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Aedes (Stegomyia) aegypti L. e a culicideofauna associada em área urbana da região sul, Brasil

An ecological study of the mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti L. and associated culicifauna in an urban area of southern Brazil

Resumos

Foram mostrados alguns aspectos sobre a ecologia de 11 espécies de Culicidae que procriam em recipientes, em uma área urbana do Sul do Brasil. Os mais variados tipos de recipientes foram listados como eficientes criadouros para larvas de culicídeos. Aedes aegypti apareceu como espécie recém-introduzida e limitada somente a duas áreas da cidade. As espécies predominantes foram: Culex quinquefasciatus, Culex coronator, Aedes aegypti, Aedes fluviatilis e Limatus durhamii.

Mosquitos; Aedes; Ecologia de vetores; Urbanização


Some aspects of the ecology of eleven species of Culicidae that were found breeding in recipients in an urban area of Southern Brazil are presented. A great variety of recipients were listed as efficient breeding sites. Apparently Aedes aegypti has been recently introduced into the region and was limited to two areas of the city. Culex quinquefasciatus, Cx. coronator, Ae. aegypti, Ae. fluviatilis e Limatus durhamii were the predominant species.

Mosquitoes; Aedes; Ecology vectors; Urbanization


Aedes (Stegomyia) aegypti L. e a culicideofauna associada em área urbana da região sul, Brasil* * Pesquisa subvencionada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Processo n o 40.1866/88.2/20/FV/PQ e pela Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Londrina. Trabalho apresentado no XVII Congresso brasileiro de Zoologia - Londrina, PR, 1990.

An ecological study of the mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti L. and associated culicifauna in an urban area of southern Brazil

José LopesI; Mario A.N. da SilvaI; Angela M. BorsatoII; Vania D.R.B. de OliveiraII; Francisco J. de A. OliveiraII

IDepartamento de Biologia Animal e Vegetal da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, PR - Brasil

IIAlunos estagiários do Departamento de Biologia Animal e Vegetal - Londrina, PR - Brasil

RESUMO

Foram mostrados alguns aspectos sobre a ecologia de 11 espécies de Culicidae que procriam em recipientes, em uma área urbana do Sul do Brasil. Os mais variados tipos de recipientes foram listados como eficientes criadouros para larvas de culicídeos. Aedes aegypti apareceu como espécie recém-introduzida e limitada somente a duas áreas da cidade. As espécies predominantes foram: Culex quinquefasciatus, Culex coronator, Aedes aegypti, Aedes fluviatilis e Limatus durhamii.

Descritores: Mosquitos. Aedes. Ecologia de vetores. Urbanização.

ABSTRACT

Some aspects of the ecology of eleven species of Culicidae that were found breeding in recipients in an urban area of Southern Brazil are presented. A great variety of recipients were listed as efficient breeding sites. Apparently Aedes aegypti has been recently introduced into the region and was limited to two areas of the city. Culex quinquefasciatus, Cx. coronator, Ae. aegypti, Ae. fluviatilis e Limatus durhamii were the predominant species.

Keywords: Mosquitoes. Aedes. Ecology vectors. Urbanization.

Introdução

Londrina, por ser a maior cidade do Norte do Paraná e um grande pólo econômico, atrai os mais variados tipos de atividades comerciais e industriais, favorecendo assim fluxos humanos originários de diferentes pontos do território brasileiro.

Tendo em vista a recente epidemia de dengue registrada nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo e a constatação de Ae. aegypti em cidades paulistas próximas à fronteira com o Estado do Paraná, a presente pesquisa objetivou identificar as espécies de Culicidae existentes na área urbana de Londrina, assim como a ocorrência de criadouros potenciais, procurando detectar a presença de Ae. aegypti. Os resultados deverão servir como referencial para a eventual aplicação de medidas de prevenção e controle.

Material e Método

O método aplicado teve como base o comportamento de Ae. aegypti, principalmente no que concerne à sua dispersão ativa e passiva.

Foi determinado um local de coleta a cada 3 km nas principais vias de acesso à cidade de Londrina, perfazendo assim 35 áreas de coleta dispersas por toda a zona urbana (Figura).


Considerando-se locais propícios à criação de Ae. aegypti, foram analisados ainda dois cemitérios e 30 tipos de ambientes de risco como postos de gasolina, borracharia, depósitos de material de construção, depósito de ferro velho, uma estação rodoviária, outra ferroviária, um aeroporto, e três favelas. Todos estes pontos estavam localizados fora dos locais de coleta previamente determinados.

