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Ageismo contra idosos no contexto da pandemia da covid-19: uma revisão integrativa

RESUMO

OBJETIVO

Descrever os principais resultados de estudos sobre preconceito, estereotipia e discriminação relacionados à idade (ageismo) no contexto da pandemia da covid-19.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre o ageismo no contexto da pandemia da covid-19, realizada entre maio e junho de 2020, a partir das seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), Web of Science (Thompson Reuters), Scopus (Elsevier Science), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO).

RESULTADOS

Foram analisadas 21 publicações que discorreram sobre o ageismo durante a pandemia, suas origens, consequências e implicações ético-políticas. As publicações identificadas são de natureza teórica com abordagem crítico-reflexiva, sendo 90,5% artigos opinativos (n = 19) e 9,5% de pesquisa (n = 2). Os principais resultados encontrados apontam críticas em relação à destinação de recursos e cuidados intensivos baseados exclusivamente no critério etário. São também apontados os impactos do isolamento social, o uso das tecnologias e mídias sociais e as relações intergeracionais no cenário da covid-19.

CONCLUSÃO

A maioria das publicações indicam que o ageismo sempre esteve presente, mas tornou-se mais evidente durante a pandemia da covid-19 como forma de discriminação contra idosos. Ressalta-se que discursos “ageistas” podem influenciar negativamente na vida dos idosos e causar impactos sociais e psicológicos prejudiciais.

Idoso; Ageismo; Saúde do idoso; Geriatria; Infecções por Coronavírus; Discriminação Social; Preconceito; Estereotipagem; Política de saúde; Revisão

ABSTRACT

OBJECTIVE

To report the main results of studies on prejudice, stereotyping, and age-based discrimination (ageism) in the context of the COVID-19 pandemic.

METHODS

This is an integrative review of the literature on ageism in the context of the COVID-19 pandemic, conducted between May and June 2020, with data collected from the following databases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), Web of Science (Thompson Reuters), Scopus (Elsevier Science), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) and Scientific Eletronic Library Online (SciELO).

RESULTS

Twenty-one publications addressing ageism during the pandemics, its origins, consequences, and ethical and political implications were analyzed. All publications were theoretical with a critical/reflexive approach, being 90,5% opinion articles (n = 19) and 9,5% research (n = 2). The main findings indicate criticisms regarding resources allocation and intensive care based exclusively on age. The results also highlight the impacts of social isolation, the use of technologies and social media, and intergenerational relationships within the COVID-19 scenario.

CONCLUSION

According to most publications, although ageism has always been present, it became more evident during the COVID-19 pandemic as a form of discrimination against older adults. “Ageist” discourses may exert a negative influence in older adults’ lives, causing severe social and psychological impacts.

Aged; Ageism; Health of the Elderly; Geriatrics; Coronavirus Infections; Social Discrimination; Prejudice; Stereotyping; Health Policy; Review

INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2019, uma doença respiratória grave, de etiologia desconhecida, foi identificada na cidade de Wuhan, China. Posteriormente foi reconhecida como uma doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus-2 ou Sars-Cov-2) e denominada Coronavirus disease 2019 (covid-19)11. Wu F, Zhao S, Yu B, Chen Y-M, Wang W, Song Z-G, et al. A new coronavirus associated with human respiratory disease in China. Nature. 2020;579(7798):265-9. https://doi.org/10.1038/s41586-020-2008-3
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. Devido à rápida disseminação do vírus e ao aumento do número de casos da doença em diferentes partes do mundo, no dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a vigência da pandemia da covid-1922. World Health Organization. Coronavirus disease 2020 (COVID-19) situation report – 67. Geneva: World Health Organization; 2020..

A pandemia causada pelo novo coronavírus constitui um dos maiores problemas de saúde pública dos últimos 100 anos. Os desafios impostos aos países incluem a definição de medidas que garantam a proteção da saúde e minimizem os danos econômicos e sociais, respeitando os direitos humanos33. World Health Organization. WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing on COVID-19 – 11 March 2020. Geneva: World Health Organization; 2020.. Toda população mundial é susceptível à doença, mas países com populações mais idosas têm sofrido mais os impactos da pandemia, especialmente em relação à morbimortalidade. Estudos demostram que idosos possuem maior risco de desenvolver formas graves da covid-19, podendo levá-los ao óbito44. Wang D, Hu B, Hu C, Zhu F, Liu X, Zhang J, et al. Clinical characteristics of 138 hospitalized patients with 2019 novel coronavirus-infected pneumonia in Wuhan, China. JAMA. 2020;323(11):1061-9. https://doi.org/10.1001/jama.2020.1585
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. Tal fato relaciona-se, entre outros fatores, à imunossenescência, processo caracterizado pelo declínio progressivo da função imunológica e consequente aumento da suscetibilidade às infecções66. Nikolich-Zugich J, Knox KS, Rios CT, Natt B, Bhattacharya D, Fain MJ. SARS-CoV-2 and COVID-19 in older adults: what we may expect regarding pathogenesis, immune responses, and outcomes. Review Geroscience. 2020;42(2):505-14. https://doi.org/10.1007/s11357-020-00186-0
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. Além da idade, outros fatores como a alta prevalência de multimorbidade, fragilidade e alterações inflamatórias tornam esse grupo etário mais vulnerável e podem complicar o curso da doença77. Aprahamian I, Cesari M. Geriatric syndromes and SARS-COV-2: more than just being old. J Frailty Aging. 2020;9(3):127-9. https://doi.org/10.14283/jfa.2020.17
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.

