RESUMOS DE LIVROS BOOK REVIEWS
Glacilda Telles de Menezes Stewien
Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP
Despejando el aire: perspectivas sobre el humo de tabaco en el ambiente, compilado por Robert D. Tollison; trad. Lexington, Mass., Lexington Books, 1989.176 p.
O livro, coordenado por Robert D. Tollison, é uma tradução da obra "Clearing the Air: Perspectives on Environmental Tobacco Smoke". Consta de uma série de capítulos elaborados por autores de formação bastante diversificada: sociólogo, economista, médico, advogado, jornalista, professor de farmacologia, bacteriologista e empresário de fábrica de produtos de tabaco.
Numerosos argumentos sobre a influência do fumo sobre os chamados "fumantes passivos" são apresentados. Para o sociólogo, que considera o consumo de cigarros uma atividade eminentemente social, a importância desse aspecto é grande, porque diz respeito aos direitos de todos e de cada um e as limitações que sobre eles se podem impor. Para o economista, é preciso esclarecer a quem pertence o ar e quem tem direito de prioridade sobre este bem indispensável. O fumo não é o único produto da civilização que põe atualmente em risco a saúde dos homens. Muitas outras ações do homem contemporâneo resultam potencialmente tão ou mais prejudiciais que o fumo.
São todos os argumentos que contrariam a evidência acumulada nos últimos anos através de pesquisas rigorosamente realizadas que demonstram os prejuízos que o fumo causa a saúde. Embora a exposição a ele não resulte necessariamente em morte, a fumaça do fumo no ambiente causa uma miríade de outros problemas. A fumaça do ambiente, exalada pelo fumante e a fumaça produzida pela queima do cigarro, é chamada pelo "Environmental Protection Agency "(EPA)" um dos mais comuns e prejudiciais poluentes do ar em ambientes fechados".
O livro, de modo geral, nega todas as pesquisas feitas até agora, o que não é de estranhar, visto que teve o patrocínio da Philip Morris, Inc., uma das grandes produtoras de cigarros do mundo. Vale a pena, entretanto, conhecer os argumentos apresentados pelos Autores sobre a insignificante contribuição do fumo à saúde do homem, principalmente pelo pessoal de Saúde Pública.
Evelin Naked de Castro Sá
Departamento de Prática de Saúde Pública FSP/USP
Management development for health care: an international perspective, edited by Colin Grant. Dublin, European Healthcare Management Association, 1989. 72 p.
O livro refere-se ao "Seminário internacional de desenvolvimento gerencial em saúde" promovido pela "European Healthcare Management Association", sob os auspícios da W.K. Kellogg Foundation, que aconteceu em Oxford , Inglaterra, em maio de 1988, com a participação dos Estados Unidos, Austrália, Irlanda, Suécia, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia, Brasil, Itália, Colômbia, México e Holanda. O Prof. Carlos José Malferrari representou o Brasil, como diretor-adjunto do PROAHSA, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.
Com esse propósito, o capítulo 1 contém finalidades e organização do seminário; deste capítulo é importante destacar que o propósito foi reunir um grupo pequeno e seleto de pessoas ligadas à formação de administradores de serviços de saúde, numa oportunidade para trocas de experiências, e iniciar uma publicação que deveria resumir os trabalhos descritivos de inovações que surgirem. O capítulo 2 traz os sumários correspondentes aos assuntos previstos no programa, quais sejam: a) revisão de programas; assessorias; depoimentos. Este capítulo tem na introdução uma citação bem oportuna de Shakespeare (Much Ado About Nothing, II,ii)exemplificativa das dificuldades de semântica e conteúdo de programas, etc, encontradas no decorrer do seminário, visto que as diferentes vivências, embora tragam uma grande e variada riqueza às discussões, contém limitações no plano entendimento mútuo; b) educação continuada, não tradicional, graduação externa; c) AIDS implicações para a gerência e administração; d) formação para administração de enfermagem; e) medidas comparativas de desenvolvimento em administração de saúde; O desenvolvimento em administração para médicos; g) relacionamento com alunos; h) racionalização ética, política e docência; i) pesquisa, docência e desenvolvimento gerencial; j) desenvolvimento de liderança; 1) obtenção de apoio político e financeiro; m) seminários internacionais; n) encerramento e o) referências. No encerramento está destacada a recomendação de, para futuros seminários , expositores e participantes apresentarem, de início, suas epistemologias, definir os seus conceitos, identificar seus principais traços culturais, seus paradigmas de docência, pesquisa serviços de saúde e administração e, somente se houvesse tempo suficiente, abordar seus assuntos.
