurvey.org/met...
:1-3), além de que os valores sem peso e com o primeiro peso são iguais; no EVS e ISSP, os valores sem e com peso são iguais. Toda a população foi considerada independentemente da religião, embora os entrevistados sejam maioritariamente católicos. Desta forma, a comparação ocorreu com os países europeus de matriz católica17 17 Consideram-se países católicos quando a percentagem de católicos nas pessoas com religião é claramente superior a 50% na última ronda de cada base de dados. Para além de Portugal, no EVS, consideraram-se quinze países: Áustria, Bélgica, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, França, Hungria, Irlanda, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia e República Checa. No ESS, não há dados para quatro países (Croácia, Eslováquia, Luxemburgo, Malta), enquanto, no ISSP, não há dados para três países (Lituânia, Luxemburgo, Malta). No indicador “rejeição da homossexualidade” (EVS), não há dados para Itália. , os quais apresentam traços comuns pela partilha da identidade católica. A comparação ocorreu através da média e dos valores extremos (maior e menor) referentes à última ronda, o que escusa a comparação internacional com outros estudos.

Tabela 1:
Descritores de cada dimensão

Resultados

No quadro 2, apresentam-se os valores de cada indicador para Portugal (1990 a 2016) e para os países europeus católicos (média, mínimo, máximo). Havendo três objectivos neste artigo (caracterizar18 18 A caracterização dos dados refere-se à última ronda. , comparar, analisar a evolução), a análise dos dados segue a mesma sequência. Na dimensão “comunidade”, na pertença católica, a média de 2008 é elevada (81%), estando os três valores próximos (o do EVS um pouco abaixo), mas o valor do ESS 2016 já é médio elevado (69%); na confiança nas igrejas, a média de 2008 é média elevada (69%), estando os dois valores relativamente próximos. Comparando com os países europeus católicos19 19 Para aferir os países com valores maiores e menores, consideraram-se, para os indicadores percentuais, os 10% abaixo do valor maior e 10% acima do valor menor, respectivamente; para a crença no céu do ISSP, 0.3 abaixo do valor maior e 0.3 acima do valor menor, respectivamente; para os indicadores da dimensão norma do EVS, 0.9 abaixo do valor maior e 0.9 acima do valor menor, respectivamente. , Portugal situa-se acima da média em todos os indicadores dessa dimensão, estando, por isso, claramente mais próximo dos extremos maiores, sobretudo nos dois indicadores do ISSP e mesmo no indicador do ESS20 20 Nos países com maior pertença católica, encontram-se Croácia, Irlanda, Itália, Lituânia, Malta, Polónia e/ou Portugal. Porém, esta dominância é somente consistente para a Polónia, porque é a única com valores maiores nas três bases, apesar de a Croácia não aparecer no ESS, da Lituânia não estar no ISSP, e de Malta só se encontrar no EVS. Pelo contrário, nos países com menor pertença católica, o único país que se evidencia é a República Checa, tendo os valores menores nas três bases, significativamente abaixo dos restantes. Nos países com maior confiança nas igrejas, encontram-se Itália, Lituânia, Malta, Polónia e/ou Portugal, enquanto, nos países com menor confiança, está a República Checa, para além da Bélgica e da França no ISSP. . Analisando a evolução, as variáveis parecem indicar o seu decréscimo, embora as tendências não sejam óbvias. A pertença católica, no ESS, mesmo que tenha subido muito ligeiramente em 2008, deste ano, e de 2002, para 2016, baixou claramente, enquanto, no EVS e no ISSP, baixou de 1999/1998 para 2008, embora, no EVS, tenha subido de 1990 para 2008. Na confiança nas igrejas, no EVS, os valores subiram de 1990 para 2008, ainda que tenham baixado entre 1999 e 2008, o que é confirmado pelo ISSP.

Na dimensão “crença”, as crenças cristãs apresentam valores muito diferentes: elevado e médio baixo na crença em Deus e na crença no céu, respectivamente, sendo aproximados os valores desta última no EVS e no ISSP. As crenças não cristãs apresentam valores bastante baixos e próximos. Comparando com os países europeus católicos, Portugal situa-se em relação à média: acima, na crença em Deus e na reencarnação; abaixo, na crença num espírito; ligeiramente abaixo, na crença no céu no EVS; igual, nesta crença no ISSP. Em relação aos extremos, nas duas primeiras crenças, está claramente mais próximo do extremo maior, sendo mesmo este na segunda crença; nas duas crenças seguintes, encontra-se mais próximo dos extremos menores, enquanto, na última crença, está a meio21 21 Nas crenças cristãs, Irlanda, Malta e/ou Polónia apresentam os valores maiores, enquanto República Checa apresenta os valores menores em todos os indicadores, a que se juntam Bélgica, Eslovénia, França e Luxemburgo num indicador. Nas crenças não cristãs, Áustria e Eslovénia apresentam os valores maiores no primeiro indicador, enquanto Polónia tem o valor menor. No segundo indicador, como o valor máximo é baixo, não há grandes diferenças a assinalar. . Ou seja, não há padrão comum nas duas variáveis de cada tipo. Analisando a evolução, as duas variáveis “cristãs” parecem apontar para o seu decréscimo, embora as tendências não sejam óbvias também. A crença em Deus decresceu de 1999 para 2008, embora tenha subido ligeiramente de 1990 para 2008. A crença no céu, no EVS, desceu de 1990/1999 para 2008, embora tenha subido ligeiramente de 1990 para 1999, enquanto baixou no ISSP. Pelo contrário, os dois indicadores “não cristãos” parecem apontar para o seu crescimento, mesmo que com a quebra do primeiro em 1999.

Na dimensão “prática”, a frequência de serviços religiosos apresenta valores baixos e próximos com média de 23%, sendo o valor relativamente maior no ESS; a oração, que apresenta só dois indicadores comparáveis (ESS e ISSP), tem valores bastante diferentes, médio num e baixo noutro. Comparando com os países europeus católicos, Portugal situa-se em relação à média: acima, nos indicadores do ESS e do ISSP; abaixo, nos indicadores do EVS. Em relação aos extremos, encontra-se próximo do meio na frequência do ESS e na oração do EVS; próximo e mais próximo do extremo menor na frequência do EVS e do ISSP, respectivamente; próximo e mais próximo do extremo maior na oração do ESS e do ISSP, respectivamente22 22 Na frequência, os valores maiores são de Irlanda, Malta e/ou Polónia, enquanto os valores menores são dos restantes países, excepto Croácia, Eslováquia, Itália e Portugal. Na oração, os valores maiores são dos três países referidos a que acresce Croácia, Itália e Portugal, enquanto os valores menores são da República Checa e/ou França. Nesta variável, tanto a Polónia como a República Checa estão presentes nas três bases. . Ou seja, não há padrão comum nas duas variáveis. Analisando a evolução, as duas variáveis parecem apontar igualmente para o seu decréscimo. No ESS, ambos os indicadores desceram de 2002 para 2016, apesar de o primeiro se manter de 2002 para 2008, e o segundo baixar continuamente. No EVS e no ISSP, ambas as variáveis baixaram de 1999/1998 para 2008, sendo esta tendência decrescente também visível no EVS entre 1990 e 2008, mesmo que tenha subido entre 1990 e 1999.

Na dimensão “norma”, os três indicadores são médios, sendo maior o do ISSP. Comparando com os países europeus católicos, Portugal situa-se próximo da média em todos os indicadores. Porém, enquanto, no primeiro indicador, está praticamente a meio, nos outros dois indicadores, encontra-se próximo do extremo maior no segundo e mais próximo do extremo menor no terceiro23 23 Na homossexualidade, os valores maiores são da Croácia, Hungria, Itália, Lituânia e/ou Polónia, enquanto os valores menores são de Áustria, Bélgica, Espanha, França e Luxemburgo. No aborto, o valor maior é de Malta, enquanto os valores menores são de Eslovénia, França e República Checa. . Parece que a rejeição da homossexualidade é maior do que a do aborto. Analisando a evolução, as duas variáveis parecem indicar também o seu decréscimo. Na variável sobre a homossexualidade, os dois indicadores apontam para o decréscimo da rejeição (ou o acréscimo da aceitação) no EVS e no ISSP. Na variável sobre o aborto, o indicador aponta para o decréscimo da rejeição, mesmo que tenha havido uma subida ligeira de 1990 para 2008; neste indicador as diferenças não são óbvias.

