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Efeito residual do adubo aplicado na soja (Glycine max L. Merrill) sobre a cana-de-açúcar (Saccharum spp.)

Residual effect of fertilizer applied to soybean on sugarcane yield

Resumos

Foi conduzido na Fazenda Nova Aliança no município de Sales de Oliveira, SP em latossolo roxo distrófico um experimento com 14 tratamentos para verificar o aproveitamento pela cana, do efeito residual do adubo aplicado na soja e vice-versa. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições. Os resultados mostraram que cana apenas aproveitou o efeito residual quando as doses de fertilizantes foram altas.

soja; cana; adubação; efeito residual


An experiment was installed on a dark red latosol in the County of Sales de Oliveira, SP, to verify the residual effect of fertilizer applied to soybean on the sugarcane yield and vice versa. A randomized block design with four replications was utilized. The results showed that sugarcane responded to residual fertilization only at high fertilizer doses.

soybeans; sugarcane; fertilization; residual effect


FITOTECNIA

Efeito residual do adubo aplicado na soja (Glycine max L. Merrill) sobre a cana-de-açúcar (Saccharum spp.)1 1 Trabalho realizado com o apoio financeiro da Nova Aliança Agrícola e Comercial Ltda. e apresentado na XXI Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, realizada em Petrolina(PE), no período de 28/08 a 02/09/94.

Residual effect of fertilizer applied to soybean on sugarcane yield

H.A.A. MascarenhasI, 2 2 Bolsista do CNPq. ; A.A. CostaI, 2 2 Bolsista do CNPq. ; R.T. TanakaI, 2 2 Bolsista do CNPq. ; E.J. AmbrosanoI, 2 2 Bolsista do CNPq. ; F.V. RosaII; V.F. CostaII

IInstituto Agronômico, Caixa Postal 28, CEP: 13001-920, Campinas, SP

IINova Aliança-Agrícola e Comercial Ltda, C.P. 178, CEP: 14001-920, São Joaquim da Barra, SP

RESUMO

Foi conduzido na Fazenda Nova Aliança no município de Sales de Oliveira, SP em latossolo roxo distrófico um experimento com 14 tratamentos para verificar o aproveitamento pela cana, do efeito residual do adubo aplicado na soja e vice-versa. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições. Os resultados mostraram que cana apenas aproveitou o efeito residual quando as doses de fertilizantes foram altas.

Descritores: soja, cana, adubação, efeito residual.

ABSTRACT

An experiment was installed on a dark red latosol in the County of Sales de Oliveira, SP, to verify the residual effect of fertilizer applied to soybean on the sugarcane yield and vice versa. A randomized block design with four replications was utilized. The results showed that sugarcane responded to residual fertilization only at high fertilizer doses.

Key Words: soybeans, sugarcane, fertilization, residual effect.

INTRODUÇÃO

A rotação de culturas é uma prática agrícola que consiste em alternar no mesmo terreno, diferentes culturas em uma seqüência de acordo com um plano definido (MIYASAKA, 1983).

Espécies e variedades diferem na eficiência com que utilizam os elementos absorvidos no processo de formação da colheita. Há diferenças varietais na capacidade de extrair elementos do solo e de responder a adubação (BATAGLIA et al. 1977).

Atualmente no Brasil, os produtores que utilizam a rotação de culturas vem obtendo resultados favoráveis e com isso, esta prática tem aumentado ano a ano.

Esta utilização mais intensa do solo, parece estar condicionada a razão de ordem econômica, a necessidade de produções cada vez maiores de alimentos e a sustentabilidade do sistema agrícola.

Cada espécie vegetal modificando o ambiente por sua seletividade na absorção de nutrientes, nas excreções radiculares e na brota da rizosfera, alteram o pH do solo, a absorção, a transpiração da água e o retorno de restos vegetais de modo que, a cada cultivo apresentam-se como um ecossistema diferente (PRIMAVESI, 1982).

Experimentação de rotação com adubos verdes em condições tropicais e subtropicais tem demonstrado aumento na produtividade dos cereais, oleaginosas e leguminosas. Uma das razões desse incremento é o balanço favorável do nitrogênio: no caso de leguminosas, estas em associações simbióticas com as bactérias formam nódulos e fixam aquele elemento do ar que, posteriormente, com a decomposição da fitomassa se mineraliza (MASCARENHAS et al. 1984).

Na produção de 50kg de nitrogênio mineral consome-se energia equivalente a 80 litros de gasolina. Plantas das famílias leguminosas são as que mais fixam o nitrogênio por unidade deárea, além de produzirem alimentos e fibras (ROHWEDER et al. 1977). Considerando a atual crise energética e financeira nacional, esta reflete-se sobre os fertilizantes nitrogenados, com diretas implicações nos custos dos produtos agrícolas (MASCARENHAS et al. 1977).

