Resumos
Relata-se a ocorrência de larva migrans cutânea em crianças de uma escola de educação infantil de Campo Grande, MS (Brasil). Dos 16 alunos que freqüentam a escola, seis (37,5%) adquiriram essa dermatite parasitária em duas áreas de recreação com areia contaminada por fezes de gatos, cujo exame parasitológico revelou a presença de larvas de ancilostomídeos. As lesões serpiginosas e/ou papulares essavam localizadas nas mãos, pés, nádegas, coxas, vulva e saco escrotal. São discutidas medidas de controle dessa parasitose.
Larva migrans; Ancylostoma
This paper reports an outbreak of cutaneous larva migrans in children of a school located in Campo Grande, MS. Six out of the 16 students (37.5%) acquired this parasitic dermatitis in two playgrounds contaminated by cat feces, in which ancylostomid larvae were found. The serpiginous lesions and/or papules were located in the hands, feet, buttocks, thighs, vulva and scrotum. Control measures of this parasitosis are discussed.
Larva migrans; Ancylostoma
Notes and Information
Larva migrans cutânea em crianças de uma escola em área do Centro-Oeste do Brasil
Cutaneous larva migrans in children of a school, Brazil
Flábio R Araújo, Cristina P Araújo, Max R Werneck e Alessander Górski
Centro de Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal. Campo Grande, MS, Brasil
Larva migrans, epidemiologia. Ancylostoma, isolamento e purificação.
Relata-se a ocorrência de larva migrans cutânea em crianças de uma escola de educação infantil de Campo Grande, MS (Brasil). Dos 16 alunos que freqüentam a escola, seis (37,5%) adquiriram essa dermatite parasitária em duas áreas de recreação com areia contaminada por fezes de gatos, cujo exame parasitológico revelou a presença de larvas de ancilostomídeos. As lesões serpiginosas e/ou papulares essavam localizadas nas mãos, pés, nádegas, coxas, vulva e saco escrotal. São discutidas medidas de controle dessa parasitose.
Larva migrans, epidemiology. Ancylostoma, isolation & purification.
This paper reports an outbreak of cutaneous larva migrans in children of a school located in Campo Grande, MS. Six out of the 16 students (37.5%) acquired this parasitic dermatitis in two playgrounds contaminated by cat feces, in which ancylostomid larvae were found. The serpiginous lesions and/or papules were located in the hands, feet, buttocks, thighs, vulva and scrotum. Control measures of this parasitosis are discussed.
A larva migrans cutânea (LMC) é uma dermatite provocada pela migração de larvas de nematódeos em um hospedeiro não habitual. No homem, essa afecção geralmente é causada por larvas de ancilostomídeos de cães e gatos, como Ancylostoma braziliense, A. caninum e A. tubaeforme.2
A dermatite ocorre quando as larvas de terceiro estágio desses nematódeos, presentes em solos contaminados por fezes de cães e gatos, penetram na pele e migram pelo tecido subcutâneo, provocando erupções serpiginosas, distribuídas principalmente nos membros inferiores4, pernas, nádegas e mãos.2 O intenso prurido gerado pode resultar em escoriações ou infecções secundárias, agravando o quadro.
A LMC têm sido descrita em várias regiões do país.2,3 Em Campo Grande, MS, estudos mostraram a contaminação de caixas de areia de escolas por ovos de ancilostomídeos de cães e gatos.1 Apesar disso, aparentemente não há relatos dessa dermatite publicados no município.
A presente nota descreve a ocorrência de um surto de larva migrans cutânea em uma escola de educação infantil de Campo Grande, MS, onde estudavam 16 crianças, com idade variando entre 3 a 5 anos.
Os professores da escola procuraram o Laboratório de Parasitologia da Universidade para o Desenvolvimento para a Região do Pantanal (Uniderp), relatando a ocorrência de "bicho geográfico" nos alunos. A escola possui uma área de recreação, medindo 10 m x 8 m, com piso de areia, comprada em loja de material de construção. A areia excedente era depositada no fundo da escola e utilizada eventualmente pelos alunos para recreação.