O capítulo 3 engloba cinco exemplos de inovações na área de formação em administração para saúde. Na introdução deste capítulo é dito que os exemplos representam uma pequena amostra das mudanças que vêm ocorrendo no mundo e que os exemplos foram selecionados com base francamente pragmática os que se interessaram pelo seminário. Espera-se que exemplos descritos chamem a atenção, estimulem debates sobre seus objetivos, metologias, epistemologias e valores, levando a mundanças na educação, gerência e oferecimento de serviços numa área onde a causalidade se torna indeterminada. Algumas constantes nos exemplos são: a formação em administração em saúde está mudando á medida em que o ambiente da saúde muda. Assim, para atender o processo de mudança, os cursos necessitam flexibilidade de forma e de conteúdo, a população de estudantes vem tendo proporções crescentes de adultos com necessidades educacionais e de gerência diferentes de grupos mais jovens e com menos experiência; a formação deverá atender para estruturas de trabalho e sociais freqüentemente complexas; a necessidade dos profissionais de saúde de desenvolver competência em gerência, valores e conhecimentos; a utilidade e necessidade de utilizar situações de trabalho para aprendizagem prática e experimental; o uso de grupos de estudo como parte do processo de ensino; a idéia de que o desenvolvimento de carreiras não deverá ser um processo aleatório e que é, pelo menos em parte, suceptível de planejamento e a crescente utilização de colaboração entre organizações de formação.
As experiências relatadas são:
Colômbia: (Rafael Martinez Gomes) Dietor de Planejamento, Universidade do Norte, Barranquilla, Colômbia (pg. 30 a 43), com referências e bibliografia;
Londres: King's Fund College (Greg Parston e Lauvice Mc Mahon) (pg. 44 a 48).
Western Network, USA: (engloba as escolas e "campi" das Universidades do Arizona, Universidade da Califórnia (Berkely, Los Angeles), Universidade do Colorado em Denver, Universidade do Hawai e a Universidade de Washington, além de outras organizações de saúde (pg. 49 a 52).
Austrália: The Royal Melbourne Institute of Technology (pg. 53 a 57).
Inglaterra: Open University e Institute of Health Services Management o programa MESOL (the Management of Education Syllabus and Open learning Programme) (pg.58 a 67).
Todas as cinco experiências tratam, no geral, dos objetivos, estrutura do curso, características especiais e inovações e trazem os endereços das instituições para informações suplementares.
É um pequeno livro, de pouco mais de setenta páginas, com tópicos de tamanho reduzido. No entanto, é talvez mais provocativo do que randes trabalhos, visto que desperta o que de essencial tem de cada assunto e/ou experiência trazida. Somente pela coragem em admitir as dificuldades da semântica (conclusões do capítulo 2), já valeria sua leitura.
Jorge da Rocha Gomes
Departamento de Saúde Ambiental-FSP/USP
Risk and decisions, edited by W. T. Singleton and Jan Hovden. Chichester, John Wiley, 1987.232 p.
Esta interessante e oportuna publicação constitui uma reunião de vários artigos apresentados em seminário internacional e multi-disciplinar realizado na Noruega.
Estes artigos abordam o tema risco sob diversos enfoques como certos pormenores ligados ao conceito de risco e sua avaliação; risco e comportamento; risco e políticas (governo, instituições e indústria).
Outros artigos abordam o risco sob o ponto de vista militar, de segurança em plataformas submarinas, dos grandes desastres e decisões em emergências, da probabilidade de câncer por alimentos e medicamentos, de um executivo em segurança do trabalho e da psicologia.
Ao final de quase todos os capítulos há um resumo das discussões e suas conclusões.
Embora voltado para os aspectos de riscos relacionadas com a área de saúde (mais especificamente, segurança do trabalho) e decisões ligadas ao trabalho e tecnologia a publicação é bastante abrangente e eclética. Sua leitura é de grande interesse para os profissionais de saúde pública em especial os que têm responsabilidades com segurança e saúde dos trabalhadores e os que devem tomar decisões a partir da análise de riscos.
Eris Focesi
Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP
School health practice, by William H. Creswell Jr. and Ian M. Newman. 9 th ed. St. Louis, Times Mirror/Mosby College Publ., 1985.496 p.
Creswell e Newman, notáveis professores de Educação em Saúde, na nona edição de seu livro "School Health Practice", apresentam Teorias, Conceitos, Normas e Práticas renovadas, atendendo às necessidades do mundo contemporâneo.
Os autores procuram responder aos desafios da Educação em Saúde hoje, sugerindo novos caminhos para ajudar o escolar a: proteger sua saúde e promovê-la; identificar meios que possibilitem saúde de melhor qualidade para todos e, reconhecer as vantagens provindas dos investimentos em Educação em Saúde.
O texto apresenta ainda análise histórica dos conceitos emitidos sobre Saúde e Educação em Saúde Escolar. Estabelece ligação entre esses conceitos e as várias Escolas Pedagógicas. Mostra que, para o avanço do conhecimento em saúde contribuiram idéias de estudiosos do passado, que provocaram mudança de conceitos, tornando a Escola uma das principais agências de Promoção da Saúde.
