Acessibilidade / Reportar erro

Coronel Vírus chegou. Notas etnográficas sobre a Covid-19 entre vulnerabilizados da cidade do Rio de Janeiro

Colonel Virus has arrived. Ethnographic notes about Covid-19 among vulnerable people in the city of Rio de Janeiro

Llegó el Virus Coronel. Notas etnográficas sobre Covid-19 entre las personas vulnerables en la ciudad de Rio de Janeiro

Resumo

Os dois primeiros meses da chegada da Covid-19 no Brasil e em especial na cidade do Rio de Janeiro suscitaram inúmeras controvérsias. Uma delas se deu em torno dos corpos que teriam que se manter expostos ao vírus para garantir o funcionamento dos serviços que “não podiam parar” ou que estariam envolvidos diretamente no combate da doença. Na pandemia, neste evento de “tirar o fôlego”, foram equiparados médicos e demais profissionais da saúde, populações vulnerabilizadas, trabalhadores precarizados, idosos e pacientes crônicos. Através do relato de uma saída para visitar meu pai, da interação em páginas de bairro do Facebook, em conversas com interlocutores (por telefone e em grupos de WhatsApp) e através de notícias de diferentes mídias, o texto acompanha algumas polêmicas, em especial, a ideia aceita por segmentos da sociedade e do governo de que determinados corpos poderiam permanecer mais expostos ao vírus e, por conseguinte, mais expostos à morte.

Palavras-chave:
memória da Covid-19; política; racismo; subjetividade; vulnerabilidade

Abstract

The first two months of Covid-19 in Brazil, specifically in the city of Rio de Janeiro, sparked a number of controversies. One of them was around bodies that would have to remain exposed to the virus to guarantee the functioning of services that “could not stop” or that would be directly involved in fighting the disease. In the pandemic, this “breathtaking” event, doctors and other health professionals, vulnerable populations, precarious workers, the elderly and chronic patients were equated. Through the narrative of a visit to my father, interactions on neighborhood Facebook pages, conversations with interlocutors (by phone and in WhatsApp groups), and through news from diverse media sources, the text follows some controversies; in particular, the idea accepted by segments of society and government that certain bodies could remain more exposed to the virus and therefore more exposed to death.

Keywords:
Covid-19 memory; policy; racism; subjectivity; vulnerability

Resumen

Los dos primeros meses de la llegada de Covid-19 a Brasil, y especialmente a la ciudad de Río de Janeiro, han suscitado una serie de controversias. Uno de ellos fue alrededor de cuerpos que tendrían que permanecer expuestos al virus para garantizar el funcionamiento de servicios que “no podían parar” o que estarían directamente involucrados en la lucha contra la enfermedad. En la pandemia, en este evento “sobrecogedor”, se equiparó a médicos y otros profesionales de la salud, poblaciones vulnerables, trabajadores precarios, ancianos y pacientes crónicos. A través del relato de un viaje para visitar a mi padre, la interacción en las páginas de Facebook del barrio, las conversaciones con interlocutores (por teléfono y en grupos de WhatsApp) y a través de noticias de diferentes medios, el texto sigue algunas controversias, en particular, la idea aceptada por sectores de la sociedad y el gobierno de que determinados cuerpos podrían quedar más expuestos al virus y, por tanto, más expuestos a la muerte.

Palabras clave:
memoria Covid-19; política; racismo; subjetividad; vulnerabilidad

Walter Benjamin, em Armas do Futuro, texto de 1925, dizia que as próximas guerras teriam um front espectral (Benjamin, 2013: 69BENJAMIN, Walter. 2013. “As armas do futuro (1925)”. Capitalismo como religião. (org. Michel Lowy). Trad. Nélio Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Boitempo, p.69-72.). E descrevia os gases químicos utilizados como armas capazes de contaminar o solo, entrar no sangue, queimar a pele, matar as espécies e os víveres, infundindo na população um terror inconsciente, “o terror deve ser algo similar à psicose” (2013: 70BENJAMIN, Walter. 2013. “As armas do futuro (1925)”. Capitalismo como religião. (org. Michel Lowy). Trad. Nélio Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Boitempo, p.69-72.):

A guerra vindoura terá um front espectral. Um front que será deslocado fantasmagoricamente ora para esta ora para aquela metrópole, para suas ruas, diante da porta de cada uma de suas casas. Ademais, essa guerra, a guerra do gás que vem dos ares, representará um risco literalmente ‘de tirar o fôlego’, em que esse termo assumirá um sentido agora desconhecido. (…). Não há defesa eficiente contra os ataques com gás pelo ar. Até mesmo as medidas privadas de proteção, as máscaras antigás, falham na maioria dos casos. (2013: 69BENJAMIN, Walter. 2013. “As armas do futuro (1925)”. Capitalismo como religião. (org. Michel Lowy). Trad. Nélio Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Boitempo, p.69-72.)

Nos dois primeiros meses da chegada da Covid-19 no Rio de Janeiro, o noticiário era mesmo “de tirar o fôlego”: a cada período do dia informações diversas e às vezes desencontradas de como o vírus atuava, os cuidados extenuantes de higiene, o uso de máscaras e, o mais difícil, evitar o contato físico com humanos. Uma pergunta de Walter Benjamin correspondia ao que começávamos a experienciar no cotidiano (ou, ao menos, este era o clamor): “Com o que se parecem os gases venenosos, cuja aplicação pressupõe a suspensão de todos os movimentos humanos? (…). Esse gás [mostarda] permanece virulento durante meses em objetos que entraram em contato com ele” (Benjamin, 2013: 71BENJAMIN, Walter. 2013. “As armas do futuro (1925)”. Capitalismo como religião. (org. Michel Lowy). Trad. Nélio Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Boitempo, p.69-72.).

Junto às informações “de tirar o fôlego” vieram os especialistas e suas observações. Epidemiologistas, pesquisadores da área da saúde, médicas/médicos sanitaristas ocuparam jornais e mídias. E, ainda, jornalistas, economistas e urbanistas projetando as consequências do que se chamou de “distanciamento” e suas modulações quarentena, isolamento, confinamento, lockdown em outras partes do mundo; somados a estes, comentários de especialistas sobre remédios e vacinas que demorariam. Um pouco depois, em outro plano, intelectuais e ativistas de direitos humanos pautariam um futuro de mortes concentrado nas periferias e favelas1 1 Matéria intitulada “Mortes pela Covid-19 crescem 45% nos bairros pobres em uma semana”, publicada no site LabCidade/FAU/USP em 28.04.20. Disponível em http://www.labcidade.fau.usp.br/ mortes-pela-covid-19-crescem-45-nos-bairros-pobres-em-uma-semana/ [Acesso em junho de 20]. .

Matérias de corpos tomando as ruas em Guayaquil, no Equador, foram veiculadas em jornais e televisão2 2 ’Matéria de Solange Colombo intitulada “‘Guayaquil é uma necrópole’, descreve escritora equatoriana”, publicada no site da Folha de São Paulo [on line] em 13 de abril de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/guayaquil-e-uma-necropole-diz--escritora-equatoriana.shtml?fbclid=IwAR0K0HSfAcUKwO8TyoWFMg1K-IcmVdS0YxZmEessUSpcnqvkb3TKHYMbR8g [Acesso em 14 de abril de 2020]. . Na sequência, o governo federal publicou um decreto indicando enterro ou cremação dos corpos não identificados ou não-reclamados sem a necessidade de certidão de óbito3 3 Matéria de Jeniffer Mendonça intitulada ‘Suspensão de registro de óbito durante pandemia pode gerar mais desaparecidos”, publicada em 12.04.20 no site da Ponte. Disponível em ’https://ponte. org/falta-de-registro-de-obito-pode-gerar-mais-desaparecidos-diz-promotora/?fbclid=IwAR2I9biaBRvD6OXoVJJZ_LeavjhDZ-Hm39s0dP1wlYXOT6iqLNiI8K7-3lE [Acesso em 13 de abril de 2020]. , o que poderia resultar no aumento do número de pessoas desaparecidas no país4 4 Sobre essa possibilidade ver Azevedo, Sanjurjo e Nadai (2020). . O item foi retirado do decreto após repercussão negativa e pressão de movimentos e instituições.

Essa avalanche de cenários possíveis, de incerteza sobre a pandemia e com denúncias de casos de violação de direitos impulsionou o consumo de matérias sobre a Covid-19. À “febre por notícias”, acrescentou-se uma febre por troca de mensagens via aplicativos.

Notas etnográficas/capturar o presente

O material que apresento são registros reunidos como uma tentativa de capturar o presente, um presente de apreensão e prontidão que tomou o cotidiano desde o anúncio de que o vírus se instalara no Brasil. Um tempo que é veloz pela quantidade de informações que se modificam em poucas horas: os novos lugares onde a Covid-19 apareceu; as formas de contágios peculiares - o vírus ficaria algumas horas no ar, poderia ser transmitido em ambientes fechados por gotículas de pessoas ao lado ou mesmo pelo ar condicionado, embalagens de compras, superfícies de todos os tipos -; as dificuldades de produção de material de proteção; a inexistência de respiradores; os testes que não são confiáveis, etc.

As notas etnográficas foram tomadas a partir de diferentes lugares: de meu isolamento, em um apartamento no Centro do Rio de Janeiro; de territórios contíguos (bairros da Lapa e Glória) que percorro por motivo familiar; de páginasweb de bairros no Facebook (em especial, as páginas “Moradores do Bairro de Fátima, Lapa e Cruz Vermelha” e “Moradores do Catete e Largo do Machado”); de conversas pelo celular com amigos e familiares; de conversas com interlocutores de pesquisa que vivem em periferias e favelas; e, por fim, da troca de mensagens e vídeos em grupos de WhatsApp dos quais participam moradores e apoiadores de uma ocupação, também no Centro do Rio de Janeiro, e pessoas que possuem como interesse em comum o tema dos direitos humanos.

A ideia de capturar por notas etnográficas esse presente que vem por ondas de um mar que encontra-se muito mexido e, que, devido a sua força, é capaz de suspender por segundos a consciência de banhistas inexperientes ou não, se deseja próxima da crônica e dos diários de viajantes e escritores, gêneros literários que se distinguem por trazerem em seu cerne a experiência cotidiana e uma presença mais visível do eu-narrador. No contexto de uma pandemia em curso, essas notas almejam contribuir para a construção de uma memória dos primeiros meses de chegada da Covid-19 na cidade do Rio de Janeiro. Busco, em especial, percorrer algumas das controvérsias que a nova doença faz circular em torno dos corpos vistos como corpos do sacrifício, vidas sem valor (Agamben, 2002: 145AGAMBEN, Giorgio. 2002. “Vida que não merece viver”. In: Homo Sacer. O poder soberano e a vida nua I. Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, p.143-150.).

Outro ponto a ser ressaltado é que, diante do cerceamento da vida social na escala que o vírus mobiliza, inclusive do próprio ofício da antropologia, que possui como singularidade o trabalho de campo e a relação face a face com grupos e populações, a pergunta que emerge é sobre o papel da antropologia neste momento de “crise sanitária” nos termos da OMS, e depois.

Segundo Veena Das, em um pequeno texto publicado recentemente e intitulado Encarando a Covid-19, uma possibilidade seria “utilizarmos a antropologia não apenas para criticar ou desconstruir posições científicas ou de especialistas, parte já estabelecida do repertório desse saber, mas para pensar em garantir justiça não através de ‘princípios neutros e impessoais’”, e sim através da indagação sobre como se “valoram diferentes objetivos morais”. Desse modo, precisaríamos atentar para as “demandas de conhecimento geradas pela pandemia em termos de variações locais” (Das, 2020: 6DAS, Veena. 2020. “Encarando a Covid-19: Meu lugar sem esperança ou desespero”. Trad. Marcella Araújo. Dilemas/Reflexões na pandemia, p.1-8. Disponível em https://www.reflexpandemia.org/texto-26.
https://www.reflexpandemia.org/texto-26...
). Segundo ela, para entender as decisões das pessoas num momento crítico como este:

As sociedades teriam que se perguntar: como a particularidade importa na ética? (…). É possível pensar em ética não simplesmente como uma decisão, mas como uma pletora de outras infradecisões? (…). A Covid-19 mostrou, tragicamente, que é impossível saber com antecedência que tipo de conhecimento será caracterizado como acadêmico, não-acadêmico ou instrumental. Se, por exemplo, formuladores de políticas públicas estivessem prestando atenção ao trabalho acadêmico feito por cientistas sociais acerca dos impactos de formas cotidianas de governança sobre comunidades vulneráveis, talvez tivéssemos evitado a tentação de presumir que um modelo que funciona em um lugar funcionará igualmente bem em outros. (DAS, 2020: 4DAS, Veena. 2020. Affliction. Health, Disease, Poverty. 2015. New York: Fordham University Press.)

Para perceber essas “éticas particulares” ou esses “diferentes objetivos morais”, ao menos duas formas de governança sobre as populações tiveram uma repercussão mais ampla nas mídias corporativas e sem meias palavras. De um lado, a constatação de que a condição desigual de moradia entre “periféricos” e “não-periféricos” possui relação direta com a letalidade do vírus5 5 Matéria escrita por Patricia Campos Mello e Eduardo Anizelli publicada na Folha de São Paulo [on line] em 03 de agosto de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/2020/08/em-uti-de-hospital-da-zona-leste-de-sp-maioria-nao-sobrevive-a-covid.shtml [Acesso em agosto de 2020]. . De outro, a da existência de um maquinário estatal que opera de maneira eficaz por tecnologias específicas e conjugadas do fazer morrer6 6 O próprio Ministro da Saúde à época apontou a falta de saneamento básico e as favelas como obstáculos para se enfrentar a pandemia, ver a matéria intitulada “Mandetta: ‘País não está pronto para escalada de casos nas metrópoles”, publicada em 06 de abril de 2020 no site do UOL. Disponível em https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/06/mandetta-pais-nao-esta-pronto-para-escalada-de-casos-nas-metropoles. htm?cmpid=copiaecola [Acesso em 06 de abril de 2020]. Sobre o fazer morrer entre grupos heterogêneos como povos indígenas, populações negras das periferias e moradores de favela, destaco o Webinário da Academia Brasileira de Ciências #8 Populações fragilizadas e pandemia. Mediação: Luiz Davidovich. Com Maria Manuela Carneiro da Cunha, Márcia Lima e Eliane Silva, em 26 de maio de 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=to1 MQiTCzV8&feature=youtu.be [Acesso em 26 de maio de 2020]. .

Por este prisma, o vírus infundiu visibilidade à desigualdade social e ao racismo em escala nunca antes vivenciada no país. A biopolítica se afirma assim produzindo populações sacrificáveis/matáveis. Mas o que acontece quando as fronteiras entre quem pode ou não se contagiar encontram-se borradas?

O inimigo está em toda parte

A dimensão espectral das guerras vindouras (ressoando as observações de Walter Benjamin) se alimenta de um terror semelhante ao da psicose, com um inimigo em todos os lugares e tempos. “Nem é preciso dizer que, no caso da guerra com gás, cai por terra a diferenciação entre população civil e população combatente e, desse modo, um dos fundamentos mais sólidos do direito dos povos” (Benjamin, 2013: 71BENJAMIN, Walter. 2013. “As armas do futuro (1925)”. Capitalismo como religião. (org. Michel Lowy). Trad. Nélio Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Boitempo, p.69-72.). Essa ideia de um inimigo difuso, ou seja, a dimensão espectral das guerras desde a Primeira Grande Guerra, não é uma perspectiva nova em outros campos. Nos séculos XVII e XVIII, como mostrou Michel Foucault (2010FOUCAULT, Michel. 2010. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes.), as formas de conter a peste pelo esquadrinhamento das cidades por quarteirões, número de casas e registro dos residentes, tornaram-se fundamentais na implementação de tecnologias de disciplinarização e controle dos corpos e na produção de populações administráveis. Esse controle de corpos/territórios (o surgimento de populações) e a suposição de um corpo suspeito, que pode ser de alguém próximo, são características da biopolítica e da modernidade.

