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Prevalência e fatores associados ao transporte ativo para a escola em adolescentes

RESUMO

OBJETIVO:

Verificar a prevalência e os fatores associados ao transporte ativo para a escola em adolescentes brasileiros de escolas públicas.

MÉTODOS:

Estudo transversal, com amostra representativa de 1.984 adolescentes (55,9% meninas). Os fatores sociodemográficos incluídos foram sexo, idade, escolaridade dos pais e nível socioeconômico. Os fatores psicossociais incluídos foram apoio social dos pais e dos amigos para a atividade física. Foi considerado transporte ativo o ato de caminhar, pedalar ou usar skate no deslocamento para a escola. Modelos de regressão logística binária verificaram a associação dos fatores sociodemográficos e psicossociais ao transporte ativo para a escola adotando p < 0,05.

RESULTADOS:

A prevalência de transporte ativo para a escola foi de 37,7% (16,2% meninos e 21,5% meninas). Para meninos, o apoio social dos pais ao praticar atividade física junto (RC = 1,57; IC95% 1,09–2,25), transportar para a atividade física (RC = 1,56; IC95% 1,04–2,32) e comentar que o adolescente faz a atividade física bem (RC = 1,73; IC95% 1,08–2,76), assim como o apoio dos amigos ao praticar junto (RC = 2,23; IC95% 1,35–3,69), foram associados ao transporte ativo. Para meninas, a idade (RC = 1,43; IC95% 1,06–1,92) e ter amigos que praticam atividade física junto (RC = 1,48; IC95% 1,04–2,10) aumentaram as chances de transporte ativo para a escola.

CONCLUSÃO:

A idade e o apoio social para a prática de atividade física foram associados ao transporte ativo para a escola. Pais que praticam junto, transportam e comentam sobre a atividade aumentaram as chances para adolescentes meninos. O apoio social dos amigos para a atividade física aumentou as chances para ambos os sexos.

DESCRITORES:
Adolescente; Caminhada; Atividade Motora; Fatores Socioeconômicos; Estudos Transversais

ABSTRACT

OBJECTIVE:

To verify the prevalence and factors associated with active transportation to school (ATS) among Brazilian adolescents attending public schools.

METHODS:

Crossectional study with a representative sample of 1,984 adolescents (55.9% girls). Sociodemographic variables included were: gender, age, parental schooling, and socioeconomic status. Psychosocial factors included were: social support from parents and friends for physical activity. Walking, cycling, or skateboarding to school were considered models of active transportation. Binary logistic regression models verified sociodemographic and psychosocial factors association with ATS, adopting p < 0.05.

RESULTS:

The prevalence of active transportation to school was 37.7% (16.2% boys and 21.5% girls). For boys, ATS was associated with: social support from parents in practicing physical activity together as a family (OR = 1.57; 95%CI 1.09–2.25), giving them rides (OR = 1.56; 95%CI 1.04–2.32), and remarking their good performance on it (OR = 1.73; CI95 1.08–2.76); as well as the social support from friends in practicing physical activity together (OR = 2.23; 95%CI 1.35–3.69). For girls, the likelihood of using ATS increased with age (OR = 1.43; 95%CI 1.06–1.92) and having friends who practice physical activity together with them (OR = 1.48, 95%CI 1.04–2.10).

CONCLUSION:

Age and social support for physical activity were associated with ATS. Parents who practice together, give rides, and remark on physical activities increase the likelihood of adolescent boys using ATS. Social support from friends to physical activity increased the likelihood of both genders using ATS.

DESCRIPTORS:
Adolescent; Walking; Motor Activity; Socioeconomic Factors; Cross-Sectional Studies