Tabela 2:
Evolução e comparação dos indicadores.

As tendências têm de ser tomadas com cautela, pois cruzam-se dados provenientes de três bases de dados distintas, com metodologias e períodos diferentes. Além disso, para cada variável, nem sempre há indicadores de diferentes bases de dados para se comparar. Comparando a evolução do ESS com a do EVS e do ISSP, para o período entre 1998/1999/2002 e 2008, todos os indicadores do ESS são infirmados pelos do EVS e do ISSP; no longo prazo, no ESS e no EVS, confirma-se a tendência da frequência de serviços religiosos e da oração. Comparando a evolução do EVS com a do ISSP, todos os indicadores do ISSP confirmam a evolução dos indicadores do EVS. Como o quadro 2 apresenta muitos dados, o quadro 3 serve para resumir a informação que eles oferecem e que foi tratada atrás. Na caracterização, a variável confiança na dimensão comunidade, a dimensão crença não cristã, a variável frequência na dimensão prática e a dimensão norma apresentam características nítidas. Na comparação, as dimensões comunidade e norma são claras. Na evolução, todas as dimensões são relativamente claras, pois as ressalvas decorrentes das rondas intermédias não perturbam as tendências na generalidade.

Tabela 3:
Síntese da análise.

Discussão24 24 O estudo de Duque (2014) não foi analisado, por empregar também o EVS 1990/2008, oferecendo, assim, resultados semelhantes para indicadores iguais.

Depois de se analisar os resultados na secção anterior, aqui pretende-se discuti-los com estudos já realizados. Na dimensão “comunidade”, para a pertença católica, os valores do ESS, do EVS e do ISSP 2008 aproximam-se dos valores do INE (2012:530) (81%) e de Teixeira (2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.:120) (80%), enquanto o valor do ESS 2016 se afasta. Este valor parece longe da realidade, pois, sendo o censo nacional aplicado a toda a população (INE 2012), o seu valor é claramente o mais fiável. Em termos de evolução, os indicadores apontam para o decréscimo da dimensão “comunidade”. A pertença católica passou de 81%, em 1981 (INE 1984INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (1984), XII Recenseamento Geral da População. II Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos Total do país. Lisboa: INE . :291), 78% em 1991 (INE 1996INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (1996), Censos 91: resultados definitivos: Portugal. Lisboa: INE . :422), 85% em 2001 (INE 2002INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (2002), Censos 2001: resultados definitivos: XIV Recenseamento Geral da População: IV Recenseamento Geral da Habitação - 1º Volume: Portugal. Lisboa: INE .:538), para 81% em 2011 (INE 2012INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (2012), Censos 2011 XV Recenseamento Geral da População. V Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos Portugal. Lisboa: INE . :530). Ou seja, a evolução entre 1991 e 2011 assemelha-se à evolução do EVS entre 1990 e 2008, confirmada, pelo ISSP, para o período 1998-2008, enquanto, no ESS, subiu muito ligeiramente entre 2002 e 2008. A inclusão da pergunta filtro (pertença religiosa) foi ventilada por Vilaça (2016VILAÇA, Helena. (2016), “Territorialidades religiosas em Portugal”. Mediações, vol. 21, nº 2: 197-217. :216) e Monteiro (2012MONTEIRO, Teresa L. (2012), “Dinâmica social e religião”. In: A. Teixeira (org.). Identidades religiosas em Portugal: ensaio interdisciplinar. Lisboa: Paulinas.:84-85), para quem ela diminui a percentagem de católicos. No entanto, Teixeira (2013:117-119) refere que a inclusão dessa pergunta é ambígua, pois consegue-se provar o contrário empiricamente. Compare-se, por exemplo, os dados do EVS 2008, ESS 2008, Teixeira (2013) e INE (2012): nos dois primeiros, usou-se a pergunta filtro, enquanto não se usou nos dois últimos, estando os valores próximos. Acresce a isto o facto de, no ISSP, não se ter usado pergunta filtro e os valores se aproximarem do ESS e do EVS.

Apesar da ambiguidade da evolução, a menor institucionalização religiosa ou a saída da religião pode assentar em aspectos relacionados com a individualização e com a socialização (Teixeira 2012bTEIXEIRA, Alfredo (org.). (2012b), Identidades religiosas em Portugal: representações, valores e práticas - 2011. Resumo do relatório apresentado na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa. Fátima.:3-4). Na individualização, apresentam-se o desacordo com crenças (33%) e normas religiosas (22%), a independência de práticas e normas religiosas (21%), o desinteresse pela religião (22%), a convicção pessoal (33%, provavelmente significa falta de fé); na socialização, apresentam-se o comportamento de líderes religiosos (13%) e pessoas religiosas (12%) e a educação familiar (12%). A autonomia religiosa demonstra-se bem por indicadores referentes aos sacramentos, em que a quebra tem sido notória e sempre continuamente decrescente nas últimas décadas25 25 Entre 1976 e 2016 (para mil católicos), os baptismos (0-7 anos) e os matrimónios passaram de 20.2 para 5.6 e de 9.5 para 1.7, respectivamente, enquanto, entre 1996 e 2016 (para mil católicos), as primeiras comunhões e as confirmações passaram de 8.9 para 5.9 e de 6.4 para 3.8, respectivamente (SSRGE 1978:182, 1998:331, 2018:335, 344). Em todos os indicadores, a tendência é continuamente decrescente, considerando a confirmação a cada dez anos. . Esses sacramentos associam-se a ritos de passagem, estudados por Van Gennep (2004VAN GENNEP, Arnald. (2004), The rites of passage. London/Henley: Routledge/Kegan Paul.). Para esse autor, em todas as sociedades humanas, para ajudar a transição entre fases ao longo do ciclo de vida pessoal, desenrolam-se três tipos de ritos de passagem26 26 Separação ou pré-liminar (e.g. enterro), transição ou liminar (e.g. nascimento), incorporação ou pós-liminar (e.g. casamento). , agregados a ritos próprios27 27 Ritos de protecção e adivinhação no nascimento, ritos de fertilidade no casamento e ritos de defesa no enterro. (Van Gennep 2004:11-12).

Na dimensão “crença”, a diferença nos valores das crenças em Deus e no céu indicia plasticidades religiosas. Esta flexibilidade foi mencionada por Fernandes (2003FERNANDES, António T. (2003), “Valores e atitudes religiosas”. In: J. Vala; M. V. Cabral; A. Ramos (org.). Valores sociais: mudanças e contrastes em Portugal e na Europa. Lisboa: ICS .:155-157), para quem as crenças têm um grau de aceitação diferente, devido à recomposição religiosa: algumas crenças são mais valorizadas, como o pecado, e outras são menos valorizadas, como o inferno. Os conceitos são reformulados na mente das pessoas, uma vez que as igrejas perderam a autoridade para impor a sua ortodoxia. A diminuição dessa dimensão é consistente com a diminuição da dimensão “comunidade”, pois a quebra de socialização religiosa, decorrente da menor filiação religiosa e da prática dos sacramentos, corta a reprodução das linhagens crentes, caracterizadas por crenças determinadas, próprias das tradições religiosas.

Na dimensão “prática”, comparando a frequência do serviço religioso e da oração, a última parece mais importante. Talvez a sua potencial plasticidade, a sua capacidade de ser utilizada diversamente em quaisquer lugar e momento, conectando-se directamente com os “deuses” e expressando-se livremente, exprima a individualização. Como refere Teixeira (2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.:149), a oração é dos comportamentos religiosos mais persistentes, justamente por ser a prática mais moldável, adaptável e portátil, correspondendo, assim, às dinâmicas da individualização. Pelo contrário, a liturgia da missa dificulta a iniciativa dos praticantes, contrariamente à oração, mesmo que nalguns casos haja alguma criatividade e recomposição.