Mas as armas químicas de Walter Benjamin e o coronavírus introduzem outros elementos a esse corpo suspeito. O inimigo tornou-se volátil, está no ar e nas superfícies, em diferentes temporalidades, adentra a terra, especula-se que ele possa seguir pelo esgoto e instalar-se na porosidade dos materiais. Como reflete a filósofa Judith Butler, ao refletir sobre a atual pandemia:

E, no entanto, é essa condição de contato e de encontro ao acaso, de roçar uns nos outros ou em qualquer coisa nos rodeando, que se tornou potencialmente fatal, uma vez que o contato aumenta a possibilidade da doença, e a doença traz consigo a possibilidade de morte. Sob essas condições, os objetos e os outros dos quais necessitamos aparecem potencialmente como as maiores ameaças às nossas vidas (Butler, 2020: s/nBUTLER, Judith. 2020. Traços humanos nas superfícies do mundo. trad. André Arias e Clara Barzaghi. São Paulo: n-1. Disponível em http://n-1edicoes.org/042
http://n-1edicoes.org/042...
).

Desse modo, vivenciamos uma aporia de sentido trágico: seres do contato físico, da relação e ambiente, os humanos, para não se colocar em risco, devem interagir o máximo que conseguirem por telas digitais, evitando transitar por lugares e pessoas que são, na verdade, constituintes da própria subjetividade. Como escreve Achille Mbembe, “(…) tudo nos remete, por fim, ao corpo. Tentamos enxertá-lo em outros suportes, fazer dele um corpo-objeto, um corpo-máquina, um corpodigital (…). E ele retorna para nós na forma de uma enorme mandíbula, veículo de contaminação (…).” (Mbembe, 2020: s/nMBEMBE, Achille. 2020. O direito universal à respiração. Trad. Ana Luíza Braga. São Paulo: N-1, 2020. Disponível em Disponível em https://n-1edicoes.org/ 020 [Acesso em 15/07/2020].
https://n-1edicoes.org/...
).

O exemplo dos supermercados parece ser emblemático. Mesmo com inúmeras reportagens alertando sobre o risco de continuar frequentando-os, todos os dias, pela manhã, no grupo do Facebook “Moradores do bairro de Fátima, Lapa e Cruz Vermelha”, alguém lançava a pergunta: “Como está o Mundial [supermercado]?7 7 O mesmo supermercado sofreu ações na justiça por parte do Sindicato dos Comerciários cobrando a distribuição de equipamentos de proteção para os funcionários e clientes, e exigindo o afastamento dos trabalhadores em maior risco com a manutenção de salários. Sobre o tema ver a matéria escrita por Juliana Gonçalves intitulada “Coronavírus: ‘tem gente que tosse em cima da gente’, conta caixa do supermercado carioca Mundial”, publicada no The Intercept Brasil em 14 de abril de 2020. Disponível em https://theintercept.com/2020/04/14/coronavirus-supermercados-mundial/; matéria sem assinatura intitulada “Liminar obriga Mundial a fornecer materiais de proteção aos funcionários”, publicada na página do Sindicato dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro (s/d), disponível em https://secrj.org.br/noticias/liminar-obriga-mundial-fornecer-materiais/ [Acesso em 15 de abril de 2020]; e também a matéria escrita por Letycia Cardoso, intitulada “Funcionários alegam que Mundial não estaria afastando pessoas do grupo de risco”, publicada em no Extra [on line] em 21 de abril de 2020, disponível em https://extra.globo.com/ noticias/economia/funcionarios-alegam-que-mundial-nao-estaria-afastando-pessoas-do-grupo-de-risco-24384107.html [Acesso em 21 de abril de 2020]. ”.

Microdrama familiar, a rua e a pop rua 8 8 Expressão usada em contextos mais informais por moradores de ocupações, por trabalhado res da Assistência Social (abrigos) e por ativistas de direitos humanos para se referir a pessoas que ficam na rua por um período que pode ser transitório ou não.

Fui ver meu pai depois de fazer quarentena por conta de uma viagem a São Paulo. Ele pergunta por que não podemos visitá-lo. Após explicações interpela: “É como na guerra?!”. Estamos falando desde então pelo vídeo do WhatsApp, o que varia entre a quase mudez, com três ou quatro fra ses obtidas após alguma insistência e, outras vezes, a conversa segue com sorrisos espontâneos de sua parte, quem sabe ache curioso meus cabelos brancos tomando a pequena tela do celular ou por outro motivo que nunca vou saber. De qualquer maneira, que bom que ri.

Noutro momento, quando começou a ter um pouco de entendimento so bre o vírus e o quanto ele restringiria sua rotina, renomeou-o de “coronel vírus” [*meu pai é da região do Cariri, no estado do Ceará, no Nordeste do país, região onde a figura do coronel foi por muito tempo dominante]].

Do bairro da Cruz Vermelha, onde moro, até o bairro da Glória, onde ele vive, a distância é de no máximo 3 kms. As medidas de isolamento haviam começado há poucos dias. No caminho, farmácias abertas, uma lanchonete e bar com entregas, a funerária, os depósitos de bebidas com atendimento na porta. A pop rua se estende como dona absoluta da Lapa, as bocas de fumo seguem seu funcionamento, uma redução de danos como serviço essencial sem que o presidente ou o prefeito o declarem.

Além da pop rua, povoam a travessia os trabalhadores de Rappis, Uber foods, IFood, a maior parte de bicicleta, uns poucos de moto. Alguns usam máscara. Jovens descolados cortam a avenida Paraguai seguindo pela Mosqueira, lugar do fervo [concentração de pessoas em torno de depósitos de bebida e bares]. Um outro depósito, próximo da sala Cecília Meirelles, na rua principal, tem movimentação similar. Grupos diferentes se misturam com estrangeiros (dias antes era carnaval na cidade). A Associação Cristã de Moços, clube desportivo com público amplo da Lapa, está com as lu zes apagadas (algo raro e que causa estranheza). Em frente a uma casa de material de construção, ouço a conversa do vigia com três pessoas: “Ah, a gente tem que trabalhar!”. A mulher que está na roda contemporiza: “Mas tem gente que está trabalhando e já não está recebendo…”. A barbearia e o petshop estão a meia porta. O ‘shopping-chão’ [mercado a céu aberto que vende os mais variados objetos usados, a maior parte das vezes negociados por quem viveu ou vive nas ruas], como se fosse uma faixa de rio que corre pela Lapa e pela Glória, continua fluindo como se a vida estivesse como antes. O clima é quebrado quando um casal chega e pergunta o preço de algo, um enxame de gente cerca os dois. Ando com minha máscara e conto três transeuntes que estão da mesma forma.

Plantada no corredor, na porta do apartamento, mascarada, meu pai se assusta comigo. Retorna duas vezes para o sofá. Expliquei porque eu estava daquele jeito e porque não podia abraçá-lo, ele me olhando por cima dos óculos. Da primeira vez, quis fechar a porta, e se foi. Depois veio como foguete pronto a me abraçar, eu disse: “Não, pai, não!”. Me despedi, foi bom ter ido.

Na volta, escurecia, a rua em mutação. Mais para a Lapa, duplas dividiam cerveja no meio fio. Um moço deu dica para uma mulher sobre as freiras [Missionárias da Caridade, seguidoras de Madre Teresa de Calcutá] que entregam refeição pela manhã e às 16:30, no casarão da Travessa do Mosqueira; a mulher faz que não sabia. A própria Travessa está com mais movimentação ainda. Perto do Circo Voador [tradicional casa de shows], a pop rua está na crítica da marmita da igreja Farol da Lapa (que na entrada oferece água e alguma fruta): “Feijão sem gosto, arroz papa” - esbravejou o de barba branca. Vi que era acompanhada de laranja e guaravita, mas não descobri qual era a ‘mistura’ [alguma carne], se havia ‘mistura’. Continuei. Três homens que saíram da porta da igreja entraram na minha frente, um deles andava ao mesmo tempo em que levava com ímpeto a comida até a boca, mais adiante escutei seu colega dizendo pra continuarem, pois olharia o lixo. Os dois, contudo, aguardam-no sem interromper a conversa. Um transeunte flamenguista (tinha uma bolsa com a insígnia e as cores do time) que vinha desde a rua da Lapa desviou da pequena aglomeração. Seguimos os dois pelo asfalto. A padaria aberta, o mercado também. Iluminados de verde, os Arcos da Lapa restavam como um colosso. Talvez porque sem trânsito, as bases brancas pintadas de cal do aqueduto pareciam ainda maiores, me lembrando pernas de mamute guardando um continente de águas. Eu abracei uma delas como criança abraça algo grande, as mãos nem conseguiram se encontrar.

(publicado em meu perfil no Facebook, em 01.04.2020)

Previsto para o carnaval, o coronel vírus foi declarado presente no país depois, em meados de março. Desde essa visita tenho falado com meu pai apenas por ligação de vídeo ou áudio. A comunicação verbal tornou-se restrita quando dois anos atrás ele sofreu um acidente vascular, em seguida passou por uma internação e, na mesma época, foi diagnosticado com Alzheimer. Por ligação de vídeo a dificuldade se mantém, mas a comunicação não-verbal ganhou força. Assim, ele abre um largo sorriso para em seguida dispor as mãos em direção à tela com ímpeto de tocá-la. A ligação cai, retorno. Como a cuidadora foi dispensada para manter-se em casa, Noêmia, sua esposa, faz as vezes de cuidadora agora em tempo integral, mas é também idosa e possui certos limites. Fica atarantada, por exemplo, se precisa receber compras e pagar com o dinheiro ou o cartão do banco. Quando encomendei produtos no mercado, a entrega chegou no dia seguinte (como avisaram), mas ela devolveu. Meu irmão termina por levar compras quando os visita, o que também não é tranquilo, porque vive com um médico que trabalha em um hospital que é referência para tratamento da Covid-19.

Ao mencionar esse microdrama familiar para amigos, escutei de volta histórias tão ou mais delicadas. Se as residências nas camadas populares se constitutem no Brasil por uma dinâmica de arranjos os mais variados, às vezes com múltiplos braços e com as pessoas comunicando-se e circulando por diferentes endereços (estes vistos em contínuo ao domicílio próprio); por outro, se as estratégias epidemiológicas para conter o vírus não atentam para as condições da vida material, ou seja, para como se estruturam a desigualdade e as relações no cotidiano9 9 Sobre o imbricamento entre condições materiais e políticas de saúde no contexto das periferias de Nova Delhi remeto à Affliction: Health, Disease, Poverty, de Veena Das (2015). Para ter uma ideia de como uma residência com características diferenciadas por ser residência terapêutica articula-se para enfrentar a pandemia, ver o interessante relato de Monique Torres (2020). , elas continuarão sendo julgadas como exageradas, autoritárias ou como se estivessem escondendo algo10 10 Sobre as ações e controvérsias por parte do saber médico e das políticas do Estado para a saúde da população no início do século XX, remeto ao estudo de Myriam Bahia Lopes (2000); sobre as políticas para conter a varíola no mesmo período no Rio de Janeiro, remeto a Sidney Chalhoub (1996). Nos dois trabalhos, impressiona como as estratégias epidemiológicas foram violentas no sentido de não respeitar o cotidiano da população negra e pobre, assim como, as práticas e saberes afro-brasileiros desse grupo. No caso da Covid-19, não foram poucas as vezes que escutei de entregadores e de outras pessoas com quem tive algum contato indagações em tom de ceticismo sobre o número de mortos pelo vírus e as inúmeras maneiras de pegá-lo. .

Outra referência nos trechos acima é a população de rua, grupo que acompanhei de forma transversal no doutorado, estudando ocupações de moradia e, depois, no pós-doutorado, quando pesquisei abrigos municipais. Nesse dia, percorrer o caminho de pessoas em situação de rua suscitou sentimentos contraditórios. Nesse começo da pandemia, logo surgiram conjecturas sobre o que deveria ser feito em relação a este grupo - portador (entre outros) de um corpo exemplar da vulnerabilidade11 11 Sobre as populações vulneráveis (população em situação de rua, quilombolas, povos indígenas, sem teto, moradores de favelas, moradores de periferias, sem terra) na pandemia no Brasil, ver a apresentação de Cunha (2020) no Webinário ABC #8. Populações fragilizadas e pandemia. Mediação: Luiz Davidovich. Com Maria Manuela Carneiro da Cunha, Márcia Lima e Eliane Silva, em 26 de maio de 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=to1MQiTCzV8&feature=youtu.be [Acesso em 26 de maio de 2020]. . A “Cracolândia”, no bairro da Luz, em São Paulo, foi mais uma vez pinçada como representação genérica dessa população, um problema em si. O plano de acabar com serviços e políticas que funcionavam nessa área e retirar os moradores aconteceu nas primeiras semanas da pandemia, mesmo sob protestos e denúncias12 12 Matéria de Paula Paiva Paulo intitulada “Prefeitura de SP fecha serviço de atendimento so cial na Cracolândia e transfere acolhidos para novo espaço em ônibus lotado”, publicada no site G1/SP em 08 de abril de 2020. Disponível em https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/04/08/prefeitura-de-sp-fecha-servico-de-atendimento-social-na-cracolandia-e-transfere-acolhidos-para-novo-espaco-em-onibus-lotado.ghtml [Acesso em 08 de abril de 2020]. .

Essas notícias pairavam na caminhada de volta para casa, era noite e eu pude ver, sem tanto esforço, a drogadição mais livre e menos temerosa quanto a ações por parte da Guarda Municipal. Também vi rostos com expressões assustadas e ganhei olhares que interpretei como de repreensão. Queria muito saber o que pensavam sobre o fato da circulação e do instalar-se em marquises estarem como que franqueados ou, ao menos, as chances de serem interpelados pela guarda haviam diminuído. Tratava-se ainda de invisibilidade, mas com outra densidade. Nas palavras de Carmen Silva, liderança do MSTC-SP (Movimento de Sem Teto do Centro - da cidade de São Paulo):

Manda-se eles para casa e… eles não têm casa. Manda-se eles lavarem as mãos, mas não existem torneiras, e a prefeitura fez alguns pontos de água que já estão quebrados. É um delírio que eles sentem a solidão real de serem seres invisíveis. É a solidão real. A cidade está vazia, eles eram os invisíveis que circulavam no meio da multidão. Antes eles gritavam para aquela multidão que não os enxergava nem os escutava. Agora eles gritam para eles mesmos, e a cidade [é] que está silenciosa, talvez esteja enfim ouvindo as suas verdades, pois as frases que eles gritam têm um pé fincado na realidade. É fuga, é vergonha, é medo” (Silva, 2020: s/nSILVA, Carmen. 2020. Sete verbos para se conjugar morar. Disponível em http://www.n-1edicoes.org/048. São Paulo: n-1.
http://www.n-1edicoes.org/048...
).

Por outro lado, as ruas com pouco movimento, o comércio e os serviços com as portas cerradas tornaram escasso o dinheiro obtido em trabalhos ligados ao cotidiano da viração. Desde o primeiro mês da pandemia, é corriqueiro se deparar com pedaços de caixas de isopor de quentinhas já consumidas, abandonadas por canteiros, no meio fio ou nas calçadas do bairro. Pontos brancos de isopor se juntam a pontos coloridos de roupas penduradas em varais improvisados nas grades do Passeio Público, espalhadas pela grama dos Arcos da Lapa ou, ainda, na praça da Cinelândia e nos jardins do Museu de Arte Moderna. Enquanto aguarda-se as roupas secarem, pega-se sol, é possível conversar com outros na mesma situação ou que esperam que as horas passem e uma refeição chegue.

Fake news/velhos e novos pestilentos

Corpos que ocupam determinados postos de trabalho, determinados bairros ou regiões, encontrando-se mais expostos, têm sido em outros contextos mimetizados com a própria Covid-19. É o caso da funcionária que trabalhava em um dos caixas do supermercado Princesa que faleceu pela doença e que era reconhecida no grupo de moradores do Catete. Sobre sua morte uma moradora do bairro justificou: “É porque esse pessoal da Baixada [Fluminense] só vive na rua!”. Essa moradora acionava um estigma acionado frequentemente a respeito de moradores dessa área metropolitana do Rio de Janeiro cujos índices de desigualdade são ainda mais altos se comparados aos de outras regiões.

