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Oportunidades de visitação oferecidas em Áreas Naturais Protegidas: análise dos Parques Nacionais mais visitados no Brasil e nos Estados Unidos da América em 2017

Resumo

Parques Nacionais (PN) são estratégias de proteção da natureza e realização da atividade turística que demandam ferramentas para visitação adequada. Com o avanço do turismo nestas áreas, os PN assumem dupla responsabilidade: manter a qualidade da experiência dos visitantes e contribuir com todo seu potencial para sociedade. Nesse sentido, a ferramenta Recreation Opportunity Spectrum (ROS) categoriza as denominadas “Oportunidades de Visitação” em diferentes classes (Prístina, Primitiva, Natural, Rural e Urbana) para identificar atributos específicos para cada ambiente e público, organizando o turismo. Neste cenário, o objetivo foi analisar as oportunidades oferecidas em 10 Parques Nacionais, cinco no Brasil e cinco nos Estados Unidos da América e entender como as diferentes Classes de Oportunidades podem influenciar a visitação turística. Os dados foram obtidos a partir de pesquisa bibliográfica e documental. Identificado os potenciais turísticos de cada PN, aplicou-se a metodologia ROS. Os resultados mostraram que existe relação entre o número de oportunidades oferecidas e o número de visitantes que o Parque Nacional recebe, confirmando o pressuposto que, tanto nos Parques brasileiros quanto estadunidenses, diferentes oportunidades recreativas relaciona-se ao maior número visitantes. Dessa forma, a ferramenta Recreation Opportunity Spectrum apresenta-se como importante ferramenta de gestão da visitação turística. A possibilidade de criar classes de visitação em áreas naturais deve ser amplamente utilizada para garantir o turismo sustentável.

Palavras-chave:
ROS; Plano de Gestão; Turismo

Abstract

National Parks (NPs) are instruments for nature protection and tourism that demand tools for proper visitation. With the advance of tourism in these areas, NPs assume a double responsibility: to maintain visitor experience quality and to contribute with all their potential to society. In this sense, the Recreation Opportunity Spectrum (ROS) tool categorizes “Visitation Opportunities” classes (Pristine, Primitive, Natural, Rural, and Urban) to identify specific attributes of each environment and each visiting public and, thus, organize tourist use. In this scenario, we aimed to analyze the opportunities offered in 10 National Parks, five in Brazil and five in the United States (US), to understand how different Opportunity Classes can influence tourist visitation. The data were drawn from bibliographic and documentary research. After identifying the tourist potential of each NP, we applied the ROS methodology. The results showed a relationship between the number of opportunities offered and the number of visitors received by the National Parks, confirming the assumption that, both in Brazilian and American parks, different recreational opportunities are related to the largest number of visitors. Thus, the Recreation Opportunity Spectrum (ROS) tool presents itself as an important management tool for tourism visitation. The possibility of creating visitation classes in natural areas must be widely used to guarantee sustainable tourism.

Keywords:
ROS; Management Plan Tourism; Tourism

INTRODUÇÃO

No contexto da política de estabelecimento das Áreas Protegidas (AP), no Brasil, os Parques Nacionais (PN), importantes estratégias de proteção da natureza e desenvolvimento turístico, se tornaram a categoria de espaço protegido mais conhecida e tradicional (DRUMMOND et al., 2010DRUMMOND, J. A.; FRANCO, J. L. DE A.; OLIVEIRA, D. DE. Uma análise sobre a história e a situação das Unidades de Conservação no Brasil. In: GANEM, R. S. (org.). Conservação da biodiversidade: legislação e políticas públicas. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2010. p.341-385. Available: https://aprender.ead.unb.br/pluginfile.php/28053/mod_resource/content/1/Drummond_etal_2010_UC_legislacao_historico.pdf. Access in: 21 feb. 2019.
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; CUNHA; SPINOLA, 2014CUNHA, C. P. SPINOLA, C. A. Parque Nacional: Um conceito com múltiplas interpretações. In: XIII SEPA - Seminário Estudantil de Produção Acadêmica, UNIFACS, 2014. Available: https://revistas.unifacs.br/index.php/sepa/article/view/3377. Access in: 18 feb. 2019.
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; PIRES; RUGINE, 2018PARQUE NACIONAL MARINHO DE FERNANDO DE NORONHA. 2019. Available: https://www.parnanoronha.com.br/. Access in: 04 feb. 2019.
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), sendo incluída em Sistemas de Áreas Protegidas no mundo todo, com destaque para países da Europa e Américas (MENEGUEL; ETCHEBEHERE, 2011MEIRELLES, A. J. de A.; DANTAS, E. W. C.; DA SILVA, E. V. Parque Nacional de Jerioacoara: trilhas para a sustentabilidade. Fortaleza: Edições UFC, 2011, 157p. Available: http://www.ppggeografia.ufc.br/images/livrojericoacoaraii.pdf. Access in: 23 jan. 2019.
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; SALVIO; GOMES, 2018ROCKY MOUNTAINS NATIONAL PARK. Vacation and Travel Information [online]. 2019. Available: https://rockymountainnationalpark.com/. Access in: 15 apr. 2019.
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).

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, 2019), Parque Nacional tem como objetivo de manejo proteger a biodiversidade natural, os ecossistemas, suas estruturas ecológicas e seus processos ambientais, além de promover a educação ambiental, recreação e pesquisas.