Os indicadores parecem apontar para a quebra da frequência de serviços religiosos e da oração. Os motivos para não praticar assentam em três aspectos (os dois primeiros associados à individualização e o último à socialização): falta de tempo, desinteresse/inutilidade da celebração/religião, comportamento de líderes/pessoas religiosas (Teixeira 2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.:173). Para Lopes (2010LOPES, Policarpo. (2010), Para uma sociologia do catolicismo. Lisboa: Rei dos Livros. :142-146), à sociedade rural tradicional associava-se o domingo, marcado pela sociabilidade comunitária, paroquial e familiar, essencial na reprodução da pertença social e religiosa. Com a passagem para sociedades industriais e pós-industriais, decorreu a ruptura do tempo e do espaço rural, assim como a desintegração comunitária, expondo o homem a espaços abertos, móveis e heterogéneos, a tempos pautados pelo consumo e pelo prazer, mas, acima de tudo, orientados pela lógica autonómica e autorrealizadora. O domingo perdeu, então, o seu valor axial de tempo para Deus, de tempo para reforço dos laços comunitários, tornando-se tempo para si e para as suas lógicas pessoais, afastando-o, assim, da prática dominical.

Na dimensão “norma”, talvez a dimensão cuja evolução se apresenta mais nítida, os indicadores apontam para a diminuição da rejeição de comportamentos desconformes com a doutrina eclesial, sendo a evolução maior nas questões da homossexualidade. Como refere Bréchon (2004BRÉCHON, Pierre. (2004), “L’héritage chrétien de l’Europe Occidentale: qu’en ont fait les nouvelles générations?”. Social Compass, vol. 51, nº 2: 203-219.:216), a maior identidade religiosa implica menor permissividade, independentemente da geração. Certamente que o alastramento da tolerância como valor central, disseminado pelos meios de comunicação social, tem estimulado a aceitação de comportamentos discordantes da doutrina eclesial em relação à vida e à sexualidade, para além do aumento da reflexividade, símbolo da individualização. Também a evolução da globalização informativa nas últimas décadas (telenovelas, séries, filmes, internet, redes sociais, etc.), associada aos estilos de vida das “estrelas”, em vários casos opostos à moral cristã, tem sido, porventura, cúmplice nessas alterações.

Olhando para todos os indicadores, Polónia e Malta apresentam-se como os países mais religiosos da Europa católica, pois cerca de 75% dos indicadores da Polónia são ou estão nos valores maiores, enquanto só um em nove indicadores de Malta não é o indicador maior. Para além desses países, destaque-se ainda Irlanda (5/17), Croácia (4/14), Lituânia (3/11), Itália (4/16) e Portugal (3/17), cujos valores são e/ou estão nos valores maiores, mas que não apresentam a consistência da Polónia e de Malta. Portugal encontra-se mais perto dos países mais religiosos na dimensão comunidade e de um indicador nas outras dimensões, o que demonstra a sua inconsistência. A maior religiosidade desses dois países já tinha sido analisada por Coutinho (2016COUTINHO, José P. (2016), “Religiosity in Europe: an index, factors, and clusters of religiosity”. Sociologia, Problemas e Práticas, vol. 81: 163-188.:181), que associou o catolicismo à sua identidade nacional. Apesar de o nacionalismo do Estado Novo ter associado a si o catolicismo português, o que pode ter afastado várias pessoas da religião, por se associar a Igreja a um regime autoritário, Portugal nunca esteve sob o domínio estrangeiro nos últimos séculos, como Malta e Polónia, nem sob regime comunista, como este último.

A importância da religiosidade praticante no Portugal actual, e a sua inconsistência, tem de se encontrar noutros factores, nomeadamente históricos e organizacionais. Portugal encontra-se ligado à Igreja desde a sua fundação. Como explicou Coutinho (2018bCOUTINHO, José P. (2018b), “História religiosa de Portugal e teorias da secularização: da primeira dinastia à actualidade”. Revista Brasileira de História das Religiões, vol. XI, nº 31: 143-166. , 2019COUTINHO, José P. (2019), “Religiosidade em Portugal: perspectiva de longo prazo”. Revista Brasileira de História das Religiões , vol. XII, nº 35: 137-158.), embora a secularização nos três níveis (macro, meso e micro) tenha ocorrido sobretudo na primeira metade do século XIX, com o Liberalismo, e na primeira metade do século XX, com a I República, o Estado Novo inverteu esta tendência, a que se associa o surgimento de Fátima. Mesmo com a abertura pluralista trazida com a Revolução de Abril de 1974 e a promulgação da Lei da Liberdade Religiosa (2001), a hegemonia católica permanece no território português, até pela revisão da Concordata (2004). Realmente, esse domínio expressa-se no território, havendo mais paróquias do que freguesias (antes da reforma da administração local, em 2012). Contudo, como refere Coutinho (2018aCOUTINHO, José P. (2018a), “Campo religioso português. Análise externa e interna”. Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 78, nº 309: 236-266.:252-254), os efectivos religiosos (sacerdotes e religiosos) e as comunidades religiosas têm vindo a cair desde 1974, diminuindo, assim, a densidade eclesial per capita. Esta rarefacção dos recursos eclesiais abrevia a capacidade da Igreja em manter as linhagens crentes, sobretudo em ambientes pluralistas, como o actual.

A quebra da religiosidade portuguesa nas últimas décadas reflecte a incapacidade da Igreja em acompanhar as transformações socioculturais, dificultada pelos problemas internos referidos, pela concorrência de outras confissões religiosas e de narrativas seculares e pelo processo de individualização em curso com efeitos na socialização religiosa. Mesmo que Dix (2010DIX, Steffen. (2010), “As esferas seculares e religiosas na sociedade portuguesa”. Análise Social , vol. XLV, nº 194: 5-27.:24) considere que o catolicismo português se tenha adaptado à modernidade, criando uma secularidade portuguesa típica, de facto, a religiosidade tem declinado. Como refere Duque (2014DUQUE, Eduardo. (2014), Mudanças culturais, mudanças religiosas: perfis e tendências da religiosidade em Portugal numa perspectiva comparada. Vila Nova de Famalicão: Húmus.:231-232), tem-se assistido à privatização religiosa paulatina, associada à desinstitucionalização religiosa, na decorrência da subida das tendências individualistas e pós-materialistas. Acresce a afirmação gradual das minorias religiosas, sobretudo pela imigração e pela conversão (Vilaça 2013VILAÇA, Helena. (2013), “Novas paisagens religiosas em Portugal: do centro às margens”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 81-114. :113), embora com efeitos principalmente na quebra da pertença católica. Para além das minorias, as narrativas seculares, associadas à individualização, afastam das igrejas, como se vê na afirmação dos sem religião, evidenciada por Teixeira (2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.:204-205).

Os indicadores do tipo peregrino são muito poucos para tentar aferir a sua evolução. Juntam-se, por isso, alguns indicadores do EVS e do ISSP somente disponíveis na ronda 2008, para se ver a sua situação recente (quadro 4). Tal como no quadro 2, compara-se com a média e os extremos dos países europeus católicos. Os indicadores “maneira pessoal” servem para aferir a falta de institucionalização da relação com o divino, associando-se às dimensões “comunidade” e “prática”. O segundo indicador cruza-se com o último indicador, pois ambos tratam do interesse pelo sagrado e pelo sobrenatural: o segundo afere os indivíduos com muito ou algum interesse, enquanto o último separa os sem religião dos com religião. No total de ambos, aparecem os interessados ou espirituais. Enquanto o segundo indicador mistura praticantes e peregrinos, o último separa-os, considerando o tipo peregrino desligado das instituições religiosas. As quatro crenças podem dividir-se em dois tipos: crenças orientais (reencarnação e nirvana) e crenças universais (amuletos e espíritos), estando as duas últimas mais associadas à vida diária.

Tabela 4:
Indicadores do tipo peregrino (2008).