Numa outra situação, a mímese se fez entre objetos e vírus, como revelaram áudios de duas mulheres próximas com quem compartilho ativismo e religião, uma é do movimento de mães que lutam contra a violência estatal, pastora e mora em uma favela na Zona Norte, a outra é umbandista, reside em na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Ambas reverberaram fakes news com o mesmo tema: não se deveria usar as máscaras oferecidas pelo posto de saúde porque, vindas da China, estariam contaminadas. Ela concluiu (a ativista/pastora): “É isso mesmo o que eles [os chineses] querem: matar o povo!”. A afirmação tem traços xenófobos, mas não é uma assertiva contra a ciência, nem exemplo de “ignorância” ou de manipulação de seu pensamento pela religião ou pelo pastor13 13 Patricia Birman (2020) assinala dois pontos sobre a capacidade de disseminação e de credulidade das fake news entre camadas populares no Brasil que ajudam a entender o processo. O primeiro deles refere-se ao fato das discussões políticas, em seu sentido mais estrito, terem, na última década, “invadido” a esfera das relações domésticas/familiares, resultando na incorporação de temas públicos ao cotidiano. O segundo ponto ressalta que as fake news se propagam por redes de confiança, desse modo, consumi-las e repassá-las também significa, em alguma medida, cultivar vínculos, redes de pertencimento, valores, etc. . Como sabemos, a afirmação de que “o que eles querem é matar a gente” ganhou visibilidade pública e reconhecimento no plano político e jurídico com a luta das mães cujos filhos foram vitimados pela violência de Estado14 14 Sobre o tema remeto a Leite e Birman, 2004; Araújo, 2007; Vianna e Farias, 2011. . Mortes causadas pela precarização dos serviços de saúde são, assim, sobrepostas as mortes por violência estatal/policial.

Na batalha contra a pandemia, aos pestilentos da Covid-19 também somaram-se médicos, categoria prestigiada no Brasil. Entregadores - pestilentos exemplares antes invisíveis em serviços cada vez mais precarizados - tornaram-se fundamentais e, ao mesmo tempo, são tratados com reserva (não foram poucas as reportagens que abordavam como se deveria receber entregas e entregadores15 15 Sobre o tema muitas matérias foram veiculadas na imprensa, replicadas nas redes sociais e na tv aberta. Ver a matéria de Joana Gontijo intitulada “Todo cuidado é pouco ao receber deli very em época de pandemia”, publicada no Jornal Estado de Minas [on line], em 05 de abril de 2020, disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/bem-viver/2020/04/04/interna_bem_viver,1134656/todo-cuidado-e-pouco-ao-receber-delivery-em-epoca-de-pandemia. shtml [acesso em 04 de abril de 2020]; a matéria sem assinatura intitulada “Veja cinco passos para fazer compras delivery com segurança na quarentena” publicada no Diário do Nordeste em 08 de abril de 2020, disponível em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/ veja-cinco-passos-para-fazer-compras-delivery-com-seguranca-na-quarentena-1.2231540 [acesso em 08 de abril de 2020]; matéria sem assinatura intitulada “Coronavírus: especialista recomenda cuidados ao receber produtos delivery”, veiculada no programa Balanço Geral, da Rede Record, em 17 de março de 2020, disponivel em https://recordtv.r7.com/ balanco-geral-rj/videos/coronavirus-especialista-recomenda-cuidados-ao-receber-produtosdelivery-17032020 [acesso em 20 de julho]; matéria sem assinatura intitulada “Rappi cria “entrega sem contato” para proteger motoristas” publicada na revista Exame [on line] em 16 de março de 2020, disponível em https://exame.com/pme/rappi-cria-entrega-sem-contato-para-proteger-motoristas/ [acesso em 20 de março de 2020]; matéria intitulada “Quanto tempo o coronavírus permanece ativo em diferentes superfícies?”, publicada no site da Fiocruz em 16 de junho de 2020, disponível em https://portal.fiocruz.br/pergunta/quanto-tempo-o-coronavirus-permanece-ativo-em-diferentes-superficies [acesso em 16 de junho de 2020]. ).

Se supomos um regime de governo dos corpos no país que os divide em pelo menos três categorias - corpos onipotentes/viris, corpos vulneráveis/sacrificáveis e corpos não-choráveis16 16 Desenvolvi uma tipificação sobre corpos da vulnerabilidade/compaixão contextualizada em um abrigo para mulheres da cidade de Janeiro (Fernandes, 2019). No presente artigo, trata-se de tatear os deslocamentos antiracistas que a pandemia de Covid-19 tem provocado no Brasil. -, quais os deslocamentos que a ampliação dos tipos e do número de corpos sacrificáveis suscita em termos subjetivos e nas relações de poder?

É justamente este aspecto idiossincrático que despontou como um analisador da pandemia: a aproximação, via trabalho, de categorias antes separadas por uma distância abissal. Ou seja, o coronel vírus agrupou em um mesmo conjunto, como pestilentos/sacrificáveis, categorias de origem e posição social até então muito distintas: médicos, enfermeiros, entregadores, sepultadores, auxiliares de enfermagem/trabalhadores da saúde e da assistência, cuidadores, caixas de supermercado/ trabalhadores de abastecimento e alimentação, de farmácias, de pets, bancários do setor privado, atendentes de lotéricas, trabalhadores da construção civil, dos transportes, das indústrias alimentícia e farmacêutica, agentes penitenciários, agentes da segurança pública e da vigilância privada17 17 Sobre o tema remeto as apresentações de Cibele Rizek e José Sérgio Leite Lopes no Debate [on line] Pandemia, isolamento social e mundo público. (05.05.20). Moderação: Joana Barros. Laboratório de Narrativas Urbanas/UNIFESP, Observatório Fluminense/UFRRJ,CAAF Centro de Antropologia e Arqueologia Forense/UNIFESP. Disponível em https://www.facebook.com/lanaurb/videos/279016343260775/ [Acesso em 05.05.20]. .

Vulneráveis/sacrificáveis: idosos, pacientes crônicos e essenciais

A imagem com o desenho de um caminhão contendo a expressão em maiúsculas “CATA VÉIO” foi um meme que circulou pelas redes, entre outros com o mesmo tema18 18 Matéria de Mateus Camillo intitulada “Memes imploram para idosos ficarem em casa durante quarentena contra coronavírus”, publicada na Folha de São Paulo [on line] em 22 de março de 2020. Disponível em https://hashtag.blogfolha.uol.com.br/2020/03/22/memes-imploram-para-idosos-que-fiquem-em-casa-durante-quarentena-contra-coronavirus/ [acesso em 20 de junho de 2020]. . As notícias sobre mortes de idosos pela pandemia na Itália e as veiculadas aqui, alertando para a presença desse grupo etário nas ruas e mercados, animaram este meme19 19 Bolsonaro fez declarações sobre o assunto, destaco a matéria de Augusto Fernandes intitulada ‘Famílias que cuidem de seus idosos’, publicada no jornal Estado de Minas, em 08 de abril de 2020, disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/04/08/interna_nacional,1137022/familias-que-cuidem-de-seus-idosos-diz-bolsonaro.shtml [Acesso em junho de 2020]. . Imaginou-se nesse momento que o vírus seria “democrático” porque não escolheria classe e atacaria de maneira feroz os mais velhos e os portadores de doenças crônicas. Estas informações se destacaram após o anúncio das primeiras mortes ocorridas no país. Elas teriam ocorrido no hospital privado Sancta Maggiore, operado pelo plano de saúde Prévent Senior, na cidade de São Paulo: um andar inteiro de idosos abastados, infectados e morrendo20 20 Ver a matéria intitulada “Prevent Senior concentra 58% das mortes em SP; Prefeitura pede intervenção em hospitais da rede”, publicada no jornal Estadão em 31 de março de 2020, disponível em https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,prevent-senior-concentra-58-das-mortes-em-sp-prefeitura-pede-intervencao-em-hospitais-da-rede,70003255559 [Acesso em 31 de março de 2020]. , que teriam pego Covid-19 em uma viagem pela itália. Na sequência, tivemos notícias sobre celebridades da televisão testadas positivas21 21 Matéria de Alan Magno, intitulada “Coronavírus: Casamento de irmã de Gabriela Pugliesi se torna foco de transmissão da doença publicada” no jornal O Povo, em 11 de março de 2020, disponível em https://www.opovo.com.br/noticias/saude/2020/03/11/coronavirus--casamento-de-irma-de-gabriela-pugliesi-se-torna-foco-de-transmissao.html [Acesso em junho de 2020]. , celebridades do mundo da política22 22 Matéria assinada pela Redação intitulada “Coronavírus contamina políticos em todo o mun do; confira lista”, publicada no jornal Diário do Nordeste em 13 de março de 2020, disponível em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/mundo/online/coronavirus-contamina-politicos-em-todo-o-mundo-confira-lista-1.2221990; Matéria assinada pela Redação intitulada “Coronavírus: saúde de Charles e rainha Elizabeth preocupam, desabafa príncipe William” publicada no site UOL em 17 de abril de 2020, disponível em https://noticias.uol. com.br/ultimas-noticias/afp/2020/04/17/covid-19-saude-do-pai-e-da-rainha-preocupam-desabafa-principe-william.htm [Acesso em junho de 2020]. e membros da comitiva presidencial que esteve nos EUA no início de março.23 23 Matéria intitulada “Presidente de federação é 23º infectado em comitiva de Bolsonaro’, publicada no jornal Estadão em 22 de março de 2020, disponível em https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,presidente-de-federacao-e-23-infectado-em-comitiva-de-bolsonaro,70003243574 [Acesso em junho de 2020]. Por fim, vieram as notícias sobre a interrupção das partidas de futebol após jogadores terem se recusado a entrar em campo24 24 Matéria sem assinatura intitulada “Maradona apoia recusa do River Plate em jogar: ‘Não me dou com as Gallinas, mas apoio até morrer’”, publicada no site Globo Esporte em 14 de março de 2020, disponível em https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/maradona-apoia-recusa-do-river-plate-a-jogar-nao-me-dou-com-as-gallinas-mas-eu-os-apoio-ate-morrer.ghtml [Acesso em 14.03.20]; Matéria não assinada intitulada “Jogadores do Goiás se recusam a entrar em campo pelo Estadual: ‘Enquanto não superada a Epidemia em nosso país’”, publicada no site Fox Sports em 17 de março de 2020, disponível em https://www.foxsports. com.br/br/article/jogadores-do-goias-se-recusam-a-entrar-em-campo-pelo-estadual-enquanto-nao-superada-a-epidemia-em-nosso-pais_dzpoqy [Acesso em junho de 2020]. .

Nessa leva inicial de aparições midiáticas da Covid-19, a informação que gerou alívio foi a de que crianças e jovens raramente adoeciam25 25 Matéria assinada por BBC News intitulada “Por que as crianças são afetadas de maneira diferente pelo coronavírus”, publicada no site UOL em 05 de abril de 2020, disponível em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/04/05/por-que-as-criancas-sao-afetadas-de-maneira-diferente-pelo-coronavirus.htm [Acesso em abril de 2020]. . Nas periferias e praias do Rio a movimentação era intensa, como manchetes estamparam (na sequência, o governador declarou que banhistas seriam detidos)26 26 Matéria não assinada intitulada “Banhistas do Rio voltam a desrespeitar orientação de não irem à praia devido ao novo coronavírus”, publicada no site do G1/Rio de Janeiro em 16 de março de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/03/16/ banhistas-voltam-a-desrespeitar-orientacao-de-nao-irem-a-praia-no-rio-devido-ao-novo-coronavirus.ghtml [Acesso em 16.03.20]. . Depois, o foco de tensão se deslocaria para outro personagem: os trabalhadores que não entrariam em isolamento por serem considerados essenciais,27 27 Sobre a medida provisória, ver a página do Governo Federal http://www4.planalto.gov.br/ legislacao/imagens/servicos-essenciais-covid-19 [Acesso em julho de 2020]. categoria mutante e ainda presente nos discurso sobre a doença. Em maio, o prefeito de Belém tornou o trabalho das domésticas serviço essencial28 28 Matéria de Arthur Sandes intitulada “Belém vai contra entendimento nacional e inclui domésticas como essenciais”, publicada no site UOL em 06 de maio de 2020. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/06/belem-inclui-domesticas-entre-servicos-essenciais-durante-lockdown.htm [Acesso em maio de 2020]. ; no dia 11 daquele mesmo mês, medida assinada pelo presidente incluia salões de beleza e academias de esportes29 29 Matéria sem assinatura intitulada ”Decreto que libera academias e salões de beleza provoca reações no Senado”, publicada em Senado Notícias [on line] em 12 de maio de 2020. Disponível em https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/05/12/decreto-que-libera-academias-e-saloes-de-beleza-provoca-reacoes-no-senado [Acesso em maio de 2020]. .

Outro tópico controverso foi o que se referiu à inclusão de igrejas como atividades essenciais30 30 Matéria de Ricardo Della Coletta intitulada ”Bolsonaro inclui atividades religiosas em lista de serviços essenciais”, publicada na Folha de São Paulo [on line] em 26 de março de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/em-meio-a-pandemia-bolsonaro-inclui-atividades-religiosas-em-lista-de-servicos-essenciais.shtml [Acesso em março de 2020]; Matéria de Estadão Conteúdo intitulada “Juiz manda Bolsonaro excluir igrejas da lista de serviços essenciais”, publicada na revista Exame [on line] em 14 de abril de 2020, disponível em https://exame.com/brasil/juiz-manda-bolsonaro-excluir-igrejas-da-lista-de-servicos-essenciais/ [Acesso em julho de 2020]. . O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e importante aliado político do presidente, mencionou sobre não entrar “na neura louca”, “não entrar nessa paranoia” com a possibilidade de contágio, além de afirmar ser a igreja um “lugar de maior proteção”31 31 Matéria de Herculano Barreto Filho intitulada ”Em culto, Malafaia se compara a médico: ‘Aqui é o lugar de maior proteção’”, publicada no site UOL em 19 de março de 2020. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/03/19/silas-malafaia-promove-culto-em-meio-a-casos-de-coronavirus.htm [Acesso em março de 2020]. . Moema, que é do movimento de mães e da Assembleia de Deus, moradora de favela com quem conversei, contou que sua igreja se manteve fechada nos primeiros meses da quarentena e, em julho, reabrira seguindo os protocolos: medição de temperatura na entrada, oferta de álcool gel, uso de máscaras, distanciamento entre os fiéis.

Aos idosos somaram-se os portadores de doenças crônicas - diabéticos, hipertensos, imunodeprimidos e quem possuía doença respiratória, cardiovascular, neurológica, demencial. Esse conjunto foi reconhecido como o grupo de maior risco, em contraposição a jovens, crianças e adultos considerados saudáveis. Mas mesmos esses últimos, corpos da virilidade/onipotência - “corpos de atleta”/assintomáticos - precisariam evitar tratar com idosos e crônicos porque poderiam transmitir-lhes o vírus. Uma pergunta importante despontava e creio que permanece: as performances e atos envolvendo virilidade e onipotência - uma “fantasia militar”32 32 A passagem completa de Judith Butler: “As vidas são, por definição, precárias: podem ser eliminadas de maneira voluntária ou acidental, e sua persistência não está garantida de nenhum modo. Em certo sentido, é um traço de toda a vida, e não existe uma concepção de que a vida não seja precária, salvo, todavia, na fantasia, e particularmente nas fantasias militares” (2010: 46). , nas palavras de Judith Butler (2010: 46BUTLER, Judith. 2010. “Introducción: Vida precária, vida digna de duelo”. In: Marcos de guerra. Las vidas lloradas. Trad. Bernardo Moreno Carrillo. Madrid: Paidós, p.13-56.) - estariam perdendo sentido?33 33 Em março, no início da pandemia, tornou-se célebre no país a máxima de Jair Bolsonaro comparando o vírus a uma “gripezinha”. Matéria de Guilherme Mazieiro intitulada “‘Depois da facada, não vai ser gripezinha que vai me derrubar’ - diz Bolsonaro”, publicada no site UOL em 20 de março de 2020. Disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/20/depois-da-facada-nao-vai-ser-gripezinha-que-vai-me-derrubar-diz-bolsonaro.htm [Acesso em março de 2020].

