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COMPORTAMENTO DE CLONES DE MANDIOCA EM RELAÇÃO A INFESTAÇÃO POR Neosilba perezi (Romero & Ruppell) ( DIPTERA: LONCHAEIDAE)

Resumos

Avaliou-se o comportamento de doze cultivares de mandioca de mesa e de dez de indústria em relação à infestação da broca-dos-brotos Neosilba perezi em dois experimentos conduzidos na Estação Experimental de Pariquera-Açu, SP, no ano agrícola 1991/92. A infestação foi avaliada aos quatro meses após a brotação das manivas. Nos dois grupos de mandioca observou-se variações entre os cultivares para resistência a N. perezi. Entre os cultivares de mesa, o mais resistente (IAC 289-70) apresentou média de 0,25 broto broqueado por planta enquanto o mais suscetível (F 4015) teve 2,40. Os cultivares SRT 1140 - Vassourinha amarela, F 5141 e IAC 576-70 tiveram médias inferiores a 1 broto broqueado por planta e não diferiram do IAC 289-70, podendo também ser considerados resistentes. Nos cultivares de indústria a amplitude foi menor entre o menos e o mais atacado, os quais tiveram, respectivamente, 0,40 (IAC 105-66) e 1,35 (SRT 1174). Também foi observada a presença de Ganaspis pelleranoi (Hymenoptera: Eucoilidae), parasitando larvas de N.perezi.

Insecta; Neosilba perezi; resistência varietal; mandioca; Ganaspis pelleranoi; broca-dos-brotas


The performance of twelve cassava clones for table consumption and of ten clones for the industry was evaluated under field conditions in relation to the infestation by the shoot fly Neosilba perezi . Two experiments were carried out at the Experimental Station of Pariquera-Açu, State of São Paulo, Brazil, during the 1991/92 growing season. The evaluations were made four months after shooting started. In both cassava groups, different levels of shoot fly infestation were observed. In the group for table, the most resistant (IAC 289-70) presented an average of 0.25 bored shoots per plant, while the most suscetible (F 4015), of 2.40. The clones SRT 1140-Vassourinha amarela, F 5141 and IAC 576-70 could also be rated as resistant, since they presented average numbers of bored shoots per plant lower than 1, and did not differ from IAC 289-70. In the group for the industry, a narrower amplitude was observed between the least and the most infested, IAC 105-66 (0.40) and SRT 1174 (1.35). In the same experimental area, the presence of Ganaspis pelleranoi (Brethes) (Hymenoptera: Eucoilidae) parasiting larvae of N. perezi was also observed.

Insecta; Neosilba perezi; plant resistance; cassava; Ganaspis pelleranoi


COMPORTAMENTO DE CLONES DE MANDIOCA EM RELAÇÃO A INFESTAÇÃO POR Neosilba perezi (Romero & Ruppell) ( DIPTERA: LONCHAEIDAE)

A.L. LOURENÇÃO1,4; J.O. LORENZI2; G.M.B AMBROSANO3

1Seção de Entomologia/IAC, C.P. 28, CEP: 13001-970 - Campinas, SP.

2Seção de Raízes e Tubérculos/IAC, C.P. 28, CEP: 13001-970 - Campinas, SP.

3Seção de Técnica Experimental e Cálculo-IAC, C.P. 28, CEP: 13001-970 - Campinas, SP.

4Bolsista do CNPq.

RESUMO: Avaliou-se o comportamento de doze cultivares de mandioca de mesa e de dez de indústria em relação à infestação da broca-dos-brotos Neosilba perezi em dois experimentos conduzidos na Estação Experimental de Pariquera-Açu, SP, no ano agrícola 1991/92. A infestação foi avaliada aos quatro meses após a brotação das manivas. Nos dois grupos de mandioca observou-se variações entre os cultivares para resistência a N. perezi. Entre os cultivares de mesa, o mais resistente (IAC 289-70) apresentou média de 0,25 broto broqueado por planta enquanto o mais suscetível (F 4015) teve 2,40. Os cultivares SRT 1140 - Vassourinha amarela, F 5141 e IAC 576-70 tiveram médias inferiores a 1 broto broqueado por planta e não diferiram do IAC 289-70, podendo também ser considerados resistentes. Nos cultivares de indústria a amplitude foi menor entre o menos e o mais atacado, os quais tiveram, respectivamente, 0,40 (IAC 105-66) e 1,35 (SRT 1174). Também foi observada a presença de Ganaspis pelleranoi (Hymenoptera: Eucoilidae), parasitando larvas de N.perezi.