Os indicadores “maneira pessoal” são muito semelhantes na pergunta, nas categorias, no resultado (entre médio e bastante), na média, nos extremos e na relação com o extremo maior, a que se encontram colados. Poderia pensar-se que os portugueses se relacionam de forma não institucional com o divino. Todavia, o último indicador demonstra que os espirituais estão claramente mais dentro do âmbito institucional do que fora dele, tendo o valor menor na primeira categoria e dos valores maiores na segunda categoria. O segundo indicador, que reúne os espirituais como o anterior, é claramente maior do que este, talvez porque as categorias são diferentes, o que influencia a resposta. Comparando com os outros países, os portugueses estão pouco acima da média e longe do extremo maior no segundo indicador, o que é contrariado pelo último indicador. Nas crenças heterodoxas, todas se afiguram com valores baixos, semelhantes no ISSP e no EVS: no primeiro, à volta da categoria “provavelmente não”; no segundo, entre o valor mais baixo (“não acredito”) e o valor médio. Mesmo assim, em todos os indicadores os valores estão mais próximos ou colados mesmo aos valores maiores, sobretudo na reencarnação e no nirvana. Comparando com os indicadores “cristãos”, o tipo peregrino apresenta-se nitidamente menos representado, embora aqui com variações maiores na Europa28 28 Nos indicadores do tipo peregrino, dos países europeus católicos com valores maiores, destacam-se Áustria (5), Irlanda (5), Portugal (5), Eslovénia (4) e Itália (4, embora tenha 3 nos valores menores), e dos países com valores menores, destacam-se República Checa (7) e Bélgica (4). Lituânia, Luxemburgo e Malta só aparecem em três indicadores: Lituânia tem dois indicadores nos valores maiores, enquanto Malta tem dois indicadores nos valores menores (embora um valor maior também). Para aferir os países com valores maiores e menores, consideraram-se, para os indicadores percentuais (segundo e oitavo), os 10% abaixo do valor maior e 10% acima do valor menor, respectivamente; para o primeiro, quarto, quinto e sexto indicadores, 0.3 abaixo do valor maior e 0.3 acima do valor menor, respectivamente; para o terceiro indicador, 0.9 abaixo do valor maior e 0.9 acima do valor menor, respectivamente; para o sétimo indicador, 0.4 abaixo do valor maior e 0.4 acima do valor menor, respectivamente. .

Quais as razões para esta fraca adesão ao tipo peregrino? De facto, a capacidade reconstrutiva dos indivíduos parece exacerbada quando se refere à bricolage. O indivíduo não é totalmente racional nas suas acções, olhando somente para custos e benefícios, mas olha também para valores, para sentimentos, sendo forte a inércia na tomada de alternativas, pela força dos hábitos e das tradições. Mesmo que a cultura oriental tenha sido introduzida na cultura pop, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, a matriz cristã e/ou laica apresenta-se forte. A realidade não se desenrola de forma puramente consumista, ainda que as oportunidades e os meios de escolher novas crenças e práticas, e de as recompor com outras da sua tradição religiosa, tenham sido multiplicados nas últimas décadas, assim como os motivos para se misturar produtos religiosos em vista da maior felicidade pessoal. Parece óbvio que a visão “romântica” da religião à carta é mais uma construção teórica interessante do que a expressão da realidade, pois os indivíduos são sempre condicionados nas suas escolhas e não têm a hipotética capacidade sintética para definir o portfolio das suas crenças e práticas. Além disso, podem incluir práticas de outras religiões, como o ioga, mas olhando somente para os seus benefícios sem se interessar pela sua raiz religiosa e sem interferir nas convicções subjacentes à sua prática religiosa.

De facto, embora haja estudos qualitativos, como os de Roussou (2015ROUSSOU, Eugenia. (2015), “From socialization to individualization: a new challenge for Portuguese religiosity”. Italian Journal of Sociology of Education, vol. 7, nº 3: 89-112.), que confirmam a bricolage no campo religioso português, Saroglou (2006SAROGLOU, Vassilis. (2006), “Religious bricolage as a psychological reality: limits, structures and dynamics”. Social Compass , vol. 53, nº 1: 109-115.:113) recomenda prudência no uso desta palavra, pois é preciso estudar os mecanismos cognitivos, emocionais e sociais que permitem a combinação desses elementos num todo estruturado, assim como as motivações que impelem os indivíduos a fazê-lo e a universalidade estrutural na aparente variedade de formas. Todavia, esses estudos têm estado praticamente ausentes da realidade portuguesa, como corrobora Dix (2013DIX, Steffen. (2013), “A visibilidade e a invisibilidade das pessoas «sem religião» na sociedade portuguesa. Didaskalia, vol. XLIII, nº 1/2: 57-80.:72). Apesar desta incerteza, Hamberg (2011HAMBERG, Eva M. (2011), “Unchurched spirituality”. In: P. B. Clarke (ed.). The Oxford handbook of the sociology of religion. Oxford: Oxford University Press.:751) considera que o declínio religioso conduz gerações de não praticantes, com fraca ou nenhuma socialização religiosa, para a espiritualidade não institucional. Para além de 9.6% de não crentes (indiferentes, agnósticos, ateus), há 4.6% de crentes sem religião em Portugal, divididos em dois tipos principais (os que partilham de uma religião difusa assente no catolicismo e os que praticam a bricolage religiosa), estando a maioria provavelmente na primeira (Dix 2013:64-66, 72). Sendo esta população mais jovem e escolarizada, parece que à menor idade e à maior escolaridade se associa menos crenças ou crenças heterodoxas. Contudo, no mesmo estudo, destaca-se uma percentagem significativa de jovens (15-24) católicos militantes (prática máxima), a maior percentagem de jovens a par dos nominais (prática mínima) (Teixeira 2013TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.:202). Ou seja, o maior capital cultural pode trazer a perda total de convicções, o reforço destas ou as “peregrinações”.

Conclusões

No início deste estudo, propuseram-se três objectivos: caracterizar a religiosidade portuguesa, compará-la com a Europa católica e analisar a sua evolução. A dimensão “comunidade” apresenta os valores mais elevados, tendo valores acima da média, sobretudo nos indicadores do ISSP. Embora não sendo óbvia, a evolução parece indicar o seu decréscimo. A dimensão “crença cristã” apresenta indicadores com valores díspares: a crença sobre Deus encontra-se acima da média, enquanto a crença no céu se aproxima da média. Embora não sendo também óbvia, a evolução parece indicar o seu decréscimo. A dimensão “prática” apresenta valores baixos na prática regular, sobretudo na frequência de serviços religiosos, sendo inconsistente a sua situação na Europa católica, embora a oração se aproxime mais dos valores maiores do que a frequência. A evolução, apesar de algumas descontinuidades, parece apontar para a diminuição dos valores. A dimensão “norma” apresenta valores médios, próximos das médias da Europa católica. A evolução é crescente em todos os indicadores, sobretudo na homossexualidade. A dimensão “crença não cristã” apresenta valores claramente mais baixos do que as crenças cristãs, sendo inconsistente a sua posição na Europa católica e tendo uma evolução crescente, embora ligeira. Os indicadores apresentados na discussão do tipo peregrino também apontam para a sua fragilidade, comparando com o tipo praticante.

Em suma, parece que a religiosidade praticante se afirma sobretudo pela pertença e por algumas crenças em detrimento de outras crenças, das práticas e das atitudes. Como referem Furseth e Repstad (2007FURSETH, Inger; REPSTAD, Pal. (2007), An introduction to the sociology of religion. Classical and contemporary perspectives. Aldershot: Ashgate. :132), a religiosidade individual está a mudar, havendo maior distanciamento da religiosidade organizada e, embora as pessoas se considerem pertencentes às igrejas dominantes respectivas, têm religiosidade tradicional marcada mais pela crença do que pela prática, a qual se destaca nos momentos relevantes das vidas familiares, principalmente nos ritos de passagem. Mas significa a quebra da religiosidade praticante o aumento da religiosidade peregrina? Enquanto a religiosidade praticante é mais facilmente apreendida com os indicadores disponíveis, a religiosidade peregrina apresenta poucos indicadores, tornando-se mais difícil captar a sua direcção. Contudo, os indicadores disponíveis da última ronda do EVS e do ISSP parecem indicar a pouca importância da religiosidade peregrina. Ou seja, esta institucionalização deficiente não se transfere para uma subida na religiosidade peregrina, porventura, porque aquela pode significar mais a saída da religião ou uma religiosidade católica difusa do que a bricolage religiosa, como parece demonstrar Dix (2013DIX, Steffen. (2013), “A visibilidade e a invisibilidade das pessoas «sem religião» na sociedade portuguesa. Didaskalia, vol. XLIII, nº 1/2: 57-80.). Como se ventilou atrás, a bricolage parece ser mais um conceito atraente do que uma realidade.

