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Interpretações locais sobre a malária e o discurso sobre os provedores tradicionais de cuidados de saúde no sul de Moçambique1 1 Esta investigação conta com o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) - SFRH/BD/71314/2010. A autora gostaria de expressar o seu agradecimento aos revisores que apresentaram valiosos e pertinentes comentários, tendo enriquecido o texto final.

Resumo

As narrativas sobre o diagnóstico e as causas da malária são diversas e aparentemente ambíguas, sendo baseadas para além do corpo, nas relações sociais estabelecidas entre pares, os seus antepassados e a natureza. Com base num estudo qualitativo e na permanência em Moçambique durante quatro anos, este artigo pretende analisar os discursos dos pacientes e praticantes biomédicos sobre os provedores de cuidados de saúde tradicionais, isto é, tinyanga e pastores ziones, articulando-os com as terminologias locais da malária, num distrito rural no sul de Moçambique. No atual contexto de pluralismo terapêutico e elevada mobilidade, a falta de compaixão e solidariedade atribuída aos tinyanga é fundamentada pela monetarização e comoditização dos seus saberes e rituais medicinais, bem como pela competição com outros provedores na captação de doentes. A implantação das igrejas ziones, de cariz cristão e com práticas terapêuticas semelhantes às dos tinyanga, apresenta-se como uma solução local vantajosa devido à forte ligação comunitária, ao consolo e reciprocidade entre os seus membros e aos resultados terapêuticos a baixo custo. No nível das políticas de saúde e da prática clínica, a invisibilidade dos pastores ziones e o papel subalterno dos tinyanga é gerido à medida dos interesses, das ideias vagas e dos preconceitos que os provedores biomédicos possuem sobre esses provedores terapêuticos. A implementação de políticas de saúde que atendam à diversidade local, às relações de poder existentes e aos conhecimentos e práticas médicas podem fortalecer os cuidados biomédicos prestados e harmonizar as relações entre os provedores e a população.

Palavras-chave:
Malária; Moçambique; Curandeiros/Tinyanga; Pastores Ziones; Interpretações Locais da Doença

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