INTRODUÇÃO

O transporte ativo para a escola (TAE) é uma maneira eficaz de aumentar os níveis gerais de atividade física (AF) em adolescentes11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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. Adolescentes envolvidos com TAE, como caminhar e andar de bicicleta, acumulam mais AF e apresentam menores riscos cardiometabólicos como sobrepeso e obesidade, diabetes e síndrome metabólica22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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44. Pizarro AN, Schipperijn J, Andersem HB, Ribeiro JC, Mota J, Santos MP, et al. Active commuting to school in Portuguese adolescents: using PALMS to detect trips. J Transp Health. 2016;3(3):297-304. https://doi.org/10.1016/j.jth.2016.02.004
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. Apesar dos potenciais benefícios para a saúde, estudos relataram um declínio na proporção de crianças e adolescentes que usam TAE nas últimas décadas22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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44. Pizarro AN, Schipperijn J, Andersem HB, Ribeiro JC, Mota J, Santos MP, et al. Active commuting to school in Portuguese adolescents: using PALMS to detect trips. J Transp Health. 2016;3(3):297-304. https://doi.org/10.1016/j.jth.2016.02.004
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, podendo contribuir para um declínio global da AF. Diante disso, a promoção do TAE tornou-se um importante tema presente em iniciativas internacionais que visam aumentar o nível de AF na população33. Ramírez-Vélez R, García-Hermoso A, Agostinis-Sobrinho C, Mota J, Santos R, Correa-Bautista JE, et al. Cycling to school and body composition, physical fitness, and metabolic syndrome in children and adolescents. J. Pediatr. 2017;188:57-63. https://doi.org/10.1016/j.jpeds.2017.05.065
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66. Sallis JF, Bull F, Guthold R, Heath GW, Inoue S, Kelly P, et al. Progress in physical activity over the Olympic quadrennium. Lancet. 2016;388(10051):1325-36. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30581-5
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.

Modelos ecológicos afirmam que os comportamentos de saúde, como o transporte ativo, são influenciados por vários fatores em múltiplos níveis, incluindo fatores psicossociais e ambientais55. Bauman AE, Reis RS, Sallis JF, Wells JC, Loos RJF, Martin BW. Correlates of physical activity: why are some people physically active and others not? Lancet. 2012;380(9838):258-71. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60735-1
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,66. Sallis JF, Bull F, Guthold R, Heath GW, Inoue S, Kelly P, et al. Progress in physical activity over the Olympic quadrennium. Lancet. 2016;388(10051):1325-36. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30581-5
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. Além disso, esses fatores podem variar de acordo com o sexo, idade, escolaridade dos pais e nível socioeconômico55. Bauman AE, Reis RS, Sallis JF, Wells JC, Loos RJF, Martin BW. Correlates of physical activity: why are some people physically active and others not? Lancet. 2012;380(9838):258-71. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(12)60735-1
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,66. Sallis JF, Bull F, Guthold R, Heath GW, Inoue S, Kelly P, et al. Progress in physical activity over the Olympic quadrennium. Lancet. 2016;388(10051):1325-36. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30581-5
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. Como exemplo dessa influência, sabe-se que adolescentes que residem próximo à escola são mais propensos à adoção do TAE11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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,22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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; no entanto, mesmo para destinos mais próximos, os adolescentes mais velhos usam regularmente modos de transporte passivos, como carro e motocicleta11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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,22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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. Tais resultados indicam a necessidade de maiores esforços para o entendimento de fatores que podem influenciar o uso do TAE, visando aumentar esse tipo de deslocamento para a escola e para outros destinos11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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,22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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.

No Brasil, nos últimos anos, ocorreram tentativas de melhorar as características do ambiente urbano, podendo favorecer o uso de transporte ativo pela população, como a criação de ciclovias e ciclofaixas77. Kienteka M. A implantação de ciclofaixas e o padrão de uso de bicicleta em Curitiba-PR [tese]. Curitiba, PR: Universidade Federal do Paraná; 2017.. Iniciativas como essas têm impacto em médio e longo prazo, além de atingir um grande número de pessoas88. Perry CK, Garside H, Morones S, Hayman LL. Physical activity interventions for adolescents: an ecological perspective. J Prim Prev. 2012;33(2-3);111-35. https://doi.org/10.1007/s10935-012-0270-3
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. O entendimento da relação dos fatores sociodemográficos e psicossociais, em específico o apoio dos pais e amigos para prática da atividade física em seus diferentes contextos (lazer e transporte), pode fornecer informações de grande valia para as autoridades de saúde pública na implementação e promoção do TAE e, consequentemente, aumentar os níveis de AF. Diante disso, o objetivo deste estudo foi investigar a prevalência e os fatores associados ao transporte ativo para a escola em adolescentes brasileiros de escolas públicas.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo com delineamento transversal, realizado no ano de 2018, com amostra representativa de adolescentes de 15 a 17 anos de idade matriculados no ensino médio da rede estadual da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. O estudo seguiu as normas de pesquisa envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde (resolução nº 466/2012), sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Paraná (CAAE: 98133218.8.0000.0102) e autorizado pelos pais ou responsáveis dos adolescentes pela assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