Pestilentos do mundo

Foram matérias sobre mortes de jovens e de agressões a profissionais da saúde em algumas cidades brasileiras que tornaram esse cenário inicial de conflitos ainda mais denso. Os casos de agressão aconteceram quando os profissionais voltavam do trabalho e também ocorreram no México, Colômbia, Argentina34 34 Ver a matéria de Aiuri Rebello intitulada “Profissionais da saúde relatam agressões no caminho para hospitais em São Paulo”, publicada na Folha de São Paulo em 22 de março de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/03/profissionais-da-saude-relatam-agressoes-no-caminho-para-hospitais-em-sao-paulo.shtml; e a matéria de Sylvia Colombo intitulada “Médicos da América Latina são aplaudidos e hostilizados no cotidiano”, publicada na Folha de São Paulo em 26 de abril de 2020, disponível em https://www1.folha. uol.com.br/colunas/sylvia-colombo/2020/04/medicos-da-america-latina-sao-aplaudidos-e-hostilizados-no-cotidiano.shtml [Acessos em abril de 2020]. . Conversan do por celular com Moema, ela baixou a voz na ligação quando contou sobre a vizinha, auxiliar de enfermagem no posto de saúde, que estava isolada porque, nas suas palavras, pegara a “dita cuja”.

As agressões desencadearam uma campanha de apoio aos “heróis” da luta contra a pandemia que passaram a ser aplaudidos nas janelas de prédios pelo país35 35 Matéria não assinada intitulada ”Com aplausos, brasileiros prestam homenagens a profissionais de saúde”, publicada na Folha de São Paulo em 20 de março de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/03/com-aplausos-brasileiros-prestam-homenagens-a-profissionais-de-saude.shtml [Acesso em março de 2020]. . Rápido, profissionais de saúde começaram a denunciar as condições de trabalho, a falta de proteção, as mortes e afastamentos por Covid-1936 36 Matéria não assinada intitulada “Conselho denuncia falta de EPIs e relata 130 profissionais afastados no RJ”, publicada no site UOL em 02 de abril de 2020, disponível em https://noticias. uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/02/conselho-denuncia-falta-de-epis-e-relata-130-profissionais-afastados-no-rj.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em abril de 2020]; matéria escrita por Paula Sperb et al. intitulada “Médicos e enfermeiros protestam nas capitais contra falta de máscaras e luvas”, publicada na Folha de São Paulo em 23 de março de 2020, disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/medicos-e-enfermeiros-protestam-nas-capitais-contra-falta-de-mascaras-e-luvas.shtml [Acesso em março de 2020]. Sobre o tema, ver denúncias de médicos de uma Clínica da Família no Rio de Janeiro em Araújo et al. (2020). . Manifestações de profissionais de saúde de Nova York denunciaram situações semelhantes37 37 Matéria não assinada intitulada “Enfermeiro morre em Nova York, e colegas de trabalho culpam falta de proteção”, publicada em O Globo em 28 de março de 2020. Disponível em https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/enfermeiro-morre-em-nova-york-colegas-de-trabalho-culpam-falta-de-protecao-24333824 [Acesso em março de 2020]. . “Não queremos ser vistos como heróis”, dizia a matéria do enfermeiro que fotografava o dia a dia num hospital da Itália38 38 Matéria da BBC News Brasil intitulada ”Enfermeiro fotografa impacto do coronavírus nos hospitais da Itália: ‘Morrer sozinho é horrível’”, publicada no site R7 em 20 de março de 2020. Disponível em https://noticias.r7.com/internacional/enfermeiro-fotografa-impacto-do-coronavirus--nos-hospitais-da-italia-morrer-sozinho-e-horrivel-21032020 [Acesso em março de 2020]. . Esse conjunto de acontecimentos reforçava a ideia de que um dos eixos dos conflitos mobilizados (de maneira mais acentuada) pela Covid-19 se refere à precarização do trabalho e à perda de direitos trabalhistas e previdenciários, operadas nos últimos anos em muitas partes do globo.

Denúncias sobre a precarização do emprego também estiveram no cer ne do debate que aconteceu em março sobre a continuidade ou não do trabalho de diaristas e domésticas39 39 Matéria escrita por Aurélio Nunes intitulada ”Domésticas defendem direito à quarentena remunerada e dividem patrões”, publicada no site UOL em 29 de março de 2020. Disponível em https:// noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/29/domesticas-defendem-direito-a-quarentena-remunerada-e-dividem-patroes.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em março de 2020]. . Alcançou visibilidade a Campanha “Dispensa Remunerada”/“Quarentena Remunerada Já”40 40 Carta Manifesto/Abaixo-assinado intitulado “Quarentena Remunerada Já Para Domésticas e Diaristas!”, publicado em março de 2020, disponível em https://www.change.org/p/ao-poder-p%C3%BAblico-empregadores-e-empregadoras-de-dom%C3%A9sticas-e-diaristas-e-toda-sociedade-civil-quarentena-remunerada-imediata-pra-domesticas-e-diaristas?signed=true [Acesso em março de 2020]. , realizada por filhos e filhas para que suas mães fossem liberadas do serviço e permanecessem recebendo, qualquer que fosse o tipo de contrato de trabalho. Além de um abaixo-assinado que contou com 131 mil pessoas, a campanha lançou uma Carta-Manifesto e foi acompanhada de reportagens e testemunhos clamando pela segurança das mães/trabalhadoras.

Estratégias para não ser engolido pelo vírus

Alguns coletivos e frentes ligadas à pop rua no país vocalizaram o aumento de sua vulnerabilidade com a diminuição de serviços prestados e o risco de se contaminarem41 41 Matéria não assinada intitulada “Covid-19: ‘é desumano o que a população de rua está passando’, diz Padre Júlio Lancellotti”, publicada no site Brasil 247 em 15 de maio de 2020, disponível em https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/covid-19-e-desumano-o-que-a-populacao-de-rua-esta-passando-diz-padre-julio-lancellotti?amp&fbclid=IwAR0Mdi7l5XI CElp8-e-5V6fFgCA4S2n85UWtTiuyIAHLSAFOEAmWjjUNxS8#.XsEmxFYkPeA.facebook [Acesso em maio de 2020]; matéria de Jorge Ghiaroni e Ana Dorneles intitulada “Pessoas que vivem nas ruas do Rio contam como é enfrentar a pandemia”, publicada no site G1 em 12 de maio de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/06/12/ pessoas-que-vivem-nas-ruas-do-rio-contam-como-e-enfrentar-a-pandemia.ghtml [acesso em maio de 2020]; matéria escrita por Patrice Schuch, Calvin Furtado e Caroline Sarmento intitulada “População de rua, coronavírus e necropolítica”, publicada no Jornal da UFRGS [on line], em 2 de abril de 2020, disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/populacao-de-rua-coronavirus-e-necropolitica/?fbclid=IwAR2ZFc74FCGRJ8F0f0-mnC2FyT_Btg8Y-93fLcapWfQ1Jpg25WPc1ByniAA [Acesso em abril de 2020]. . O assunto chegou às páginas de bairro que eu acessava. Na sequência, o prefeito do Rio, bispo licenciado Marcelo Crivella, anunciou a transformação da escola que funcionava no Sambódromo em abrigo emergencial para moradores de rua. Seriam 140 vagas divididas em 8 cômodos42 42 Matéria sem assinatura intitulada “Coronavírus: 140 sem-teto serão abrigados no Sambódromo a partir desta segunda, diz prefeitura”, publicada no site G1, em 30 de março de 2020. Disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/03/30/coronavirus-140-sem-teto-serao-abrigados-no-sambodromo-a-partir-desta-segunda-diz-prefeitura.ghtml?fbclid=IwAR1v5FQGKdyP0n9P04YP4wpaDL3P0wKkEqgG7zalx2Ya4c_zm52R6wbOamA . Pelas fotos se pode ver que não havia a separação de dois metros entre as camas (como recomendada pela OMS), além do alto número de pessoas por quarto (cerca de dezessete). Além da aglomeração nos cômodos (na contramão das orientações), outra regra polêmica, justificada pela situação de emergência, é a de que o abrigado não poderia sair do equipamento, a não ser em certos casos (em condições usuais, os que ficam no abrigo masculino podem sair a qualquer hora e retornar no início da noite).

Nos grupos de bairro do Facebook, os comentários demonstravam temor sobre a presença da pop rua e sobre possíveis invasões a casarões e a prédios vazios situados nas redondezas. Argumentei que esta era uma maneira de pressionar as autoridades públicas neste momento de pandemia, já que em outros países os governos estavam alugando quartos em hotéis ou em albergues para pessoas na mesma condição43 43 No Rio, a prefeitura anunciou, no final de maio, 100 vagas em um hotel no Centro. Ver a ma téria sem assinatura intitulada “Coronavírus: 140 sem-teto serão abrigados no Sambódromo a partir desta segunda, diz prefeitura”, publicada no site G1, em 30 de março de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/03/30/coronavirus-140-sem-teto-serao-abrigados-no-sambodromo-a-partir-desta-segunda-diz-prefeitura.ghtml?fbclid=I wAR1v5FQGKdyP0n9P04YP4wpaDL3P0wKkEqgG7zalx2Ya4c_zm52R6wbOamA [Acesso em março de 2020]. Também a respeito ver a matéria sem assinatura intitulada “Prefeitura do Rio de Janeiro inaugura hotel para população de rua”, publicada no site UOL, em 21 de maio de 2020, disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/21/ prefeitura-do-rio-de-janeiro-inaugura-hotel-para-populacao-de-rua.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em maio de 2020]; outra matéria sobre o assunto, sem assinatura, foi intitulada “Prefeitura do Rio de Janeiro inaugura hotel para população de rua”, publicada em 21 de maio de 2020, está disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/21/ prefeitura-do-rio-de-janeiro-inaugura-hotel-para-populacao-de-rua.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em maio de 2020]. A precariedade das condições do Hotel Popular da Central foi também denunciada, ver a matéria, sem assinatura, intitulada “Moradores de rua que ficam em hotel da prefeitura denunciam falta de estrutura”, publicada no site G1, em 16 de abril de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/16/moradores-de-rua-que-ficam-em-hotel-da-prefeitura-do-rio-denunciam-falta-de-estrutura.ghtml [Acesso em abril de 2020]. Em junho, a prefeitura inaugurou outro espaço também no Centro, com 50 vagas, para a população LGBT em situação de rua, ver a matéria de Tatiana Alves intitulada “Rio ganha primeiro hotel para LGBTs em situação de rua” no site da Agência Nacional/ EBC, publicada em 28 de junho de 2020, disponível em https://radioagencianacional.ebc. com.br/direitos-humanos/audio/2020-06/rio-ganha-primeiro-hotel-para-lgbts-em-situacao-de-rua [Acesso em junho de 2020]. Sobre outras ações no sentido de proteger a população em situação de rua durante o período de calamidade, ver Patrice Schuch (2020a). Meses depois, a liberação do auxílio emergencial por cadastramento em aplicativo no celular e que o CPF não estivesse negativado praticamente foi inviabilizado para pessoas em situação de rua. Sobre o assunto, ver a entrevista de Schuch (MUSEOLÓGICAS podcast, 2020). .

Uma moça que, no grupo, não concordava comigo pelo fato de eu ter criticado a iniciativa da prefeitura de concentrar um número alto de pessoas no equipamento do Sambódramo, postou em seguida a foto de um casarão que há alguns anos estava em desuso e comentou que invasões a imóveis poderiam se tornar banais no bairro. Na foto, tomada de um prédio situado ao lado do casarão, era possível ver pessoas, a maior parte de pele preta, tomando sol no terraço do imóvel. Havia pressões (que continuaram) dirigidas ao judiciário para que despejos fossem suspensos no período da Covid-19. Os moradores se mantêm no mesmo espaço até o término do texto.

A ideia de ocupar imóveis de forma a se tornar menos visível na mídia e no espaço público tem sido uma estratégia adotada pelos movimentos e coletivos de sem-teto desde a intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro em 201844 44 A intervenção militar foi declarada por Michel Temer, presidente interino, em fevereiro de 2018 e se extendeu por todo ano. Com isso, a segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, passou a ser responsabilidade do governo federal. Um general, Walter Braga Netto, foi nomeado para o cargo. Ver a matéria escrita por Amanda Rossi intitulada “Congresso aprova decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro; entenda o que a medida significa”, publicada no site BBC Brasil/SP, em 21 de fevereiro de 2020, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43079114 [Acesso em julho de 2020]. . Uma interlocutora de pesquisa quando vinha pelo Centro da cidade realizava seu itinerário percorrendo lugares e indagando pessoas para saber sobre vagas em casarões invadidos, sobre invasões que estariam sendo planejadas, sobre a entrega de quentinhas, de cestas básicas e oportunidades de trabalho.

Num dia de dezembro de 2019, circulamos juntas pelo Largo de São Francisco, pelo Campo de Santana, passando pela Biblioteca Parque, espaço onde a presença de pop rua não é repelida, pelo contrário.45 45 Matéria escrita por Bruno Alfano intitulada “Biblioteca Parque do Centro do Rio recebe clu be de leitura com moradores em situação de rua”, publicada no jornal Extra [on line], em 25 de setembro de 2016, disponível em https://extra.globo.com/noticias/rio/biblioteca-parque-do-centro-do-rio-recebe-clube-de-leitura-com-moradores-em-situacao-de-rua-20172573. html [Acesso em 25 de setembro de 2016]; matéria sem assinatura intitulada “Moradores de rua se reúnem para assistir a filmes na Biblioteca Parque, Centro do Rio”, publicada no site G1, em 01 de agosto de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/08/01/moradores-de-rua-se-reunem-para-assistir-filmes-na-biblioteca-parque-centro-do-rio.ghtml [Acesso em julho de 2020]; matéria de Roberta Pennafort intitulada “Biblioteca com proposta diferente vira atração no Rio de Janeiro”, publicada no jornal Estadão [on line], em 23 de novembro de 2014, disponível em https://webcache.googleusercontent.com/se arch?q=cache:BCgfuxeBczwJ:https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,biblioteca-com-proposta-diferente-vira-atracao-no-rio-de-janeiro-imp-,1596755+&cd=11&hl=pt-BR&ct=clnk≷=br [Acesso em julho de 2020]. Apresentou-me então uma jovem trans que, como ressaltara antes, teria vindo de São Paulo até o Rio a pé, atravessando uma distância de 450 kilômetros. No sofá da Biblioteca perguntei para ela se havia pego carona no percurso e ela contou que viajou parte do itinerário em caminhões, mas também andou trechos da autopista, por isso levara dias até chegar. E explicou quais seriam as diferenças entre Rio e São Paulo quanto a morar em vagas (em casarões, invasões, ocupações).

No Centro do Rio, pelo que viu, não tinha muito problema atrasar o pagamento do quarto, mas, por outro lado, era mais difícil conseguir uma vaga; já no Centro de São Paulo não era complicado achar uma vaga em prédio ou hotel, mas tinha que acertar o valor no dia combinado, senão mandavam sair. Esse comentário ressoava observações feitas por Taniele Rui (2018RUI, Taniele. 2018. “Da deriva pela Av. Brasil à fixação numa avenida na Maré: usuários de crack, refugiados da ‘pacificação’”. LEITE, Márcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (orgs.). Militarização no Rio de Janeiro: Da pacificação à intervenção. Rio de Janeiro: Mórula Editora, p.57-69.) a partir do trabalho de campo numa área ocupada por usuários de crack no Rio, onde as pessoas não mudavam com frequência e que, na verdade, no decorrer de um ano territorializaram-se ali. Esta percepção contrastava com o que a pesquisadora percebeu na “Cracolândia” do Centro da cidade de São Paulo - onde a circulação era maior, as cenas e as pessoas se transformavam reiteradamente (MUNDARÉU podcast, 2020MUNDARÉU. Podcast de Antropologia, LABJOR/UNICAMP e DAN/UNB. (2020). 6. Ideias derrubam velhos valores. Entrevista com Taniele Rui. (2020) Apresentação: Soraya Fleischer e Daniela Manica. Disponível em hDisponível em https://mundareu.labjor.unicamp. br/6-ideias-derrubam-velhos-valores/ [Acesso em 10/07/2020].
ttps://mundareu.labjor.unicamp. br/6-ide...
).