Os autores consideram a necessidade de se desenvolver o Programa de Saúde Escolar de forma total, propondo como áreas de trabalho: Ensino, Serviços e Vida Escolar Saudável. Na área "Ensino" relacionam diferentes tipos de Currículo às Teorias da Aprendizagem que o sugerem; na de "Serviços" frizam a necessidade da integração da Escola às Unidades de Saúde responsáveis pelo atendimento ao Escolar. Na de "Vida Escolar Saudável" apresentam o papel das leis e normas que permitem o desenvolvimento efetivo de um programa de Educação em Saúde na Escola. Propõe ainda, análise conjunta dos problemas, que não só atinjam a juventude mas a saúde da nação como: o uso e abuso de drogas, gestação precoce, doenças sexualmente transmissíveis e tantos outros, de maneira a prepará-la para conseguir para si e para a comunidade melhor qualidade de vida.
Este livro, escrito de forma clara e bem fundamentada, deve ser leitura obrigatória para todos os profissionais e interessados na Educação em Saúde na Escola e na Saúde Escolar.
Rubens de Camargo Ferreira Adorno
Departamento de Prática de Saúde Pública-FSP/USP
Sociologia y enfermería, por Carmen Domínguez -Alcón, Josep A. Rodrígues y Jesús M. de Miguel. Madrid, Pirámide, 1983. 207 p. Ilus.
O livro é composto por capítulos que sugerem sua utilização como artigos, devido sua diferenciação temática.
Os dois primeiros capítulos apresentam de forma panorâmica conceitos de sociologia. Destacam a existência de duas linhas conceituais: uma histórica relacionada a interpretação de momentos de crise e a chamada à consciência da sociedade, e outra, a "sociologia-del-orden" que pretende supor a existência de uma sociologia única universalmente válida. Conclui que: "la sociologia tiene, pues, como objeto, relaciones, dinámicas y dialécticas y no realidades meramente estáticas".
Ao destacar a relação entre sociologia e saúde são colocados limites e especificidades dos campos de estudo: "la sociologia tiene lo social como objeto de estudio, mientras que la medicina tiene lo individual y lo orgánico". Interessante é a inferência feita entre saúde e "medicina"; esta última conceituada como prática que, na modernidade científica reforçou os critérios orgânicos na definição de seu campo de ação: "la medicina y la sociologia se han ignorado mutuamente en el periodo de sua institucionalización como disciplinas científicas".
Os autores propõem haver contemporáneamente um campo de convergência entre as duas disciplinas: decorrente de mudanças nas pautas de morbidade e à complexificação da identidade do enfermo, principalmente os crônicos e sua reivindicação por espaços próprios e terapias de reabilitação; acrescentando-se a necessidade de analisar a existência hoje de uma organização sanitária que tem forte interferência no cotidiano social.
Em seguida (capítulos 3, 4 e 5), são expostas e analisadas as ideologias e concepções da enfermagem, caracterizando-se em síntese esta prática profissional, na sociedade espanhola, como reprodutora de um modelo autoritário e seseista. Esta análise leva a conceber a necessidade de busca, para a enfermagem, de uma busca de identidade e autonomia.
Na linha da ideologia autoritária e seseista são ainda analisados o papel da mulher, a questão reprodutiva e sua relação com o sistema sanitário. São expostos dados sobre a participação das mulheres nas profissões de saúde na Espanha.
A situação da enfermagem na Espanha, volta a ser caracterizada no capítulo 6, como produto de uma história de "subordinación y dependência" em relação ao médico; mesmo após a criação das "Escuelas Universitárias de Enfermeria" em 1977. São apresentados dados referentes à distribuição dos enfermeiros e na concentração em hospitais públicos e capitais provinciais.
No capítulo 7, analisa-se a situação do profissional médico, caracterizando a profissão do ponto de vista técnico - a criação de uma autonomia e divisão do seu trabalho - e ideológico: a decisão bem como a deliberação sobre o que seja saúde-doença e seus limites. São também expostos dados sobre a distribuição desses profissionais na organização sanitária espanhola.
Os três capítulos restantes dedicam-se à caracterização do sistema e da política sanitária espanhola e a questão da reprodução da desigualdade social. Deste modo expõe-se que os grupos mais necessitados acabam por ter menor acesso ao sistema e tornam-se os maiores consumidores de medicamentos.
Destaca-se a oposição e resistência que a corporação médica tem realizado frente a mudanças no sistema sanitário; o duplo vínculo de trabalho dos profissionais e sua aliança ao sistema privado; e a defesa da corporação médica de uma prática eminentemente curativa conservando um modelo em que ações preventivas e de reabilitação têm participação reduzida.
Em relação ao sistema público, são apontadas tendências à sua democratização ainda que incipiente no momento de edição do livro (1983). Como ponto positivo destaca-se a presença de uma rede hospitalar pública, de melhor qualidade que a rede privada e como pontos negativos a centralização, estratificação e subvenção do sistema público e empresas privadas.
Recomenda-se a leitura e utilização deste livro, pela sua atualidade, pertinência e qualidade de análise no tratamento dos temas.
Além disso pode-se destacar que a leitura deste poderia contribuir para iniciar um processo de intercâmbio de conhecimento da realidade sanitária e troca de idéias com a Europa Ibérica e Mediterrânea, que deveria estar mais estreitada à América Latina.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Out 2004 -
Data do Fascículo
Dez 1990