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EDITORIAL

Desde a sua criação, um dos objetivos centrais de Sexualidade, Saúde e Sociedade tem sido explorar os modos como regulações, convenções e normas relativas à sexualidade se especificam na América Latina, aprofundando e transformando as linhas de força mais gerais descritas por outros autores para contextos nacionais situados no "centro" da configuração que se convenciona chamar "Ocidente".

O presente número contribui significativamente para este objetivo, oferecendo aos leitores aportes empíricos importantes e instigantes interpretações. O cuidadoso trabalho comparativo de del Rio Fortuna sobre o acesso à anticoncepção cirúrgica em países tão próximos geograficamente, como Argentina e Brasil, alerta para os perigos de generalizações apressadas sobre processos de regulação da sexualidade na região. Como se depreende de sua análise, os significados da anticoncepção cirúrgica feminina nos dois contextos são marcadamente contrastantes, não apenas em sua dimensão demográfica, mas também em relação aos grupos sociais que envolve e às diferentes racionalidades que cercam sua prática.

Distintas formas de regulação da sexualidade, fora do contexto médico-sanitário no qual elas foram classicamente descritas, são analisadas em outros três artigos aqui publicados. Leal Guerrero e Zago exploram respectivamente sociabilidades homoeróticas online na Argentina e no Brasil, perseguindo os deslocamentos das convenções de gênero e sexualidade que nelas se operam. Apontam ainda para profundas continuidades, seja em relação às convenções representacionais sobre erotismo e masculinidade, particulares à tradição ocidental, seja quanto aos sutis enredamentos de um dispositivo da sexualidade que, ao menos na perspectiva de Zago, se renova sem perder sua força.

A reflexão de Altmann também se volta para a discussão sobre o possível aggionarmento do antigo dispositivo da sexualidade, colocando o foco de sua análise nos recentes experimentos educativos brasileiros em torno da chamada "diversidade sexual". Na mesma direção, Gil Hernandes interpela a política LGBT em Bogotá, retomando o argumento butleriano que vê em certos aspectos dessa política a reemergência de normas sexuais e de renovados mecanismos de exclusão.

Finalmente, a própria scientia sexualis, ao menos em sua face socioantropológica, e a forma como investe sobre seus "objetos" são revisitadas no texto reflexivo de Cutuli, em que se discutem as tensas e ambíguas negociações que subjazem à produção de conhecimento sobre sujeitos ainda alocados às margens das moralidades sexuais contemporâneas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 2013
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