A hipótese de um maior sedentarismo que opera sobre quem mora ou “cai” pelas ruas e regiões da cidade do Rio de Janeiro ressoava comentários que tinha escutado no trabalho de campo em abrigos municipais entre os anos de 2015/2016. Diferentes profissionais diziam que boa parte da população que chegava a esses espaços era já conhecida nos próprios abrigos e por quem trabalhava há algum tempo em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em Centros de Referência de Atendimento Social (CRAS), nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), em Unidades de Saúde como Hospitais, Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), Postos de Saúde, Clínicas da Família, Consultórios na Rua, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e em Residências Terapêuticas (RTs) (para ficarmos apenas no circuito estatal). Na lista podemos incluir também os agentes responsáveis diretamente pelo controle das ruas - guardas municipais, fiscais da prefeitura, policiais militares - e, por fim, os trabalhadores do Conselho Tutelar (Fernandes, 2018FERNANDES, Adriana. 2018. “Quando os vulneráveis entram em cena: Estado, vínculos e precariedade em abrigos”. BARROS, Joana; COSTA, André; RIZEK, Cibele (orgs.). Os limites da acumulação, movimentos e resistência nos territórios. São Carlos: IAU/USP, p.85-99.; Carriconde, 2019CARRICONDE, Raquel. 2019. “Cair na rede”: Circulações desde os abrigos da cidade. Tese de doutorado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.).

Mercados, guerra invisível, epílogo em aberto

Estamos agora há quase três meses do anúncio de estado de calamidade no Rio de Janeiro. O número de mortes sobe sem perspectiva de quando poderá estabilizar e diminuir. Todos os dias os jornais anunciam que o Sistema Único de Saúde (SUS) está à beira do colapso. Em contrapartida, a discussão e a campanha Leito para todos têm se ampliado. A ideia lançada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), em conjunto com outras entidades da área de Saúde, é a de criação de uma fila única em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais privados e públicos para atendimento a pacientes com Covid-19, assim como da gestão e monitoramento público de vagas e dos recursos humanos e materiais mobilizados46 46 Matéria não assinada intitulada “Com colapso na Saúde, especialistas sugerem utilização de leitos privados e centralização da lista de espera”, publicada no jornal O Globo [on linte] em 29 de abril de 2020, disponível em https://oglobo.globo.com/rio/com-colapso-na-saude-especialistas-sugerem-utilizacao-de-leitos-privados-centralizacao-da-lista-de-espera-1-24399893 [Acesso em abril de 2020]; ver a matéria sem assinatura intitulada “Entidades apoiam campanha ‘Leitos para todos’”, publicada no site da ABRASCO em 01 de abril de 2020, disponível em https://www.abrasco.org.br/site/noticias/entidades-apoiam-campanha-leitos-para-todos/46406/ [Acesso em abril de 2020]. .

No grupo de Facebook de moradores, os posts fazem referência a falecimentos de vizinhos em prédios das redondezas, de ambulantes ou outros trabalhadores do entorno. Apesar disso, os supermercados e ruas seguem movimentados durante o dia, a feira livre do bairro foi suspensa porque não cumpriu as medidas de proteção, mas no fim de semana posterior retornou. Ações na justiça reclamaram sobre as condições de funcionamento das feiras livres na cidade e o assunto rendeu debates no mesmo grupo do Facebook.

Na pandemia, alguns mercados - pensados no sentido mais amplo de circui tos de trocas econômicas e sociais - minguaram, outros brotaram, outros ainda, reviveram47 47 Segundo Roberta Guimarães e João P. Macedo e Castro (2020), um mercado residencial voltado para a moradia popular teria sido o que menos se retraiu nesses primeiros meses da pandemia. . O mercado de venda e entrega de cestas com produtos não-perecíveis ampliou-se, resultado de inúmeras vakinhas virtuais e de fundos doados a ONGs e movimentos para apoio a populações que sofreram diretamente e quase que imediatamente os efeitos do coronel vírus. Logo, juízos sobre as melhores e as piores cestas e sobre onde obtê-las passaram a circular nos grupos de WhatsApp. Uma interlocutora de uma ocupação me atualizava com detalhes sobre a matéria. A queixa comum dessa interlocutora e de uma mãe do movimento era de que as cestas não vinham com hortaliças ou “misturas” (alguma carne). Repetida por outras pessoas em outros grupos surtiu resultado, pois junto a produtos não-perecíveis, as entregas passaram a trazer uma caixa de ovos.

Outro mercado, velho conhecido, o de solidariedade/filantropia à população pobre, em especial, o de doação de remédios ou de ajuda financeira para comprá-los, recrudesceu. Esse tipo de “ajuda” circulou pelos grupos de WhatsApp, eram pedidos de remédios para a Covid-19, mas também para doenças comuns (como as do aparelho circulatório, crises inflamatórias, dores em geral). Logo se soube que alguns seriam para doação a pessoas em situações mais precarizadas, mas que não participavam dos grupos. Eram pedidos feitos quase sempre sem receita médica, numa narrativa compassiva e, no cenário de dificuldades para se deslocar, pois, com transportes escassos, os preços acabavam bem acima do que custavam anteriormente. Também soube, por essas conversas, que igrejas nas periferias estavam disponibilizando medicamentos para doação.

Além destes, de cestas de alimentos e medicamentos, um mercado relacionado a respiradores ou ventiladores pulmonares parece ter brotado. A princípio, a notícia era de que o país não teria como dispor da quantidade necessária desse tipo de maquinário segundo o que se imaginava ser o número de pessoas internadas por Covid-19. Depois, circularam informações desencontradas, veiculadas por parte do governo, concernentes a compras e encomendas de material, ao tempo que levariam para chegar, à dificuldade de produzir um número grande de respiradores num tempo curto. Mais adiante, apereceram notícias de que o material havia sido roubado durante o translado para outros estados, além de escândalos sobre superfaturamentos, respiradores fantasmas e, ainda, a notícia de que o prefeito do Rio autorizara que agentes do município confiscassem respiradores e outros materiais que estavam num hospital que recentemente fechara as portas48 48 Como disse, notícias sobre a encomenda e a chegada de respiradores eram frequentes nos noticiários e nas coletivas para a imprensa que, nesse momento, eram realizadas uma vez ao dia por Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, na época, e o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira. No Rio, o prefeito Marcelo Crivella, publicou um decreto, criticado por empresários do ramo hospitalar, anunciando o confisco desse tipo de equipamento caso se encontrasse em desuso, ver a matéria de Vladimir Platonow intitulada “Prefeitura do Rio retira respiradores de hospital particular fechado”, publicada em 02 de abril de 2020, disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-04/prefeitura-do-rio-retira-respiradores-de-hospital-particular-fechado [Acesso em abril de 2020]; ver a queixa de empresários do ramo hospitalar na matéria escrita por Matheus Rodrigues, intitulada “‘Retirada de equipamentos do Hospital Espanhol pela prefeitura do Rio foi arbitrária’, diz presidente da unidade”, publicada no G1, em 03 de abril de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/ noticia/2020/04/03/retirada-de-equipamentos-do-hospital-espanhol-pela-prefeitura-do-rio-foi-arbitraria-diz-presidente-da-unidade.ghtml [Acesso em 03 de abril de 2020]. Notícias sobre respiradores roubados, fantasmas e superfaturados se repetiram por meses, ver a matéria de André Tal intitulada “Ladrões roubam respirador a caminho de hospital, em SP”, publicada no site da Record TV, em 30 de maio de 2020, disponível em https://noticias.r7.com/sao-paulo/ladroes-roubam-respirador-a-caminho-de-hospital-em-sp-30052020 [Acesso em julho de 2020]; matéria intitulada “MP investiga compra de respiradores superfaturados e sem licitação pelo governo`, publicada no site Último Segundo, em 19 de abril de 2020, disponível em https://ultimosegundo. ig.com.br/2020-04-19/mp-investiga-compra-de-respiradores-superfaturados-e-sem-licitacao-pelo-governo.html [Acesso em julho de 2020] [Acesso em julho de 2020]; alguns casos, políticos e governadores de diferentes estados estavam envolvidos, matéria de Hyury Potter intitulada “Escandâlo dos Respiradores em SC: Suspeitos têm contratos em mais dois estados e usaram ex-jogador da seleção para fazer negócios, publicada no site The Intercept Brasil, em 15 de maio de 2020, disponível em https://theintercept.com/2020/05/15/escandalo-respiradores-santa-catarina-contratos-para-goias/ [Acesso em 15 de maio de 2020]. No mês de julho, o cancelamento da compra do mesmo material pelo governo federal se deu de maneira nebulosa, ver a matéria de Natália Cancian intitulada “Ministério cita ‘caráter mutável’ da pandemia ao desistir de compra de 2.880 respiradores”, publicada na Folha de São Paulo, em 28 de julho de 2020, disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/07/ministerio-cita-carater-mutavel-da-pandemia-ao-desistir-de-compra-de-2880-respiradores.shtml [Acesso em julho de 2020]. .

Semanas depois, recebi a informação que me chegou por um interlocutor de Ramos, que tinha passado por uma internação por Covid-19 em um hospital municipal, de que era possível alugar respiradores para uso doméstico. Foi dessa maneira que ele conseguiu sair do hospital para se tratar em casa. Contou que um pulmão estava com apenas 20% de sua capacidade de oxigenação e que ficou muito preocupado em pegar uma bactéria no hospital. Essa história foi narrada como um lamento, pois a irmã que fora internada também por Covid-19 recusou o respirador que ele lhe oferecera e, na semana seguinte, terminou falecendo no hospital, no bairro da Ilha do Governador, na Zona Norte.

Por fim, apareceram os mercados que chamo de “rés do chão”, envolvendo trocas mais fortuitas, como a atividade para garantir lugar na fila da Caixa Econômica, o preço variava entre 20 a 70 reais49 49 Matéria sem assinatura intitulada “Vídeo: taxista denuncia venda de lugar em fila para atendimento em agência da Caixa”, publicada no Portal T5, em 30 de abril de 2020, disponível em https://www.portalt5.com.br/noticias/brasil/2020/4/324018-video-taxista-denuncia-venda-de-lugar-em-fila-para-atendimento-em-agencia-da-caixa [Acesso em abril de 2020]; matéria sem assinatura intitulada “Lugar na fila da Caixa está sendo negociado a até R$ 50 no Rio de Janeiro e Fortaleza”, publicada no G1, em 04 de maio de 2020, disponível em https://noticias.band.uol.com.br/noticias/100000988652/lugar-na-fila-da-caixa-esta-sendo-negociado-a-ate-r-50-no-rio-de-janeiro-e-fortaleza.html#:~:text=Ouvintes%20da%20BandNews%20 FM%20denunciaram,meses%20de%20janeiro%20e%20fevereiro [Acesso em julho de 2020]; matéria de Carolina Mesquita intitulada “Beneficiários de auxílio emergencial no Ceará denunciam venda de lugar na fila”, publicada no G1, em 04 de maio de 2020, disponível em https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/05/04/beneficiarios-de-auxilio-emergencial-no-ceara-denunciam-venda-de-lugar-na-fila-para-sacar-dinheiro.ghtml [Acesso em maio de 2020]. . Já o valor do auxílio emergencial50 50 O Auxílio Emergencial foi um benefício emergencial aprovado pelo Congresso a partir de demandas de grupos e categorias da sociedade civil após a crise que foi intensificada com a chegada da Covid-19. O valor, após longas negociações entre Legislativo e governo federal, foi estabelecido em 600 reais e destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados. O benefício seria pago durante três meses para até duas pessoas da mesma família. Para as famílias em que a mulher seja a única responsável pelas despesas da casa, o valor mensal era de 1.200 reais. Em agosto, o governo Bolsonaro, com a recuperação de 10% de sua popularidade, passou a aventar prorrogá-lo até o fim do ano, mas em um valor menor. Além disso, estuda sua incorporação ao novo programa social que estaria sendo pensado para substituir o programa Bolsa Família, marca dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e sempre associado a Luís Inácio Lula da Silva. Ver a matéria de Antonio Temóteo e Carla Araújo intitulada “Governo estuda manter auxílio emergencial com valor menor até março”, publicada no site UOL, em 09 de agosto de 2020; disponível em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/08/09/auxilio-emergencial-extensao-marco-menor-valor.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em agosto de 2020]. sacado poderá servir, entre outros usos, para cobrir os 546 reais que é o valor da taxa de sepultamento social instituída pela prefeitura51 51 Matéria sem assinatura intitutada “Prefeitura anuncia gratuidade em enterros para famílias de baixa renda e ‘sepultamento social”, publicada no jornal O Dia [on line], em 07 de maio de 2020. Disponível em https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2020/05/5912167-prefeitura-anuncia-gratuidade-em-enterros-para-familias-de-baixa-renda-e--sepultamento-social.html?fb ’[Acesso em maio de 2020]. . Uma fala de Patricia Oliveira, militante do movimento de mães e familiares que lutam contra a violência estatal, refere-se a um retorno da “máfia das funerárias”, com denúncias de enterros a preços inflacionados, realizados sem cuidado quanto a evitar a contaminação do solo e dos sepultadores, a troca de caixões, entre outros episódios52 52 ”Matéria de Selma Schimidt intitulada “Coronavírus: líderes comunitários denunciam jogo de empurra para remoção de corpos”, publicada no jornal Extra, em 26 de abril de 2020, disponível em https://extra.globo.com/noticias/coronavirus/coronavirus-lideres-comunitarios-denunciam-jogo-de-empurra-para-remocao-de-corpos-24394039.html [Acesso em 26 de abril de 2020]; matéria de Maurício Bastos intitulada “Família é obrigada a fazer vaquinha para enterrar casal”, publicada no site BandNews, em 14 de maio de 2020, disponível em https://bandnewsfmrio.com. br/editorias-detalhes/familia-e-obrigada-a-fazer-vaquinha-para-ente [Acesso em maio de 2020]; matéria de Igor de Carvalho intitulada “Funerárias de SP vendem higienização de corpos com suspeita de covid-19”, publicada no site Brasil de Fato, em 10 de abril, disponível em https://www.brasildefato.com.br/2020/04/10/funerarias-de-sp-vendem-higienizacao-de-corpos-com-suspeita-de-covid-19 [Acesso em abril de 2020]; matéria de Chico Otávio intitulada “Coronavírus: MP recebe denúncia de que manejo de corpos por funerárias não estaria seguindo recomendação da OMS”, publicada no jornal O Globo [on line], em 02 de abril de 2020, disponível em https://oglobo.globo.com/rio/coronavirus-mp-recebe-denuncia-de-que-manejo-de-corpos-por-funerarias-nao-estaria-seguindo-recomendacao-da-oms-24347322 [Acesso em abril de 2020]. Sobre a fala de Patricia Oliveira, ver a Mesa Violência de Estado e cidadania: Covid-19 nas prisões brasileiras, promovida pelo Comitê ABA Cidadania, Violência e Gestão Estatal, da Associação Brasileira de Antropologia, com moderação de Adriana Vianna e Sérgio Carrara (2020). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1WO7J9BV3g0. .

Em uma madrugada deserta de domingo para segunda-feira, após levar o gato daqui de casa para uma emergência, o motorista do taxi explicou de maneira didática quem estaria nas ruas, à noite, nesse período da Covid-19: “Pessoas que não têm casa; quem foi deixar um parente doente no hospital; ou, como eu, que precisam trabalhar”. Até chegarmos ao destino ninguém falou mais palavra.

Passado alguns dias, retomo a conversa para colocar a pergunta: em face dos milhares de “desencarnados antes do tempo” - como disse uma amiga umbandista - será possível escamotear tantas mortes e não manifestar a indignação pela negligência e o descaso com que foram tratadas pelo governo? Nessa guerra invisível, de terror similar à psicose, os corpos tidos como sacrificáveis, a desigualdade e o racismo vivenciados, serão apenas números distantes?