No entanto, a peregrinação não é somente bricolage, é bastante mais do que isso. É desprender-se dos laços institucionais, é “usar” as práticas institucionais quando lhe for conveniente, é mudar ou experimentar comunidades a seu bel-prazer. Porém, este movimento constante parece despender muita energia, duvidando-se que o indivíduo médio tenha propensão para essa busca. É preciso motivações fortes para que se quebrem rotinas e hábitos. O que parece ocorrer é uma justaposição de ambos os tipos, como Hervieu-Léger (2005:111) reconhece, havendo uns com o tipo praticante mais assinalado e outros em que a marca maior ocorre no tipo peregrino, ou seja, uns mais “presos” à instituição e outros mais livres nas suas opções. Independentemente do segmento a que pertencem, a sua evolução dependerá do decurso da individualização e da socialização.

A individualização associa-se ao desenvolvimento socioeconómico, pelo que as ameaças decorrentes das crises económicas e políticas, que levam os jovens diplomados a emigrar, a aceitar trabalhos precários e a adiar compromissos conjugais e parentais, questionam a evolução positiva da educação. Estas ameaças conjunturais podem manter ou atrair tanto jovens como adultos para dentro das instituições religiosas, para encontrarem no calor comunitário remédio para os seus receios. Porém, o capital cultural maior pode não só aumentar as convicções religiosas, reforçando o tipo praticante, como também pode trazer o gosto pelo movimento, pela busca, típica das novas gerações turísticas, fortalecendo o tipo peregrino. A socialização religiosa, assente sobretudo na família, mas bastante influenciada pela comunicação social, também molda a religiosidade. As alterações de modelos familiares, assim como o ócio assente no consumo e na experiência, num fundo cultural secularizador, podem dificultar o gosto por actividades repetitivas e aborrecidas e, por isso, a prática religiosa regular, afastando consequentemente as crenças cristãs e o seguimento das normas religiosas. A evolução desses dois processos parece contraditória, embora as ameaças à individualização pareçam mais conjunturais, ao contrário da evolução da socialização, porventura, mais consistente, desafiando a religiosidade futura.

A qualidade das bases de dados, mundialmente reconhecidas e frequentemente usadas pela academia, garante fiabilidade aos resultados, mesmo que o uso de diferentes bases possa trazer problemas comparativos, devido a diferenças metodológicas entre anos e bases de dados (Menéndez 2007MENÉNDEZ, Millán A. (2007), “Religiosidade e valores em Portugal: comparação com a Espanha e a Europa católica”. Análise Social , vol. XLII, nº 184: 757-787.:762), encobrindo, talvez, a qualidade delas e os efeitos positivos das comparações. Além disso, não existem outros estudos com estes objectivos que compararam variáveis dessas três bases de dados, o que aumenta a importância deste artigo. Dentro da disponibilidade de cada base de dados, produziu-se uma análise completa da religiosidade, incluindo-se as dimensões adequadas e as variáveis respectivas. Simplificou-se a análise usando-se somente as variáveis necessárias para ilustrar cada dimensão na sua totalidade. Outras variáveis poderiam ser empregadas, mas isso iria complicar a análise sem nada acrescentar. Porém, as tendências de todas as dimensões serão mais bem analisadas com as novas rondas do EVS 2017, ISSP 2018 e ESS 2018.

