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Comparação entre duas coortes de mães adolescentes em município do Sudeste do Brasil

Comparison between two cohorts of adolescent mothers in Southeastern Brazil

Resumos

OBJETIVO: Comparar a prevalência de gravidez na adolescência e analisar variáveis sociobiológicas relacionadas ao binômio mãe-filho entre duas coortes de mães adolescentes de nascidos vivos em Ribeirão Preto (1978-1979 e 1994). MÉTODOS: Foram entrevistadas mães adolescentes logo após o parto, sendo 943 em 1978/79 e 499 em 1994, abrangendo nascidos vivos de parto único, de famílias residentes em Ribeirão Preto, SP. Foi utilizado o teste do qui-quadrado, com nível de significância de 0,05. RESULTADOS: O percentual de mães adolescentes aumentou de 14,1% em 1978/79 para 17,5% em 1994 (p<0,05), devido ao crescimento dos partos entre as jovens de 13 a 17 anos. Observou-se incremento da escolaridade, redução do hábito de fumar e aumento no número de consultas de pré-natal. Elevou-se a proporção de adolescentes sem companheiro, exercendo atividade remunerada e tendo atendimento privado no parto. As taxas de baixo peso ao nascer e da prematuridade não se alteraram no grupo de adolescentes como um todo. Houve maior taxa de cesarianas e uso do fórceps no parto das adolescentes. Contudo, mães de 13 a 17 anos tiveram o dobro de filhos prematuros e de baixo peso, maior proporção de solteiras, de baixa escolaridade, e de uso do fórceps no parto. CONCLUSÕES: Muitas características das mães adolescentes de 13 a 17 anos foram mais desfavoráveis do que daquelas com 18 e 19 anos. Estas especificidades no grupo de adolescentes necessitam ser melhor estudadas e compreendidas e levadas em conta no planejamento da oferta de serviços de atenção ao pré-natal e ao parto.

Gravidez na adolescência; Mães; Baixo peso ao nascer; Cuidado pré-natal; Fatores socioeconômicos; Prematuro; Serviços de saúde materna


OBJECTIVE: To compare the prevalence of pregnancy among adolescents and analyze trends in some social and biological variables among two cohorts of adolescent mothers in Ribeirão Preto, Brazil, during 1978/79 and 1994. METHODS: Two cohorts of adolescent mothers were interviewed shortly after delivery, comprising 943 women in the first survey (1978/79) and 499 in the second (1994). Both surveys covered more than 98% of births in all childbirth clinics. Only singleton livebirths from adolescent mothers living in the municipality were included in the analysis. The Chi-square test was used for statistical analysis, with a 0.05 significance level. RESULTS: The percentage of adolescent mothers increased from 14.1% in 1978/79 to 17.5% in 1994 (p<0.05), mainly due to an increase in deliveries in the 13-17 years age group. There was a reduction in the number of smokers and mothers with lower schooling. The number of prenatal care visits increased. There was also an increase in the proportion of single mothers, of those who were employed and got private delivery care. Low birth weight and preterm birth rates remained unchanged for all of them. Ceasarean section and forceps delivery rates increased substantially. Mothers in the 13-17 years age group however showed twice as much premature and low birth weight children, a higher proportion of single mothers with lower schooling, and higher rate of forceps delivery. CONCLUSIONS: Some characteristics of the adolescent mothers in the 13-17 years age group were more unfavorable when compared to the 18-19 years age group. The characteristics of adolescent age groups need to be better understood and taken into account in the prenatal and delivery care planning.

Pregnancy in adolescence; Mothers; Infant, low birth weigth; Prenatal care


Comparação entre duas coortes de mães adolescentes em município do Sudeste do Brasil* * Financiado pela Fapesp (Processo nº 93/0525-0).

Comparison between two cohorts of adolescent mothers in Southeastern Brazil

Eleonora RO Ribeiroa, Marco A Barbieria, Heloisa Bettiola e Antônio AM da Silvab

aDepartamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, Brasil. bDepartamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão. São Luís, MA, Brasil

DESCRITORES
Gravidez na adolescência#. Mães#. Baixo peso ao nascer#. Cuidado pré-natal#. Fatores socioeconômicos. Prematuro. Serviços de saúde materna. RESUMO

OBJETIVO:

Comparar a prevalência de gravidez na adolescência e analisar variáveis sociobiológicas relacionadas ao binômio mãe-filho entre duas coortes de mães adolescentes de nascidos vivos em Ribeirão Preto (1978-1979 e 1994).