Para cada área de coleta foram examinados dez locais, excetuando-se a estação rodoviária com três, a ferroviária e aeroporto com dois cada um. Todos os recipientes contendo água foram observados e larvas de 4 instar foram recolhidas com o auxílio de uma malha de metal (peneirinha) e de um conta-gotas, sendo a seguir mergulhadas em frascos contendo álcool a 70% e transportadas para o laboratório. As larvas foram então montadas entre lâmina e lamínula para identificação.

Nos pontos onde o número de criadouros era grande, foi padronizada a verificação de dez recipientes, optando-se pelos que apresentassem melhores condições para o desenvolvimento de Culicidae. Nos reservatórios que continham muita água, foi utilizado o método de 10 lances com a rede de coleta.

Para os locais positivos para Ae. aegypti, foi adotado o critério de examinar todos os lotes de terreno do quarteirão e ainda os dos quatro quarteirões vizinhos. Verificando-se resultado positivo na quadra vizinha, o procedimento foi repetido até se chegar a resultado negativo para a circunvizinhança.

O presente trabalho foi realizado no período compreendido entre junho de 1985 e dezembro de 1987. As coletas foram realizadas diariamente, por um período de 4 h diárias, e todas as áreas foram visitadas por três vezes durante os 18 meses de pesquisa.

Resultado e Discussão

Foram identificadas 11 espécies de Culicidae a partir dos 31.480 espécimens analisados. A Tabela 1 relaciona as espécies e as respectivas freqüências.

Nos locais investigados foram encontrados os mais variados tipos de recipientes com capacidade de reter água. A Tabela 2 relaciona e quantifica esses criadouros, agrupados em classes, em que foram encontradas larvas de Culicidae, assim como os recipientes que eventualmente poderiam oferecer condições para a colonização, apesar de negativos.

As classes de criadouros de larvas de Culicidae apresentadas na Tabela 2, inclui os seguintes recipientes: 1) Recipiente de lata: tambor, lata e latão. 2) Acessórios de carro: lataria, bateria, roda, calota e lanterna. 3) Recipiente de ferro: toda sorte de objetos desta natureza encontrados em ferro velho, 4) Utensilios domésticos: bacia, panela frigideira e xícara. 5) Recipiente de vidro: vidro e garrafa. 6) Reservatório de água: caixa d'água, barril de madeira, aquário de cimento e piscina. 7) Vasos sem flores: metálico, de barro, de louça, de cimento, de mármore, castiçal de cimento e mármore. 8) Águas de esgoto: caixa aséptica, vala, fossa, boca de lobo, tanque de decantação e poça d'água. 9) Louça sanitária: vaso sanitário, banheira, pia, saboneteira e caixa de descarga.

Entre os diferentes tipos de recipientes, considerando-se apenas aqueles que aparecem na Tabela 2 com freqüência superior a dez, observa-se que as maiores porcentagens de colonização estão relacionadas com vasos sem flores, pneus, reservatórios de água, e utensílios domésticos.

A Tabela 3 apresenta o número de larvas capturadas para cada espécie em cada classe de criadouro.

É possível verificar que Cx. quinquefasciatus, Ae. fluviatilis e Ae. aegypti colonizaram uma ampla variedade de tipos de criadouros. Somente Cx. quinquefasciatus e Ae.fluviatilis foram encontradas colonizando os recipientes típicos de cemitério, o que pode ser justificado pela localização e condição de exposição ao sol de tais recipientes.

Silva e Lopes24 (1985), em estudo concentrado em cemitério de Londrina, coletaram, além destas duas espécies, Cx. coronator e Cx. mollis. É possível que a ausência dessas últimas espécies, em cemitério, esteja relacionada muito mais ao pequeno número de recipientes analisados do que à presumível ausência das duas espécies do ambiente, já que a presente pesquisa foi minuciosa e profunda e na qual ambas espécies apresentaram densidade populacional e freqüência baixas.

O tipo de recipiente aceito por todas as espécies foi o pneu, com exceção apenas de Ps. cingulata que só foi encontrada em recipiente metálico.Embora este recipiente tenha abrigado 10 espécies, Cx. quinquefasciatus representou 52,1% do total geral coletado. Beier e col3. (1983) afirmaram que uma grande quantidade de espécies seria apta para colonizar pneus, mas poucas seriam dominantes, semelhante ao que ocorre em buraco-de-árvore.