Referências bibliográficas

  • AGAMBEN, Giorgio. 2002. “Vida que não merece viver”. In: Homo Sacer. O poder soberano e a vida nua I Tradução de Henrique Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, p.143-150.
  • ARAÚJO, Fábio. 2007. Do Luto à Luta: a experiência das mães de Acari Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • ARAÚJO, Fábio; GAUDENZI, Paula; MALLART, Fábio. (30/06/2020) Contextualizar o desmonte é fundamental. Le Monde Diplomatique Brasil [on line], julho de 2020. Disponível em https://diplomatique.org.br/contextualizar-o-desmonte-e-essencial/
    » https://diplomatique.org.br/contextualizar-o-desmonte-e-essencial/
  • AZEVEDO, Desirée; SANJURJO, Liliana e NADAI, Larissa. 2020. “Corpos, tempo e instituições: Um olhar sobre os cemitérios na pandemia de Covid-19”. Dilemas/Reflexões da Pandemia Rio de Janeiro, p.1-17.
  • BENJAMIN, Walter. 2013. “As armas do futuro (1925)”. Capitalismo como religião (org. Michel Lowy). Trad. Nélio Schneider, Renato Pompeu. São Paulo: Boitempo, p.69-72.
  • BIRMAN, Patricia. 2020. “Guerra, religião, secularismo e alguns sujeitos sensíveis: reflexões preliminares a partir de Talal Asad”. Revista Exilium São Paulo: Unifesp (no prelo).
  • BUTLER, Judith. 2010. “Introducción: Vida precária, vida digna de duelo”. In: Marcos de guerra. Las vidas lloradas Trad. Bernardo Moreno Carrillo. Madrid: Paidós, p.13-56.
  • BUTLER, Judith. 2020. Traços humanos nas superfícies do mundo trad. André Arias e Clara Barzaghi. São Paulo: n-1. Disponível em http://n-1edicoes.org/042
    » http://n-1edicoes.org/042
  • CAIAFA, Janice. 2007. “A pesquisa etnográfica”. Aventura das Cidades: ensaios e etnografias Rio de Janeiro: Editora FGV, p.135-181.
  • CARRICONDE, Raquel. 2019. “Cair na rede”: Circulações desde os abrigos da cidade Tese de doutorado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
  • CHALHOUB, Sidney. 1996. Cidade Febril. Cortiços e epidemias na corte imperial São Paulo: Companhia das Letras.
  • DAS, Veena. 2020. “Encarando a Covid-19: Meu lugar sem esperança ou desespero”. Trad. Marcella Araújo. Dilemas/Reflexões na pandemia, p.1-8. Disponível em https://www.reflexpandemia.org/texto-26
    » https://www.reflexpandemia.org/texto-26
  • DAS, Veena. 2020. Affliction. Health, Disease, Poverty 2015. New York: Fordham University Press.
  • FERNANDES, Adriana. 2018. “Quando os vulneráveis entram em cena: Estado, vínculos e precariedade em abrigos”. BARROS, Joana; COSTA, André; RIZEK, Cibele (orgs.). Os limites da acumulação, movimentos e resistência nos territórios São Carlos: IAU/USP, p.85-99.
  • FERNANDES, Adriana. 2019. “Mulheres pobres que amam demais: a vida dos direitos e das políticas sociais”. In BORGEAUD-GARCIANDÍA, Natacha; FERNANDES, Adriana (orgs). Revista Contemporânea/UFSCAR (Dossiê Trajetórias, trabalho e gênero). v.9, n.3, p. 745-770.
  • FOUCAULT, Michel. 2010. Os anormais São Paulo: Martins Fontes.
  • GUIMARÃES, Roberta; CASTRO, João. 2020. “Mercado Imobiliário, neoliberalismo e Covid 19: a crise vista pelos olhos da ‘oportunidade’”. In: GROSSI, Miriam; TONIOL, Rodrigo; LOZANO, Marie-Anne (orgs.). Boletim ANPOCS, Ciências Sociais e coronavírus, n.64 [on line]. Associação Nacional de Pós-Gradução e Pesquisa em Ciências Sociais, jun.2020, p.1-4. Disponível em: Disponível em: http://anpocs.org/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientistas-sociais/2390-boletim-n-64-cientistas-sociais-e-o-coronavirus [Acesso em 25/07/2020].
    » http://anpocs.org/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientistas-sociais/2390-boletim-n-64-cientistas-sociais-e-o-coronavirus
  • LEITE, Marcia Pereira; BIRMAN, Patricia (orgs.). 2004. Um mural para a dor: movimentos cívico- religiosos por justiça e paz Porto Alegre: Editora da UFRGS.
  • LOPES, Myriam Bahia. 2000. O Rio em movimento. Quadros médicos em história (1890-1920) Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
  • MBEMBE, Achille. 2020. O direito universal à respiração Trad. Ana Luíza Braga. São Paulo: N-1, 2020. Disponível em Disponível em https://n-1edicoes.org/ 020 [Acesso em 15/07/2020].
    » https://n-1edicoes.org/
  • RUI, Taniele. 2018. “Da deriva pela Av. Brasil à fixação numa avenida na Maré: usuários de crack, refugiados da ‘pacificação’”. LEITE, Márcia; ROCHA, Lia; FARIAS, Juliana; CARVALHO, Monique (orgs.). Militarização no Rio de Janeiro: Da pacificação à intervenção Rio de Janeiro: Mórula Editora, p.57-69.
  • SILVA, Carmen. 2020. Sete verbos para se conjugar morar Disponível em http://www.n-1edicoes.org/048 São Paulo: n-1.
    » http://www.n-1edicoes.org/048
  • SCHUCH, Patrice; FURTADO, Calvin; SARMENTO, Caroline. 2020. “População de rua, coronavírus e necropolítica”. Jornal da Universidade, UFRGS, abr., 2020. Disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/populacao-de-rua-coronavirus-e-necropolitica/?fbclid=IwAR07kwIgf91Flgo1j0L1EXbbSKS4yp01BnLNf_Gr2YdvRERacTxH9R7kFI
    » https://www.ufrgs.br/jornal/populacao-de-rua-coronavirus-e-necropolitica/?fbclid=IwAR07kwIgf91Flgo1j0L1EXbbSKS4yp01BnLNf_Gr2YdvRERacTxH9R7kFI
  • TORRES, Monique. 2020. “‘O nosso tempo é o tempo da urgência’: Os impactos da pandemia de Covid-19 em duas Residências Terapêuticas na Zona Norte do Rio de Janeiro”. In: GROSSI, Miriam; TONIOL, Rodrigo; LOZANO, Marie-Anne (orgs.). Boletim ANPOCS, Ciências Sociais e Coronavírus [on line], n.76, jul. 2020. Associação Nacional de Pós-Gradução e Pesquisa em Ciências Sociais, São Paulo. Disponível em: http://anpocs.org/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientis-tas-sociais/2407-boletim-cientistas-sociais-n-76
    » http://anpocs.org/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientis-tas-sociais/2407-boletim-cientistas-sociais-n-76
  • VIANNA, Adriana; FARIAS, Juliana. 2011. “A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional”. Cadernos Pagu, v.37, p.79-116.

Webinários

  • ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Webinário ABC #8 Populações fragilizadas e pandemia (26/05/2020). Moderação: Luiz Davidovich. Disponível em https:// www.youtube.com/watch?v=to1MQiTCzV8&feature=youtu.be
    » https:// www.youtube.com/watch?v=to1MQiTCzV8&feature=youtu.be
  • COMITÊ CIDADANIA, Violência e Gestão Estatal/Associação Brasileira de Antropologia (ABA). (13/05/2020). Mesa Violência de Estado e cidadania: Covid-19 nas prisões brasileiras Moderação: Adriana Vianna e Sérgio Carrara. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1WO7J9BV3g0
    » https://www.youtube.com/watch?v=1WO7J9BV3g0
  • LABORATÓRIO DE NARRATIVAS URBANAS/UNIFESP, Observatório Fluminense/UFRRJ, CAAF Centro de Antropologia e Arqueologia Forense/UNIFESP. (05/05/2020) Debate Pandemia, isolamento social e mundo público Moderação: Joana Barros. Disponível em https://www.facebook.com/lanaurb/vide-os/279016343260775/
    » https://www.facebook.com/lanaurb/vide-os/279016343260775/