A soja (Glycine max (L.) Merrill) é planta que fixa o nitrogênio atmosférico mediante simbiose com a bactéria Bradyrhizobium japonicum. Esta característica possibilita à leguminosa, quando a sua semente é inoculada com a bactéria, uma situação de independência de adubação para suprir as exigências em nitrogênio (MASCARENHAS et al. 1977), o mesmo não ocorrendo com a cana de açúcar (Saccharum spp.), gramínea que reage acentuadamente à aplicação do nitrogênio mineral (ESPIRONELO et al. 1987).

A cultura do milho ou algodão, em sucessão à soja aproveitam de forma eficiente o resíduo do adubo da leguminosa e ambas dispensam a aplicação de nitrogênio mineral em cobertura (MASCARENHAS, et al. 1984).

Durante o período de pousio da gleba destinada ao cultivo consecutivo da cana de açúcar (outubro a março) é possível cultivar-se a soja. Essa prática tem a vantagem de: não necessitar de novas fronteiras agrícolas, ou o deslocamento de outras culturas de grãos; minimizar a erosão pela presença de cobertura viva durante a estação chuvosa; empregar a mão de obra durante a entressafra da cana; obter renda nesse período; diminuir o custo da implantação de cana seja pelo menor preparo de solo exigido, seja pela maior disponibilidade de N fixado pela soja.

O objetivo deste trabalho foi verificar se as doses crescentes de adubação em soja poderia dispensar a da cana em sucessão a essa leguminosa.

MATERIAL E MÉTODOS

Na Fazenda Nova Aliança, em Sales de Oliveira, SP num Latossolo Roxo distrófico foi conduzido nos anos agrícolas de 1983/85 um experimento de sucessão soja-cana. A análise química do solo (método do ácido sulfúrico) efetuada após a aplicação de 3t/ha de calcário dolomítico mostrou os seguintes resultados: pH 6,5, matéria orgânica 2,0%, P = 7,1 ppm, K = 31 ppm, Ca e Mg respectivamente de 1,76 e 0,72 meq/100 ml. Esta gleba havia sido cultivada com cana de açúcar para produção de mudas.

O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os 14 tratamentos consistiram de:

(1) alqueive e cana sem adubo;

(2) soja sem adubo e cana sem adubo;

(3) Soja com adubo (0-42-30) e cana sem adubo;

(4) soja com adubo (0-84-60) e cana sem adubo;

(5) soja com adubo (0-126-90) e cana sem adubo;

(6) soja com adubo (0-168-120) e cana sem adubo;

(7) soja com adubo (0-210-150) e cana sem adubo;

(8) alqueive e cana com adubo (16-80-80);

(9) soja sem adubo e cana com adubo (16-80-80);

(10) soja com adubo (0-42-30) e cana com adubo (16-80-80);

(11) soja com adubo (0-84-60) e cana com adubo (16-80-80);

(12) soja com adubo (0-126-90) e cana com adubo (16-80-80);

(13) soja com adubo (0-168-120) e cana com adubo (16-80-80) e

(14) soja com adubo (0-210-150) e cana com adubo (16-80-80).

Quatro meses após o brotamento da cana, foi feita em todos os tratamentos, adubação em cobertura na dose de 40kg/ha de N na forma de sulfato de amonio. Portanto, os primeiros sete tratamentos receberam no total, 40 kg/ha de N mineral, enquanto os demais receberam 56.

A parcela da soja consistiu de 12 linhas de 10 metros espaçadas entre si de 0,60m. A soja 'IAC-Foscarin-31' foi semeada em outubro 1983. Um mês após a germinação foi feito o desbaste deixando-se 15 plantas por metro linear. Na época do florescimento foram amostradas 30 folhas por parcela, para verificar o estado nutricional das plantas.

A colheita foi efetuada no início de março colhendo as quatro linhas centrais, deixando um metro de cada extremidade.

Em seguida foi plantada (sulcos de 0,25 m e profundidade de 0,40 m) a cana cultivar NA56-79 nas parcelas de cinco linhas de 10 m espaçadas entre si de 1,40 m. Nove meses após o plantio foi feita para análise química, amostragem de 15 folhas de cana por parcela, as terceiras do ápice, excluindo a nervura. As amostras das folhas das duas culturas foram lavadas com água destilada e secas durante três dias, em estufa a temperatura de 60°C, moídas e em seguida analisadas quanto aos teores de macronutrientes, conforme a metodologia de BATAGLIA et al. (1983).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve um normal crescimento das plantas de soja na fase vegetativa devido a quantidades e freqüências adequadas de precipitações pluviais. No início de florescimento houve dez dias de veranico, comprometendo o pegamento de vagens, resultando num coeficiente de variação alto. Conforme ARRUDA et al. (1976), o estádio crítico da soja quanto à disponibilidade de água é no florescimento e frutificação. Embora não tenha havido diferenças significativas entre os tratamentos adubados, observa-se que onde não foi feita a adubação, houve uma maior produção de soja (TABELA 1). Verificando as análises de folhas (TABELA 2), nota-se que os teores de fósforo e potássio estão em quantidades adequadas (OHLROGGE e KAMPRATH, 1968). MASCARENHAS et al. (1977) também mostraram que o cultivo da soja após o do milho e do algodão, adubados adequadamente, aproveitou eficientemente o efeito residual não necessitando de quantidades extras de nutrientes.