De acordo com o Censo Escolar de 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), havia naquele ano 53.760 adolescentes no ensino médio, de ambos os sexos, com idades entre 15 e 17 anos, nas escolas estaduais da rede de ensino público da cidade. Para o cálculo amostral, foi utilizado o software G*Power. Foi considerada uma razão de prevalências (RP) de 1,49 entre o apoio social (AS) e a prática de atividades físicas99. Fermino RC, Rech CR, Hino AAF, Rodriguez Añez CR, Reis RS. Physical activity and associated factors in high school adolescents in Southern Brazil. Rev Saude Publica. 2010;44(6):986-95. https://doi.org/10.1590/s0034-89102010000600002
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, uma prevalência de transporte ativo de 50%22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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, um nível de confiança de 95% (α = 0,05) com um poder de 80% (β = 0,20) e um acréscimo de 30% para possíveis perdas e recusas, o que resultou em uma amostra necessária estimada de 965 meninos e 965 meninas, totalizando 1.930 adolescentes.

A amostragem partiu do processo de conglomerados, em três estágios. No primeiro, todas as escolas estaduais foram estratificadas de acordo com cada uma das nove regiões administrativas do município de Curitiba; no segundo, foi realizado um sorteio de duas escolas em cada uma das nove regiões administrativas; no terceiro, foi realizada uma seleção aleatória simples de uma turma de cada ano do ensino médio, de acordo com a quantidade de escolares necessária por sexo para determinada região administrativa do município. A seleção aleatória contemplou turmas do turno matutino e vespertino. Por fim, todos os alunos de cada turma foram convidados a participar do estudo.

No total foram convidados a participar do estudo 2.506 adolescentes. Os que não apresentaram o TCLE assinado pelos pais ou responsáveis (n = 100), que se negaram a participar do estudo ou que faltaram no dia da coleta (n = 56) não foram incluídos. Aqueles que informaram limitações físicas ou cognitivas que limitassem a prática de AF (n = 12) e que tinham 18 anos (n = 125) foram excluídos. Os que responderam aos questionários incorretamente (n = 229) foram considerados como perda amostral. Assim, a amostra analítica do estudo foi de 1.984 adolescentes. Análises de poder amostral realizadas a posteriori mostraram que essa amostra poderia identificar razões de prevalências estatisticamente significantes acima de RP = 1,28 como aumento do uso do transporte ativo para escola e abaixo de RP = 0,77 como menos propensos a utilizar transporte ativo para escola, considerando uma prevalência de 34% de adolescentes com baixo apoio social e que não realizam transporte ativo.

Sexo, Idade, Escolaridade e Nível Socioeconômico

O sexo foi autorreportado (masculino ou feminino) e a idade calculada a partir da data de nascimento informada pelo adolescente e classificada em 15, 16 ou 17 anos. A escolaridade dos pais e responsáveis, bem como o nível socioeconômico, foram avaliados conforme a classificação da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)1010. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica. São Paulo ABEP; 2018.. A escolaridade dos pais foi classificada em: até fundamental completo, ensino médio completo, ou ensino superior completo (foi perguntada a escolaridade do pai e da mãe e indicado quem era o chefe da família). O Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB)1010. Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica. São Paulo ABEP; 2018. categoriza os estratos econômicos em classes A, B1, B2, C1, C2 e D-E, tendo como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Para efeitos de análise, e com o objetivo de garantir comparabilidade com estudos semelhantes, o nível socioeconômico (NSE) foi classificado em três categorias: baixo (classes C+D+E), médio (classes B1+B2) ou alto (classes A1+A2).