Referências Bibliográficas

  • ANTUNES, Manuel L. M. (2000), “Catolicismo e cultura na sociedade portuguesa contemporânea”. In: M. B. Cruz; N. C. Guedes (coord.). A Igreja e a cultura contemporânea em Portugal Lisboa: UCP.
  • ANTUNES, Manuel L. M. (2001), Resultados preliminares do recenseamento da prática dominical de 2001, em comparação com os resultados dos RPDs de 1977 e 1991, em Portugal Lisboa: Centro de Estudos Sociais e Pastorais da Universidade Católica Portuguesa (Documento policopiado).
  • BADER, Christopher D.; DESMOND, Scott A. (2006), “Do as I say and as I do: the effects of consistent parental beliefs and behaviors upon religious transmission”. Sociology of Religion, vol. 67, nº 3: 313-329.
  • BAUMAN, Zygmunt. (2000), Liquid modernity Cambridge: Polity Press.
  • BRÉCHON, Pierre. (2004), “L’héritage chrétien de l’Europe Occidentale: qu’en ont fait les nouvelles générations?”. Social Compass, vol. 51, nº 2: 203-219.
  • CABRAL, Manuel V. (2001), “Prática religiosa e atitudes sociais dos portugueses numa perspectiva comparada”. In: J. M. Pais; M. V. Cabral; J. Vala (org.). Religião e Bioética Lisboa: ICS.
  • CAMPICHE, Roland J. et al. (1997), “Socialisation religieuse et reproduction familiale de l’identité religieuse”. In: R. J. Campiche (dir.). Cultures jeunes et religions en Europe Paris: Cerf.
  • COUTINHO, José P. (2011), Modernidade, religiosidade e universidade Lisboa: Tese de Doutoramento em Sociologia, ISCTE-IUL.
  • COUTINHO, José P. (2015), “Clusters of religiosity of Portuguese population”. Análise Social, vol. L, nº 216: 604-631.
  • COUTINHO, José P. (2016), “Religiosity in Europe: an index, factors, and clusters of religiosity”. Sociologia, Problemas e Práticas, vol. 81: 163-188.
  • COUTINHO, José P. (2018a), “Campo religioso português. Análise externa e interna”. Revista Eclesiástica Brasileira, vol. 78, nº 309: 236-266.
  • COUTINHO, José P. (2018b), “História religiosa de Portugal e teorias da secularização: da primeira dinastia à actualidade”. Revista Brasileira de História das Religiões, vol. XI, nº 31: 143-166.
  • COUTINHO, José P. (2019), “Religiosidade em Portugal: perspectiva de longo prazo”. Revista Brasileira de História das Religiões , vol. XII, nº 35: 137-158.
  • DIRECÇÃO GERAL DA ESTATÍSTICA E DOS PRÓPRIOS NACIONAES (DGEPN). (1905), Censo da população do Reino de Portugal no 1º de Dezembro de 1900 (Quarto Recenseamento Geral da População) Vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional.
  • DIX, Steffen. (2010), “As esferas seculares e religiosas na sociedade portuguesa”. Análise Social , vol. XLV, nº 194: 5-27.
  • DIX, Steffen. (2013), “A visibilidade e a invisibilidade das pessoas «sem religião» na sociedade portuguesa. Didaskalia, vol. XLIII, nº 1/2: 57-80.
  • DOBBELAERE, Karel. (1999), “Towards an integrated perspective of the processes related to the descriptive concept of secularization”. Sociology of Religion , vol. 60, nº 3: 229-247.
  • DUQUE, Eduardo. (2007), Os jovens e a religião na sociedade actual Braga: IPJ.
  • DUQUE, Eduardo. (2014), Mudanças culturais, mudanças religiosas: perfis e tendências da religiosidade em Portugal numa perspectiva comparada Vila Nova de Famalicão: Húmus.
  • EUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). (2018), European Social Survey Cumulative File, ESS 1-4-8 Data file edition 1.0. NSD - Norwegian Centre for Research Data, Norway - Data Archive and distributor of ESS data for ESS ERIC. doi:10.21338/NSD-ESS-CUMULATIVE
    » doi:10.21338/NSD-ESS-CUMULATIVE
  • EUROPEAN VALUES STUDY (EVS). (2015), European Values Study Longitudinal Data File 1981-2008 (EVS 1981-2008) GESIS Data Archive, Cologne. ZA4804 Data file Version 3.0.0. doi:10.4232/1.12253.
    » doi:10.4232/1.12253.
  • FALCÃO, Manuel F. (1957), “Aspectos da situação moral e religiosa em Portugal”. In: Organismos Agrá rios da Acção Católica (org.). Semana de Estudos Rurais Fátima: Direcções Gerais de L.A.C. - L.A.C.F. - J.A.C. - J.A.C.F.
  • FERNANDES, António T. (1972), A religião na sociedade secularizada. Factores sociais na transformação da personalidade religiosa Porto: Livraria Civilização.
  • FERNANDES, António T. (2003), “Valores e atitudes religiosas”. In: J. Vala; M. V. Cabral; A. Ramos (org.). Valores sociais: mudanças e contrastes em Portugal e na Europa Lisboa: ICS .
  • FICHTER, Joseph H. (1951), Dynamics of a city church Chicago, IL: University of Chicago Press.
  • FRANÇA, Luís. (1981), Comportamento religioso da população portuguesa Lisboa: Moraes Editores/Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.
  • FURSETH, Inger; REPSTAD, Pal. (2007), An introduction to the sociology of religion. Classical and contemporary perspectives Aldershot: Ashgate.
  • GLOCK, Charles Y.; STARK, Rodney. (1969), Religion and society in tension Chicago, IL: Rand McNally & Co.
  • HAMBERG, Eva M. (2011), “Unchurched spirituality”. In: P. B. Clarke (ed.). The Oxford handbook of the sociology of religion Oxford: Oxford University Press.
  • HEELAS, Paul; WOODHEAD, Linda. (2005), The spiritual revolution: why religion is giving way to spirituality Oxford: Blackwell.
  • HERVIEU-LÉGER, Danièle. (1998), “The transmission and formation of socioreligious identities in modernity: an analytical essay on the trajectories of identification”. International Sociology, vol. 13, nº 2: 213-228.
  • HERVIEU-LÉGER, Danièle. (2005), O peregrino e o convertido: a religião em movimento Lisboa: Gradiva.
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (1963), X Recenseamento Geral da População Tomo II Lisboa: INE.
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (1984), XII Recenseamento Geral da População. II Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos Total do país Lisboa: INE .
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (1996), Censos 91: resultados definitivos: Portugal Lisboa: INE .
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (2002), Censos 2001: resultados definitivos: XIV Recenseamento Geral da População: IV Recenseamento Geral da Habitação - 1º Volume: Portugal Lisboa: INE .
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (2012), Censos 2011 XV Recenseamento Geral da População. V Recenseamento Geral da Habitação. Resultados definitivos Portugal Lisboa: INE .
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (2015), Retrato territorial de Portugal 2013 Lisboa: INE .
  • INGLEHART, Ronald; WELZEL, Christian. (2005), Modernization, cultural change, and democracy. The human development sequence New York: Cambridge University Press.
  • INTERNATIONAL SOCIAL SURVEY PROGRAMME (ISSP). (2011), ISSP Research Group. International Social Survey Programme: Religion I-III - ISSP 1991-1998-2008 GESIS Data Archive, Cologne. ZA5070 Data file Version 1.0.0. doi:10.4232/1.10860
    » doi:10.4232/1.10860
  • JAMES, William. (1902), The varieties of religious experience: a study in human nature London: Longmans, Green and Co.
  • LAGES, Mário. (2000), “A religiosidade popular na segunda metade do século XX”. In: M. B. Cruz; N. C. Guedes (coord.). A Igreja e a cultura contemporânea em Portugal . Lisboa: UCP .
  • LOPES, Policarpo. (2010), Para uma sociologia do catolicismo Lisboa: Rei dos Livros.
  • MATTOSO, José. (2001), “Paróquia”. In: C. M. Azevedo (dir.). Dicionário de história religiosa de Portugal Lisboa: Círculo de Leitores
  • MENÉNDEZ, Millán A. (2007), “Religiosidade e valores em Portugal: comparação com a Espanha e a Europa católica”. Análise Social , vol. XLII, nº 184: 757-787.
  • MONTEIRO, Teresa L. (2012), “Dinâmica social e religião”. In: A. Teixeira (org.). Identidades religiosas em Portugal: ensaio interdisciplinar Lisboa: Paulinas.
  • NORRIS, Pippa; INGLEHART, Ronald. (2004), Sacred and secular: religion and politics worldwide Cambridge: Cambridge University Press.
  • OKAGAKI, Lynn; HAMMOND, Kimberly; SEAMON, Laura. (1999), “Socialization of religious beliefs”. Journal of Applied Developmental Psychology, vol. 20, nº 2: 273-294.
  • PIRES, Maria L.; ANTUNES, Marinho. (1998), “Vida religiosa”. In: J. M. Pais (coord.). Gerações e valores na sociedade portuguesa contemporânea Lisboa: ICS /SEJ.
  • ROUSSOU, Eugenia. (2015), “From socialization to individualization: a new challenge for Portuguese religiosity”. Italian Journal of Sociology of Education, vol. 7, nº 3: 89-112.
  • SAROGLOU, Vassilis. (2006), “Religious bricolage as a psychological reality: limits, structures and dynamics”. Social Compass , vol. 53, nº 1: 109-115.
  • SECRETARIA STATUS: RATIONARIUM GENERALE ECCLESIAE (SSRGE). (1978), Annuarium Statisticum Ecclesiae 1976 Vaticano: Typis Polyglottis Vaticanis.
  • SECRETARIA STATUS: RATIONARIUM GENERALE ECCLESIAE (SSRGE). (1998), Annuarium Statisticum Ecclesiae 1996 Vaticano: Libreria Editrice Vaticana.
  • SECRETARIA STATUS: RATIONARIUM GENERALE ECCLESIAE (SSRGE). (2018), Annuarium Statisticum Ecclesiae 2016 Vaticano: Libreria Editrice Vaticana .
  • SILVA, Augusto. (1979), “Prática religiosa dos católicos portugueses”. Economia e Sociologia, vol. 25/26: 61-198.
  • SIMMEL, Georg. (1906), Die religion Frankfurt: Rütten & Loening.
  • TEIXEIRA, Alfredo. (2012a), “Catolicismo: entre o território e a rede”. In: A. Teixeira (org.). Identidades religiosas em Portugal: ensaio interdisciplinar . Lisboa: Paulinas .
  • TEIXEIRA, Alfredo (org.). (2012b), Identidades religiosas em Portugal: representações, valores e práticas - 2011 Resumo do relatório apresentado na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa. Fátima.
  • TEIXEIRA, Alfredo. (2013), “A eclesiosfera católica: pertença diferenciada”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 115-205.
  • TÖNNIES, Ferdinand. (1887), Gemeinschaft und Gesellschaft Leipzig: Fues’s Verlag.
  • TROELTSCH, Ernst. (1912), Die Soziallehren der christlichen Kirchen und Gruppen Tübingen: Verlag von J. C. B. Mohr (Paul Siebeck).
  • VAN GENNEP, Arnald. (2004), The rites of passage London/Henley: Routledge/Kegan Paul.
  • VILAÇA, Helena. (2001), “Identidades, práticas e crenças religiosas”. In: J. M. Pais; M. V. Cabral; J. Vala (org.). Religião e Bioética Lisboa: ICS .
  • VILAÇA, Helena. (2013), “Novas paisagens religiosas em Portugal: do centro às margens”. Didaskalia , vol. XLIII, nº 1/2: 81-114.
  • VILAÇA, Helena. (2016), “Territorialidades religiosas em Portugal”. Mediações, vol. 21, nº 2: 197-217.
  • WEBER, Max. (1921-1922), Wirtschaft und Gesellschaft Tübingen: Verlag von J. C. B. Mohr (Paul Siebeck) .
  • EUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). “Métodos”. European Social Survey Disponível em: Disponível em: https://www.europeansocialsurvey.org/about/country/portugal/methods.html Acesso em: 24/10/2019.
    » https://www.europeansocialsurvey.org/about/country/portugal/methods.html
  • EUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). “Methodological Data”. European Social Survey . Disponível em: Disponível em: https://www.europeansocialsurvey.org/data/methodological_data.html Acesso em: 24/10/2019.
    » https://www.europeansocialsurvey.org/data/methodological_data.html
  • EUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). (2014), “Weighting European Social Survey data”. European Social Survey . Disponível em Disponível em https://www.europeansocialsurvey.org/methodology/ess_methodology/data_processing_archiving/weighting.html Acesso em: 06/10/2019.
    » https://www.europeansocialsurvey.org/methodology/ess_methodology/data_processing_archiving/weighting.html
  • EUROPEAN VALUES STUDY (EVS). “EVS Methodology”. European Values Study Disponível em: Disponível em: https://europeanvaluesstudy.eu/methodology-data-documentation/evs-methodology/ Acesso em: 24/10/2019.
    » https://europeanvaluesstudy.eu/methodology-data-documentation/evs-methodology/
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). Instituto Nacional de Estatística Disponível em: Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE&xlang=pt Acesso em: 24/10/2019.
    » https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE&xlang=pt