Descritores: Insecta, Neosilba perezi, resistência varietal, mandioca, Ganaspis pelleranoi; broca-dos-brotas

PERFORMACE OF CASSAVA CLONES IN RELATION TO THE INFESTATION BY Neosilba perezi (Romero e Ruppel) ( DIPTERA: LONCHAEIDAE)

ABSTRACT: The performance of twelve cassava clones for table consumption and of ten clones for the industry was evaluated under field conditions in relation to the infestation by the shoot fly Neosilba perezi . Two experiments were carried out at the Experimental Station of Pariquera-Açu, State of São Paulo, Brazil, during the 1991/92 growing season. The evaluations were made four months after shooting started. In both cassava groups, different levels of shoot fly infestation were observed. In the group for table, the most resistant (IAC 289-70) presented an average of 0.25 bored shoots per plant, while the most suscetible (F 4015), of 2.40. The clones SRT 1140-Vassourinha amarela, F 5141 and IAC 576-70 could also be rated as resistant, since they presented average numbers of bored shoots per plant lower than 1, and did not differ from IAC 289-70. In the group for the industry, a narrower amplitude was observed between the least and the most infested, IAC 105-66 (0.40) and SRT 1174 (1.35). In the same experimental area, the presence of Ganaspis pelleranoi (Brethes) (Hymenoptera: Eucoilidae) parasiting larvae of N. perezi was also observed.

Key Words: Insecta, Neosilba perezi, plant resistance, cassava, Ganaspis pelleranoi

INTRODUÇÃO

A mosca ou broca-dos-brotos da mandioca é uma praga da cultura que tem sua incidência variável de acordo com a região e época do ano. No Estado de São Paulo, nas diferentes localidades onde é conduzida a experimentação com mandioca do Instituto Agronômico (IAC), os autores têm observado, há alguns anos, que as maiores infestações desse inseto têm ocorrido na região litorânea, especialmente no Vale do Ribeira, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

Na literatura brasileira, a mosca ou broca-dos-brotos foi referida inicialmente como Lonchaea pendula Bezzi, 1919 (Zikan, 1944) sendo a seguir, transferida para o gênero Silba. A maioria dos textos brasileiros sobre pragas da mandioca (Rossetto, 1970; Mariconi, 1976; Silva et al., 1981; Gallo et al., 1988) e, mesmo alguns textos publicados por especialistas de outros países (Bellotti & Schoonhoven, 1978; King & Saunders, 1984) referem-se a essa mosca como S.pendula (Bezzi, 1919). Todavia, como se trata de um grupo de insetos com problemas taxonômicos, espécies diferentes da família Lonchaeidae vem sendo citadas como pertencentes a esse taxon. Romero & Ruppel (1973) descreveram, em Porto Rico, S.perezi com base em adultos criados em brotos de mandioca. De acordo com Waddill & Weems (1978), a espécie foi transferida para o gênero Neosilba. Nos Estados Unidos, essa espécie é referida como praga da mandioca no sul da Flórida (Waddill & Weems, 1978; Pena & Waddill, 1982). Alguns trabalhos feitos no Brasil (Samways, 1979; Ciociola, 1980) citam a ocorrência de N. perezi em brotos de mandioca, sendo que o primeiro autor ainda se refere a outra espécie de Neosilba, N. nigrocoerulea, incidindo também nessa planta. Em estudo sobre ocorrência de lonqueídeos em diferentes plantas hospedeiras, Vecchio (1981) verificou que, de onze espécies de Silba, foi encontrada apenas uma, em brotos de mandioca, que apresentava especificidade a essa planta.

Para estudar possíveis efeitos da infestação de N. perezi na produção, em experimentos conduzidos pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical simulou-se o dano da mosca mediante destruição das gemas terminais; verificou-se que, quando 100% de danos nas gemas ocorreram nos dois ou três primeiros meses de desenvolvimento das plantas, pode haver redução na produção de material de propagação mas não no rendimento das raízes (Ciat, 1981). A destruição da gema apical pela larva do inseto provoca a brotação lateral da planta que, em muitos casos, proporciona aumento na área foliar devido ao maior número de folhas emitidas, conseqüência do maior número de hastes.

São preconizados diversos tipos de controle para a broca-dos-brotos da mandioca entre os quais, o químico e o cultural; este último considera o plantio em época de menor população da referida praga (Bellotti & Schoonhoven, 1978). A utilização de cultivares resistentes também é citada, podendo constituir-se em mais uma opção de controle. O presente trabalho teve por objetivo avaliar o comportamento de cultivares de mandioca de mesa e de indústria, em relação ao ataque dessa praga.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram conduzidos dois experimentos no ano agrícola 1991/92, em área da Estação Experimental de Pariquera-Açu, SP, pertencente ao IAC.