Apoio Social de Pais e Amigos

O apoio social de pais e amigos para a prática de AF foi mensurado por uma escala de 10 itens, a escala Asafa, que apresenta consistência interna satisfatória (pais: α ≥ 0,77 e índice de fidedignidade combinada [IFC] ≥ 0,83; amigos: α ≥ 0,87 e IFC ≥ 0,91)1111. Farias Júnior JC, Mendonça G, Florindo AA, Barros MVG. Reliability and validity of a physical activity social support assessment scale in adolescents - ASAFA Scale. Rev Bras Epidemiol 2014;17(2):355-70. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400020006ENG
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. Os adolescentes informaram a frequência (nunca = 1, raramente = 2, frequentemente = 3, sempre = 4) com que os pais e amigos ofereciam algum tipo de apoio social para a prática de AF (incentivam, praticam, transportam, assistem, comentam, convidam) durante uma semana típica ou normal1111. Farias Júnior JC, Mendonça G, Florindo AA, Barros MVG. Reliability and validity of a physical activity social support assessment scale in adolescents - ASAFA Scale. Rev Bras Epidemiol 2014;17(2):355-70. https://doi.org/10.1590/1809-4503201400020006ENG
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, por meio das questões: “Com que frequência os seus pais: Incentivam você a praticar AF? Praticam AF com você? Transportam ou disponibilizam transporte para que você possa ir até o local onde pratica AF? Assistem você praticando AF? Comentam que você está praticando bem suas AF?” e “Com que frequência os seus amigos: Incentivam você a praticar AF? Praticam AF com você? Convidam você para praticar AF com eles? Assistem você praticando AF? Comentam que você está praticando bem suas AF?”

Para efeitos de análise, e com o objetivo de garantir comparabilidade com estudos semelhantes1212. Piola TS, Bacil EDA, Watanabe PI, Camargo EM, Fermino RC, Campos W. Sexual maturation, social support and physical activity in adolescents. Cuad Psicol Deporte. 2019;19(3):CPD3. https://doi.org/10.6018/cpd.347821
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,1313. Mendonça, Cheng LA, Melo EN, Farias Junior JC. Physical activity and social support in adolescents: a systematic review. Health Educ Res. 2014;29(5):822-39. https://doi.org/10.1093/her/cyu017
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, as opções de resposta “raramente” e “frequentemente” foram agrupadas e classificadas como “às vezes”. Assim, as categorias de frequência semanal de AS foram classificadas como nunca, às vezes ou sempre.

Transporte Ativo para a Escola

Foi avaliado o modo de transporte usado para ir e voltar da escola durante uma semana típica (caminhada, bicicleta, skate, ônibus, van ou carro). Todos os estudantes que relataram caminhar ou andar de bicicleta ou skate para ir e voltar da escola foram classificados como “ativos” e os demais como “passivos”. Essa questão mostrou confiabilidade teste-reteste adequada (coeficiente de correlação intraclasse 0,90–0,95; p < 0,05) e tem sido utilizada em estudos semelhantes1414. Wong BYM, Faulkner G, Buliung R. GIS measured environmental correlates of active school transport: a systematic review of 14 studies. Int J Behav Nutr Phys Act. 2011;8:39. https://doi.org/10.1186/1479-5868-8-39
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,1515. Becker LA, Fermino RC, Lima AV, Rech CR, Añez CR, Reis RS. Perceived barriers for active commuting to school among adolescents from Curitiba, Brasil. Rev Bras Ativ Fis Saude. 2017;22(1):24-34. https://doi.org/10.12820/rbafs.v.22n1p24-34
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.

Análise dos Dados

Para evitar viés relacionado ao processo de seleção amostral com característica complexa (estratificação por conglomerado), as análises de associação foram corrigidas pelo delineamento complexo, utilizando o comando complex sample do software SPSS versão 23.0. Tal procedimento foi utilizado para assegurar que as estimativas reflitam os dados populacionais das unidades elementares da amostra.