  • INTERNATIONAL SOCIAL SURVEY PROGRAMME (ISSP). “Modules by topic”. International Social Survey Programme Disponível em: Disponível em: http://w.issp.org/data-download/by-topic/ Acesso em: 24/10/2019.
    » http://w.issp.org/data-download/by-topic/
  • PORDATA. Pordata Disponível em: Disponível em: https://www.pordata.pt/ Acesso em: 24/10/2019.
    » https://www.pordata.pt/
  • PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS. Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas Disponível em: Disponível em: http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/PRT Acesso em: 24/10/2019.
    » http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/PRT
  • 1
    O índice de desenvolvimento humano (IDH) passou de 0.711, em 1990, para 0.845, em 2016. Fonte: Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/PRTPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS. Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Disponível em: Disponível em: http://hdr.undp.org/en/countries/profiles/PRT . Acesso em: 24/10/2019.
    http://hdr.undp.org/en/countries/profile...
    . Acesso em: 24/10/2019.
  • 2
    Em 1990 e 2016, as taxas brutas de escolarização para o ensino secundário/ensino superior foram, respectivamente, 60.9%/20.2% e 114.7%/50.4%. Fonte: https://www.pordata.pt/PORDATA. Pordata. Disponível em: Disponível em: https://www.pordata.pt/ . Acesso em: 24/10/2019.
    https://www.pordata.pt/...
    . Acesso em: 24/10/2019.
  • 3
    Entre 1995 e 2016, o rendimento médio das famílias passou de 19.837€ para 31.246€. Fonte: https://www.pordata.pt/. Acesso em: 24/10/2019.
  • 4
    A população rural passou de 84.2%, em 1900 (DGEPN 1905DIRECÇÃO GERAL DA ESTATÍSTICA E DOS PRÓPRIOS NACIONAES (DGEPN). (1905), Censo da população do Reino de Portugal no 1º de Dezembro de 1900 (Quarto Recenseamento Geral da População). Vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional. :2, 30), para 13%, em 2011 (INE 2015INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (2015), Retrato territorial de Portugal 2013. Lisboa: INE . :55).
  • 5
    A amostra do inquérito nacional compunha-se de 79.5% de católicos, 9.6% de não crentes e 4.6% de crentes sem religião (Teixeira 2013:120), sendo a sua distribuição no tipo urbano igual a 26.7%, 53% e 56.8%, respectivamente, e no tipo rural igual a 44.1%, 17.4% e 25%, respectivamente (Teixeira 2013:132).
  • 6
    Índice de concentração da população residente em cidades: Norte (39.6%), Centro (38.5%), Área Metropolitana de Lisboa (39.7%). Fonte: INE, base de dados, dados de 2018. Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE&xlang=ptINSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). Instituto Nacional de Estatística. Disponível em: Disponível em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE&xlang=pt . Acesso em: 24/10/2019.
    https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=i...
    . Acesso em: 24/10/2019.
  • 7
    Norte/Centro/Lisboa e Vale do Tejo (%): católicos (89.5/87.5/68.1), não crentes (5.0/6.7/16.1), crentes sem religião (2.8/2.9/6.1) (Teixeira 2013:130).
  • 8
    Meio urbano/meio rural (%): protestantes e evangélicos (52.7/8.8), outros cristãos (57.7/5.8), Testemunhas de Jeová (40.8/24.5), outras religiões (55.6/18.5) (Teixeira 2013:132).
  • 9
    As pessoas sem religião e as minorias religiosas passaram de 1.7% e 0.4%, respectivamente, em 1960 (INE 1963INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA (INE). (1963), X Recenseamento Geral da População Tomo II. Lisboa: INE.:364), para 6.8% e 3.9%, respectivamente, em 2011 (INE 2012: 530).
  • 10
    Hervieu-Léger menciona ainda um terceiro tipo, o convertido. De facto, só se usou os tipos praticante e peregrino, pois nestas bases de dados não existem indicadores suficientes para o tipo convertido. Aliás, só existe no EVS um indicador que poderia ser utilizado: pertença religiosa a outra denominação no passado com outra pertença agora. Além disso, provavelmente, este tipo será mais bem estudado com análises qualitativas, pois implicam análises de histórias de vida, mais bem esmiuçadas com essas abordagens em profundidade. Desta forma, optou-se por não estender a discussão teórica sobre esse tipo, por estar ausente da análise empírica, além de que o artigo tem limite de palavras.
  • 11
    O ESS é um programa de pesquisa europeu, com sede na Universidade de Londres, que se realiza de dois em dois anos, sendo o primeiro em 2002 e o último em 2018, em que participaram trinta países europeus. O ESS mede atitudes, crenças e comportamentos dos europeus sobre política, bem-estar subjectivo, exclusão social, religião, discriminação percepcionada, identidade nacional e étnica, valores humanos, uso e confiança nos meios de comunicação social, para além de muitos indicadores sociodemográficos. Amostragem para Portugal: aleatória estratificada da população com 15 ou mais anos residente em Portugal continental. Dimensão amostral/recolha de dados: 1.511/26-09-2002 - 20-01-2003 (2002); 2.367/09-10-2008 - 08-03-2009 (2008); 1.270/20-10-2016 - 15-06-2017 (2016). Disponível em: https://www.europeansocialsurvey.org/about/country/portugal/methods.htmlEUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). “Métodos”. European Social Survey. Disponível em: Disponível em: https://www.europeansocialsurvey.org/about/country/portugal/methods.html . Acesso em: 24/10/2019.
    https://www.europeansocialsurvey.org/abo...
    .
  • 12
    https://www.europeansocialsurvey.org/data/methodological_data.htmlEUROPEAN SOCIAL SURVEY (ESS). “Methodological Data”. European Social Survey . Disponível em: Disponível em: https://www.europeansocialsurvey.org/data/methodological_data.html . Acesso em: 24/10/2019.
    https://www.europeansocialsurvey.org/dat...
    . Acesso em: 24/10/2019. O EVS é um programa de pesquisa europeu, com sede na Universidade de Tilburg, que se realiza de nove em nove anos, sendo o primeiro em 1981 e o último em 2017, em que participaram 44 países (incluindo três da Ásia Ocidental, havendo outros países que ainda não têm dados disponíveis, como Portugal). O EVS mede ideias, crenças, preferências, atitudes, valores e opiniões dos europeus sobre a vida, família, trabalho, religião, política e sociedade, para além de muitos indicadores sociodemográficos. Amostragem para Portugal: não aleatória por quotas (1990) ou aleatória estratificada (1999/2008) da população com 18 ou mais anos residente em Portugal continental. Dimensão amostral/recolha de dados: 1.185/11-05-1990 - 13-07-1990 (1990); 1.000/01-10-1999 - 31-12-1999 (1999); 1.553/26-05-2008 - 31-08-2008 (2008). Disponível em: https://europeanvaluesstudy.eu/methodology-data-documentation/evs-methodology/EUROPEAN VALUES STUDY (EVS). “EVS Methodology”. European Values Study. Disponível em: Disponível em: https://europeanvaluesstudy.eu/methodology-data-documentation/evs-methodology/ . Acesso em: 24/10/2019.
    https://europeanvaluesstudy.eu/methodolo...
    . Acesso em: 24/10/2019.
  • 13
    O ISSP é um programa de pesquisa internacional, com sede em Mannheim, no GESIS, que se realiza anualmente desde 1985. No último inquérito disponível (2017), participaram trinta países, sendo dezessete europeus. Todos os anos o tema difere, havendo até agora os temas seguintes: papel do governo, relações sociais, desigualdade social, família e papéis de género em mudança, trabalho, religião, ambiente, identidade nacional, cidadania, lazer e desporto, saúde e cuidados de saúde, para além de muitos indicadores sociodemográficos em cada inquérito. Sobre religião houve três rondas (1991, 1998 e 2008), sendo a próxima em 2018, embora indisponível ainda. Amostragem para Portugal: aleatória estratificada da população com 18 ou mais anos residente em Portugal continental. Dimensão amostral/recolha de dados: 1.201/Abril de 1999 (1998); 1.000/Junho a Novembro de 2009 (2008). Disponível em: http://w.issp.org/data-download/by-topic/INTERNATIONAL SOCIAL SURVEY PROGRAMME (ISSP). “Modules by topic”. International Social Survey Programme. Disponível em: Disponível em: http://w.issp.org/data-download/by-topic/ . Acesso em: 24/10/2019.
    http://w.issp.org/data-download/by-topic...
    . Acesso em: 24/10/2019.
  • 14
    Para simplificar, menciona-se somente a referência da pergunta do questionário de Portugal da última ronda e as categorias como estão nele referidas.
  • 15
    Como escala tipo Likert, foram considerados somente os indicadores cujas categorias de resposta se apresentam numa escala simétrica bem definida em número par ou ímpar. Pelo rigor analítico, quando as categorias não são completamente simétricas, consideraram-se esses indicadores como ordinais.
  • 16
    Recusa na resposta, não sabe, não responde, não se aplica, pergunta não realizada, outras.
  • 17
    Consideram-se países católicos quando a percentagem de católicos nas pessoas com religião é claramente superior a 50% na última ronda de cada base de dados. Para além de Portugal, no EVS, consideraram-se quinze países: Áustria, Bélgica, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, França, Hungria, Irlanda, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia e República Checa. No ESS, não há dados para quatro países (Croácia, Eslováquia, Luxemburgo, Malta), enquanto, no ISSP, não há dados para três países (Lituânia, Luxemburgo, Malta). No indicador “rejeição da homossexualidade” (EVS), não há dados para Itália.
  • 18
    A caracterização dos dados refere-se à última ronda.
  • 19
    Para aferir os países com valores maiores e menores, consideraram-se, para os indicadores percentuais, os 10% abaixo do valor maior e 10% acima do valor menor, respectivamente; para a crença no céu do ISSP, 0.3 abaixo do valor maior e 0.3 acima do valor menor, respectivamente; para os indicadores da dimensão norma do EVS, 0.9 abaixo do valor maior e 0.9 acima do valor menor, respectivamente.
  • 20
    Nos países com maior pertença católica, encontram-se Croácia, Irlanda, Itália, Lituânia, Malta, Polónia e/ou Portugal. Porém, esta dominância é somente consistente para a Polónia, porque é a única com valores maiores nas três bases, apesar de a Croácia não aparecer no ESS, da Lituânia não estar no ISSP, e de Malta só se encontrar no EVS. Pelo contrário, nos países com menor pertença católica, o único país que se evidencia é a República Checa, tendo os valores menores nas três bases, significativamente abaixo dos restantes. Nos países com maior confiança nas igrejas, encontram-se Itália, Lituânia, Malta, Polónia e/ou Portugal, enquanto, nos países com menor confiança, está a República Checa, para além da Bélgica e da França no ISSP.
  • 21
    Nas crenças cristãs, Irlanda, Malta e/ou Polónia apresentam os valores maiores, enquanto República Checa apresenta os valores menores em todos os indicadores, a que se juntam Bélgica, Eslovénia, França e Luxemburgo num indicador. Nas crenças não cristãs, Áustria e Eslovénia apresentam os valores maiores no primeiro indicador, enquanto Polónia tem o valor menor. No segundo indicador, como o valor máximo é baixo, não há grandes diferenças a assinalar.
  • 22
    Na frequência, os valores maiores são de Irlanda, Malta e/ou Polónia, enquanto os valores menores são dos restantes países, excepto Croácia, Eslováquia, Itália e Portugal. Na oração, os valores maiores são dos três países referidos a que acresce Croácia, Itália e Portugal, enquanto os valores menores são da República Checa e/ou França. Nesta variável, tanto a Polónia como a República Checa estão presentes nas três bases.
  • 23
    Na homossexualidade, os valores maiores são da Croácia, Hungria, Itália, Lituânia e/ou Polónia, enquanto os valores menores são de Áustria, Bélgica, Espanha, França e Luxemburgo. No aborto, o valor maior é de Malta, enquanto os valores menores são de Eslovénia, França e República Checa.
  • 24
    O estudo de Duque (2014) não foi analisado, por empregar também o EVS 1990/2008, oferecendo, assim, resultados semelhantes para indicadores iguais.

