RESUMO
O presente estudo teve como objetivo investigar a distribuição espaçotemporal do uso da aplicação móvel e-SUS Território entre 2019 e 2023 e tendência de crescimento até 2030. Trata-se de um estudo ecológico de séries temporais, com dados extraídos do Google Analytics sobre usuários ativos e do DataSUS referente aos agentes comunitários de saúde. As análises estatísticas incluíram regressão linear e análise de variância para investigar as tendências de crescimento e as variações regionais. A análise demonstrou um aumento no número de usuários do aplicativo, de 76.944 em 2019 para 746.598 em 2023, com destaque para as regiões Nordeste e Sudeste, que apresentaram os maiores crescimentos. A projeção de usuários ativos até 2030 indica um crescimento contínuo, alcançando aproximadamente 1,08 milhão de usuários. A análise revelou que, embora o número de agentes comunitários não tenha mostrado correlação direta com o aumento de usuários, a adesão ao e-SUS Território tem sido positiva e reflete o impacto das tecnologias de informação na gestão da Atenção Primária à Saúde. Dessa maneira, percebe-se que a estratégia digital pode contribuir para melhorar a organização e o acesso aos cuidados de saúde.
PALAVRAS-CHAVE
Atenção Primária à; Saúde; Saúde digital; Sistema Único de Saúde; Tecnologias de informação.
ABSTRACT
The aim of this study was to investigate the time-space distribution of the use of e-SUS Território mobile application between 2019 and 2023 and the growth trend up to 2030. This is an ecological time series study, with data extracted from Google Analytics about active users and from DATASUS about community health agents. Statistical analysis included linear regression and analysis of variance to investigate growth trends and regional variations. The analysis showed an increase in the number of app users, from 76,944 in 2019 to 746,598 in 2023, with the Northeast and Southeast regions showing the most significant growth. The projection of active users until 2030 indicates continued growth, reaching approximately 1.08 million users. The analysis revealed that although the number of community agents did not show a direct correlation with the increase in users, adherence to e-SUS Território has been positive, reflecting the impact of information technology on Primary Health Care management. In this way, it can be seen that the digital strategy can contribute to improving the organization of and access to healthcare.
KEYWORDS
Primary Health Care; Digital health; Unified Health System; Information technology.
Introdução
Há 40 anos, a Declaração de Alma-Ata impulsionou a expansão da Atenção Primária à Saúde (APS) e promoveu seus princípios como uma estratégia fundamental para a organização de um sistema público de saúde universal1. Consolidada como uma política nacional com a instituição da Norma Operacional Básica de 1996 (NOB 96)2, a APS foi fortalecida a partir de experiências exitosas, como em 1991 com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs) e em 1994 com o Programa Saúde da Família (PSF). A partir da reorganização do PSF, e com a criação da Estratégia Saúde da Família (ESF), a APS passou a ser reconhecida como o eixo estruturante do Sistema Único de Saúde (SUS)3.
Esses movimentos resultaram na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) em 2006, atualizada posteriormente em 2011 e 2017. Atualmente, a PNAB de 20174 prevê a abrangência das ações da APS em nível individual, familiar e coletivo, que inclui ações de vigilância em saúde, redução de danos, promoção, proteção, reabilitação, tratamento e cuidados paliativos, além da centralidade de atuar como porta de entrada eficaz para gerenciamento e atendimento integral dos cidadãos brasileiros2,4.
Amparado pelos princípios que norteiam o SUS, e para garantir a acessibilidade e a integralidade dos serviços ofertados, o governo brasileiro passou a investir gradativamente na informatização e digitalização da APS, mediante a implementação de iniciativas como a Estratégia e-SUS APS5. A estratégia corrobora iniciativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que define a saúde eletrônica (eHealth) como a aplicação de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) em apoio à saúde e suas áreas correlatas, que abrange serviços de assistência médica, vigilância em saúde, educação e pesquisa em saúde6. No SUS, a saúde eletrônica apresenta uma crescente implementação, a partir de políticas de informatização, que permite o desenvolvimento de diversas ferramentas e tecnologias digitais7.