Dentre as medidas para conter a expansão da pandemia, a OMS sugeriu que todos os países adotassem o distanciamento social a fim de conter a propagação do vírus, evitar o colapso dos sistemas de saúde e reduzir o número de vítimas da covid-1988. Ferguson N, Laydon D, Nedjati-Gilani G, Imai N, Ainslie K, Baguelin M, et al. Report – Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand. London: Imperial College London; 2020. https://doi.org/10.25561/77482
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. Contudo, essa estratégia pode gerar impactos negativos em diversos segmentos da sociedade. Bezerra et al.99. Bezerra ACV, Silva CEM, Soares FRG, t at. Fatores associados ao comportamento da população durante o isolamento social na pandemia de Covid-19. Ciênc Saúde Coletiva. 2020;25(1 Suppl). https://doi.org/10.1590/1413-81232020256.1.10792020
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realizaram uma pesquisa de opinião no Brasil sobre a percepção do isolamento social durante a pandemia de covid-19 (n = 16.440), identificando o convívio social como aspecto mais afetado entre as pessoas, seguido pelo financeiro.

As autoridades sanitárias nos diferentes países passaram, então, a recomendar a adoção de outras estratégias para conter a transmissão do vírus, tais como: a proibição de aglomerações, restrição à circulação e limitação do contato com populações especiais (por exemplo, em instituições de longa permanência, como é o caso de prisões). Tais medidas geraram impactos negativos sociais, econômicos e relacionados à saúde1010. Hale T, Petherick A, Phillips T, Webster S. Variation in government responses to COVID-19. Oxford, GB: BSG Working Papers; 2020..

Vários grupos etários podem ser vulneráveis aos efeitos das medidas de controle e prevenção da covid-19, incluindo o distanciamento e o isolamento social dele resultante. Na atualidade, os idosos estão cada vez mais expostos à possibilidade de viver sozinhos e ter menos oportunidades de interação social1111. Victor CR, Bowling A. A longitudinal analysis of loneliness among older people in Great Britain. J Psychol. 2012;146(3):313-31., além disso, saem menos de casa para atividades sociais, recreativas, religiosas e utilitaristas, em função de dificuldades de mobilidade e por condições ambientais inadequadas. Outro fator relevante é que essa população recorre menos do que os não idosos aos sistemas de comunicações on-line para se informar, fazer compras, contatos e se divertir. Com isso, tornam-se particularmente expostos aos riscos decorrentes do isolamento social e da solidão durante o período de distanciamento imposto pela pandemia1212. Douglas M, Katikireddi SV, Taulbut M, McKee M, McCartney G. Mitigating the wider health effects of covid-19 pandemic response. BMJ. 2020;369:m1557. https://doi.org/10.1136/bmj.m1557
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,1313. Menec VH, Newall NE, Mackenzie CS, Shooshtari S, Nowicki S. Examining social isolation and loneliness in combination in relation to social support and psychological distress using Canadian Longitudinal Study of Aging (CLSA) data. PloS one. 2020;15(3):e0230673. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0230673
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.

O isolamento social é definido como a falta generalizada de contato ou comunicação social, de participação em atividades sociais ou de contato com um confidente, estando associado ao aumento de quase um terço na chance de mortalidade (OR = 1,29)1414. Holt-Lunstad J, Smith TB, Baker M, Harris T, Stephenson D. Loneliness and social isolation as risk factors for mortality: a meta-analytic review. Perspect Psychol Sci. 2015;10(2):227-37. https://doi.org/10.1177/1745691614568352
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. Comumente associada ao isolamento social1313. Menec VH, Newall NE, Mackenzie CS, Shooshtari S, Nowicki S. Examining social isolation and loneliness in combination in relation to social support and psychological distress using Canadian Longitudinal Study of Aging (CLSA) data. PloS one. 2020;15(3):e0230673. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0230673
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,1515. Smith BJ, Lim MH. How the COVID-19 pandemic is focusing attention on loneliness and social isolation. Public Health Res Pract. 2020;30(2):3022008. https://doi.org/10.17061/phrp3022008
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, a solidão emocional é uma experiência pessoal de falta de contatos sociais significativos, que dá origem a sentimentos negativos como o desinteresse, tédio, fadiga e apatia, além de provocar a potencialização de dores, problemas de sono, perda de apetite e inatividade física. Em conjunto, as consequências do isolamento social e da solidão emocional aumentam a vulnerabilidade dos idosos à depressão e os expõem a um maior risco de morte1515. Smith BJ, Lim MH. How the COVID-19 pandemic is focusing attention on loneliness and social isolation. Public Health Res Pract. 2020;30(2):3022008. https://doi.org/10.17061/phrp3022008
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,1616. Beller J, Wagner A. Loneliness, social isolation, their synergistic interaction, and mortality. Health Psychol. 2018;37(9):808-13. https://doi.org/10.1037/hea0000605
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.

