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Narrativas de familiares sobre o suicídio de idosos em uma metrópole amazônica

RESUMO

OBJETIVO

Analisar as narrativas de familiares sobre o suicídio de idosos em Manaus, Amazonas, Brasil.

MÉTODOS

Estudo qualitativo de narrativas de oito idosos que morreram por suicídio no período 2001-2012. No processo analítico-interpretativo, buscou-se realizar o exercício da dupla hermenêutica: interpretar a interpretação dos narradores. Teve-se como referenciais teóricos autores que investigaram o suicídio a partir da perspectiva de gênero, de suas correlações com o contexto sociofamiliar e com transtornos mentais.

RESULTADOS

Os familiares conceberiam o suicídio dos idosos como relacionado a perdas, que se dariam em um cenário sociofamiliar tensionado, levando ao surgimento de quadros psicopatológicos que, se não adequadamente acompanhados, resultariam na morte. Haveria também algo de inexorável nessa sequência de eventos. O idoso, pelo próprio tempo de sua vida, tenderia a acumular em sua trajetória perdas de diferentes matizes. Sua rigidez e outras limitações relacionais tensionariam simultaneamente as relações familiares, favorecendo conflitos, e dificultariam a adesão ao tratamento. Esse modelo de compreensão, que tem amplo ancoramento no discurso médico-psicológico hegemónico, de certo modo, se presta a minimizar eventuais auto- ou heteroacusações direcionadas aos familiares.

CONCLUSÕES

Especial atenção deveria ser direcionada para se identificar idosos que apresentem simultaneamente perdas, conflitos familiares, indícios de psicopatologia e não seguimento em serviços de atenção psicossocial. Estratégias para auxiliar os idosos a lidar com as perdas e conflitos familiares, empoderando-os, deveriam ser desenvolvidas e disponibilizadas por meio de ações intersetoriais. O adequado tratamento de condições psicopatológicas deveria ser implantado, em um contexto no qual também houvesse mecanismos de busca ativa de idosos que abandonaram o acompanhamento. Implantar essas ações é um desafio a ser enfrentado em Manaus, onde há baixa disponibilidade de serviços de atenção psicossocial, que não se articulam com os serviços de atenção especializada em condições médicas de abordagem terciária, havendo ainda baixa cobertura pela atenção básica.

DESCRITORES
Idoso; Suicídio, psicologia; Fatores de Risco; Narrativas Pessoais; Hermenêutica

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