As prevalências foram descritas pela distribuição de frequência relativa e absoluta. O teste qui-quadrado de Pearson foi utilizado para comparar proporções entre os sexos, e em seguida foi utilizado um post hoc para demonstrar quais categorias apresentaram maior diferença. Foi utilizada a regressão logística binária de forma bruta e ajustada para verificar a associação dos fatores demográficos e apoio social de pais e amigos com o TAE. Pelo critério stepwise, foi adotado o valor de p ≤ 0,20 para entrada da variável no modelo ajustado. Todas as análises foram realizadas separadamente para cada sexo e foi adotado um nível de significância de 5%.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 1.984 adolescentes, sendo 55,9% do sexo feminino. Desses, somente 748 (37,7%) relataram utilizar transporte ativo para a escola em uma semana habitual, sendo 16,2% meninos e 21,5% meninas. Nas tabelas 1 e 2, os dados foram estratificados de acordo com o sexo.

Tabela 1
Idade, escolaridade dos pais e nível socioeconômico (NSE) dos adolescentes de acordo com o sexo (n = 1.984).
Tabela 2
Prevalência de apoio social de pais e amigos entre os adolescentes de acordo com o sexo (n = 1.984).

As associações dos fatores sociodemográficos e do apoio social com o TAE para meninos podem ser verificadas na Tabela 3. Com relação aos fatores sociodemográficos, nenhuma das variáveis sociodemográficas esteve associada com o TAE. Já quanto ao apoio social dos pais, os resultados apresentados na análise ajustada identificaram que meninos cujos pais incentivam a prática de AF foram menos propensos a realizar o transporte ativo (às vezes: razão de chances [RC] = 0,64; IC95% 0,42–0,96; sempre: RC = 0,58; IC95% 0,36–0,95). Por outro lado, meninos cujos pais às vezes praticam AF junto (RC = 1,57; IC95% 1,09–2,25) e que sempre oferecem transporte para a prática de AF (RC = 1,56; IC95% 1,04–2,32), assim como pais que sempre comentam que os filhos fazem bem a AF (RC = 1,73; IC95% 1,08–2,76) usaram mais o TAE.

Tabela 3
Associação bruta e ajustada dos fatores sociodemográficos e do apoio social de pais e amigos com o transporte ativo para a escola em meninos (n = 875).

Com relação ao apoio social dos amigos, meninos que indicaram ter amigos que sempre praticam AF apresentaram maiores chances de realizar o TAE (RC = 2,23; IC95% 1,35–3,69). Além disso, meninos que têm amigos que os assistem realizando AF foram menos propensos a realizar o TAE (às vezes: RC = 0,63; IC95% 0,42–0,95; sempre: RC = 0,45; IC95% 0,25–0,79).

A Tabela 4 apresenta as associações dos fatores sociodemográficos e apoio social com o TAE para meninas. Dentre as variáveis sociodemográficas avaliadas, apenas a idade apresentou-se significativa no modelo ajustado, indicando que meninas com 16 anos foram mais propensas a realizar o TAE (RC = 1,43; IC95% 1,06–1,92). Quanto às variáveis relacionadas ao apoio social para a AF, apenas as referentes ao AS proveniente dos amigos permaneceram associadas no modelo ajustado, indicando que meninas que têm amigos que às vezes praticam AF junto com elas possuem mais chances de realizar o TAE quando comparado com aquelas que nunca recebem esse tipo de apoio (RC = 1,48; IC95% 1,04–2,10). Em contrapartida, meninas que têm amigos que às vezes as convidam para praticar AF foram menos propensas a realizar o TAE (RC = 0,65; IC95% 0,46–0,93).

Tabela 4
Associação bruta e ajustada dos fatores sociodemográficos e do apoio social de pais e amigos com o transporte ativo para a escola em meninas (n = 1.109).