Com a pandemia da covid-19 e o risco de sobrecarga dos sistemas de saúde em alguns países e regiões, surgiram discussões acerca da destinação de recursos de saúde prioritariamente para pacientes jovens e adultos. Tal possibilidade suscitou e alimentou a polêmica em torno de questões éticas fundamentais, entre elas o direito à vida e o direito do profissional de decidir quem deve viver e quem deve morrer1717. Ayalon L. There is nothing new under the sun: ageism and intergenerational tension in the age of the COVID-19 outbreak. Int Psychogeriatr. 2020:1-4. https://doi.org/10.1017%2FS1041610220000575
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. Paralelamente, memes depreciativos, estereótipos negativos e discursos preconceituosos contra os idosos emergiram na internet, nas mídias e nas redes sociais, evidenciando a discriminação por idade na sociedade1818. Brooke J, Jackson D. Older people and COVID-19: isolation, risk and ageism. J Clin Nurs. 2020;29(13-14):2044-6. https://doi.org/10.1111/jocn.15274
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.

A pandemia evidenciou a questão dos preconceitos com relação aos idosos, que não é recente na história. O termo “ageismo” é um neologismo originário da língua inglesa (ageism), criado e usado pela primeira vez em 1969 pelo psiquiatra e gerontólogo norte-americano Robert Butler, para designar o preconceito de um grupo de idade contra outros grupos de idade, ou como toda forma de estereotipia e de discriminação contra pessoas com base na idade cronológica1919. Butler RN. Age-ism: Another form of bigotry. Gerontologist. 1969;9(4):243-6. https://doi.org/10.1093/geront/9.4_Part_1.243
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. No mesmo texto, Robert Butler enfatiza as vocações essenciais do ageismo, de ser orientado a idosos e de incluir processos sistemáticos de estereotipia e discriminação contra pessoas em razão de sua idade. O autor classificou o ageismo como uma forma de intolerância comparável ao sexismo e ao racismo e, seis anos mais tarde, refinou o conceito, dizendo que o ageismo inclui atitudes preconceituosas em relação às pessoas idosas, à velhice e ao processo do envelhecimento; práticas sociais discriminativas contra os idosos e práticas/políticas institucionais que perpetuam os estereótipos contra os mais velhos2020. Butler RN. Why Survive? Being old in America. New York: Harper And Row; 1975. 521 p..

Embora se admita que o ageismo possa ser dirigido a jovens e adultos2121. Abrams D, Russell PS, Vauclair C-M, Swift H. Ageism in the European region: findings from the European Social Survey. In: Ayalon L, Tesch-Römer C, editors. Contemporary perspectives on ageism. New York: Springer Publishing; 2018. p. 441-59. https://doi.org/10.1007/978-3-319-73820-8
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,2222. Sweiry D, Willitts M. Attitudes to age in Britain 2010/11. London: Department for Work and Pensions; 2012. 112 p., a grande maioria dos estudos teóricos e das pesquisas sobre ageismo é centrada nos idosos. Essa ocorrência é particularmente verdadeira com relação ao tratamento dispensado aos idosos durante a pandemia da covid-19, o que ocorre em função da combinação entre maior vulnerabilidade biológica e menor poder político desse grupo quando comparado os mais jovens. O termo ageism foi traduzido como discriminação por idade, etarismo ou ageismo e registrado na lista de Descritores das Ciências da Saúde (DeCS) da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

Diante do contexto da pandemia da covid-19 e considerando o envelhecimento um processo complexo, dinâmico e heterogêneo, a discriminação contra idosos e a estigmatização com base na idade têm sido mais evidentes, o que demanda discussões éticas e políticas importantes. O objetivo desta revisão foi descrever os principais resultados de estudos sobre preconceitos, estereotipia e discriminação com relação à idade (ageismo) no contexto da pandemia da covid-19.

MÉTODOS

A revisão integrativa de literatura consiste na abordagem metodológica empregada para fornecer conhecimentos produzidos sobre uma determinada temática, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. Organiza-se em seis fases: identificação do tema, hipótese ou questão de pesquisa; identificação de critérios pré-estabelecidos de busca na literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; avaliação crítica dos estudos incluídos; interpretação dos resultados; e apresentação da revisão/síntese do conhecimento2323. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto Enferm. 2008;17(4):758-64. https://doi.org/10.1590/S0104-07072008000400018
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.

Neste estudo, realizou-se uma busca na literatura sobre a discriminação etária (ageismo ou etarismo) contra idosos no contexto da pandemia da covid-19, considerando periódicos nacionais e internacionais. As estratégias de busca eletrônica foram conduzidas por dois pesquisadores independentes, entre o período de 01 de maio a 15 de junho de 2020, nas seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed), Web of Science (Thompson Reuters), Scopus (Elsevier Science), Lilacs e da Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Um terceiro pesquisador foi consultado para opinar sobre a inclusão ou não das publicações selecionadas, visando solucionar divergências entre os dois pesquisadores.

Os descritores foram utilizados de acordo com o Medical Subject Heading (MeSH) e seus equivalentes na língua portuguesa, estabelecidos pelos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os termos foram combinados utilizando os operadores booleanos “AND” e “OR” para compor as estratégias de busca, elaboradas para cada base de dados. Os seguintes termos foram utilizados como descritores durante as buscas nas bases de dados: covid-19 OR 2019 novel coronavirus disease OR covid19 OR covid-19 pandemic OR SARS-CoV-2 infection OR covid-19 virus disease OR 2019 novel coronavirus infection OR 2019-nCoV infection OR coronavirus disease 2019 OR coronavirus disease-19 OR 2019-nCoV disease OR covid-19 virus infection AND Ageism OR Age Discrimination OR Age Discriminations OR Discrimination, Age OR Discriminations, Age.

