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Efeito na produtividade da rotação de culturas de verão e crotalária no inverno

The efect of crotalaria cropped in the winter and of crop rotation on the yield of summer crops

Resumos

Em ensaio de rotação de culturas, conduzido em Pindorama, SP, num solo podzólico vermelho amarelo, fase arenosa, durante os anos agrícolas de 1991/92, 1992/93 e 1993/94, avaliou-se o efeito da rotação entre milho, soja e arroz, com e sem crotalária júncea de inverno, na produção das culturas, no final do terceiro ano da experimentação. Não houve diferença entre tratamentos na produção da soja. A rotação aumentou a produção de arroz e milho, comparativamente ao monocultivo dessas culturas. A boa produtividade alcançada das culturas no terceiro ano pode ser atribuída, além da rotação, à ocorrência regular de chuvas e ao uso de cultivares tolerantes à acidez

rotação; soja; arroz; milho; Crotalaria juncea


The effect of crop rotation among corn, soybean and rice as summer crops, and of crotalaria as a winter crop, was evaluated by the crop yield at the end of the third year.The experiment was established at Pindorama, SP, Brazil, on an acid soil(Red -Yellow Podzolic, sandy phase). After three years , there was no yield difference among treatments for soybeam production. Crop rotation was beneficial for rice and corn prodution when compared to monocultures. The good productivity in the third year could also be atributed to regular rainfall and acidity tolerant cultivars.

Rotations; soybeans; rice; corn; crotalaria juncea


NOTA

EFEITO NA PRODUTIVIDADE DA ROTAÇÃO DE CULTURAS DE VERÃO E CROTALÁRIA NO INVERNO

H.A.A. MASCARENHAS1,4; S.S.S. NOGUEIRA1; R.T. TANAKA1,4;A.L.M. MARTINS2,4; Q.A.C. CARMELLO3

1Seção de Leguminosas-IAC, C.P. 28, CEP: 13001-970 - Campinas, SP.

2Estação Experimental-IAC, C.P. 24, CEP: 13830-000 - Pindorama, SP.

3Depto. de Química-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

4Bolsista do CNPq.

RESUMO: Em ensaio de rotação de culturas, conduzido em Pindorama, SP, num solo podzólico vermelho amarelo, fase arenosa, durante os anos agrícolas de 1991/92, 1992/93 e 1993/94, avaliou-se o efeito da rotação entre milho, soja e arroz, com e sem crotalária júncea de inverno, na produção das culturas, no final do terceiro ano da experimentação. Não houve diferença entre tratamentos na produção da soja. A rotação aumentou a produção de arroz e milho, comparativamente ao monocultivo dessas culturas. A boa produtividade alcançada das culturas no terceiro ano pode ser atribuída, além da rotação, à ocorrência regular de chuvas e ao uso de cultivares tolerantes à acidez

Descritores: rotação, soja, arroz, milho, Crotalaria juncea

THE EFECT OF CROTALARIA CROPPED IN THE WINTER AND OF CROP ROTATION ON THE YIELD OF SUMMER CROPS

ABSTRACT: The effect of crop rotation among corn, soybean and rice as summer crops, and of crotalaria as a winter crop, was evaluated by the crop yield at the end of the third year.The experiment was established at Pindorama, SP, Brazil, on an acid soil(Red -Yellow Podzolic, sandy phase). After three years , there was no yield difference among treatments for soybeam production. Crop rotation was beneficial for rice and corn prodution when compared to monocultures. The good productivity in the third year could also be atributed to regular rainfall and acidity tolerant cultivars.

Key Words: Rotations, soybeans, rice, corn, crotalaria juncea

INTRODUÇÃO

A cafeicultura, a cotonicultura e a pecuária de corte foram, até recentemente, as principais atividades agrícolas da região noroeste do Estado de São Paulo. Por motivos vários, essas explorações entraram em declínio e a busca de novas alternativas passou a ser fundamental para a retomada do desenvolvimento dessa região. Entre as tentativas, foram introduzidas as culturas de soja, milho e arroz que se adaptaram na região, mesmo em condições de acidez e baixa fertilidade do solo.

Os benefícios do uso de leguminosas em rotação com outras culturas é conhecido há bastante tempo nos Estados Unidos (Stickler et al., 1959 e Sutherland et al., 1961). No Brasil, Neme (1960) mostrou o efeito positivo da rotação de milho com crotalária, guandu e mucuna preta, em Ribeirão Preto e Pindorama, em estudos realizados no período de 1947 a 1952. Nos mesmos municípios, Bertoni et al. (1972) relataram aumento da produção de soja e milho, em rotações anuais e arroz, quando este sucedeu ao guandu, comparativamente ao monocultivo. Mascarenhas et al. (1994) relataram que a crotalária mostrou-se um excelente adubo verde, suprindo razoavelmente a necessidade de nitrogênio das culturas que a sucederam, bem como controlando infestações de nematóides.