Foi observada preferência para Cx. corniger por água acumulada no solo. Esta espécie foi coletada nos recipientes em cemitério de Caracas, por Barrera e col.2 (1979), sendo a primeira espécie a colonizar, enquanto a água se apresentava com odor desagradável e com muita matéria orgânica em decomposição. Esta condição pode ter determinado a maior abundância da espécie em poça-de-água. A presença também em fossa asséptica tende a reforçar a hipótese da preferência por água contendo partículas de matéria orgânica em decomposição.

O número de recipientes, em situação de desuso, encontrado junto a residências, foi muito alto, oferecendo assim condições para procriação de Culicidae. Na Tabela 4 , observa-se que Cx. quinquefasciatus e Ae.fluviatilis revelaram ampla distribuição por todos os tipos e locais. Ae.fluviatilis, apresentou preferência por recipientes de cemitério e Ae. aegypti por terrenos baldios.

Esta ampla distribuição de Cx. quinquefasciatus pelos diferentes tipos de locais e diferentes tipos de recipiente é justificada pela sua bem conhecida predominância nos ambientes antropogênicos. Resultados semelhantes foram obtidos por Marquetti e col19 (1986). O direcionamento de Ae.fluviatilis para recipientes de cemitério pode ser explicado pelo fato de tratar-se de mosquito que primariamente se reproduz em depressões de rochas ensolaradas. Desta forma, teria evoluído para recipientes de cimento, e a presença destes em cemitérios usualmente se dá sob incidência solar direta.

A maior freqüência de Ae. aegypti em terrenos baldios decorre do fato dos recipientes estarem aí recobertos por vegetação, oferecendo assim melhores condições de sombreamento. Preferência por recipientes localizados ao abrigo do sol foi demonstrada por Barrera e col.2 (1979) e Beier e col.3 (1983).

Cx. quinquefasciatus apresentou maior densidade populacional em redes de esgoto e fossas, dois ambientes altamente poluídos e ricos em matéria orgânica. Esta preferência por locais poluídos já foi demonstrada por Lozovei e Luz18 (1976) e Marquetti e col.19 (1986).

Ae. aegypti esteve restrito a recipientes, sem demonstrar preferências entre eles. Mostrou entretanto exigências quanto às condições da água, preferindo aquelas sem altos índices de poluição.

Barrera e col.2 (1979) observaram que em vasos de cemitério, no início do processo de decomposição das flores, quando a água apresenta mau-cheiro e muita matéria orgânica em suspensão, a colonização se dá por Cx. corniger e Cx. fatigans. Ae. aegypti as sucedeu à medida que ocorreu a sedimentação das partículas, com a água tornando-se transparente e sem cheiro. Dégallier e col.10 (1988) afirmaram que qualquer recipiente com água não poluída é criadouro em potencial para Ae. aegypti.

Em contraste à ausência de preferência por determinados tipos de recipientes, aparecem as publicações de Moore e col.20 (1978), Chamber's e col.6 (1986) e Dégallier e col.10 (1988) nas quais Ae. aegypti mostrou preferência por pneus. Todavia, a mesma espécie novamente deixou de revelar preferência nas averiguações feitas por Kay e col.13 (1987) e Barker-Hudson e col.1 (1988).

Li. durhamii mostrou preferência por recipientes de plástico, de lata e outros tipos de materiais metálicos. Esta, por sinal, é uma espécie amplamente conhecida por sua tolerância a diferentes tipos de criadouros, sejam naturais ou artificiais. Costuma aparecer como uma das primeiras espécies a iniciar colonização, mesmo quando a quantidade de matéria orgânica é baixa. Mostra, todavia, alguma preferência por recipientes de plástico (Guimarães e col.12, 1985; Lopes e col.15,16, 1985; 1987; Lourenço-de- Oliveira e col.17, 1986).

Cx. coronator, embora tenha sido coletada em variados tipos de recipiente, mostrou preferência por poças d'água no solo e recipiente de lata. Cx. mollis aparece junto a Cx. coronator no que diz respeito à preferência por água acumulada no solo mas se distingue quando se examinam a preferência por recipientes, preferindo os metálicos. Estas duas espécies, embora capturadas em recipientes e na área urbana, ainda guardam características silvestres, sendo suas larvas mais freqüentes em criadouros no solo com pouca profundidade e revestidas por vegetação (Cerqueira4, 1961; Kurihara e Ichimori14, 1975; Lozovei e Luz18, 1976; Lourenço -de-Oliveira e col.17,1986). Em Londrina foram coletadas por Silva e Lopes24 (1985) em recipientes de cemitério, sempre em baixa densidade populacional.