Os critérios de inclusão foram as publicações cujo objeto de estudo era o ageismo na população idosa (pessoas com idade ≥ 60 anos) e os reflexos na pandemia da covid-19. No presente estudo não houve restrição de ano, desenho metodológico ou idioma das publicações sobre o tema. Foram excluídas publicações que tratavam do ageismo em grupos etários inferiores a 60 anos de idade ou não se relacionavam à pandemia da covid-19. As publicações que se apresentaram em mais de uma base de dados foram consideradas apenas uma vez.

RESULTADOS

A busca inicial nas plataformas de pesquisa identificou 43 publicações com base no título. Desses, 21 manuscritos foram eliminados (com base no título e no resumo) por serem estudos duplicados ou não relacionados ao tema de interesse. Assim, foram selecionados 22 estudos para a leitura na íntegra e, dentre esses, um artigo foi excluído depois da consulta do terceiro pesquisador por não abordar a temática ageismo na pandemia como foco principal. Deste modo, 21 artigos foram utilizados nesta revisão integrativa. Dezoito artigos foram encontrados na MEDLINE/Pubmed, sete na Web of Science, quatro na BVS/Lilacs e três na Scopus. Alguns artigos estavam publicados em duas ou mais bases de dados. A Figura 1 exibe o fluxograma relativo às ações do processo de seleção das publicações.

Figura
Fluxograma do processo de seleção dos estudos para a revisão integrativa sobre ageismo no contexto da pandemia covid-19.

A síntese das publicações contempladas nesta revisão, de acordo com a base de dados em que estava disponível, o periódico, o(s) autor(es), ano de publicação, título, tipo de estudo, considerações/objetivos e os resultados de interesse, é mostrada no Quadro 1. A maioria dos artigos (90,4%; n=19) foi publicada em inglês, os demais em espanhol (n = 1) e em português (n=1). De modo geral, as publicações identificadas eram de natureza teórica com abordagem crítico-reflexiva, sendo 90,5% artigos opinativos (n = 19) e 9,5% de pesquisa (n = 2).

Quadro
Revisão integrativa das publicações sobre o ageismo contra idosos no contexto da pandemia causada pelo SARS-CoV-2 (covid-19).

Os artigos de opinião destacaram a importância dos pesquisadores da área se posicionarem acerca de uma questão bioética, cultural, social e ética envolvendo o mundo todo. Os autores se posicionam não só como profissionais de saúde, mas também como seres humanos diante de seus iguais em um problema que marcará o destino de muitas pessoas. O novo coronavírus nos traz um novo paradigma para a busca de conhecimento, bem comum e solidariedade.

Observou-se que a maioria das publicações1818. Brooke J, Jackson D. Older people and COVID-19: isolation, risk and ageism. J Clin Nurs. 2020;29(13-14):2044-6. https://doi.org/10.1111/jocn.15274
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,2424. Cesari M, Proietti M. COVID-19 in Italy: ageism and decision making in a pandemic. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(5):576-7. https://doi.org/10.1016/j.jamda.2020.03.025
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,2727. Morrow-Howell N, Galucia N, Swinford E. Recovering from the COVID-19 pandemic: a focus on older adults. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):526-35. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1759758
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destacam que o ageismo ficou mais evidente durante a pandemia da covid-19, gerando diversos impactos negativos para os idosos. Brooke e Jackson1818. Brooke J, Jackson D. Older people and COVID-19: isolation, risk and ageism. J Clin Nurs. 2020;29(13-14):2044-6. https://doi.org/10.1111/jocn.15274
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enfatizam que o isolamento prolongado pode contribuir para a solidão, diminuição da mobilidade, aumento da fragilidade e depressão em idosos, além disso, os discursos “ageistas” podem aumentar o abandono dos mais longevos1818. Brooke J, Jackson D. Older people and COVID-19: isolation, risk and ageism. J Clin Nurs. 2020;29(13-14):2044-6. https://doi.org/10.1111/jocn.15274
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. Banerjee2929. Banerjee D. “Age and ageism in COVID-19”: elderly mental health-care vulnerabilities and needs. Asian J Psychiatr. 2020;51:102154. https://doi.org/10.1016/j.ajp.2020.102154
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sugere que, em idosos, a negligência, a solidão, a depressão, a ansiedade, o isolamento e os abusos são males associados ao distanciamento social durante a pandemia, podendo ser mais problemáticos naqueles institucionalizados, em que as medidas de distanciamento e higiene podem não ser adequadas. Morrow-Howell et al.2727. Morrow-Howell N, Galucia N, Swinford E. Recovering from the COVID-19 pandemic: a focus on older adults. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):526-35. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1759758
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ressaltam que os idosos podem ter efeitos emocionais duradouros devido ao aumento do isolamento e da ansiedade.