O presente estudo teve o objetivo de verificar o efeito da rotação de milho, soja e arroz, com e sem rotação complementar com crotalária no inverno, na produção das referidas culturas.

O experimento foi conduzido em Pindorama (SP), durante três anos agrícolas consecutivos (1991/92, 1992/93 e 1993/94), num solo Podzólico Vermelho-Amarelo, textura arenosa, cuja análise química é apresentada no TABELA 1. O delineamento estatístico foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições, cujos tratamentos são apresentados na TABELA 2. Antes do início do experimento, foram aplicados 2500 kg/ha de calcário dolomítico para elevar a saturação por bases e, anualmente no sulco, 400 kg/ha da fórmula 4-20-20, para o fornecimento de N, P e K. Também fez-se uma adubação nitrogenada em cobertura, 35 dias após a germinação, para arroz e milho, na forma de uréia, fornecendo-se 40 e 80 kg/ha de N, respectivamente. A soja foi inoculada com Bradyrhyzobium japonicum, antes da semeadura. Foram utilizados os seguintes cultivares de arroz, milho, soja e crotalária: IAC-165; Cargil-701; IAC-Foscarin-31 e IAC-1, sendo os três primeiros, precoces e tolerantes à acidez (Camargo & Camargo; 1985; Cargill, 1996; Mascarenhas et al., 1991). A crotalária foi cultivada sempre como cultura de inverno, após a colheita de verão, na mesma parcela, conforme o tratamento. No final do ciclo, foram colhidas três linhas centrais de milho e quatro de arroz e de soja, desprezando-se um metro linear em cada extremidade, para avaliação da produção. A crotalária foi incorporada ao solo, após o término do ciclo.

Nos dois primeiros cultivos, houve severo ataque de pássaros da região, no milho e no arroz, na fase final do ciclo, não sendo possível obter dados de produção dessas duas culturas. No terceiro ano, o problema foi resolvido, ensacando-se as espigas de milho e circundando-se o experimento com faixas de milho e girassol, para atrair os pássaros e não atacarem as plantas do experimento. Como o objetivo do trabalho foi de avaliar o efeito cumulativo da rotação das culturas, na produção de grãos, considerou-se válida e útil, a apresentação e análise dos resultados do terceiro ano. Na TABELA 1, são apresentados os valores da análise do solo antes do início do experimento e após a colheita do terceiro ano. Os demais parâmetros variaram pouco. Embora tenha sido fornecida alta dose de K na adubação, este praticamente não variou no final do 3º ano, provavelmente pela absorção e exportação e ou lixiviação devido ao solo ser arenoso.

Os teores de macronutrientes nas folhas, deixaram de ser apresentados, por estarem todos em quantidades adequadas de acordo com Ambrosano et al., (1996), para soja e Cantarella et al., (1996) para arroz e milho. Os dados de produção, bem como os tratamentos indicando a seqüência da rotação, são apresentados na TABELA 2. Observou-se que não houve diferença significativa para a produção de soja, no terceiro ano agrícola, com ou sem rotação. Esses resultados estão de acordo com os obtidos por Mascarenhas et al., (1993). Na cultura do arroz, verificou-se que a rotação teve efeito benéfico, em relação ao tratamento só com arroz. Embora não diferente estatisticamente dos demais tratamentos com rotação, no tratamento em que o arroz sucedeu soja e crotálaria, no segundo ano, a produção foi maior quando sucedeu somente a soja, indicando efeito positivo adicional do adubo verde na cultura. Muito provavelmente esse efeito seja devido ao acréscimo de N residual no solo oferecido pela crotalária. Quanto ao milho, observou-se que não houve diferença significativa entre os tratamentos com rotação e, todos, foram superiores à testemunha, sem rotação, indicando ser, esta prática, importante à essa cultura. Como o pH do solo era baixo e, praticamente, variou pouco no período estudado, a boa produtividade das culturas, especialmente sob rotação no terceiro ano pode ser explicado, em grande parte pela regularidade das chuvas (Figura 1) ocorridas e à utilização de variedades tolerantes à acidez.

Figura 1
- Balanço hídrico decendial segundo o método de Thornthwaite & Mather (1955) para a região de Pindorama, SP, referente ao ano agrícola 1993/94.

Recebido para publicação em 02.09.97

Aceito para publicação em 31.03.98

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 1999
  • Data do Fascículo
    1998

Histórico

  • Aceito
    31 Mar 1998
  • Recebido
    02 Set 1997
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