MÉTODOS:

Foram entrevistadas mães adolescentes logo após o parto, sendo 943 em 1978/79 e 499 em 1994, abrangendo nascidos vivos de parto único, de famílias residentes em Ribeirão Preto, SP. Foi utilizado o teste do qui-quadrado, com nível de significância de 0,05.

RESULTADOS:

O percentual de mães adolescentes aumentou de 14,1% em 1978/79 para 17,5% em 1994 (p<0,05), devido ao crescimento dos partos entre as jovens de 13 a 17 anos. Observou-se incremento da escolaridade, redução do hábito de fumar e aumento no número de consultas de pré-natal. Elevou-se a proporção de adolescentes sem companheiro, exercendo atividade remunerada e tendo atendimento privado no parto. As taxas de baixo peso ao nascer e da prematuridade não se alteraram no grupo de adolescentes como um todo. Houve maior taxa de cesarianas e uso do fórceps no parto das adolescentes. Contudo, mães de 13 a 17 anos tiveram o dobro de filhos prematuros e de baixo peso, maior proporção de solteiras, de baixa escolaridade, e de uso do fórceps no parto.

CONCLUSÕES:

Muitas características das mães adolescentes de 13 a 17 anos foram mais desfavoráveis do que daquelas com 18 e 19 anos. Estas especificidades no grupo de adolescentes necessitam ser melhor estudadas e compreendidas e levadas em conta no planejamento da oferta de serviços de atenção ao pré-natal e ao parto.

KEYWORDS
Pregnancy in adolescence#. Mothers#. Infant, low birth weigth#. Prenatal care#. ABSTRACT

OBJECTIVE:

To compare the prevalence of pregnancy among adolescents and analyze trends in some social and biological variables among two cohorts of adolescent mothers in Ribeirão Preto, Brazil, during 1978/79 and 1994.

METHODS:

Two cohorts of adolescent mothers were interviewed shortly after delivery, comprising 943 women in the first survey (1978/79) and 499 in the second (1994). Both surveys covered more than 98% of births in all childbirth clinics. Only singleton livebirths from adolescent mothers living in the municipality were included in the analysis. The Chi-square test was used for statistical analysis, with a 0.05 significance level.

RESULTS:

The percentage of adolescent mothers increased from 14.1% in 1978/79 to 17.5% in 1994 (p<0.05), mainly due to an increase in deliveries in the 13-17 years age group. There was a reduction in the number of smokers and mothers with lower schooling. The number of prenatal care visits increased. There was also an increase in the proportion of single mothers, of those who were employed and got private delivery care. Low birth weight and preterm birth rates remained unchanged for all of them. Ceasarean section and forceps delivery rates increased substantially. Mothers in the 13-17 years age group however showed twice as much premature and low birth weight children, a higher proportion of single mothers with lower schooling, and higher rate of forceps delivery.

CONCLUSIONS:

Some characteristics of the adolescent mothers in the 13-17 years age group were more unfavorable when compared to the 18-19 years age group. The characteristics of adolescent age groups need to be better understood and taken into account in the prenatal and delivery care planning.

INTRODUÇÃO

A adolescência é definida cronologicamente como o período compreendido entre 10 e 19 anos, no qual acontecem grandes mudanças físicas e psicológicas. Entre 10 e 14 anos haveria o surgimento dos caracteres sexuais secundários e, entre 15 e 19 anos, a finalização do crescimento e desenvolvimento morfológicos (OPAS,13 1995). Se a gravidez acontece nessa fase, o nascimento da criança ou a opção do aborto ocorrem em um período de transformações intensas. Torna-se cada vez mais claro que a gravidez na adolescência é primariamente um problema social que pode acarretar conseqüências médicas (Hollingworth e Kreutner,11 1980).

Filhos de mães adolescentes tendem a sofrer mais negligência ou abusos (OPAS,13 1995) e correm maior risco de serem dados em adoção (Pinotti e Silva,14 1987) que os filhos de mães com mais idade. Uma mãe adolescente corre o risco de maior mortalidade por complicações obstétricas e no parto, toxemia gravídica e partos prematuros, principalmente naquelas sem assistência pré-natal (Pinotti e Silva,14 1987; Fraser et al,9 1995). Complicações da gravidez, parto e puerpério apresentam-se como a principal causa de morte na faixa de 15 a 19 anos, especialmente pelos estados hipertensivos, infecções puerperais, hemorragias e abortos (Siqueira e Tanaka,17 1986; Scholl et al,15 1994).