Podcasts

  • 1
    Matéria intitulada “Mortes pela Covid-19 crescem 45% nos bairros pobres em uma semana”, publicada no site LabCidade/FAU/USP em 28.04.20. Disponível em http://www.labcidade.fau.usp.br/ mortes-pela-covid-19-crescem-45-nos-bairros-pobres-em-uma-semana/ [Acesso em junho de 20].
  • 2
    ’Matéria de Solange Colombo intitulada “‘Guayaquil é uma necrópole’, descreve escritora equatoriana”, publicada no site da Folha de São Paulo [on line] em 13 de abril de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/guayaquil-e-uma-necropole-diz--escritora-equatoriana.shtml?fbclid=IwAR0K0HSfAcUKwO8TyoWFMg1K-IcmVdS0YxZmEessUSpcnqvkb3TKHYMbR8g [Acesso em 14 de abril de 2020].
  • 3
    Matéria de Jeniffer Mendonça intitulada ‘Suspensão de registro de óbito durante pandemia pode gerar mais desaparecidos”, publicada em 12.04.20 no site da Ponte. Disponível em ’https://ponte. org/falta-de-registro-de-obito-pode-gerar-mais-desaparecidos-diz-promotora/?fbclid=IwAR2I9biaBRvD6OXoVJJZ_LeavjhDZ-Hm39s0dP1wlYXOT6iqLNiI8K7-3lE [Acesso em 13 de abril de 2020].
  • 4
    Sobre essa possibilidade ver Azevedo, Sanjurjo e Nadai (2020AZEVEDO, Desirée; SANJURJO, Liliana e NADAI, Larissa. 2020. “Corpos, tempo e instituições: Um olhar sobre os cemitérios na pandemia de Covid-19”. Dilemas/Reflexões da Pandemia. Rio de Janeiro, p.1-17.).
  • 5
    Matéria escrita por Patricia Campos Mello e Eduardo Anizelli publicada na Folha de São Paulo [on line] em 03 de agosto de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ equilibrioesaude/2020/08/em-uti-de-hospital-da-zona-leste-de-sp-maioria-nao-sobrevive-a-covid.shtml [Acesso em agosto de 2020].
  • 6
    O próprio Ministro da Saúde à época apontou a falta de saneamento básico e as favelas como obstáculos para se enfrentar a pandemia, ver a matéria intitulada “Mandetta: ‘País não está pronto para escalada de casos nas metrópoles”, publicada em 06 de abril de 2020 no site do UOL. Disponível em https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/06/mandetta-pais-nao-esta-pronto-para-escalada-de-casos-nas-metropoles. htm?cmpid=copiaecola [Acesso em 06 de abril de 2020]. Sobre o fazer morrer entre grupos heterogêneos como povos indígenas, populações negras das periferias e moradores de favela, destaco o Webinário da Academia Brasileira de CiênciasACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Webinário ABC #8 Populações fragilizadas e pandemia. (26/05/2020). Moderação: Luiz Davidovich. Disponível em https:// www.youtube.com/watch?v=to1MQiTCzV8&feature=youtu.be.
    https:// www.youtube.com/watch?v=to1MQiT...
    #8 Populações fragilizadas e pandemia. Mediação: Luiz Davidovich. Com Maria Manuela Carneiro da Cunha, Márcia Lima e Eliane Silva, em 26 de maio de 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=to1 MQiTCzV8&feature=youtu.be [Acesso em 26 de maio de 2020].
  • 7
    O mesmo supermercado sofreu ações na justiça por parte do Sindicato dos Comerciários cobrando a distribuição de equipamentos de proteção para os funcionários e clientes, e exigindo o afastamento dos trabalhadores em maior risco com a manutenção de salários. Sobre o tema ver a matéria escrita por Juliana Gonçalves intitulada “Coronavírus: ‘tem gente que tosse em cima da gente’, conta caixa do supermercado carioca Mundial”, publicada no The Intercept Brasil em 14 de abril de 2020. Disponível em https://theintercept.com/2020/04/14/coronavirus-supermercados-mundial/; matéria sem assinatura intitulada “Liminar obriga Mundial a fornecer materiais de proteção aos funcionários”, publicada na página do Sindicato dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro (s/d), disponível em https://secrj.org.br/noticias/liminar-obriga-mundial-fornecer-materiais/ [Acesso em 15 de abril de 2020]; e também a matéria escrita por Letycia Cardoso, intitulada “Funcionários alegam que Mundial não estaria afastando pessoas do grupo de risco”, publicada em no Extra [on line] em 21 de abril de 2020, disponível em https://extra.globo.com/ noticias/economia/funcionarios-alegam-que-mundial-nao-estaria-afastando-pessoas-do-grupo-de-risco-24384107.html [Acesso em 21 de abril de 2020].
  • 8
    Expressão usada em contextos mais informais por moradores de ocupações, por trabalhado res da Assistência Social (abrigos) e por ativistas de direitos humanos para se referir a pessoas que ficam na rua por um período que pode ser transitório ou não.
  • 9
    Sobre o imbricamento entre condições materiais e políticas de saúde no contexto das periferias de Nova Delhi remeto à Affliction: Health, Disease, Poverty, de Veena Das (2015DAS, Veena. 2020. Affliction. Health, Disease, Poverty. 2015. New York: Fordham University Press.). Para ter uma ideia de como uma residência com características diferenciadas por ser residência terapêutica articula-se para enfrentar a pandemia, ver o interessante relato de Monique Torres (2020TORRES, Monique. 2020. “‘O nosso tempo é o tempo da urgência’: Os impactos da pandemia de Covid-19 em duas Residências Terapêuticas na Zona Norte do Rio de Janeiro”. In: GROSSI, Miriam; TONIOL, Rodrigo; LOZANO, Marie-Anne (orgs.). Boletim ANPOCS, Ciências Sociais e Coronavírus [on line], n.76, jul. 2020. Associação Nacional de Pós-Gradução e Pesquisa em Ciências Sociais, São Paulo. Disponível em: http://anpocs.org/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientis-tas-sociais/2407-boletim-cientistas-sociais-n-76.
    http://anpocs.org/index.php/publicacoes-...
    ).
  • 10
    Sobre as ações e controvérsias por parte do saber médico e das políticas do Estado para a saúde da população no início do século XX, remeto ao estudo de Myriam Bahia Lopes (2000LOPES, Myriam Bahia. 2000. O Rio em movimento. Quadros médicos em história (1890-1920). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.); sobre as políticas para conter a varíola no mesmo período no Rio de Janeiro, remeto a Sidney Chalhoub (1996CHALHOUB, Sidney. 1996. Cidade Febril. Cortiços e epidemias na corte imperial. São Paulo: Companhia das Letras.). Nos dois trabalhos, impressiona como as estratégias epidemiológicas foram violentas no sentido de não respeitar o cotidiano da população negra e pobre, assim como, as práticas e saberes afro-brasileiros desse grupo. No caso da Covid-19, não foram poucas as vezes que escutei de entregadores e de outras pessoas com quem tive algum contato indagações em tom de ceticismo sobre o número de mortos pelo vírus e as inúmeras maneiras de pegá-lo.
  • 11
    Sobre as populações vulneráveis (população em situação de rua, quilombolas, povos indígenas, sem teto, moradores de favelas, moradores de periferias, sem terra) na pandemia no Brasil, ver a apresentação de Cunha (2020) no Webinário ABC #8. Populações fragilizadas e pandemia. Mediação: Luiz Davidovich. Com Maria Manuela Carneiro da Cunha, Márcia Lima e Eliane Silva, em 26 de maio de 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=to1MQiTCzV8&feature=youtu.be [Acesso em 26 de maio de 2020].
  • 12
    Matéria de Paula Paiva Paulo intitulada “Prefeitura de SP fecha serviço de atendimento so cial na Cracolândia e transfere acolhidos para novo espaço em ônibus lotado”, publicada no site G1/SP em 08 de abril de 2020. Disponível em https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/04/08/prefeitura-de-sp-fecha-servico-de-atendimento-social-na-cracolandia-e-transfere-acolhidos-para-novo-espaco-em-onibus-lotado.ghtml [Acesso em 08 de abril de 2020].
  • 13
    Patricia Birman (2020BIRMAN, Patricia. 2020. “Guerra, religião, secularismo e alguns sujeitos sensíveis: reflexões preliminares a partir de Talal Asad”. Revista Exilium. São Paulo: Unifesp (no prelo).) assinala dois pontos sobre a capacidade de disseminação e de credulidade das fake news entre camadas populares no Brasil que ajudam a entender o processo. O primeiro deles refere-se ao fato das discussões políticas, em seu sentido mais estrito, terem, na última década, “invadido” a esfera das relações domésticas/familiares, resultando na incorporação de temas públicos ao cotidiano. O segundo ponto ressalta que as fake news se propagam por redes de confiança, desse modo, consumi-las e repassá-las também significa, em alguma medida, cultivar vínculos, redes de pertencimento, valores, etc.
  • 14
    Sobre o tema remeto a Leite e Birman, 2004LEITE, Marcia Pereira; BIRMAN, Patricia (orgs.). 2004. Um mural para a dor: movimentos cívico- religiosos por justiça e paz. Porto Alegre: Editora da UFRGS.; Araújo, 2007ARAÚJO, Fábio. 2007. Do Luto à Luta: a experiência das mães de Acari. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio de Janeiro.; Vianna e Farias, 2011VIANNA, Adriana; FARIAS, Juliana. 2011. “A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional”. Cadernos Pagu, v.37, p.79-116..
  • 15
    Sobre o tema muitas matérias foram veiculadas na imprensa, replicadas nas redes sociais e na tv aberta. Ver a matéria de Joana Gontijo intitulada “Todo cuidado é pouco ao receber deli very em época de pandemia”, publicada no Jornal Estado de Minas [on line], em 05 de abril de 2020, disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/bem-viver/2020/04/04/interna_bem_viver,1134656/todo-cuidado-e-pouco-ao-receber-delivery-em-epoca-de-pandemia. shtml [acesso em 04 de abril de 2020]; a matéria sem assinatura intitulada “Veja cinco passos para fazer compras delivery com segurança na quarentena” publicada no Diário do Nordeste em 08 de abril de 2020, disponível em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/ veja-cinco-passos-para-fazer-compras-delivery-com-seguranca-na-quarentena-1.2231540 [acesso em 08 de abril de 2020]; matéria sem assinatura intitulada “Coronavírus: especialista recomenda cuidados ao receber produtos delivery”, veiculada no programa Balanço Geral, da Rede Record, em 17 de março de 2020, disponivel em https://recordtv.r7.com/ balanco-geral-rj/videos/coronavirus-especialista-recomenda-cuidados-ao-receber-produtosdelivery-17032020 [acesso em 20 de julho]; matéria sem assinatura intitulada “Rappi cria “entrega sem contato” para proteger motoristas” publicada na revista Exame [on line] em 16 de março de 2020, disponível em https://exame.com/pme/rappi-cria-entrega-sem-contato-para-proteger-motoristas/ [acesso em 20 de março de 2020]; matéria intitulada “Quanto tempo o coronavírus permanece ativo em diferentes superfícies?”, publicada no site da Fiocruz em 16 de junho de 2020, disponível em https://portal.fiocruz.br/pergunta/quanto-tempo-o-coronavirus-permanece-ativo-em-diferentes-superficies [acesso em 16 de junho de 2020].
  • 16
    Desenvolvi uma tipificação sobre corpos da vulnerabilidade/compaixão contextualizada em um abrigo para mulheres da cidade de Janeiro (Fernandes, 2019FERNANDES, Adriana. 2019. “Mulheres pobres que amam demais: a vida dos direitos e das políticas sociais”. In BORGEAUD-GARCIANDÍA, Natacha; FERNANDES, Adriana (orgs). Revista Contemporânea/UFSCAR (Dossiê Trajetórias, trabalho e gênero). v.9, n.3, p. 745-770.). No presente artigo, trata-se de tatear os deslocamentos antiracistas que a pandemia de Covid-19 tem provocado no Brasil.
  • 17
    Sobre o tema remeto as apresentações de Cibele Rizek e José Sérgio Leite Lopes no Debate [on lineLABORATÓRIO DE NARRATIVAS URBANAS/UNIFESP, Observatório Fluminense/UFRRJ, CAAF Centro de Antropologia e Arqueologia Forense/UNIFESP. (05/05/2020) Debate Pandemia, isolamento social e mundo público. Moderação: Joana Barros. Disponível em https://www.facebook.com/lanaurb/vide-os/279016343260775/.
    https://www.facebook.com/lanaurb/vide-os...
    ] Pandemia, isolamento social e mundo público. (05.05.20). Moderação: Joana Barros. Laboratório de Narrativas Urbanas/UNIFESP, Observatório Fluminense/UFRRJ,CAAF Centro de Antropologia e Arqueologia Forense/UNIFESP. Disponível em https://www.facebook.com/lanaurb/videos/279016343260775/ [Acesso em 05.05.20].
  • 18
    Matéria de Mateus Camillo intitulada “Memes imploram para idosos ficarem em casa durante quarentena contra coronavírus”, publicada na Folha de São Paulo [on line] em 22 de março de 2020. Disponível em https://hashtag.blogfolha.uol.com.br/2020/03/22/memes-imploram-para-idosos-que-fiquem-em-casa-durante-quarentena-contra-coronavirus/ [acesso em 20 de junho de 2020].
  • 19
    Bolsonaro fez declarações sobre o assunto, destaco a matéria de Augusto Fernandes intitulada ‘Famílias que cuidem de seus idosos’, publicada no jornal Estado de Minas, em 08 de abril de 2020, disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/04/08/interna_nacional,1137022/familias-que-cuidem-de-seus-idosos-diz-bolsonaro.shtml [Acesso em junho de 2020].
  • 20
    Ver a matéria intitulada “Prevent Senior concentra 58% das mortes em SP; Prefeitura pede intervenção em hospitais da rede”, publicada no jornal Estadão em 31 de março de 2020, disponível em https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,prevent-senior-concentra-58-das-mortes-em-sp-prefeitura-pede-intervencao-em-hospitais-da-rede,70003255559 [Acesso em 31 de março de 2020].
  • 21
    Matéria de Alan Magno, intitulada “Coronavírus: Casamento de irmã de Gabriela Pugliesi se torna foco de transmissão da doença publicada” no jornal O Povo, em 11 de março de 2020, disponível em https://www.opovo.com.br/noticias/saude/2020/03/11/coronavirus--casamento-de-irma-de-gabriela-pugliesi-se-torna-foco-de-transmissao.html [Acesso em junho de 2020].
  • 22
    Matéria assinada pela Redação intitulada “Coronavírus contamina políticos em todo o mun do; confira lista”, publicada no jornal Diário do Nordeste em 13 de março de 2020, disponível em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/mundo/online/coronavirus-contamina-politicos-em-todo-o-mundo-confira-lista-1.2221990; Matéria assinada pela Redação intitulada “Coronavírus: saúde de Charles e rainha Elizabeth preocupam, desabafa príncipe William” publicada no site UOL em 17 de abril de 2020, disponível em https://noticias.uol. com.br/ultimas-noticias/afp/2020/04/17/covid-19-saude-do-pai-e-da-rainha-preocupam-desabafa-principe-william.htm [Acesso em junho de 2020].
  • 23
    Matéria intitulada “Presidente de federação é 23º infectado em comitiva de Bolsonaro’, publicada no jornal Estadão em 22 de março de 2020, disponível em https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,presidente-de-federacao-e-23-infectado-em-comitiva-de-bolsonaro,70003243574 [Acesso em junho de 2020].
  • 24
    Matéria sem assinatura intitulada “Maradona apoia recusa do River Plate em jogar: ‘Não me dou com as Gallinas, mas apoio até morrer’”, publicada no site Globo Esporte em 14 de março de 2020, disponível em https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/maradona-apoia-recusa-do-river-plate-a-jogar-nao-me-dou-com-as-gallinas-mas-eu-os-apoio-ate-morrer.ghtml [Acesso em 14.03.20]; Matéria não assinada intitulada “Jogadores do Goiás se recusam a entrar em campo pelo Estadual: ‘Enquanto não superada a Epidemia em nosso país’”, publicada no site Fox Sports em 17 de março de 2020, disponível em https://www.foxsports. com.br/br/article/jogadores-do-goias-se-recusam-a-entrar-em-campo-pelo-estadual-enquanto-nao-superada-a-epidemia-em-nosso-pais_dzpoqy [Acesso em junho de 2020].
  • 25
    Matéria assinada por BBC News intitulada “Por que as crianças são afetadas de maneira diferente pelo coronavírus”, publicada no site UOL em 05 de abril de 2020, disponível em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2020/04/05/por-que-as-criancas-sao-afetadas-de-maneira-diferente-pelo-coronavirus.htm [Acesso em abril de 2020].
  • 26
    Matéria não assinada intitulada “Banhistas do Rio voltam a desrespeitar orientação de não irem à praia devido ao novo coronavírus”, publicada no site do G1/Rio de Janeiro em 16 de março de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/03/16/ banhistas-voltam-a-desrespeitar-orientacao-de-nao-irem-a-praia-no-rio-devido-ao-novo-coronavirus.ghtml [Acesso em 16.03.20].
  • 27
    Sobre a medida provisória, ver a página do Governo Federal http://www4.planalto.gov.br/ legislacao/imagens/servicos-essenciais-covid-19 [Acesso em julho de 2020].
  • 28
    Matéria de Arthur Sandes intitulada “Belém vai contra entendimento nacional e inclui domésticas como essenciais”, publicada no site UOL em 06 de maio de 2020. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/06/belem-inclui-domesticas-entre-servicos-essenciais-durante-lockdown.htm [Acesso em maio de 2020].
  • 29
    Matéria sem assinatura intitulada ”Decreto que libera academias e salões de beleza provoca reações no Senado”, publicada em Senado Notícias [on line] em 12 de maio de 2020. Disponível em https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/05/12/decreto-que-libera-academias-e-saloes-de-beleza-provoca-reacoes-no-senado [Acesso em maio de 2020].
  • 30
    Matéria de Ricardo Della Coletta intitulada ”Bolsonaro inclui atividades religiosas em lista de serviços essenciais”, publicada na Folha de São Paulo [on line] em 26 de março de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/em-meio-a-pandemia-bolsonaro-inclui-atividades-religiosas-em-lista-de-servicos-essenciais.shtml [Acesso em março de 2020]; Matéria de Estadão Conteúdo intitulada “Juiz manda Bolsonaro excluir igrejas da lista de serviços essenciais”, publicada na revista Exame [on line] em 14 de abril de 2020, disponível em https://exame.com/brasil/juiz-manda-bolsonaro-excluir-igrejas-da-lista-de-servicos-essenciais/ [Acesso em julho de 2020].
  • 31
    Matéria de Herculano Barreto Filho intitulada ”Em culto, Malafaia se compara a médico: ‘Aqui é o lugar de maior proteção’”, publicada no site UOL em 19 de março de 2020. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/03/19/silas-malafaia-promove-culto-em-meio-a-casos-de-coronavirus.htm [Acesso em março de 2020].
  • 32
    A passagem completa de Judith Butler: “As vidas são, por definição, precárias: podem ser eliminadas de maneira voluntária ou acidental, e sua persistência não está garantida de nenhum modo. Em certo sentido, é um traço de toda a vida, e não existe uma concepção de que a vida não seja precária, salvo, todavia, na fantasia, e particularmente nas fantasias militares” (2010: 46BUTLER, Judith. 2010. “Introducción: Vida precária, vida digna de duelo”. In: Marcos de guerra. Las vidas lloradas. Trad. Bernardo Moreno Carrillo. Madrid: Paidós, p.13-56.).
  • 33
    Em março, no início da pandemia, tornou-se célebre no país a máxima de Jair Bolsonaro comparando o vírus a uma “gripezinha”. Matéria de Guilherme Mazieiro intitulada “‘Depois da facada, não vai ser gripezinha que vai me derrubar’ - diz Bolsonaro”, publicada no site UOL em 20 de março de 2020. Disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/03/20/depois-da-facada-nao-vai-ser-gripezinha-que-vai-me-derrubar-diz-bolsonaro.htm [Acesso em março de 2020].
  • 34
    Ver a matéria de Aiuri Rebello intitulada “Profissionais da saúde relatam agressões no caminho para hospitais em São Paulo”, publicada na Folha de São Paulo em 22 de março de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/03/profissionais-da-saude-relatam-agressoes-no-caminho-para-hospitais-em-sao-paulo.shtml; e a matéria de Sylvia Colombo intitulada “Médicos da América Latina são aplaudidos e hostilizados no cotidiano”, publicada na Folha de São Paulo em 26 de abril de 2020, disponível em https://www1.folha. uol.com.br/colunas/sylvia-colombo/2020/04/medicos-da-america-latina-sao-aplaudidos-e-hostilizados-no-cotidiano.shtml [Acessos em abril de 2020].
  • 35