Nesse sentido, a Estratégia e-SUS APS tem como um de seus objetivos principais desenvolver soluções tecnológicas voltadas à APS, como o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC e-SUS APS) e aplicativos destinados para o uso de profissionais de saúde, além de integrar informações de saúde coletadas em todo o território brasileiro e permitir o registro adequado das atividades realizadas pelas equipes multiprofissionais que integram as Unidades Básicas de Saúde (UBS)8. Dentre esses aplicativos, destacam-se o Gestão e-SUS APS, o e-SUS Vacinação, o e-SUS AD, o e-SUS Atividade Coletiva e o e-SUS Território9.
O aplicativo e-SUS Território foi lançado em 6 de outubro de 2016 com o objetivo de facilitar o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que atuam com a população no território e realizam coleta e consulta de dados dos cidadãos, o que permite às equipes de saúde conhecer o perfil epidemiológico e as condições sanitárias e de saúde no Brasil9,10. A implementação do e-SUS Território permitiu, de maneira simplificada e integrada ao PEC e-SUS APS, o cadastro de imóveis e domicílios adstritos às UBS, o registro de visitas domiciliares realizadas pelos ACS, a coleta de dados e acompanhamento familiar, a geração de relatórios e indicadores além do mapeamento territorial de cada comunidade assistida11.
O amplo território brasileiro faz com que a territorialização seja um ponto central para a organização e funcionamento da APS. A delimitação de áreas específicas para atuação das equipes de saúde permite um cuidado direcionado às necessidades locais, diante das desigualdades nas condições de vida, na utilização e no acesso aos serviços de saúde encontradas em diversas regiões do Brasil12,13.
A adesão dos ACS ao e-SUS Território representa um avanço para mapeamento, coleta e registros de dados da população, o que pode refletir de maneira positiva no cuidado em saúde. Diante desse cenário, o objetivo do presente estudo foi investigar a distribuição espaçotemporal do uso da aplicação móvel e-SUS Território entre 2019 e 2023, sua tendência de crescimento e a projeção de uso até 2030.
Material e métodos
Trata-se de um estudo ecológico de séries temporais com dados da aplicação móvel e-SUS Território coletada entre os anos de 2019 e 2024, considerando que, em 2024, estavam disponíveis os dados até o final do terceiro trimestre. O conjunto de dados foi exportado do Google Analytics14 em 2024 no formato csv. As variáveis principais incluem o número de usuários ativos por estado em cada ano analisado, estratificadas por estado. Cabe destacar que, para que o Google Analytics atribua a parcela do tráfego aos usuários certos, cada hit (qualquer interação que o usuário faz com um site) enviado recebe um identificador exclusivo que é associado a cada usuário. Os dados de usuários ativos têm taxa de erro menor que 2%.
Também foram coletados os dados de Rede Assistencial referente ao número de ACS, entre 2019 e 2023, por ano, no Brasil. Os dados disponibilizados no DataSUS/Tabnet15 foram exportados em 2024 no formato csv.
Os dados foram analisados por meio de técnicas de estatística descritiva e inferencial. As análises foram conduzidas no software Stata/SE 16.116, e incluiu-se a normalização dos dados, seguida da análise de tendências temporais por meio de modelos de regressão linear para avaliar o impacto do tempo sobre o número de usuários. Foram realizadas comparações regionais utilizando análise de variância (Anova), com subsequente aplicação de testes post-hoc para identificar diferenças específicas entre as regiões. Para todas as análises, considerou-se um nível de significância de 5% (p < 0,05). Os mapas comparativos foram gerados no Datawrapper17 a partir do banco de dados exportado do software Stata SE 16.016.
O projeto foi financiado, em parte, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) - Código Financeiro 001, pelo Ministério da Saúde do Brasil (Projeto e-SUS APS) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por meio de Bolsas de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Gestão Inovadora (DT).
Resultados
No total, o aplicativo e-SUS Território contava com 76.944 usuários ativos em 2019, alcançando 746.598 usuários ativos em 2023. A tabela 1 demonstra um crescimento expressivo no número de usuários em diversas Unidades Federativas (UF) ao longo dos anos. Na Bahia, o número de usuários aumentou de 10.163 em 2019 para 68.123 em 2023, que representa um crescimento percentual significativo de 539% entre 2020 e 2021, seguido por aumentos menores nos anos subsequentes. Da mesma forma, o Ceará teve um crescimento marcante, passando de 5.751 usuários em 2019 para 62.796 em 2023. No entanto, algumas UF, como Amapá e Rondônia, apresentaram variações negativas em determinados períodos, refletindo uma leve redução no número de usuários em anos específicos.