DISCUSSÃO

A adolescência apresenta-se como um importante momento para a consolidação dos hábitos de AF; de fato, a literatura vem demonstrando essa fase da vida como um período de declínio gradual do engajamento nos diversos domínios da AF1616. Dumith SC, Gigante DP, Domingues MR, Hallal PC, Menezes AMB, Kohl HW 3rd. A longitudinal evaluation of physical activity in Brazilian adolescents: tracking, change and predictors. Pediatr Exerc Sci. 2012;24(8):58-71. https://doi.org/10.1123/pes.24.1.58
https://doi.org/10.1123/pes.24.1.58...
,1717. Wiium N, Breivik K, Wold B. Growth trajectories of health behaviors from adolescence through young adulthood. Int J Environ Res Public Health. 2015;12(11):13711-29. https://doi.org/10.3390/ijerph121113711
https://doi.org/10.3390/ijerph121113711...
. Por esse motivo, este estudo buscou investigar adolescentes com idade entre 15 e 17 anos. O TAE é uma maneira eficaz de incorporar AF nas atividades diárias e aumentar os níveis gerais de AF11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
https://doi.org/10.1371/journal.pone.014...
,22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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de adolescentes, em especial na transição do final da adolescência para a idade adulta jovem, pois esse período é considerado crítico e associado à diminuição da AF1616. Dumith SC, Gigante DP, Domingues MR, Hallal PC, Menezes AMB, Kohl HW 3rd. A longitudinal evaluation of physical activity in Brazilian adolescents: tracking, change and predictors. Pediatr Exerc Sci. 2012;24(8):58-71. https://doi.org/10.1123/pes.24.1.58
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1818. Silva AAP, Camargo EM, Silva AT, Silva JSB, Hino AAF, Reis RS. Characterization of physical activities performed by adolescents from Curitiba, Brazil. Rev Bras Med Esporte. 2019;25(3):211-5. https://doi.org/10.1590/1517-869220192503188171
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. Mandic et al.1919. Mandic S, Leon de la Barra S, García Bengoechea E, Stevens E, Flaherty C, Moore A, et al. Personal, social and environmental correlates of active transport to school among adolescents in Otago, New Zealand. J Sci Med Sport. 2015;18(4):432-7. https://doi.org/10.1016/j.jsams.2014.06.012
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apontam que diversos fatores têm potencial de influenciar a decisão dos adolescentes para a adoção do TAE, classificando-os entre os de caráter pessoal, social e ambiental. O presente trabalho teve como objetivo verificar como características sociodemográficas (pessoais) e de apoio social à prática da AF (sociais) podem associar-se com a realização do TAE por adolescentes matriculados em escolas públicas de uma grande capital do sul do Brasil.

Com relação à prevalência do TAE nesta investigação, 37% dos adolescentes indicaram ter esse tipo de comportamento. Em recente revisão sistemática sobre o TAE em adolescentes brasileiros, os autores identificaram uma grande variabilidade nas prevalências, mais especificamente de 34,3% a 75,7%, dependendo do estudo avaliado22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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. Contudo, boa parte dos trabalhos incluídos nessa revisão apresentaram prevalências superiores à encontrada na presente investigação. Por outro lado, é importante ressaltar que somente com dois estudos incluídos nessa revisão envolvendo amostragem nacional apresentavam dados de adolescentes da cidade de Curitiba22. Ferrari GLM, Victo ER, Ferrari TK, Solé D. Active transportation to school for children and adolescents from Brazil: a systematic review. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2018;20(4):406-14. https://doi.org/10.5007/1980-0037.2018v20n4p406
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.

Em relação ao sexo, o presente estudo mostrou que 21,5% do TAE é realizado por meninas. Outros estudos11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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44. Pizarro AN, Schipperijn J, Andersem HB, Ribeiro JC, Mota J, Santos MP, et al. Active commuting to school in Portuguese adolescents: using PALMS to detect trips. J Transp Health. 2016;3(3):297-304. https://doi.org/10.1016/j.jth.2016.02.004
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também encontraram uma maior prevalência de meninas no contexto do transporte, porém é preciso ter cautela na interpretação desses resultados, uma vez que os estudos não são unânimes. Entretanto, uma vez que no contexto do lazer os níveis de AF de meninas são inferiores a seus pares1818. Silva AAP, Camargo EM, Silva AT, Silva JSB, Hino AAF, Reis RS. Characterization of physical activities performed by adolescents from Curitiba, Brazil. Rev Bras Med Esporte. 2019;25(3):211-5. https://doi.org/10.1590/1517-869220192503188171
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, o transporte pode ser uma forma de promover AF no sexo feminino. Contudo, mais pesquisas que investiguem a prevalência do TAE considerando o sexo são necessárias. Ademais, deve-se levar em consideração que este trabalho considera o TAE no ir e vir da escola, enquanto outros consideram o TAE apenas para uma direção. A validação de instrumentos sobre transporte ativo para populações específicas poderia contribuir na padronização das medidas.