Além disso, o cultivar de soja IAC-Foscarin-31 é tolerante à alta disponibilidade de manganês (MASCARENHAS et al., 1990) e menos exigente em fósforo e potássio (TANAKA & MASCARENHAS, 1992) do que os outros cultivares. Os tratamentos com adubos aumentaram as concentrações nas folhas sem aumentar a produtividade, indicando que houve uma absorção de luxo (TABELA 2).

Os dados de produtividade apresentados na TABELA 1 mostram que a cana de açúcar apenas aproveitou o efeito residual da adubação da soja, quando esta foi superior a 0-126-90 kg/ha. A produtividade média de 1700 kg/ha de soja deve ter exportado somente 20 kg/ha de P2O5 e 38 kg/ha de K2O, deixando ainda uma considerável quantidade de nutrientes primários para a cana. Infere-se portanto que a cana para ter um desenvolvimento normal, necessita que o adubo seja aplicado de forma localizada, não tendo capacidade eficiente para aproveitar o resíduo das adubações anteriores.

Os dois tratamentos de alqueive da soja evidenciaram que esta cultura não trouxe benefícios para a cana de açúcar, pois tanto com o alqueive como com a soja, as produtividades de cana foram semelhantes.

As folhas da cana não apresentaram variações em função dos cultivos anteriores de soja ou das adubações residuais da soja e diretas da cana de açúcar (TABELA 3).

Enviado para publicação em 30.08.93

Aceito para publicação em 24.01.94

  • ARRUDA, F.B.; MASCARENHAS, H.A.A.; VIEIRA, S.R. Efeito hídrico na produção de soja. Campinas, Instituto Agronômico, 1976. 23p. (Boletim Técnico, 38).
  • BATAGLIA, O.C.; MASCARENHAS, H.A.A.; TISSELLI FILHO, O. Composição mineral das sementes de nove cultivares de soja. Bragantia, Campinas, v.36, p.XLVIII-L, 1977.
  • BATAGLIA, O.C.; FURLANI, A.M.C.; TEIXEIRA, J.P.F.; FURLANI, P.R.; GALLO, J.R. Métodos de análise química de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, Campinas, 1983.41p. (Boletim Técnico, 78).
  • ESPIRONELO, A.; COSTA, A.A.; LANDELL, M.G. de A; PEREIRA, J.C.V.A.; IGUE, T; CAMARGO, A.P.; RAMOS, M.T.B. Adubação em três variedades de cana-de-açúcar em função de dois espaçamentos. Bragantia, Campinas, v.46, n.2, p.247-268, 1987.
  • MASCARENHAS, H.A.A.; BULISANI, E.A.; BRAGA, N.R. Rotação de culturas. In: SIMPÓSIO SOBRE SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA, Campinas, 1984. Campinas: Fundação Cargill, 1984. p.87-112.
  • MASCARENHAS, H.A.A.; MIRANDA, M.A.C. de; TANAKA, R.T.; FALIVENE, S.M.P.; DECHEN, A.R. Comportamento de cultivares precoces de soja em solução nutritiva contendo diferentes níveis de manganês. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.25, n.4, p.609-615, 1990.
  • MASCARENHAS, H.A.A.; HIROCE, R.; BRAGA, N.R.; MIRANDA, M.A.C. de; POMMER, C.V.; SAWASAKI, E. Nitrogênio residual soja-milho. Campinas, Instituto Agronômico, 1977. 16p. (Boletim Técnico, 58).
  • MIYASAKA, S. Economia de energia na adubação de culturas: uso de resíduos orgânicos. Campinas, Instituto Agronômico, 1983. 47p.
  • OHLROGGE, A.J.; KAMPRATH, E.J. Fertilizer use in soybeans. In DINAUR, R.C. (Ed.). Changing patterns in fertilizer use. Madison, Soil Science Society of America, 1968. p.273-295.
  • PRIMAVESI, A. O manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais. 4.ed., São Paulo, Nobel, 1982. 541p.
  • ROHWEDER, D.A.; SHRADER, W.J.; TEMPLETON, W.C. Legumes. Crops and Soils, Madison, v.9, n.6, p.11-14, 1977.
  • TANAKA, R.T.; MASCARENHAS, H.A.A. Soja: nutrição, correção do solo e adubação. Campinas: Fundação Cargill, 1992. 60p. (Serie Técnica, 7).
  • 1
    Trabalho realizado com o apoio financeiro da Nova Aliança Agrícola e Comercial Ltda. e apresentado na XXI Reunião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, realizada em Petrolina(PE), no período de 28/08 a 02/09/94.
  • 2
    Bolsista do CNPq.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Jul 2005
    • Data do Fascículo
      Ago 1994

    Histórico

    • Aceito
      24 Jan 1994
    • Recebido
      30 Ago 1993
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