Distribuição espaçotemporal dos usuários ativos da aplicação móvel e-SUS Território por Unidade Federativa, no Brasil, entre 2019 e 2023
O aumento apresentado entre 2019 e 2023 também pode ser observado na figura 1, que demonstra a ampliação do uso da aplicação em diversas regiões, com destaque para as regiões Nordeste e o Sudeste, que concentraram os maiores crescimentos ao longo do período estudado.
Comparação dos usuários ativos da aplicação móvel e-SUS Território por Unidade da Federação, no Brasil, entre 2019 e 2023
A análise de regressão simples para o número de usuários ao longo dos anos (2019-2023) apresentou resultados estatisticamente significativos (gráfico 1). O modelo foi capaz de explicar 25,3% da variância observada no número de usuários ao longo do tempo (R2 = 0,2527, p < 0,0001). O coeficiente para a variável ano foi de 6.080,96 (IC 95%: 4.287,21 a 7.874,71, p < 0,0001). Isso indica que, em média, o fator multiplicativo foi de aproximadamente 6.080 por ano durante o período analisado. Nessa perspectiva, há uma tendência clara de aumento do número de usuários ao longo dos anos. Ademais, o crescimento anual estimado é significativo (p < 0,0001) e reflete uma expansão consistente de usuários entre 2019 e 2023.
Correlação entre o número de usuários ativos e o tempo (variável ano), no Brasil, entre 2019 e 2023
A análise ajustada por regiões brasileiras (Norte, Nordeste, Sudeste e Sul), utilizando a região Centro-Oeste como referência, apresenta uma melhora considerável no modelo e explica 49,1% da variância no número de usuários (R2 = 0,4910, p < 0,0001) (gráfico 2). A variável ano continua significativa, e algumas regiões mostram diferenças importantes em relação ao número médio de usuários. O coeficiente de 6.080,96 permanece similar (IC 95%: 4.577,41 a 7.584,51, p < 0,0001), indicando um aumento constante de usuários ao longo do tempo, independentemente da região. Na região Nordeste, o coeficiente foi de 16.634,02 (p < 0,0001), sugerindo que, em média, ela teve significativamente mais usuários que a região de referência (Centro-Oeste). Na região Sudeste, o coeficiente foi de 16.017,7 (p < 0,0001), indicando que ela também teve um número maior de usuários em comparação com a região de referência. Nas regiões Norte e Sul, os coeficientes para a primeira (-397,65) e a segunda (-312,72) não foram significativos (p > 0,90), sugerindo que o número de usuários nessas regiões não difere de forma estatisticamente relevante em comparação com a região de referência.
Correlação entre o número de usuários ativos e o tempo (variável ano), ajustado por regiões brasileiras, entre 2019 e 2023
Além do aumento temporal no número de usuários, há diferenças regionais significativas. As regiões Nordeste e Sudeste apresentaram um número substancialmente maior de usuários em comparação à região de referência enquanto as regiões Norte e Sul não diferiram significativamente. O modelo sugere que, embora o número de usuários aumente ao longo do tempo em todas as regiões, o crescimento e a quantidade de usuários são mais pronunciados nas regiões Nordeste e Sudeste.
Quando ajustado pelo número de ACS, o tempo continua sendo uma variável independente de correlação positiva significativa. Por outro lado, o número de ACS, de forma isolada, não apresentou uma associação significativa com o número de usuários (coeficiente = -1,218, p = 0,441), sugerindo que o número de ACS não influenciou diretamente o aumento de usuários ativos.