O primeiro experimento compreendeu somente mandiocas de mesa, representadas pelos cultivares F 1047- Macaxeira branca, F 1089 - Lavoura, F 2033 Amarela II, F 4015, F 5075- Vassourinha II, F 5141, SRT 1140 - Vassourinha amarela, SRT 1259, SRT 1333 - Amarela, IAC 289-70, IAC 576-70 e SRT 120 - Santa, sinonímia Santista e Cacau, de origem local. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com os tratamentos distribuídos em um fatorial 12 x 2 (cultivares x inseticida), com quatro repetições. As parcelas tiveram quatro linhas de dez plantas, considerando-se úteis as vinte plantas das duas linhas internas. O plantio foi efetuado em 25/09/91, utilizando-se manivas de 20cm de comprimento, plantadas na posição inclinada, em covas, com os dois terços da parte basal cobertas com terra, no espaçamento de 1,0m x 0,8m.

Durante todo o ciclo, realizaram-se os tratos culturais normalmente adotados para a cultura, dispensando-se a adubação. As parcelas que receberam inseticida foram pulverizadas semanalmente com metamidofós, a fim de manter os brotos livres de N. perezi. Decorridos quatro meses após a brotação das manivas, em 03/02/92, foi feita a avaliação da infestação da mosca. Tomando-se uma das linhas internas da parcela, examinou-se individualmente cada uma das dez plantas, anotando-se o número de brotos atacados.

O segundo experimento foi instalado ao lado do primeiro, envolvendo cultivares para indústria. Os genótipos estudados foram: F 5114, SRT 59 - Branca de Santa Catarina, SRT 120 - Santa, SRT 1174, SRT 1304, SRT 1265, SRT 1287 - Fibra, IAC 12-829, IAC 18-176 e IAC 105-66 Caapora. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, em esquema fatorial 10 x 2 (cultivares x inseticida), com quatro repetições. A dimensão das parcelas, a data de plantio, a condução, o esquema de pulverizações e a avaliação foram idênticos aos do primeiro experimento.

Para análise estatística, os dados de infestação da mosca foram transformados em , sendo as médias comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos (número de brotos broqueados por planta) do experimento de mandioca de mesa encontram-se na TABELA 1. Na ausência de inseticida, verifica-se a existência de um amplo gradiente entre os doze cultivares em relação à resis-tência a N. perezi; o mais resistente, IAC 289-70, apresentou média de 0,25 broto broqueado por planta, enquanto o mais atacado, F 4015, teve 2,40. Mesmo com aplicações semanais de metamidofós, este cultivar (F 4015) teve média aproximadamente igual ou superior à dos quatro cultivares mais resistentes (IAC 289-70, SRT 1140, F 5141 e IAC 576-70) em condições de ausência de inseticida, mostrando alta suscetibilidade a essa praga. Variabilidade genética em mandioca para resistência à mosca-dos-brotos também foi detectada por Brinholi et al. (1974), Samways (1979), ambos referindo-se a IAC 14-18 como a mais resistente entre os genótipos testados, e Pinheiro et al. (1993). A aplicação de inseticida reduziu a infestação, diminuindo significativamente o número de brotos broqueados nas parcelas tratadas.

Também se observaram diferenças de comportamento em relação ao número de brotos broqueados pela mosca entre os dez cultivares de indústria, embora não com um gradiente tão acentuado como ocorreu nos cultivares de mesa (TABELA 2). O menos atacado teve 0,40 broto broqueado por planta (IAC 105-66) enquanto o mais infestado teve 1,35 (SRT 1174). O cultivar SRT 120, o único presente nos dois experimentos, apresentou-se como suscetível em ambos, não diferindo dos cultivares mais atacados.

Nesses experimentos observou-se a presença de Ganaspis pelleranoi (Brethes, 1924) (Hymenoptera: Eucoilidae) parasitando larvas de N. perezi. Há registros desse parasitóide nos seguintes hospedeiros: Anastrepha fraterculus (Wied., 1830), A. serpentina (Wied., 1830), Anastrepha spp., Ceratitis capitata (Wied, 1824), S. pendula (Bezzi, 1919) e Lonchaea sp., com distribuição nos Estados de São Paulo e de Santa Catarina (Santis, 1980).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Dr.Ângelo Pires do Prado, UNICAMP, Campinas, e ao Dr. Luís de Santis, Facultad de Ciencias Naturales Y Museo, Argentina, a identificação do díptero e do parasitóide, respectivamente.

Recebido para publicação em 22.06.96

Aceito para publicação em 07.10.96

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 1999
  • Data do Fascículo
    Maio 1996

Histórico

  • Aceito
    07 Out 1996
  • Recebido
    22 Jun 1996
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