Fatores sociodemográficos têm sido considerados como possíveis influenciadores do TAE em adolescentes1919. Mandic S, Leon de la Barra S, García Bengoechea E, Stevens E, Flaherty C, Moore A, et al. Personal, social and environmental correlates of active transport to school among adolescents in Otago, New Zealand. J Sci Med Sport. 2015;18(4):432-7. https://doi.org/10.1016/j.jsams.2014.06.012
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. Nesta investigação, esses fatores apresentaram-se associados ao TAE apenas para as meninas; mais especificamente, a idade de 16 anos foi um importante preditor da realização do TAE para elas – o que pode ser influenciado pelo fato de as meninas mais velhas serem mais autônomas do que as mais novas. A possibilidade de meninas maximizarem o nível de AF com o domínio transporte pode ser tema de estudo em futuras investigações. Alguns trabalhos mostram que, mesmo para destinos mais próximos, os adolescentes mais velhos (tanto meninos quanto meninas) usam regularmente modos de transporte passivos, como carro e motocicleta11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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,2020. Silva KS, Pizarro AN, Garcia LMT, Mota J, Santos MP. Which social support and psychological factors are associated to active commuting to school? Prev Med. 2014;63:20-3. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2014.02.019
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. Tais resultados indicam a necessidade de maiores esforços para o entendimento de fatores que podem influenciar o uso de TAE em adolescentes mais velhos, visando aumentar esse tipo de deslocamento para a escola e para outros destinos11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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,2020. Silva KS, Pizarro AN, Garcia LMT, Mota J, Santos MP. Which social support and psychological factors are associated to active commuting to school? Prev Med. 2014;63:20-3. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2014.02.019
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.

Por outro lado, fatores sociodemográficos como a escolaridade dos pais e o nível socioeconômico, que são apresentados como importantes preditores dos diferentes contextos da AF (transporte e lazer)1616. Dumith SC, Gigante DP, Domingues MR, Hallal PC, Menezes AMB, Kohl HW 3rd. A longitudinal evaluation of physical activity in Brazilian adolescents: tracking, change and predictors. Pediatr Exerc Sci. 2012;24(8):58-71. https://doi.org/10.1123/pes.24.1.58
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,2020. Silva KS, Pizarro AN, Garcia LMT, Mota J, Santos MP. Which social support and psychological factors are associated to active commuting to school? Prev Med. 2014;63:20-3. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2014.02.019
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,2121. Farias Junior JC, Reis RS, Hallal PC. Physical activity, psychosocial and perceived environmental factors in adolescents from Northeast Brasil. Cad Saude Publica. 2014;30(5):941-51. https://doi.org/10.1590/0102-311X00010813
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, não estiveram associados ao TAE neste estudo em nenhum dos sexos. As razões para a ocorrência desses resultados não são claras, mas é possível que a escolaridade dos pais e o nível socioeconômico mais elevado considerem outras barreiras para o TAE, tais como os horários ou a percepção de segurança11. Verhoeven H, Simons D, Van Dyck D, Van Cauwenberg J, Clarys P, De Bourdeaudhuij I, et al. Psychosocial and environmental correlates of walking, cycling, public transport and passive transport to various destinations in Flemish older adolescents. PLoS One. 2016;11(1):e0147128. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0147128
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33. Ramírez-Vélez R, García-Hermoso A, Agostinis-Sobrinho C, Mota J, Santos R, Correa-Bautista JE, et al. Cycling to school and body composition, physical fitness, and metabolic syndrome in children and adolescents. J. Pediatr. 2017;188:57-63. https://doi.org/10.1016/j.jpeds.2017.05.065
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, independentemente do suporte para a prática de AF em outros contextos.

O apoio social apresenta-se associado com o maior engajamento de adolescentes com a AF em seus diferentes domínios2020. Silva KS, Pizarro AN, Garcia LMT, Mota J, Santos MP. Which social support and psychological factors are associated to active commuting to school? Prev Med. 2014;63:20-3. https://doi.org/10.1016/j.ypmed.2014.02.019
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. A literatura indica que, quando pais e amigos fornecem maior apoio, os adolescentes (meninos e meninas) passam a referir maiores níveis de AF1313. Mendonça, Cheng LA, Melo EN, Farias Junior JC. Physical activity and social support in adolescents: a systematic review. Health Educ Res. 2014;29(5):822-39. https://doi.org/10.1093/her/cyu017
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. O presente estudo verificou que, para os meninos, ter pais que praticam AF junto com eles, que fornecem transporte para a AF e que comentam que eles estão fazendo bem a atividade foram importantes favorecedores do TAE. Adicionalmente, meninos que tinham amigos que praticavam AF com eles apresentaram duas vezes mais chances de realizar TAE.