A escola possui um cão poodle que, segundo os professores, permanece trancado durante o dia, sendo solto à noite, não tendo acesso às áreas de recreação, porém os mesmos não souberam informar se o animal era vermifugado freqüentemente. Amostras de fezes do cão foram analisadas pela técnica de Willis.
Foi realizada a inspeção das lesões dos alunos, coletadas amostras de areia de aproximadamente 70 g em nove pontos da área de recreação e de fezes enterradas na areia depositada no fundo da escola. Esse material foi processado pelas técnicas de Willis e de Baermann.
Dos 16 alunos que freqüentam a escola, 6 (37,5%) essavam afetados por LMC, baseando-se no quadro clínico apresentado. Todas as crianças se queixavam de prurido e apresentavam lesões serpiginosas ou papulares, cuja distribuição está demonstrada na Tabela.
Os exames parasitológicos de flutuação (Willis-Mollay) da areia e das fezes foram negativos para a presença de ovos, porém foram detectadas larvas de ancilostomídeos pela técnica de Baermann. Em relação às fezes do cão pertencente à escola, a amostra foi negativa para a presença de ovos.
Os felinos provavelmente foram os responsáveis pela contaminação da areia, já que uma cerca impedia o acesso de cães à área de recreação da frente da escola. Outras evidências que dão suporte a essa hipótese são o achado de pegadas e fezes de gato na areia depositada no fundo da escola e a presença desses animais na casa vizinha à escola.
As lesões essavam predominantemente localizadas nos pés, nádegas e mãos das crianças, partes do corpo que estão freqüentemente em contato com o solo em atividades recreativas.
No momento em que foi feita a visita à escola, a maioria das crianças já havia recebido atendimento médico, e, segundo as informações dos professores, essavam sendo tratadas topicamente com tiabendazol.
Para o controle da LMC, na escola, sugeriu-se substituir o piso existente na área de recreação por alvenaria, deixando apenas uma caixa de areia, que seria coberta à noite com lona. Demonstrou-se que a simples troca da areia de áreas de recreação de praças públicas é insuficiente para controlar a contaminação por ovos de helmintos de cães e gatos, o que foi conseguido cobrindo as caixas de areia com lonas durante a noite.5 A pesquisa de ovos/larvas de helmintos cada vez que a areia da área de recreação for trocada é fortemente recomendada, dada a possibilidade de contaminação da mesma com fezes de cães e gatos nos depósitos das lojas de material de construção.2
Correspondência para/Correspondence to:
Flábio Ribeiro de Araújo
Rua Alexandre Herculano, 1400, Jardim Veraneio
79002-970 Campo Grande, MS, Brasil
Fax: (0xx67) 726.3754
Recebido em 30/3/1999. Reapresentado em 3/8/1999. Aprovado em 18/8/1999.
Referências bibliográficas
- 1. Abreu AC, Friozi E, Carvalho FG, Conciani DL, Gomes AT, Maksoud JC. Contaminaçăo das areias dos parques de recreaçăo por ovos de parasitas gastrointestinais, em Campo Grande, MS, Brasil, 1996. In: Abstracts of the 15th Panamerican Congress of Veterinary Sciences; 1996 Oct 21-25; Campo Grande, MS, Brazil. Campo Grande: Panamerican Association of Veterinay Sciences; 1996. p.205.
- 2. Lima WS, Camargo MCV, Guimarăes MP. Surto de larva migrans em uma creche de Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil). Rev Inst Med Trop Săo Paulo 1984;26:122-4.
- 3. Londero AT, Fischman O. Dermatose serpiginosa no interior do Rio Grande do Sul, Brasil. Rev Inst Med Trop Săo Paulo 1960;2:230-4.
- 4. Mattone-Volpe F. Cutaneous larva migrans infection in the pediatric foot. A review and two case reports. J Am Pediatr Med Assoc 1998;88:228-31.
- 5. Uga S, Kataoka N. Measures to control Toxocara egg contamination in sandpits of public parks. Am J Trop Med Hyg 1995;52:21-4.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
06 Ago 2001 -
Data do Fascículo
Fev 2000
Histórico
-
Revisado
08 Mar 1999 -
Recebido
30 Mar 1999 -
Aceito
18 Ago 1999