    Matéria não assinada intitulada ”Com aplausos, brasileiros prestam homenagens a profissionais de saúde”, publicada na Folha de São Paulo em 20 de março de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/03/com-aplausos-brasileiros-prestam-homenagens-a-profissionais-de-saude.shtml [Acesso em março de 2020].
  • 36
    Matéria não assinada intitulada “Conselho denuncia falta de EPIs e relata 130 profissionais afastados no RJ”, publicada no site UOL em 02 de abril de 2020, disponível em https://noticias. uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/02/conselho-denuncia-falta-de-epis-e-relata-130-profissionais-afastados-no-rj.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em abril de 2020]; matéria escrita por Paula Sperb et al. intitulada “Médicos e enfermeiros protestam nas capitais contra falta de máscaras e luvas”, publicada na Folha de São Paulo em 23 de março de 2020, disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/medicos-e-enfermeiros-protestam-nas-capitais-contra-falta-de-mascaras-e-luvas.shtml [Acesso em março de 2020]. Sobre o tema, ver denúncias de médicos de uma Clínica da Família no Rio de Janeiro em Araújo et al. (2020ARAÚJO, Fábio; GAUDENZI, Paula; MALLART, Fábio. (30/06/2020) Contextualizar o desmonte é fundamental. Le Monde Diplomatique Brasil [on line], julho de 2020. Disponível em https://diplomatique.org.br/contextualizar-o-desmonte-e-essencial/.
    https://diplomatique.org.br/contextualiz...
    ).
  • 37
    Matéria não assinada intitulada “Enfermeiro morre em Nova York, e colegas de trabalho culpam falta de proteção”, publicada em O Globo em 28 de março de 2020. Disponível em https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/enfermeiro-morre-em-nova-york-colegas-de-trabalho-culpam-falta-de-protecao-24333824 [Acesso em março de 2020].
  • 38
    Matéria da BBC News Brasil intitulada ”Enfermeiro fotografa impacto do coronavírus nos hospitais da Itália: ‘Morrer sozinho é horrível’”, publicada no site R7 em 20 de março de 2020. Disponível em https://noticias.r7.com/internacional/enfermeiro-fotografa-impacto-do-coronavirus--nos-hospitais-da-italia-morrer-sozinho-e-horrivel-21032020 [Acesso em março de 2020].
  • 39
    Matéria escrita por Aurélio Nunes intitulada ”Domésticas defendem direito à quarentena remunerada e dividem patrões”, publicada no site UOL em 29 de março de 2020. Disponível em https:// noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/29/domesticas-defendem-direito-a-quarentena-remunerada-e-dividem-patroes.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em março de 2020].
  • 40
    Carta Manifesto/Abaixo-assinado intitulado “Quarentena Remunerada Já Para Domésticas e Diaristas!”, publicado em março de 2020, disponível em https://www.change.org/p/ao-poder-p%C3%BAblico-empregadores-e-empregadoras-de-dom%C3%A9sticas-e-diaristas-e-toda-sociedade-civil-quarentena-remunerada-imediata-pra-domesticas-e-diaristas?signed=true [Acesso em março de 2020].
  • 41
    Matéria não assinada intitulada “Covid-19: ‘é desumano o que a população de rua está passando’, diz Padre Júlio Lancellotti”, publicada no site Brasil 247 em 15 de maio de 2020, disponível em https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/covid-19-e-desumano-o-que-a-populacao-de-rua-esta-passando-diz-padre-julio-lancellotti?amp&fbclid=IwAR0Mdi7l5XI CElp8-e-5V6fFgCA4S2n85UWtTiuyIAHLSAFOEAmWjjUNxS8#.XsEmxFYkPeA.facebook [Acesso em maio de 2020]; matéria de Jorge Ghiaroni e Ana Dorneles intitulada “Pessoas que vivem nas ruas do Rio contam como é enfrentar a pandemia”, publicada no site G1 em 12 de maio de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/06/12/ pessoas-que-vivem-nas-ruas-do-rio-contam-como-e-enfrentar-a-pandemia.ghtml [acesso em maio de 2020]; matéria escrita por Patrice Schuch, Calvin Furtado e Caroline Sarmento intitulada “População de rua, coronavírus e necropolítica”, publicada no Jornal da UFRGS [on line], em 2 de abril de 2020, disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/populacao-de-rua-coronavirus-e-necropolitica/?fbclid=IwAR2ZFc74FCGRJ8F0f0-mnC2FyT_Btg8Y-93fLcapWfQ1Jpg25WPc1ByniAA [Acesso em abril de 2020].
  • 42
    Matéria sem assinatura intitulada “Coronavírus: 140 sem-teto serão abrigados no Sambódromo a partir desta segunda, diz prefeitura”, publicada no site G1, em 30 de março de 2020. Disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/03/30/coronavirus-140-sem-teto-serao-abrigados-no-sambodromo-a-partir-desta-segunda-diz-prefeitura.ghtml?fbclid=IwAR1v5FQGKdyP0n9P04YP4wpaDL3P0wKkEqgG7zalx2Ya4c_zm52R6wbOamA
  • 43
    No Rio, a prefeitura anunciou, no final de maio, 100 vagas em um hotel no Centro. Ver a ma téria sem assinatura intitulada “Coronavírus: 140 sem-teto serão abrigados no Sambódromo a partir desta segunda, diz prefeitura”, publicada no site G1, em 30 de março de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/03/30/coronavirus-140-sem-teto-serao-abrigados-no-sambodromo-a-partir-desta-segunda-diz-prefeitura.ghtml?fbclid=I wAR1v5FQGKdyP0n9P04YP4wpaDL3P0wKkEqgG7zalx2Ya4c_zm52R6wbOamA [Acesso em março de 2020]. Também a respeito ver a matéria sem assinatura intitulada “Prefeitura do Rio de Janeiro inaugura hotel para população de rua”, publicada no site UOL, em 21 de maio de 2020, disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/21/ prefeitura-do-rio-de-janeiro-inaugura-hotel-para-populacao-de-rua.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em maio de 2020]; outra matéria sobre o assunto, sem assinatura, foi intitulada “Prefeitura do Rio de Janeiro inaugura hotel para população de rua”, publicada em 21 de maio de 2020, está disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/05/21/ prefeitura-do-rio-de-janeiro-inaugura-hotel-para-populacao-de-rua.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em maio de 2020]. A precariedade das condições do Hotel Popular da Central foi também denunciada, ver a matéria, sem assinatura, intitulada “Moradores de rua que ficam em hotel da prefeitura denunciam falta de estrutura”, publicada no site G1, em 16 de abril de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/16/moradores-de-rua-que-ficam-em-hotel-da-prefeitura-do-rio-denunciam-falta-de-estrutura.ghtml [Acesso em abril de 2020]. Em junho, a prefeitura inaugurou outro espaço também no Centro, com 50 vagas, para a população LGBT em situação de rua, ver a matéria de Tatiana Alves intitulada “Rio ganha primeiro hotel para LGBTs em situação de rua” no site da Agência Nacional/ EBC, publicada em 28 de junho de 2020, disponível em https://radioagencianacional.ebc. com.br/direitos-humanos/audio/2020-06/rio-ganha-primeiro-hotel-para-lgbts-em-situacao-de-rua [Acesso em junho de 2020]. Sobre outras ações no sentido de proteger a população em situação de rua durante o período de calamidade, ver Patrice Schuch (2020aSCHUCH, Patrice; FURTADO, Calvin; SARMENTO, Caroline. 2020. “População de rua, coronavírus e necropolítica”. Jornal da Universidade, UFRGS, abr., 2020. Disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/populacao-de-rua-coronavirus-e-necropolitica/?fbclid=IwAR07kwIgf91Flgo1j0L1EXbbSKS4yp01BnLNf_Gr2YdvRERacTxH9R7kFI.
    https://www.ufrgs.br/jornal/populacao-de...
    ). Meses depois, a liberação do auxílio emergencial por cadastramento em aplicativo no celular e que o CPF não estivesse negativado praticamente foi inviabilizado para pessoas em situação de rua. Sobre o assunto, ver a entrevista de Schuch (MUSEOLÓGICAS podcast, 2020MUSEOLÓGICAS. Podcast ANTROPOLÓGICAS, PPGA-UFPE. 16. COVID-19 Populações em situação de rua. Entrevista com Patrice Schuch. (jun.2020). Apresentação: Alex Vailati, Francisco Sá Barreto e Hugo Menezes. Disponível em: Disponível em: https:// soundcloud.com/user-594324043/16-anthropologicas-patrice-schuch-ppgas-ufrgs-covid-19-e-populacoes-em-situacao-de-rua [Acesso 20/07/2020].
    https:// soundcloud.com/user-594324043/1...
    ).
  • 44
    A intervenção militar foi declarada por Michel Temer, presidente interino, em fevereiro de 2018 e se extendeu por todo ano. Com isso, a segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, passou a ser responsabilidade do governo federal. Um general, Walter Braga Netto, foi nomeado para o cargo. Ver a matéria escrita por Amanda Rossi intitulada “Congresso aprova decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro; entenda o que a medida significa”, publicada no site BBC Brasil/SP, em 21 de fevereiro de 2020, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43079114 [Acesso em julho de 2020].
  • 45
    Matéria escrita por Bruno Alfano intitulada “Biblioteca Parque do Centro do Rio recebe clu be de leitura com moradores em situação de rua”, publicada no jornal Extra [on line], em 25 de setembro de 2016, disponível em https://extra.globo.com/noticias/rio/biblioteca-parque-do-centro-do-rio-recebe-clube-de-leitura-com-moradores-em-situacao-de-rua-20172573. html [Acesso em 25 de setembro de 2016]; matéria sem assinatura intitulada “Moradores de rua se reúnem para assistir a filmes na Biblioteca Parque, Centro do Rio”, publicada no site G1, em 01 de agosto de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/08/01/moradores-de-rua-se-reunem-para-assistir-filmes-na-biblioteca-parque-centro-do-rio.ghtml [Acesso em julho de 2020]; matéria de Roberta Pennafort intitulada “Biblioteca com proposta diferente vira atração no Rio de Janeiro”, publicada no jornal Estadão [on line], em 23 de novembro de 2014, disponível em https://webcache.googleusercontent.com/se arch?q=cache:BCgfuxeBczwJ:https://brasil.estadao.com.br/noticias/rio-de-janeiro,biblioteca-com-proposta-diferente-vira-atracao-no-rio-de-janeiro-imp-,1596755+&cd=11&hl=pt-BR&ct=clnk≷=br [Acesso em julho de 2020].
  • 46
    Matéria não assinada intitulada “Com colapso na Saúde, especialistas sugerem utilização de leitos privados e centralização da lista de espera”, publicada no jornal O Globo [on linte] em 29 de abril de 2020, disponível em https://oglobo.globo.com/rio/com-colapso-na-saude-especialistas-sugerem-utilizacao-de-leitos-privados-centralizacao-da-lista-de-espera-1-24399893 [Acesso em abril de 2020]; ver a matéria sem assinatura intitulada “Entidades apoiam campanha ‘Leitos para todos’”, publicada no site da ABRASCO em 01 de abril de 2020, disponível em https://www.abrasco.org.br/site/noticias/entidades-apoiam-campanha-leitos-para-todos/46406/ [Acesso em abril de 2020].
  • 47
    Segundo Roberta Guimarães e João P. Macedo e Castro (2020GUIMARÃES, Roberta; CASTRO, João. 2020. “Mercado Imobiliário, neoliberalismo e Covid 19: a crise vista pelos olhos da ‘oportunidade’”. In: GROSSI, Miriam; TONIOL, Rodrigo; LOZANO, Marie-Anne (orgs.). Boletim ANPOCS, Ciências Sociais e coronavírus, n.64 [on line]. Associação Nacional de Pós-Gradução e Pesquisa em Ciências Sociais, jun.2020, p.1-4. Disponível em: Disponível em: http://anpocs.org/index.php/publicacoes-sp-2056165036/boletim-cientistas-sociais/2390-boletim-n-64-cientistas-sociais-e-o-coronavirus [Acesso em 25/07/2020].
    http://anpocs.org/index.php/publicacoes-...
    ), um mercado residencial voltado para a moradia popular teria sido o que menos se retraiu nesses primeiros meses da pandemia.
  • 48
    Como disse, notícias sobre a encomenda e a chegada de respiradores eram frequentes nos noticiários e nas coletivas para a imprensa que, nesse momento, eram realizadas uma vez ao dia por Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, na época, e o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira. No Rio, o prefeito Marcelo Crivella, publicou um decreto, criticado por empresários do ramo hospitalar, anunciando o confisco desse tipo de equipamento caso se encontrasse em desuso, ver a matéria de Vladimir Platonow intitulada “Prefeitura do Rio retira respiradores de hospital particular fechado”, publicada em 02 de abril de 2020, disponível em https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-04/prefeitura-do-rio-retira-respiradores-de-hospital-particular-fechado [Acesso em abril de 2020]; ver a queixa de empresários do ramo hospitalar na matéria escrita por Matheus Rodrigues, intitulada “‘Retirada de equipamentos do Hospital Espanhol pela prefeitura do Rio foi arbitrária’, diz presidente da unidade”, publicada no G1, em 03 de abril de 2020, disponível em https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/ noticia/2020/04/03/retirada-de-equipamentos-do-hospital-espanhol-pela-prefeitura-do-rio-foi-arbitraria-diz-presidente-da-unidade.ghtml [Acesso em 03 de abril de 2020]. Notícias sobre respiradores roubados, fantasmas e superfaturados se repetiram por meses, ver a matéria de André Tal intitulada “Ladrões roubam respirador a caminho de hospital, em SP”, publicada no site da Record TV, em 30 de maio de 2020, disponível em https://noticias.r7.com/sao-paulo/ladroes-roubam-respirador-a-caminho-de-hospital-em-sp-30052020 [Acesso em julho de 2020]; matéria intitulada “MP investiga compra de respiradores superfaturados e sem licitação pelo governo`, publicada no site Último Segundo, em 19 de abril de 2020, disponível em https://ultimosegundo. ig.com.br/2020-04-19/mp-investiga-compra-de-respiradores-superfaturados-e-sem-licitacao-pelo-governo.html [Acesso em julho de 2020] [Acesso em julho de 2020]; alguns casos, políticos e governadores de diferentes estados estavam envolvidos, matéria de Hyury Potter intitulada “Escandâlo dos Respiradores em SC: Suspeitos têm contratos em mais dois estados e usaram ex-jogador da seleção para fazer negócios, publicada no site The Intercept Brasil, em 15 de maio de 2020, disponível em https://theintercept.com/2020/05/15/escandalo-respiradores-santa-catarina-contratos-para-goias/ [Acesso em 15 de maio de 2020]. No mês de julho, o cancelamento da compra do mesmo material pelo governo federal se deu de maneira nebulosa, ver a matéria de Natália Cancian intitulada “Ministério cita ‘caráter mutável’ da pandemia ao desistir de compra de 2.880 respiradores”, publicada na Folha de São Paulo, em 28 de julho de 2020, disponível em https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/07/ministerio-cita-carater-mutavel-da-pandemia-ao-desistir-de-compra-de-2880-respiradores.shtml [Acesso em julho de 2020].
  • 49
    Matéria sem assinatura intitulada “Vídeo: taxista denuncia venda de lugar em fila para atendimento em agência da Caixa”, publicada no Portal T5, em 30 de abril de 2020, disponível em https://www.portalt5.com.br/noticias/brasil/2020/4/324018-video-taxista-denuncia-venda-de-lugar-em-fila-para-atendimento-em-agencia-da-caixa [Acesso em abril de 2020]; matéria sem assinatura intitulada “Lugar na fila da Caixa está sendo negociado a até R$ 50 no Rio de Janeiro e Fortaleza”, publicada no G1, em 04 de maio de 2020, disponível em https://noticias.band.uol.com.br/noticias/100000988652/lugar-na-fila-da-caixa-esta-sendo-negociado-a-ate-r-50-no-rio-de-janeiro-e-fortaleza.html#:~:text=Ouvintes%20da%20BandNews%20 FM%20denunciaram,meses%20de%20janeiro%20e%20fevereiro [Acesso em julho de 2020]; matéria de Carolina Mesquita intitulada “Beneficiários de auxílio emergencial no Ceará denunciam venda de lugar na fila”, publicada no G1, em 04 de maio de 2020, disponível em https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/05/04/beneficiarios-de-auxilio-emergencial-no-ceara-denunciam-venda-de-lugar-na-fila-para-sacar-dinheiro.ghtml [Acesso em maio de 2020].
  • 50
    O Auxílio Emergencial foi um benefício emergencial aprovado pelo Congresso a partir de demandas de grupos e categorias da sociedade civil após a crise que foi intensificada com a chegada da Covid-19. O valor, após longas negociações entre Legislativo e governo federal, foi estabelecido em 600 reais e destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados. O benefício seria pago durante três meses para até duas pessoas da mesma família. Para as famílias em que a mulher seja a única responsável pelas despesas da casa, o valor mensal era de 1.200 reais. Em agosto, o governo Bolsonaro, com a recuperação de 10% de sua popularidade, passou a aventar prorrogá-lo até o fim do ano, mas em um valor menor. Além disso, estuda sua incorporação ao novo programa social que estaria sendo pensado para substituir o programa Bolsa Família, marca dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e sempre associado a Luís Inácio Lula da Silva. Ver a matéria de Antonio Temóteo e Carla Araújo intitulada “Governo estuda manter auxílio emergencial com valor menor até março”, publicada no site UOL, em 09 de agosto de 2020; disponível em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/08/09/auxilio-emergencial-extensao-marco-menor-valor.htm?cmpid=copiaecola [Acesso em agosto de 2020].
  • 51
    Matéria sem assinatura intitutada “Prefeitura anuncia gratuidade em enterros para famílias de baixa renda e ‘sepultamento social”, publicada no jornal O Dia [on line], em 07 de maio de 2020. Disponível em https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2020/05/5912167-prefeitura-anuncia-gratuidade-em-enterros-para-familias-de-baixa-renda-e--sepultamento-social.html?fb ’[Acesso em maio de 2020].
  • 52
    ”Matéria de Selma Schimidt intitulada “Coronavírus: líderes comunitários denunciam jogo de empurra para remoção de corpos”, publicada no jornal Extra, em 26 de abril de 2020, disponível em https://extra.globo.com/noticias/coronavirus/coronavirus-lideres-comunitarios-denunciam-jogo-de-empurra-para-remocao-de-corpos-24394039.html [Acesso em 26 de abril de 2020]; matéria de Maurício Bastos intitulada “Família é obrigada a fazer vaquinha para enterrar casal”, publicada no site BandNews, em 14 de maio de 2020, disponível em https://bandnewsfmrio.com. br/editorias-detalhes/familia-e-obrigada-a-fazer-vaquinha-para-ente [Acesso em maio de 2020]; matéria de Igor de Carvalho intitulada “Funerárias de SP vendem higienização de corpos com suspeita de covid-19”, publicada no site Brasil de Fato, em 10 de abril, disponível em https://www.brasildefato.com.br/2020/04/10/funerarias-de-sp-vendem-higienizacao-de-corpos-com-suspeita-de-covid-19 [Acesso em abril de 2020]; matéria de Chico Otávio intitulada “Coronavírus: MP recebe denúncia de que manejo de corpos por funerárias não estaria seguindo recomendação da OMS”, publicada no jornal O Globo [on line], em 02 de abril de 2020, disponível em https://oglobo.globo.com/rio/coronavirus-mp-recebe-denuncia-de-que-manejo-de-corpos-por-funerarias-nao-estaria-seguindo-recomendacao-da-oms-24347322 [Acesso em abril de 2020]. Sobre a fala de Patricia Oliveira, ver a Mesa Violência de Estado e cidadania: Covid-19 nas prisões brasileiras, promovida pelo Comitê ABA Cidadania, Violência e Gestão Estatal, da Associação Brasileira de Antropologia, com moderação de Adriana Vianna e Sérgio Carrara (2020COMITÊ CIDADANIA, Violência e Gestão Estatal/Associação Brasileira de Antropologia (ABA). (13/05/2020). Mesa Violência de Estado e cidadania: Covid-19 nas prisões brasileiras. Moderação: Adriana Vianna e Sérgio Carrara. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1WO7J9BV3g0.
    https://www.youtube.com/watch?v=1WO7J9BV...
    ). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1WO7J9BV3g0.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Out 2020
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    16 Jun 2020
  • Aceito
    19 Jul 2020
Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ) R. São Francisco Xavier, 524, 6º andar, Bloco E 20550-013 Rio de Janeiro/RJ Brasil, Tel./Fax: (21) 2568-0599 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: sexualidadsaludysociedad@gmail.com