Jimenez-Sotomayor et al.2525. Jimenez-Sotomayor MR, Gomez-Moreno C, Soto-Perez-de-Celis E. Coronavirus, ageism, and Twitter: an evaluation of tweets about older adults and COVID-19. J Am Geriatr Soc. 2020;68(8):1661-5. https://doi.org/10.1111/jgs.16508
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analisaram tweets e identificaram que 21,1% deles continham comentários com algum preconceito etário ou menosprezavam a gravidade da covid-19 por considerarem que atingia apenas os idosos. Outros estudos1717. Ayalon L. There is nothing new under the sun: ageism and intergenerational tension in the age of the COVID-19 outbreak. Int Psychogeriatr. 2020:1-4. https://doi.org/10.1017%2FS1041610220000575
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,1818. Brooke J, Jackson D. Older people and COVID-19: isolation, risk and ageism. J Clin Nurs. 2020;29(13-14):2044-6. https://doi.org/10.1111/jocn.15274
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,2828. Fraser S, Lagacé M, Bongué B, Ndeye N, Guyot J, Bechard L, et al. Ageism and COVID-19: what does our society’s response say about us? Age Ageing. 2020;49(5):692-5. https://doi.org/10.1093/ageing/afaa097
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também identificaram o ageismo presente nas redes sociais com o uso da hashtag #boomerremover, normalmente acompanhada de imagens depreciativas e piadas relacionadas aos idosos. Algumas publicações2424. Cesari M, Proietti M. COVID-19 in Italy: ageism and decision making in a pandemic. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(5):576-7. https://doi.org/10.1016/j.jamda.2020.03.025
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,3333. Archard D, Caplan A. Is it wrong to prioritise younger patients with covid-19? BMJ. 2020;369:m1509. https://doi.org/10.1136/bmj.m1509
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,3636. Savulescu J, Cameron J, Wilkinson D. Equality or utility? Ethics and law of rationing ventilators. Br J Anaesth. 2020;125(1):10-5. https://doi.org/10.1016/j.bja.2020.04.011
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,4040. Hammerschmidt KAS, Santana RF. Health of the older adults in times of the COVID-19. Cogitare Enferm. 2020;25:e72849. http://doi.org/10.5380/ce.v25i0.72849
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abordaram de forma crítica a destinação de recursos, de cuidados intensivos, de ventilação mecânica e/ou tomada de decisões baseadas exclusivamente no critério etário.

O ageismo e as relações intergeracionais também foram abordadas1717. Ayalon L. There is nothing new under the sun: ageism and intergenerational tension in the age of the COVID-19 outbreak. Int Psychogeriatr. 2020:1-4. https://doi.org/10.1017%2FS1041610220000575
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,3232. Ayalon L, Chasteen A, Diehl M, Levy BR, Neupert SD, Rothermund K, et al. Aging in Times of the COVID-19 pandemic: avoiding ageism and fostering intergenerational solidarity. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2020;gbaa051. https://doi.org/10.1093/geronb/gbaa051
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. Com os discursos “ageistas” cada vez mais presentes na mídia durante a pandemia, houve a acentuação do conflito entre pessoas de gerações diferentes. Dividir a sociedade por faixas etárias torna ainda mais difícil o enfrentamento dos idosos diante de um fenômeno natural devastador como a pandemia1717. Ayalon L. There is nothing new under the sun: ageism and intergenerational tension in the age of the COVID-19 outbreak. Int Psychogeriatr. 2020:1-4. https://doi.org/10.1017%2FS1041610220000575
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. A ênfase na idade como fator determinante da gravidade da covid-19 foi propagada também por profissionais da saúde, evidenciado a falta de conhecimento dos mesmos e da população geral sobre o ageismo. Nesse caso o ageismo raramente é feito de forma intencional, porém, pode afetar negativamente a vida dos idosos. Dessa forma, é importante que se entenda o ageismo como um conceito biopsicossocial e sua definição seja disseminada em diferentes espaços4141. Rahman A, Jahan Y. Defining a ‘risk group’ and ageism in the era of COVID-19. J Loss Trauma. 2020;25(8):635-4. https://doi.org/10.1080/15325024.2020.1757993
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DISCUSSÃO

Os principais achados desta revisão mostram que o ageismo se tornou presente em vários aspectos na vida dos idosos durante a pandemia. Embora todas as pessoas possam ser afetadas pela doença (covid-19), os idosos estão no centro da mídia e na maioria das discussões acerca da temática.