Nos EUA existiam cerca de 16% de mães adolescentes entre 1979 e 1980 (Wegman,22 1983), aumentando rapidamente até o final da década e declinando a partir de 1991 até 1997 (Ventura et al,21 1998). No Brasil, em 1996, a percentagem de meninas entre 15 e 19 anos que já iniciaram a vida reprodutiva, seja porque estavam grávidas ou se tornaram mães, foi de 18%, sendo 20% na zona rural e 13% da zona urbana. Estimou-se que 20% de todos os nascidos vivos nos últimos cinco anos foram de mães adolescentes (BEMFAM,2 1997). Em Ribeirão Preto, entre 1968 e 1970, esse valor foi de 11,7% (Teruel et al,19 1975) e, dez anos depois, em 1978 e 1979, foi de 14,1% (Bettiol et al,5 1992). Os riscos de agravos à saúde perinatal ¾ como baixo peso, prematuridade, multiparidade, atenção médica, pré-natal inadequado e hábito de fumar ¾ estavam mais relacionados com a classe social à qual a adolescente pertencia, do que propriamente com as características biológicas desta faixa etária (Bettiol,4 1990).

O objetivo do presente trabalho é comparar a prevalência de gravidez na adolescência e analisar variáveis sociobiológicas relacionadas ao binômio mãe-filho entre duas coortes de mães adolescentes do Município de Ribeirão Preto, SP, em 1978-1979 e 1994.

MÉTODOS

Duas coortes de recém-nascidos foram estudadas em Ribeirão Preto, SP: uma durante um ano, de junho de 1978 a maio de 1979, e outra durante quatro meses, de maio a agosto de 1994. Em ambos os inquéritos foram entrevistadas todas as mães que deram à luz a recém-nascidos vivos, logo após o parto. As entrevistas foram realizadas em todos os hospitais que tinham serviço obstétrico, 8 unidades em 1978/79 e 10 em 1994, que atendiam a mais de 98% dos nascimentos ocorridos no município. Em 1994 coletaram-se dados referentes a todos os nascimentos vivos de 4 meses consecutivos pois a análise prévia dos dados de 1993 mostrou que não houve sazonalidade na distribuição dos nascimentos, nem de algumas variáveis importantes, como taxas de baixo peso ao nascer e idade materna no parto, por exemplo (Bettiol et al,6 1998). As recusas e fichas incompletas corresponderam a menos de 5% do total de nascimentos nas duas amostras. A seleção das participantes e a coleta dos dados foram padronizadas nos dois inquéritos para garantir a comparabilidade dos dados. Detalhes da metodologia encontram-se em publicações anteriores (Barbieri et al,1 1989; Bettiol et al,6 1998).

Para o presente estudo foram selecionadas as entrevistas de mães procedentes de Ribeirão Preto, que tiveram parto único, com idade inferior a 20 anos, divididas em 2 grupos etários, de 13 a 17 anos e 18 a 19 anos. As variáveis e categorias estudadas foram: situação conjugal (com companheiro - com ou sem vínculo civil ou religioso, e sem companheiro), escolaridade baixa (sim, menos de quatro anos de freqüência à escola sem considerar os anos de repetência, e não), atividade remunerada (sim, quando desempenhada atividade com remuneração, mesmo que fosse desempenhada no próprio lar, e não), hábito de fumar (sim, se consumido diariamente ao menos um cigarro, e não), número de consultas no pré-natal (nenhuma, 1 a 4, 5 ou mais), tipo de assistência ao parto (pública, incluindo aquelas cobertas pela seguridade social ou atendidas em instituições estatais gratuitas em 1978-79 e usuários do SUS em 1994 e privada, incluindo as que têm plano privado de saúde, do tipo pré-pagamento ou que pagaram diretamente pelos serviços utilizados), baixo peso ao nascer (sim, peso menor que 2.500 g, e não), tipo de parto (normal, cesáreo ou fórceps), prematuridade (sim, menos de 37 semanas de gestação, e não).

Na análise estatística utilizou-se o teste do qui-quadrado, empregando-se o nível de significância de 0,05.

RESULTADOS

Foram estudadas 943 mães adolescentes de 1978/79 e 499 de 1994. Observou-se aumento no percentual de mães adolescentes, de 14,1%, em 1978/79, para 17,5%, em 1994 (p<0,05). Esta inversão da curva da idade foi devida ao aumento dos nascimentos na faixa etária de 13 e 17 anos (Figura). Devido a essa diferença, analisou-se a distribuição das variáveis nos dois inquéritos, separadamente para as faixas etárias de 13 a 17 anos e de 18 e 19 anos.