Também foi realizada a previsão do número de usuários ativos para os próximos cinco anos a partir da análise de regressão linear dos anos completos entre 2019 e 2024. Destaca-se que, em 2024, foi feita uma projeção para o último trimestre, visto que os dados estavam disponíveis até o terceiro trimestre. A projeção para o número de usuários ativos exibe um crescimento contínuo e consistente. Em 2025, espera-se que o número de usuários atinja aproximadamente 794.465. No ano seguinte, em 2026, esse número deve aumentar para cerca de 845.401, refletindo uma tendência positiva de adesão da aplicação. A projeção para 2027 é de 899.603 usuários, indicando que a aplicação continuará a ganhar novos usuários, embora a taxa de crescimento possa começar a se estabilizar. Seguindo essa trajetória, em 2028, o número projetado de usuários ativos é de 957.279, o que representará um aumento significativo em relação ao ano anterior. Em 2029, a previsão é de que o total de usuários atinja 1.018.654, superando a marca de 1 milhão. Finalmente, para 2030, espera-se um total de 1.083.964 usuários ativos, o que demonstrará um crescimento robusto ao longo da década. Reitera-se que se trata de uma regressão linear bruta.
Discussão
Apesar dos desafios para a consolidação da APS no Brasil, especialmente no que diz respeito à qualidade dos serviços, esse nível de atenção em saúde desempenha um papel fundamental na redução das desigualdades, além de funcionar como a principal porta de entrada para as populações vulneráveis atendidas pelo SUS18. Nesse sentido, a gradual digitalização da APS tem potencial para aprimorar e acompanhar o cuidado contínuo da saúde da população, facilitar o acesso aos serviços e promover uma gestão eficiente dos recursos disponíveis19. Essa transformação digital gera benefícios tanto para os profissionais de saúde quanto para os pacientes, pois auxilia no funcionamento articulado, compatível e atualizado dos sistemas de informações20.
Antes da implementação do e-SUS Território, o fluxo de trabalho dos ACS envolvia o preenchimento da Ficha de Cadastro Individual, seguida da digitalização desses documentos ao retornarem à unidade. Com a introdução do aplicativo, os ACS passaram a usar o e-SUS Território em seus tablets ou smartphones, permitindo a realização do cadastro de cidadãos, famílias e domicílios durante as visitas domiciliares. Ao retornar à unidade, é possível sincronizar os dados com o servidor do PEC e-SUS APS, tornando o processo mais dinâmico, ágil e evitando retrabalho21. Assim, o aplicativo e-SUS Território se tornou gradativamente uma solução voltada ao apoio direto da gestão da APS em todo o território nacional, pois impacta na dinâmica de trabalho, na abrangência e no acesso aos serviços prestados22.
Este estudo apresenta um aumento progressivo do uso do e-SUS Território no processo de trabalho em saúde no Brasil, o que indica a aceitação da ferramenta. Uma revisão de literatura demonstrou que diferentes aspectos influenciam a aceitação de uma tecnologia; entre eles, estão a facilidade de uso percebida, a utilidade da tecnologia, confiança e intenção de uso23. Ainda, os resultados revelam que o número de usuários não tem correlação direta com a quantidade de ACS ativos no País, sugerindo que o crescimento desses profissionais não influenciou diretamente o número de usuários ativos. Posto isso, pode-se pensar no crescimento exponencial de usuários a partir de outros determinantes, como a aceleração da estratégia de saúde digital no Brasil, a maior adesão dos municípios ao PEC e-SUS APS e a qualificação das funcionalidades do aplicativo.
Esse aplicativo se consolidou como uma importante ferramenta para organização e operação eficiente da APS no Brasil24. Por se tratar de uma iniciativa vinculada à Estratégia e-SUS APS, os dados coletados pelo e-SUS Território podem ser integrados diretamente ao PEC e-SUS APS, alimentando o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab)8. Essa integralização é diretamente amparada por outras políticas de incentivo à informatização, como o Informatiza APS, que vem fomentando, desde 2019, o investimento em infraestrutura e modernização das UBS25,26.
Essas tecnologias e iniciativas, quando associadas a outros programas de saúde digital, a exemplo da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), criam um ecossistema de informação integrado que fortalece a gestão e a coordenação da APS e do SUS27. A cooperação entre produtos e soluções inovadoras de TIC contribuem diretamente para a desfragmentação das informações relacionadas com a APS no Brasil, favorecendo ativamente a interoperabilidade dos dados em saúde20,28,29.
