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Schizophrenic autism: clinical phenomenology and pathogenetic implications

RESENHA

Schizophrenic autism: clinical phenomenology and pathogenetic implications

Comentado por: Tatiana Guz

Colaboradora do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica nos Distúrbios do Espectro Autístico do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Tatiana Guz R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária São Paulo – SP, CEP 05360-160 E-mail: tatianaguz@uol.com.br

Esse trabalho pretende resumir e comentar o estudo que aborda questões relacionadas às implicações da fenomenologia clínica e patogenética da esquizofrenia.

Os autores têm como propósito tratar de uma perspectiva empírica fenomenologicamente informada, traçando as características clínicas essenciais das desordens do espectro da esquizofrenia a fim de que essas possam ter potencial utilidade para a pesquisa patogenética e a práxis clínica.

O artigo inicia abordando os limites conceituais e fenotípicos da esquizofrenia que ainda são obscuros e continuam a provocar intensas controvérsias.

Os autores afirmam que as recentes tentativas mundiais para estabelecer programas de detecção e intervenção terapêutica precoces em esquizofrenia revelaram uma lacuna na operacionalização da psicopatologia contemporânea, isto é, houve por décadas uma simplificação de descrições psicopatológicas da esquizofrenia e isso vem ressoando na dificuldade de um diagnóstico precoce.

Afirmam ainda que um componente crucial e primário da validade diagnóstica é exatamente oferecer um conceito ou exemplo específico do que é uma determinada desordem. Esse é um aspecto notadamente ausente nos debates nosológicos contemporâneos.

O artigo nos remete aos autores clássicos que a partir de um censo diagnóstico comum, realizavam o diagnóstico sob a luz da Gestalt.

Os autores propõem uma revisão histórica, citando o importante trabalho realizado por Eugene Bleuler, em 1911, que fez a primeira tentativa de capturar a essência clínica da esquizofrenia descrevendo as características fenomenológicas comuns a esse espectro. Os autores ressaltam o uso do termo autismo para denominar essa essência.

Bleuler descreveu uma rica variedade de manifestações clínicas e denominou-as de autismo. Porém, embora ele tenha tido uma profunda intuição clínica dos fenômenos das características esquizofrênicas, os recursos conceituais a sua disposição não permitiram uma articulação clara desta intuição e de sua ainda limitada pragmática.

Os autores ressaltam, ainda historicamente, o trabalho de Eugène Minkowski, que introduziu Bleuler para o público francês. Ele tratou o autismo em detalhe em "La Schizophrénie", introduzindo a perspectiva de que todo o estado mental anômalo é uma expressão condensada da experiência mais básica das alterações existenciais, incluindo, por exemplo, mudanças transitórias ou alterações relacionais elementares com o mundo.

O artigo segue investigando o fenômeno autístico na esquizofrenia na visão contemporânea.

Os autores oferecem a perspectiva de que várias dimensões de subjetividade parecem ser afetadas no fenômeno do autismo. Sendo esse uma perturbação de intencionalidade, uma perturbação no self (uma instável perspectiva da primeira pessoa e alterações nas experiências pessoais), e finalmente na dimensão da inter-subjetividade.

Baseados em autores como Blankenburg, que descreve uma caracterização de autismo como sendo uma "crise da sensação comum" ou uma "perda de evidência natural", seguem ilustrando o artigo com trechos de depoimentos pessoais de acientes que descrevem suas dificuldades de relacionar-se com o mundo.

Deve ficar claro que as características autistícas chamadas de "sintomas negativos" na esquizofrenia, que foram até agora descritas, não podem estar apenas compreendidas como faltas mecânicas ou evidencias de queda funcional.

A formação progressiva da vulnerabilidade e transição à psicose não precisam ser vistas como processos neurais cumulativos levando a diversas deficiências das funções neurocognitivas. Contrariamente, o autismo deve ser considerado como uma transformação fundamental das estruturas da subjetividade (em todas as suas três dimensões: subjetividade em relação a si mesmo [auto-conhecimento], em relação ao mundo [intencionalidade], e em relação aos outros [intersubjetividade]).

Ressaltam que o longo prazo da esquizofrenia é continuamente moldado por este nível fenomenológico no sentido que os sintomas psicóticos e residuais não são apenas erupções randômicas ou falhas de um mal funcionamento cerebral, mas refletem nas reorganizações da consciência.

Os autores concluem que, em termos de pesquisa, esse trabalho pode auxiliar a unificar e delimitar o conceito do espectro da esquizofrenia, e assim oferecer do fenômeno alvo uma exploração patogenética que pode nos aproximar dos pilares biológicos do diagnóstico.

O texto remete a interessantes reflexões acerca da fenomenologia e patogenética da esquizofrenia, aproxima e traz a tona similaridades entre os espectros autísticos e esquizofrênicos.

Similaridades essas observadas por Leo Kanner que, em 1945, introduz o termo autismo como uma entidade nosológica, baseado em descrições feitas sobre o autismo como fenômeno observado na esquizofrenia.

Essa proximidade de características entre os espectros esquizofrênico e autístico, traz para a Fonoaudiologia a necessidade de reflexão a respeito de sua prática junto à esquizofrenia, incluindo os distúrbios na comunicação presentes nesses quadros clínicos num processo dinâmico de organização psicopatológica.

  • Bleuler E. Dementia praecox oder gruppe der schizophrenien. In: Aschaffenburg G 9ed). Handbuch der Psychiatrie. Leipizig: Deuticke, 1911.
  • Minkowski E. La schizophrénie. Psychpatologie des schizoids et des schizophrènes. Paris. Payot, 1927.
  • Blankenburg W.der Velust der natürlichen Selbstverständlichkeit. Ein Beitrag zur Psychopatologie symptomarmer Schizophreinen. Stuttgard: Einke, 1971.
  • Endereço para correspondência:
    Tatiana Guz
    R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária
    São Paulo – SP, CEP 05360-160
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Abr 2008
    • Data do Fascículo
      Mar 2008
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