O percentual de mães sem companheiro nos dois grupos etários foi maior em 1994 do que em 1978/79 (Tabela 1). Nos dois estudos observou-se que as mães adolescentes mais jovens apresentaram maior proporção de mulheres vivendo sozinhas, quando comparadas ao grupo com 18 e 19 anos (Tabela 2).

A proporção de mães adolescentes com baixa escolaridade apresentou redução significante (Tabela 1). Entretanto, se a baixa escolaridade apresentou distribuição homogênea entre os dois grupos etários no período de 1978/79, em 1994 a baixa escolaridade apresentou redução apenas no grupo de 18 e 19 anos (Tabela 2).

A proporção de adolescentes exercendo alguma forma de atividade remunerada dobrou no período (Tabela1). Em 1978/79, não houve diferença na distribuição entre os grupos etários quanto ao desempenho dessas atividades. Já em 1994 foi encontrado maior percentual de mães sem atividade remunerada entre as meninas do grupo de 13 a 17 anos (Tabela 2).

Observou-se redução estatisticamente significante no hábito de fumar entre as adolescentes (Tabela 1). Não houve diferença no percentual de fumantes nos dois estudos, comparando-se os dois grupos etários (Tabela 2).

O percentual de mães adolescentes com cinco ou mais consultas pré-natais teve aumento significante (Tabela 1). Nota-se que, em 1978/79, na faixa de 13 a 17 anos havia um percentual maior de adolescentes que não fizeram pré-natal do que na faixa de 18 a 19 anos. Para 1994, a distribuição do número de consultas realizadas pelos dois grupos foi homogênea (Tabela 3).

Houve aumento significante na proporção de mães adolescentes com assistência privada ao parto, de 2,7% para 18,9% (Tabela 1). Em 1978/79, o grupo mais jovem teve menor proporção de partos com assistência privada do que o grupo de 18 e 19 anos. Em 1994 não houve diferença quanto ao tipo de assistência ao parto nos dois grupos (Tabela 3).

Aumentou a prevalência de cesarianas, e a de parto fórceps quase dobrou (Tabela 1). Em 1978/79, a distribuição do tipo de parto se deu de forma homogênea entre os grupos etários, porém em 1994 chama a atenção a maior proporção de partos com uso de fórceps no grupo de 13 a 17 anos (Tabela 3).

Não houve aumento do baixo peso ao nascer e da prematuridade entre as mães adolescentes no período (Tabela 1). Em 1978/79, o grupo mais jovem apresentou o dobro do percentual de baixo peso observado na faixa etária de 18 a 19 anos, e praticamente o mesmo resultado foi observado em 1994 (Tabela 3). As taxas de prematuridade também foram maiores para o grupo de 13 a 17 anos, tanto em 1978/79 quanto em 1994 (Tabela 3).

DISCUSSÃO

O percentual de mães adolescentes em Ribeirão Preto aumentou de modo significativo nos 15 anos que separam os dois estudos. O valor encontrado em 1994 se aproxima daqueles observados em cidades próximas da região estudada, como Uberaba, MG, de 18,9% entre 1992 e 1993 (Fabri,8 1996). Aumento da gravidez na adolescência, de 15,3% em 1982 para 17,4% em 1993, também foi observado por Tomasi et al20 (1996), em Pelotas, RS.

A inversão na curva de distribuição da idade entre as adolescentes, com aumento no percentual de nascimentos entre as mães de 13 a 17 anos e diminuição na faixa dos 18 e 19 anos, é bastante preocupante, visto que a maturidade, principalmente emocional, ainda não está suficientemente desenvolvida na faixa etária mais jovem.

Houve evolução favorável de algumas variáveis dentre as mães adolescentes: incremento da escolaridade, redução do hábito de fumar e aumento no número de consultas de pré-natal realizadas. Já o incremento no percentual de adolescentes exercendo atividade remunerada é de conseqüência duvidosa, vez que pode estar representando tanto uma expansão do emprego como refletindo uma necessidade de elevação da renda familiar.

Observou-se que algumas características das mães, nas duas coortes, distribuíram-se diferentemente nas duas faixas etárias. Na sua maioria, as meninas de 13 a 17 anos apresentaram os resultados mais desfavoráveis. O aumento no percentual de mães sem companheiro ocorreu principalmente entre aquelas de 13 a 17 anos, o que traz à tona toda a problemática social do engravidar precoce. Se houve diminuição na proporção de mães com baixa escolaridade, essa proporção entre as adolescentes de 13 a 17 anos foi quase o dobro daquela encontrada nas idades de 18 e 19 anos, no ano de 1994. A faixa etária dos 13 a 17 anos apresentou, em 1994, o dobro do percentual de baixo peso e quase o dobro da proporção de partos prematuros observado entre as mães de 18 e 19 anos.

