EDITORIAL
Este número da revista Sociedade e Estado traz para nossos leitores um conjunto de artigos provocativos e atuais.
Por um lado, propõe temáticas e questões instigantes à reflexão sociológica, levando-a a interagir com o campo das artes, como é o caso do artigo de João Gabriel L. C. Teixeira "A Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello de Brasília: um estudo de caso de preservação musical bem-sucedida" e o de Henrique Buarque de Gusmão "Nelson Rodrigues, leitor de Gilberto Freyre: o projeto teatral rodriguiano em aliança com a sociologia freyreana".
O primeiro, sobre a formação do campo artístico em Brasília, trata do "choro" num contexto de contemporaneidade e numa urbe já denominada de capital nacional do rock. Mostra como elementos musicais tradicionais se combinaram para transformar a Escola de Choro de Brasília num caso bem-sucedido de educação musical e insere a história desse gênero musical nas especificidades da criação artística da cidade. O segundo propõe uma leitura da obra teatral de Nelson Rodrigues tendo em vista algumas questões que estão em jogo no campo teatral da segunda metade do século XX, assim como o posicionamento do autor diante delas e o projeto teatral que ele explicita em seus textos.
Por outro lado, a Sociologia é levada a dialogar com temas e conceitos já considerados clássicos nos debates sociológicos de décadas passadas, como é reportado pela discussão apresentada sobre a categoria de sertão, proposta no artigo "Sertão e narração: Guimarães Rosa, Glauber Rocha e seus desenredos", de Pedro Paulo Gomes Pereira.
Orientado para temas e questões bem atuais está o artigo escrito por Anderson Moebus Retondar "A (re)construção do indivíduo: a sociedade de consumo como "contexto social" de produção de subjetividades" que centraliza sua análise na configuração contemporânea da sociedade de consumo e nas novas relações e processos sociais que esta engendra. A despeito das teses que reforçam o espraiamento do consumo como forma de massificação/homogeneização social, responsável por destituir a própria possibilidade de realização do indivíduo enquanto sujeito do processo social, caras ao pensamento frankfurtiano, especialmente através das obras de Adorno e Horkheimer, o que se pretende aqui discutir é em que medida, a partir da centralidade que o processo de consumo adquire no contexto das atuais sociedades, ocorreria um movimento inverso, marcado pelo fortalecimento de processos de individuação por intermédio de novas formas de construção de identidades e subjetividades mediadas pela atividade consumista.
Na mesma ótica de temas e questões atuais, localiza-se a reflexão de Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo "Sistema penal e violência de gênero: análise sociojurídica da Lei 11.340/06" que desenvolve uma reflexão acerca do papel da Sociologia Jurídica na compreensão do funcionamento da atividade legislativa, para analisar a racionalidade e os efeitos prováveis da entrada em vigor da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). O texto é instigante, pois o autor explicita uma reflexão ainda voltada para uma visão androcêntrica na leitura analítica que realiza sobre a Lei Maria da Penha, sobretudo ao concluir que, ao invés de avançar e desenvolver mecanismos alternativos para a administração de conflitos, possivelmente mais eficazes para alcançar o objetivo de redução da violência, mais uma vez recorreu-se ao mito da tutela penal, neste caso ela própria uma manifestação da mesma cultura que se pretende combater.
Por fim, as resenhas apresentadas neste número tratam de livros atuais e procuram apresentar uma leitura crítica e contextualizada das obras lidas. Cabe-nos desejar a todos uma boa leitura!
Lourdes Bandeira
Editora
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Jul 2008 -
Data do Fascículo
Abr 2008