Um estudo4242. Flett GL, Heisel MJ. Aging and feeling valued versus expendable during the COVID-19 pandemic and beyond: a review and commentary of why mattering is fundamental to the health and well-being of older adults. Int J Ment Health Addict. 2020;1-27. https://doi.org/10.1007/s11469-020-00339-4
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identificou que as experiências de ageismo foram mais comuns em idosos e adultos jovens, comparativamente às pessoas de meia-idade. Enquanto os adultos jovens referiram sofrer ageismo mais frequentemente no ambiente de trabalho, em idosos e indivíduos de meia-idade foi mais comum quando procuravam mercadorias e serviços. Curiosamente, os idosos não citaram familiares como principais praticantes de ageismo, valendo ressaltar que, geralmente, quando há algum comentário desse tipo por um familiar, ele é interpretado como menos agressivo. Considerando-se o tipo de experiência, os jovens relataram a falta de respeito, já os adultos de meia-idade e os idosos citaram suposições sobre capacidade social e física4242. Flett GL, Heisel MJ. Aging and feeling valued versus expendable during the COVID-19 pandemic and beyond: a review and commentary of why mattering is fundamental to the health and well-being of older adults. Int J Ment Health Addict. 2020;1-27. https://doi.org/10.1007/s11469-020-00339-4
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O ageismo pode ocorrer em nível estrutural, em que as instituições sociais reforçam o preconceito sistemático contra os idosos e em nível individual, no qual os indivíduos têm opiniões negativas sobre o processo de envelhecimento. Revisão sistemática, que incluiu 422 estudos (mais de 7 milhões de participantes), identificou que em 95,5% dos estudos analisados o ageismo levou a piores resultados na saúde de idosos. Observou-se ainda uma prevalência maior do efeito negativo do ageismo na saúde em países menos desenvolvidos quando comparados aos mais desenvolvidos (p = < 0,001). O ageismo foi associado com piora na saúde em todos os domínios analisados4343. Chasteen AL, Horhota M, Crumley-Branyon JJ. Overlooked and underestimated: experiences of ageism in young, middle-aged, and older adults. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2020;gbaa043. https://doi.org/10.1093/geronb/gbaa043
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Ressalta-se que, durante a pandemia, o ageismo pode ser mais frequente, tendo em vista que muitos idosos permanecem dentro de suas casas dependendo da ajuda e prestação de serviços de outras pessoas para, por exemplo, obter itens básicos. Dessa forma, pode ser dado um foco errôneo nas características físicas dos idosos como um grupo heterogêneo de pessoas frágeis e dependentes3636. Savulescu J, Cameron J, Wilkinson D. Equality or utility? Ethics and law of rationing ventilators. Br J Anaesth. 2020;125(1):10-5. https://doi.org/10.1016/j.bja.2020.04.011
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Estudo realizado com idosos na Austrália4444. Chang E-S, Kannoth S, Levy S, Wang S-Y, Lee JE, Levy BR. Global reach of ageism on older persons’ health: a systematic review. PloS one. 2020;15(1):e0220857. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0220857
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, identificou que aqueles com algum tipo de incapacidade eram mais propensos a relatar discriminação do que idosos sem incapacidade ou com condições crônicas de saúde. Os indivíduos que sofreram preconceito apresentaram menores escores de autoeficácia e satisfação com a vida, denotando efeitos negativos da discriminação na vida das pessoas idosas4444. Chang E-S, Kannoth S, Levy S, Wang S-Y, Lee JE, Levy BR. Global reach of ageism on older persons’ health: a systematic review. PloS one. 2020;15(1):e0220857. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0220857
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.

Previtali et al.3737. Previtali F, Allen LD, Varlamova M. Not only virus spread: the diffusion of ageism during the outbreak of COVID-19. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):506-14. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1772002
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enfatizam que, embora seja observada relação entre a presença de doenças crônicas e a idade, ser cronologicamente idoso não significa ser vulnerável, em estado precário de saúde ou menos valioso. Além disso, a ideia de que a idade cronológica define objetivamente os grupos, negligenciando suas diferenças internas, é uma suposição que configura ageismo, pois apoia preconceitos, estereótipos e discriminação com base na idade3737. Previtali F, Allen LD, Varlamova M. Not only virus spread: the diffusion of ageism during the outbreak of COVID-19. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):506-14. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1772002
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Alguns estudos indicam o ageismo nos serviços de saúde durante a pandemia da covid-19, principalmente na distribuição de recursos, como a destinação de ventiladores mecânicos prioritária para jovens, em relação aos idosos. Na Itália, devido ao elevado e crescente número de pacientes com covid-19, o critério de idade começou a ser implicitamente adotado no algoritmo decisório para a alocação dos recursos escassos2424. Cesari M, Proietti M. COVID-19 in Italy: ageism and decision making in a pandemic. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(5):576-7. https://doi.org/10.1016/j.jamda.2020.03.025
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. Segundo Ouchida4545. Ouchida KM, Lachs MS. Not for doctors only: ageism in healthcare. Generations. 2015;39(3):46-57., a forma como os profissionais de saúde consideram o envelhecimento e o idoso pode determinar o atendimento e tratamento do mesmo. Ademais, a destinação de recursos baseada apenas na idade caracteriza-se como ageismo, pois, em situações críticas, devem ser considerados outros parâmetros, como condições clínicas, fragilidade, estado funcional e comorbidades2424. Cesari M, Proietti M. COVID-19 in Italy: ageism and decision making in a pandemic. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(5):576-7. https://doi.org/10.1016/j.jamda.2020.03.025
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. Todos têm direito à vida e as decisões rápidas deveriam ser tomadas pela equipe em conjunto com o paciente e família3333. Archard D, Caplan A. Is it wrong to prioritise younger patients with covid-19? BMJ. 2020;369:m1509. https://doi.org/10.1136/bmj.m1509
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,3636. Savulescu J, Cameron J, Wilkinson D. Equality or utility? Ethics and law of rationing ventilators. Br J Anaesth. 2020;125(1):10-5. https://doi.org/10.1016/j.bja.2020.04.011
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O ageismo pode ser implícito ou explícito e muitas vezes pode não ser reconhecido. Considerando-se o aumento da população idosa, torna-se cada vez mais importante a comunicação adequada entre profissionais de saúde e indivíduos, a melhor compreensão da heterogeneidade do envelhecimento e a renúncia de estereótipos relacionados à velhice4646. Temple JB, Kelaher M, Brooke L, Utomo A, Williams R. Discrimination and disability: types of discrimination and association with trust, self-efficacy and life satisfaction among older Australians. Australas J Ageing. 2020;39(2):122-30. https://doi.org/10.1111/ajag.12747
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. Cesari et al.2424. Cesari M, Proietti M. COVID-19 in Italy: ageism and decision making in a pandemic. J Am Med Dir Assoc. 2020;21(5):576-7. https://doi.org/10.1016/j.jamda.2020.03.025
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sugerem que médicos familiarizados com os princípios de geriatria e gerontologia apoiem o desenvolvimento de recomendações mais contemporâneas, identificando maneiras válidas e eficientes de avaliar morbidades e status funcional nos diferentes contextos e especialidades.