Também se observou maior percentual de adolescentes sem pré-natal entre aquelas com idade entre 13 e 17 anos em 1978/79, mas em 1994 esta diferença desapareceu, indicando melhoria no acesso ao pré-natal em todo o grupo de adolescentes. Também em relação à assistência ao parto observou-se mudança significante. Em 1978/79, o grupo de 13 a 19 anos fazia maior uso de assistência pública. Em 1994 esta diferença desapareceu.

Houve aumento considerável do percentual de parto cesáreo, mas o que mais chamou a atenção é que, entre as adolescentes de 1994, a freqüência dos partos tipo fórceps foi bem maior entre as de idade entre 13 e 17 anos. Esse achado deverá ser objeto de maior investigação para compreensão de seus determinantes.

Em Ribeirão Preto observou-se aumento significante tanto do baixo peso ao nascer como da prematuridade, considerando-se todas as faixas etárias (Silva et al,16 1998). O aumento expressivo na taxa de cesáreas foi identificado como um dos fatores responsáveis pela elevação do baixo peso ao nascer no município. Já entre as adolescentes, não houve aumento significante na proporção de baixo peso ou da prematuridade. Talvez a prática médica no sentido de realização de mais partos por via vaginal entre as adolescentes, incluindo aí o uso do fórceps, especialmente dos 13 aos 19 anos, seja um dos fatores que expliquem porque o incremento do baixo peso e da prematuridade não tenha também sido observado entre as adolescentes.

O aumento no percentual de gravidez na adolescência coloca desafios para os serviços de saúde. Atenção especializada deve estar disponível para esta faixa etária, tendo em vista as diferenças na maturidade biológica e psicológica neste grupo. Também é necessário que se tenha mais cuidado ao se estudar as mães adolescentes, visto que as características não são homogêneas para todas as idades abaixo dos 20 anos. A Organização Mundial de Saúde classifica a adolescência como a idade compreendida entre os 10 e 19 anos (OPAS,13 1995). Entretanto, os resultados do presente estudo apontam que muitas características das mães adolescentes de 13 a 17 anos são mais desfavoráveis do que daquelas com 18 e 19 anos. Vários estudos consideram a idade de 16 ou 17 anos como idade limite, sendo a gravidez em idades inferiores tida como de maior risco para a mãe e o concepto. As idades de 18 e 19 anos teriam riscos semelhantes aos encontrados nas faixas de 20 a 34 anos. O desempenho obstétrico negativo entre as mães mais jovens não seria associado exatamente à idade, mas com outros fatores independentes adversos (Motta e Pinto e Silva,12 1995). Daí uma maior preocupação com o aumento da gravidez em idades mais precoces (Hollingsworth e Kreutner,11 1980; Beretta et al,3 1995). Essas especificidades dentro do grupo de adolescentes necessitam ser melhor estudadas e compreendidas e também ser levadas em conta no planejamento da oferta de serviços de atenção ao pré-natal e ao parto.

Existem algumas suposições para o aumento da gravidez nessas adolescentes. Com a tendência secular de diminuição na idade da menarca, as meninas têm-se tornado aptas para a reprodução mais precocemente (Fuzii,10 1989; Tavares,18 1999). Além disto, o início da atividade sexual também tem sido mais cedo, não sendo acompanhado de métodos adequados para a prevenção da gravidez (Donovan,7 1990).

É importante que se tenha este conhecimento e que se comece desde o início da adolescência a fornecer atendimento não só às jovens adolescentes, como também aos adolescentes do sexo masculino. O fornecimento de informações sobre saúde reprodutiva deve ser feito antes do início da atividade sexual, para que os jovens possam optar pelo sexo seguro, sem riscos de doenças ou gravidez indesejada.

AGRADECIMENTO

Ao Prof. Dr. Gerson Muccillo, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, USP, pelo auxílio na análise estatística.

Correspondência para/Correspondence to:

Heloisa Bettiol

Av. Bandeirantes, 3900

14049-900 Ribeirão Preto, SP, Brasil

E-mail: hbettiol@fmrp.usp.br

Edição subvencionada pela Fapesp (Processo nº 00/01601-8).

Recebido em 4/3/1999. Reapresentado em 8/9/1999. Aprovado em 25/10/1999.

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  • *
    Financiado pela Fapesp (Processo nº 93/0525-0).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Ago 2001
    • Data do Fascículo
      Abr 2000

    Histórico

    • Revisado
      08 Set 1999
    • Recebido
      04 Mar 1999
    • Aceito
      25 Out 1999
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