An. argyritarsis foi mais coletada em recipientes metálicos. Este anofelíneo é conhecido por colonizar recipientes e poças d'água, tanto na área urbana quanto rural (Lourenço-de-Oliveira e col.17,1986).

Os diferentes setores da cidade podem apresentar circunstâncias diferentes para se constituírem em área de risco para a colonização por parte do Ae. aegypti e outros culicídeos. As variáveis estão na dependência da infra-estrutura básica, condições de higiene e tendência comercial da região.

Ae. aegypti apareceu limitada a apenas dois locais da cidade. Este resultado aponta para introdução recente da espécie que ainda se encontraria nas fases iniciais da colonização, com distribuição ainda restrita.

Os criadouros positivos ou potenciais aparecem distribuídos quase que uniformemente através de todos os tipos de locais, reunindo as mais variadas atividades humanas. Esta situação de continuidade na distribuição dos recipientes poderá facilitar a rápida dispersão do Ae. aegypti.

Foi comum encontrar mais de uma espécie desenvolvendo-se em um mesmo recipiente, demostrando relação de convivência ou de presa/predador (Tabela 5). O maior conjunto encontrado reuniu quatro espécies coexistindo em um mesmo criadouro. O agrupamento estava constituído por L. durhamii, Cx. coronator, Cx. quinquefasciatus e Ae. aegypti, em um primeiro caso, e por Cx. bigoti, Cx. mollis, Cx. quinquefasciatus e Ae. fluviatilis em uma outra ocasião. As maiores freqüências foram atingidas por Cx.quinquefasciatus e Ae. fluviatilis quando isoladas e, no caso desta última, também em associação com aquela.

A coexistência predominante foi a de duas espécies. Este achado está de acordo com o observado por Moore20 (1983), que também constatou predominância em recipientes contendo uma única espécie e as coexistências simples predominando sobre as múltiplas. Associação entre Cx. quinquefasciatus e An. argyritarsis já foi observada por Fize11 (1976). Num cemitério de Caracas, Barrera e col.2 (1979), observaram a coexistência de Cx.fatigans, Cx. corniger e Ae. aegypti. Todavia, Ae. aegypti participou como sucessora e fazendo-se presente com freqüência mais baixa na comunidade.

Consoli e col.7 (1987) afirmaram que Ae. fluviatilis era uma espécie com ampla distribuição na região Neotropical, demostrando tendência para a domiciliação e, em várias regiões, formavam complexos com Ae. aegypti e Cx. quinquefasciatus. A partir daí pode-se conjecturar uma explicação para o observado no presente estudo, onde Cx. quinquefasciatus e Ae. fluviatilis foram as duas espécies mais encontradas colonizando um mesmo criadouro, conseqüência de serem também as mais abundantes e mais amplamente distribuídas.

Em Louisiana, EUA, Cx. quinquefasciatus não foi encontrada como única espécie colonizadora, mas Ae. aegypti aparaceu com razoável freqüência como espécie isolada, embora a coexistência com Cx. quinquefasciatus também fosse alta (Chadee e col.5,1981).

Para Ae. aegypti o registro mais comum tem sido o de colonização dos recipientes como única espécie, A ampla adaptabilidade desse mosquito tem sido explicada por Craig Jr. e col.8 (1961) e Craig Jr. e Vandehey9 (1962) como sendo determinada por sua grande variabilidade genética, que a favoreceria na competição pelos criadouros. Cx. fatigans e Ae. aegypti exploram o mesmo tipo de criadouro e assim Peters e col.21,22 (1969), Rios e col.23 (1978) mostraram a superioridade competitiva desta segunda espécie. É possível encontrar as duas espécies juntas, mas a freqüência desse achado é baixa. Este quadro espelha o que foi observado em Londrina, na etapa de introdução de Ae. aegypti.