As publicações apontam que o isolamento social impactou negativamente na vida dos idosos. Plagg4747. Plagg B, Engl A, Piccoliori G, Eisendle K. Prolonged social isolation of the elderly during COVID-19: between benefit and damage. Arch Gerontol Geriatr. 2020;89:104086. https://doi.org/10.1016/j.archger.2020.104086
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avaliou os benefícios e danos decorrentes do isolamento social prolongado para os idosos e destacam que, apesar do objetivo principal ser evitar ou diminuir a propagação do vírus, a situação eleva o risco de doenças neurológicas, cardiovasculares, depressão, declínio cognitivo e mortalidade4545. Ouchida KM, Lachs MS. Not for doctors only: ageism in healthcare. Generations. 2015;39(3):46-57.. Portanto, caso prolongado o isolamento social, medidas para reduzir os possíveis danos devem ser tomadas. Além disso, o distanciamento não deve ser entendido como o fim das relações sociais e das redes de apoio, e os profissionais de saúde, a sociedade e a família devem trabalhar juntos para que o idoso continue com a sensação de pertencimento.

Com as recomendações do distanciamento físico e isolamento domiciliar, as mídias sociais surgiram como principal alternativa para que o indivíduo possa manter algum contato humano, ainda que indireto. Além disso, a cobertura da mídia sobre a pandemia da covid-19 desempenhou papel fundamental na disseminação rápida de pesquisas científicas e informações por autoridades sanitárias. Em contrapartida, a propagação de fake news, memes depreciativos, opiniões ofensivas (como o uso da hashtag #boomerremover) evidenciaram o ageismo vigente na sociedade, que erroneamente prega o coronavírus como uma doença “de velho” e potencializa o teor discriminatório contra aqueles de mais idade2525. Jimenez-Sotomayor MR, Gomez-Moreno C, Soto-Perez-de-Celis E. Coronavirus, ageism, and Twitter: an evaluation of tweets about older adults and COVID-19. J Am Geriatr Soc. 2020;68(8):1661-5. https://doi.org/10.1111/jgs.16508
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,2727. Morrow-Howell N, Galucia N, Swinford E. Recovering from the COVID-19 pandemic: a focus on older adults. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):526-35. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1759758
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. A criação de conteúdo confiável, de alta qualidade e que enfrente o ageismo faz-se necessária a fim de reduzir os efeitos maléficos dos estereótipos negativos do envelhecimento na saúde e no bem-estar da população idosa2525. Jimenez-Sotomayor MR, Gomez-Moreno C, Soto-Perez-de-Celis E. Coronavirus, ageism, and Twitter: an evaluation of tweets about older adults and COVID-19. J Am Geriatr Soc. 2020;68(8):1661-5. https://doi.org/10.1111/jgs.16508
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,4848. Meisner BA. Are You OK, Boomer? Intensification of ageism and intergenerational tensions on social media amid COVID-19. Leis Sci. 2020. https://doi.org/10.1080/01490400.2020.1773983
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.

A tensão intergeracional – caracterizada como o conflito entre pessoas de diferentes gerações – manifestou-se em forma de raiva e ódio nas redes sociais por causa da resistência de alguns idosos para usar máscaras ou aderir às medidas de isolamento social. Além disso, foi estabelecida a ideia de que idosos “já viveram suas vidas” e agora é hora de renunciarem, ignorando sua autonomia, independência e desconsiderando suas necessidades sociais1717. Ayalon L. There is nothing new under the sun: ageism and intergenerational tension in the age of the COVID-19 outbreak. Int Psychogeriatr. 2020:1-4. https://doi.org/10.1017%2FS1041610220000575
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. Tais fatos indicam a acentuada diferença e animosidade entre gerações, baseando-se apenas na idade como um marcador de risco e de letalidade da covid-191717. Ayalon L. There is nothing new under the sun: ageism and intergenerational tension in the age of the COVID-19 outbreak. Int Psychogeriatr. 2020:1-4. https://doi.org/10.1017%2FS1041610220000575
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Estereotipar o idoso como indivíduo frágil e dependente pode causar problemas em todas as gerações, pois os mais jovens interiorizam essa imagem e a projetarão para si em seu envelhecimento. Não é apenas a idade que tornam os indivíduos mais vulneráveis ao covid-19, existem outros fatores como a presença de doenças crônicas e comorbidades3232. Ayalon L, Chasteen A, Diehl M, Levy BR, Neupert SD, Rothermund K, et al. Aging in Times of the COVID-19 pandemic: avoiding ageism and fostering intergenerational solidarity. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2020;gbaa051. https://doi.org/10.1093/geronb/gbaa051
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. A solidariedade entre gerações é importante para maximizar o apoio, a conexão e a rede de suporte social dos idosos durante a pandemia2828. Fraser S, Lagacé M, Bongué B, Ndeye N, Guyot J, Bechard L, et al. Ageism and COVID-19: what does our society’s response say about us? Age Ageing. 2020;49(5):692-5. https://doi.org/10.1093/ageing/afaa097
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. Revisão sistemática e metanálise, que incluiu 63 estudos (6.124 participantes), identificou que as intervenções focadas em educação, contato intergeracional e educação, combinada ao contato intergeracional, associaram-se à redução do ageismo4949. Burnes D, Sheppard C, Henderson CRJ, Wassel M, Cope R, Barber C, et al. Interventions to reduce ageism against older adults: a systematic review and meta-analysis. Am J Public Health. 2019;109(8):e1-e9. https://doi.org/10.2105/ajph.2019.305123
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.

