Acessibilidade / Reportar erro

EDITORIAL

Seja pelo número de artigos publicados, seja pelos temas e contextos trabalhados, esta edição de Sexualidade, Saúde e Sociedade marca o aprofundamento da proposta da própria Revista. Principalmente quanto ao seu caráter de espaço de confluência de discussões que, com diversas perspectivas disciplinares, exploram as dimensões culturais e políticas das sexualidades em diferentes países latino-americanos (nesse número, representados por Argentina, Brasil, Equador, México e Uruguai).

O Dossiê Medicalização, Sexualidade e Gênero: Sujeitos e agenciamentos, organizado por Regina Facchini e Carolina Branco de Castro Ferreira, retoma debates já presentes em números anteriores em torno das ciências e dos saberes sobre a sexualidade, especialmente a biomedicina e seu papel para o desenvolvimento de subjetividades, políticas públicas e processos de instituição de novos sujeitos políticos, como travestis e transexuais. Sob a chave mais geral da medicalização, abre ao leitor um leque de temas ainda pouco trabalhados, como os da "disfunção erétil", da intersexualidade, da transexualidade, da circuncisão, da sex-adiction, da assexualidade e, finalmente, da interlocução da comunidade que se organiza em torno de práticas sadomasoquistas e dos saberes médico-científicos. Para uma apreciação mais detalhada de seu conteúdo, convidamos os leitores a consultarem a Apresentação das editoras.

Fora do dossiê, artigos como o de Isadora Lins França e Laura López exploram a potencialidade da noção de interseccionalidade para análises que buscam apreender a complexidade dos itinerários e dos trânsitos que, no entrecruzamento de classe, raça, gênero e origem regional, são percorridos por sujeitos individuais e coletivos. França descreve, através de entrevistas com homens gays que circulam entre São Paulo e Recife, como diferentes marcadores sociais da diferença, sobretudo os relativos à classe, agenciam desejos e organizam diferentes sistemas classificatórios relacionados à homossexualidade masculina. Trabalhando especialmente sobre a interseção de raça e gênero, López, por sua vez, acompanha a atual mobilização de mulheres negras no Uruguai, observando como se constituem em sujeitos políticos a partir da reflexão sobre o modo como seus corpos se tornaram locus histórico de incidência do poder colonial.

Os artigos de Mariana Cerviño e Santiago Peidro também estabelecem entre si interessante diálogo. Tendo como pano de fundo o contexto argentino, ambos abordam as relações entre arte, política e sexualidade. Cerviño chama a atenção para a ruptura que, no campo cultural portenho do período da redemocratização, implicou o trabalho de Gumier Maier e Marcelo Pombo, que organizam sua produção intelectual e artística a partir da militância e da experiência homossexual. Peidro propõe uma instigante abordagem de duas produções cinematográficas contemporâneas que giram em torno da experiência intersexual e mostra como a produção artística torna possível conceber modos de viver corporalidades que desestabilizam as convenções de gênero e sexo, para além das prescrições e das tutelas dos aparatos biomédicos.

O presente número oferece aos leitores novos aportes para a discussão sobre trabalho sexual, presentes no artigo de Eduardo Perez Archundia e no de Juliana G. Jayme, Alessandra S. Chacham e Mariana R. de Moraes. Seja em relação às práticas de saúde (uso do condom), seja em relação à organização socioprofissional, ambos contribuem para adensar a reflexão sobre um tema que, no âmbito das intervenções sanitárias ou policiais, vem novamente se constituindo em objeto de intensos debates. Ressaltamos finalmente a qualidade da resenha de Lynn M. Morgan sobre o livro God´s laboratory: Assisted Reproduction in the Andes, de autoria da antropóloga Elizabeth F. S. Roberts. Através da abordagem antropológica sobre práticas e representações sobre reprodução assistida no Equador, a obra resenhada abre interessantes vias comparativas com outros países latino-americanos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2013
  • Data do Fascículo
    Ago 2013
Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ) R. São Francisco Xavier, 524, 6º andar, Bloco E 20550-013 Rio de Janeiro/RJ Brasil, Tel./Fax: (21) 2568-0599 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: sexualidadsaludysociedad@gmail.com