25

  • 25
    Entre 1976 e 2016 (para mil católicos), os baptismos (0-7 anos) e os matrimónios passaram de 20.2 para 5.6 e de 9.5 para 1.7, respectivamente, enquanto, entre 1996 e 2016 (para mil católicos), as primeiras comunhões e as confirmações passaram de 8.9 para 5.9 e de 6.4 para 3.8, respectivamente (SSRGE 1978SECRETARIA STATUS: RATIONARIUM GENERALE ECCLESIAE (SSRGE). (1978), Annuarium Statisticum Ecclesiae 1976. Vaticano: Typis Polyglottis Vaticanis.:182, 1998SECRETARIA STATUS: RATIONARIUM GENERALE ECCLESIAE (SSRGE). (1998), Annuarium Statisticum Ecclesiae 1996. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana.:331, 2018SECRETARIA STATUS: RATIONARIUM GENERALE ECCLESIAE (SSRGE). (2018), Annuarium Statisticum Ecclesiae 2016. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana .:335, 344). Em todos os indicadores, a tendência é continuamente decrescente, considerando a confirmação a cada dez anos.
  • 26
    Separação ou pré-liminar (e.g. enterro), transição ou liminar (e.g. nascimento), incorporação ou pós-liminar (e.g. casamento).
  • 27
    Ritos de protecção e adivinhação no nascimento, ritos de fertilidade no casamento e ritos de defesa no enterro.
  • 28
    Nos indicadores do tipo peregrino, dos países europeus católicos com valores maiores, destacam-se Áustria (5), Irlanda (5), Portugal (5), Eslovénia (4) e Itália (4, embora tenha 3 nos valores menores), e dos países com valores menores, destacam-se República Checa (7) e Bélgica (4). Lituânia, Luxemburgo e Malta só aparecem em três indicadores: Lituânia tem dois indicadores nos valores maiores, enquanto Malta tem dois indicadores nos valores menores (embora um valor maior também). Para aferir os países com valores maiores e menores, consideraram-se, para os indicadores percentuais (segundo e oitavo), os 10% abaixo do valor maior e 10% acima do valor menor, respectivamente; para o primeiro, quarto, quinto e sexto indicadores, 0.3 abaixo do valor maior e 0.3 acima do valor menor, respectivamente; para o terceiro indicador, 0.9 abaixo do valor maior e 0.9 acima do valor menor, respectivamente; para o sétimo indicador, 0.4 abaixo do valor maior e 0.4 acima do valor menor, respectivamente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2020
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    25 Maio 2018
  • Aceito
    31 Ago 2019
Instituto de Estudos da Religião ISER - Av. Presidente Vargas, 502 / 16º andar – Centro., CEP 20071-000 Rio de Janeiro / RJ, Tel: (21) 2558-3764 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: religiaoesociedade@iser.org.br