Já para as meninas, ter amigos que praticam AF com elas associou-se ao TAE. Alguns estudos mencionam que para meninas a principal barreira para a prática de AF no lazer é a falta de companhia2222. Rech CR, Camargo EM, Araujo PAB, Loch MR, Reis RS. Perceived barriers to leisure-time physical activity in the Brazilian population. Rev Bras Med Esporte. 2018;24(4):303-9. https://doi.org/10.1590/1517-869220182404175052
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. Isso sugere que ter amigos que as convidam pode aumentar as chances de as meninas serem ativas nos diferentes contextos da AF (lazer e transporte). O presente estudo colabora com essa linha ao investigar o contexto do transporte.

Curiosamente, meninos com pais que incentivam e amigos que assistem à prática de AF e meninas com amigos que as convidam para a prática de AF foram menos propensos à realização do TAE. Este estudo não apresenta explicações plausíveis para essas associações, mas reforça a necessidade de uma investigação mais detalhada sobre como cada característica de apoio social pode impactar diferentes tipos de prática de AF nesses adolescentes, possivelmente incluindo uma interação entre metodologias de investigações quantitativas e qualitativas. Em síntese, as associações referentes ao apoio social de amigos ocorreram em ambos os sexos, diferentemente do apoio social dos pais, que esteve associado somente no sexo masculino. É possível que esses dados sejam resultados de uma maior influência dos pais para filhos do sexo masculino quando o assunto é praticar AF, o que torna esse resultado tema de discussão para futuros estudos que busquem investigar ações para a equidade entre os sexos.

Alguns pontos devem ser considerados na interpretação dos resultados deste estudo. A primeira limitação é que nenhuma relação causal pode ser desenhada devido ao delineamento transversal. Em segundo lugar, um questionário autorrelatado pode levar os participantes a superestimar ou subestimar o uso de modos de transportes questionados. O não conhecimento da distância torna-se uma limitação fundamental. Futuros estudos devem considerar a inclusão de medidas objetivas (usando GPS, por exemplo) somadas a medidas subjetivas do comportamento de transporte. O fato de a amostra ser formada apenas por estudantes da rede pública impossibilita a extrapolação dos resultados para classes mais elevadas. Entretanto, a amostra representativa e as análises estatísticas asseguram uma interpretação dos dados para grandes populações de escolas da rede pública, um ponto importante no domínio de intervenções relacionadas à saúde pública e preventiva. Ademais, o estudo colabora na investigação dos fatores sociodemográficos e psicossociais para o TAE em uma amostra representativa de adolescentes. Apesar de não ter investigado a relação significativa do TAE com o índice de massa corporal (IMC) e níveis recomendados de atividade física, os autores sugerem que futuros estudos avaliem essa relação, com o objetivo de agregar maiores esclarecimentos sobre o TAE.

CONCLUSÃO

Os resultados indicam uma prevalência de TAE de 37,7%, sendo 16,2% entre meninos e 21,5% entre meninas. Os fatores sociodemográficos não foram associados com o TAE, exceto a idade para as meninas. O apoio social para a prática de AF, tanto de pais quanto de amigos, associou-se ao TAE. Para os meninos, ter pais que praticam AF junto, fornecem transporte para a AF e comentam que o adolescente faz bem a AF apresentou associação com o TAE, assim como ter amigos que praticam AF junto. Para as meninas, apenas a idade e ter amigos que praticam AF junto se associaram ao TAE.

  • Financiamento:
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Foi apoiado por subvenções: FCT: SFRH/BSAB/142983/2018 e UID/DTP/00617/2019 assim como pelo Programa de Bolsas Santander Universidades 2018.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    12 Set 2019
  • Aceito
    25 Nov 2019
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