Outro agravante é o comportamento social na velhice, muitas vezes, caracterizado pela redução das redes sociais e diminuição da participação em atividades sociais5050. Pinto JM, Neri AL. Trajetórias da participação social na velhice: uma revisão sistemática da literatura. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2017;20(2): 259-272. https://dx.doi.org/10.1590/1981-22562017020.160077
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. Ainda, o acesso ou a capacidade limitada de uso das tecnologias digitais pelos idosos pode impedi-los ou dificultar a obtenção de bens, serviços e apoio social necessários durante a pandemia, deixando-os mais vulneráveis ao isolamento, à depressão e à solidão3232. Ayalon L, Chasteen A, Diehl M, Levy BR, Neupert SD, Rothermund K, et al. Aging in Times of the COVID-19 pandemic: avoiding ageism and fostering intergenerational solidarity. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2020;gbaa051. https://doi.org/10.1093/geronb/gbaa051
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. Previtali et al.3737. Previtali F, Allen LD, Varlamova M. Not only virus spread: the diffusion of ageism during the outbreak of COVID-19. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):506-14. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1772002
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apontam que o acesso à tecnologia, bem como à alfabetização digital, demonstrou ser um elemento-chave na capacidade de lidar com os desafios impostos pela quarentena.

É muito importante proteger os idosos da covid-19, mas também é importante respeitá-los e apoiá-los nessa situação complexa2626. Petretto DR, Pili R. Ageing and COVID-19: what is the role for elderly people? Geriatrics (Basel). 2020;5(2):25. https://doi.org/10.3390/geriatrics5020025
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. Com o surgimento de numerosos dilemas ageistas e conflitos morais referentes ao valor da vida das pessoas idosas em meio a pandemia, destacam-se os seis pontos elaborados por Ehni et al.3434. Ehni H-J, Wahl H-W. Six propositions against ageism in the COVID-19 pandemic. J Aging Soc Policy. 2020;32(4-5):515-25. https://doi.org/10.1080/08959420.2020.1770032
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, baseados em conhecimentos gerontológicos e na ética do envelhecimento para o combate do ageismo presente nas reações à pandemia: 1) os idosos são altamente heterogêneos - sua saúde e funcionamento são melhores do que os estereótipos negativos sugerem; 2) limites de idade para terapia intensiva e outras formas de assistência médica são inapropriados e antiéticos; 3) a visão deficitária da velhice é perigosa para os idosos e sociedades em geral - a solidariedade entre gerações deve ser fortalecida; 4) resistir à suposição de uma atitude paternalista em relação aos idosos; 5) a crise da covid-19 exige o uso de modernas tecnologias da informação e comunicação entre os idosos e; 6) a crise do covid-19 não apenas exige o melhor da virologia, mas também o melhor da gerontologia para orientação política e a compreensão das consequências em geral.

Dentre as limitações deste estudo, deve-se considerar que, globalmente, o ageismo é uma temática ainda pouco discutida no contexto da pandemia da covid-19, o que pode explicar, mesmo que parcialmente, o número reduzido de publicações encontradas sobre o tema e a predominância de artigos opinativos (editoriais e comentários). Contudo, ressalta-se a natureza critico-reflexiva sustentada em importantes pressupostos teóricos que permitem analisar diversos pontos críticos socioculturais e de abrangência em saúde pública.

De modo geral, os resultados desta revisão integrativa demonstram um retrato do contexto e fenômeno de interesse dos estudos primários, trazendo à tona esse tema tão importante e ainda pouco discutido em relação à pandemia no Brasil e no mundo.

Os discursos “ageistas” podem causar impactos sociais e psicológicos negativos na vida dos idosos. Faz-se necessário aumentar os esforços para a redução do ageismo, bem como a difusão de informações sobre essa prática tão prejudicial. Observa-se a importância do desenvolvimento de políticas públicas e estudos científicos envolvendo o tema a fim de promover a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, com solidariedade intergeracional e respeito aos direitos e a vida das pessoas idosas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2020
  • Aceito
    21 Out 2020
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