As regiões do Brasil com maior adesão ao aplicativo foram Nordeste e Sudeste. Tal fato pode estar relacionado com algumas características locais, como o trabalho do ACS em localidades rurais e remotas, além do aumento na implantação do PEC e-SUS APS nessas regiões22. A implantação de tecnologias de cuidado e gestão pode auxiliar no manejo das necessidades de maior relevância da população no território30, sendo aliadas no enfrentamento das vulnerabilidades e especificidades locais.
É importante ressaltar que os dados exportados do Google Analytics oferecem uma visão restrita e limitam ajustes mais detalhados nos modelos, incluindo a impossibilidade de testar abordagens não lineares mais adequadas à dinâmica de adoção tecnológica. Consequentemente, a projeção adotada baseia-se em regressão linear simples, que deve ser interpretada com cautela, especialmente para extrapolações de longo prazo. No entanto, trata-se de dados reais de uso em larga escala no setor público de saúde, com abrangência nacional e potencial para subsidiar decisões de gestão e planejamento. Outrossim, os modelos de séries temporais partem do pressuposto de que os padrões do passado se manterão no futuro, o que pode deixar de captar mudanças súbitas ou novas tendências, exigindo uma interpretação cuidadosa dos resultados. Além disso, a análise é sensível a fatores sazonais e a outros eventos externos que podem não ser completamente registrados, o que restringe a generalização dos achados.
Os resultados desta pesquisa são inovadores por proporcionarem a análise de uma solução tecnológica governamental, que é produto de uma estratégia consolidada no País há mais de 10 anos, a Estratégia e-SUS APS. O crescimento exponencial de usuários e sua distribuição pelo território nacional enfatizam a ampla aceitação do aplicativo e-SUS Território entre os profissionais de saúde. Nesse panorama, a projeção de novos usuários para os próximos cinco anos destaca a necessidade de investimentos na manutenção da Estratégia e-SUS APS, com intuito de qualificar o cuidado com as famílias e comunidades no território.
Considerações finais
Existe uma correlação positiva e significativa entre o tempo e o número de usuários ativos na aplicação e-SUS Território. Além disso, a região brasileira tem uma relação significativa com essa adesão, com destaque para as regiões Nordeste e Sudeste, que apresentaram maior número de usuários em comparação com a região de referência, o Centro-Oeste. Embora essa associação explique aproximadamente 50% da variância no número de usuários, outros ajustes são necessários para uma melhor compreensão da adesão ao e-SUS Território.
Embora existam limitações metodológicas relacionadas com a disponibilidade e a granularidade dos dados, os achados apresentados oferecem evidências concretas de expansão do uso do aplicativo e-SUS Território, em consonância com movimentos recentes de fortalecimento da APS no Brasil. A análise aponta para um cenário de adoção crescente ainda que novas investigações com modelos mais sofisticados possam aprimorar a precisão das projeções e aprofundar a compreensão dos fatores associados a essa adesão. Tais resultados reforçam o potencial do e-SUS Território como ferramenta estratégica para o cuidado em saúde e a gestão territorial no SUS.
Sugere-se o monitoramento de novas variáveis, como a infraestrutura de saúde, a presença de ACS de maneira mais detalhada e as características sociodemográficas das populações atendidas, para compor o modelo estatístico e fornecer maior robustez metodológica ao entendimento desse processo. Entretanto, cabe destacar que existem dificuldades, como a falta de dados sobre o acesso à internet e ao uso de tecnologia nas diferentes regiões, bem como a ausência de variáveis individuais que poderiam explicar de maneira mais precisa o comportamento de adesão ao sistema.
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Suporte financeiro:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes) - Código Financeiro 001, Ministério da Saúde do Brasil (Projeto e-SUS APS) e CNPq por meio de Bolsas de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Gestão Inovadora (DT)
Disponibilidade de dados:
os dados de pesquisa estão contidos no próprio manuscrito
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Editado por
-
Editora responsável:
Paula de Castro Nunes
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
17 Nov 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
13 Nov 2024 -
Aceito
02 Jun 2025




Fonte: elaboração própria por meio da ferramenta Datawrapper
Fonte: elaboração própria por meio do software Stata 16.0
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