Este fenômeno foi interpretado por Rios e col.23 (1981) como processo de regulação intra-específica, onde os metabólitos de Ae. aegypti interferiam no crescimento de Cx.fatigans. A eficiência dos metabólitos autoreguladores, juntamente com o seu reduzido efeito intraespecífico, se combinariam com a redução da quantidade de matéria orgânica pelas larvas de Cx. fatigans para criar condições favoráveis para o crescimento de Ae. aegypti.

As espécies que mais freqüentemente foram encontradas em convivência com outras, foram Cx. quinquefasciatus, em 9 situações diferentes, Ae. fluviatilis em 8, Cx. mollis em 6, Li. durhamii, Cx. coronator, Ae. aegypti e An. argyritarsis em 5, Cx. bigoti, Cx. corniger e Toxorhynchites sp em 4. Cx. quinquefasciatus por ser amplamente distribuída e colonizar os mais variados tipos de recipientes, propiciaria a sua coabitação com as outras espécies que assim seriam praticamente forçadas a colocar ovos onde aquela espécie já estivesse presente.

Li. durhamii costuma ser a espécie mais freqüente em chácaras e ambientes periurbanos, que pode indicar características de hábito silvestre, com tais insetos preferindo recipientes encontrados em áreas sombreadas. Guimarães e col.12 (1985) afirmaram que esta espécie parecia ser o sabetíneo mais bem adaptado ao convívio urbano e esta grande potencialidade para a domiciliação estaria diretamente relacionada à compatibilidade com diferentes tipos de criadouros, fossem naturais ou artificiais.

Ae. aegypti mostrou preferência por pneus, caixas d'água, recipientes plásticos, latas, recipientes metálicos e piscinas. Em relação à distribuição espacial, limitou-se a colonizar duas áreas da região urbana de Londrina que se localizam em posições opostas da cidade, fato que poderia indicar introduções independentes. A verificação do tipo de local apontou uma maior ocorrência em terrenos baldios, aparecendo também em estabelecimento de ferro-velho e residências.

Essas informações deverão servir como subsídios para a elaboração de campanhas de esclarecimento à comunidade londrinense, informativos para a classe médica e também para aumentar medidas oficiais de controle e vigilância sanitária.

Conclusões

Pneus, vasos sem flores e caixas d'água foram os ambientes mais colonizados pelas larvas de Culicidae.

Aedes aegypti já está presente na área urbana de Londrina em início do processo de colonização e a infestação deve ter ocorrido através de duas fontes diferentes, no ano de 1985.

Foram identificados pela primeira vez, Cx. corniger, Cx. bigoti, Ae. aegypti, Ps. cingulata, Toxorhynchites sp, Li. durhamii e An. argyritarsis, procriando vez em recipientes na área urbana de Londrina.

Cx. quinquefasciatus, Ae. fluviatilis e Ae. aegypti foram as três espécies mais abundantemente coletadas em recipientes na área urbana de Londrina-PR, com amplo predomínio da primeira.

A maior densidade larval para Cx. quinquefasciatus ocorreu em ambientes altamente poluídos.

Ae. fluviatilis mostrou preferência por recipientes expostos diretamente à luz solar.

Ae. aegypti não mostrou preferência pelo tipo de recipiente, todavia preferiu aqueles alocados na sombra e com água limpa.

A presença de duas espécies coabitando o criadouro foi a condição de coexistência mais observada, sendo Cx. quinquefasciatus e Ae. fluviatilis a dupla mais freqüente.

A ação predatória nos criadouros da área urbana de Londrina foi exercida por Toxorhinchites sp e Cx. (Lutzia) bigoti.

A população humana da cidade de Londrina traz hábito cultural de acumular no fundo dos quintais toda sorte de recipientes, o que evidentemente facilita a procriação de Culicidae.

Agradecimentos

Ao Dr. Oswaldo Paulo Forattini e sua equipe pela confirmação da identificação das espécies de Culicidae.

Recebido para publicação em 14.4.1993

Reapresentado em 2.8.1993

Aprovado para publicação em 10.8.1993

Separatas /Reprints: J. Lopes - Campus Universitário - 86051-970 Londrina, PR - Brasil

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    Pesquisa subvencionada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Processo n
    o 40.1866/88.2/20/FV/PQ e pela Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Londrina. Trabalho apresentado no XVII Congresso brasileiro de Zoologia - Londrina, PR, 1990.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Out 2003
    • Data do Fascículo
      Out 1993

    Histórico

    • Aceito
      10 Ago 1993
    • Recebido
      14 Abr 1993
    • Revisado
      02 Ago 1993
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