Com o avanço do turismo nestas áreas, os PN assumem dupla responsabilidade: manter a qualidade da experiência dos visitantes e contribuir com todo seu potencial para sociedade, uma vez que geram benefícios tanto econômicos como intangíveis, como aqueles oriundos do turismo, os serviços prestados pelos ecossistemas (ar puro, água limpa e ciclagem geoquímica natural), os intangíveis, relacionados ao próprio valor intrínseco da natureza, e o bem-estar físico das atividades nestes locais (TERBORGH; SCHAIK, 2002TAKAHASHI, L. Uso Público em unidades de conservação. Cadernos de Conservação. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. Ano 2, n.2, 2004.).As experiências de alta qualidade vividas pelos visitantes nesses locais despertam o apoio dos próprios turistas na conservação do meio ambiente (MANNING, 2002LEE, M.; BEARD, J.; THOMPSON, F. Recreation Opportunity Spectrum (ROS). 30 Slides. Northern Arizona University. Forest Service, Department of Agriculture, 2013. Available: https://www.fs.usda.gov/Internet/FSE_DOCUMENTS/stelprdb5412128.pdf. Access in: 12 feb. 2019.
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).

Diversos estudos (BROWN et al., 1978BROWN, P.; DRIVER, B. L.; MCCONNELL, C. The Opportunity Spectrum: Concept and Behavioral Information in Outdoor Recreation Resource Supply Inventories: Background and Application. Forest Management Faculty Publications. University of Montana, 1978. Available: https://scholarworks.umt.edu/forest_pubs/31/. Access in: 21 feb. 2019.
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; CLARK; STANKEY, 1979CLARK, R.N; STANKEY, G.H. The Recreation Opportunity Spectrum: a framework for planning, management and research. USDA: Forest Service Research Paper, 1979.; TAKAHASHI, 2004SOUZA, L.H.; NORONHA-OLIVEIRA, M.V. Zoneamento turístico em Áreas Naturais Protegidas: um diálogo entre conservação, oferta de atrativos e perfil da demanda ecoturística. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.5, n.2, p.197-222. 2012. https://doi.org/10.34024/rbecotur.2012.v5.6045
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; BROWN et al., 2005; ICMBIO, 2011b; COELHO, 2015COELHO, M. DE F. O que Atrai o Turista? Gestão da Competitividade de Destinos a partir de Atrações e da Atratividade Turística. Revista Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, v. 7, n° 4, 2015. p. 489-505. https://doi.org/10.18226/21789061.v7iss4p489
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; ICMBIO, 2018a) confirmam que não existe um “visitante típico”, com perfil médio que procuram por uma atividade específica, mas buscam ambientes e experiências diversificadas a fim de suprir suas expectativas. Dessa forma, a oferta de diferentes oportunidades e ambientes satisfaz uma demanda de públicos diversificada. Cada visitante é motivada(o) a escolher um ambiente segundo suas necessidades e expectativas, as quais são atendidas de acordo com o que é oferecido pela AP, tais como turismo de aventura, ecoturismo, geoturismo, entre outros.

Nesse sentido, a importância da aplicação do Recreation Opportunity Spectrum (ROS), o qual define zonas específicas, denominadas “Classes de Oportunidades” (Prístina, Primitiva, Natural, Rural e Urbana), está na capacidade de categorizar cada zona, desde aquelas consideradas primitivas àquelas que já sofreram alguma intervenção, para identificar as atividades específicas adequadas para cada área e para cada público, conciliando a qualidade da experiência da visita com os objetivos de conservação, e no desenvolvimento de planos de gestão para administrar e oferecer diferentes oportunidades (BROWN et al., 1978BROWN, P.; DRIVER, B. L.; MCCONNELL, C. The Opportunity Spectrum: Concept and Behavioral Information in Outdoor Recreation Resource Supply Inventories: Background and Application. Forest Management Faculty Publications. University of Montana, 1978. Available: https://scholarworks.umt.edu/forest_pubs/31/. Access in: 21 feb. 2019.
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; CLARK; STANKEY, 1979CLARK, R.N; STANKEY, G.H. The Recreation Opportunity Spectrum: a framework for planning, management and research. USDA: Forest Service Research Paper, 1979.; ORMSBY et al., 2004NPS. National Park Service - Visitation Numbers.2020. Available: https://www.nps.gov/aboutus/visitation-numbers.htm. Access in: 03 aug. 2020.
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; BROWN et al., 2005; ICMBIO, 2011b; ICMBIO, 2018a).

As oportunidades de visitação são formadas a partir da relação entre as atividades, o ambiente (atributos biofísicos, socioculturais e de manejo), a experiência potencial e os benefícios gerados (DRIVER; BROWN, 1978DRIVER, B. L.; BROWN, P. J. The opportunity spectrum concept and behavioral information in outdoor recreation resource supply inventories: a rationale. Integrated inventories of renewable natural resources: proceedings of the workshop. Jan. 8-12, Arizona, 1978. Available: https://agris.fao.org/agris-search/search.do?recordID=US7896925. Access in: 14 feb. 2019.
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). A junção de todos esses fatores, sejam cenários e ambientes propícios a visitação, atrativos e atividades turísticas, tipos de acessos, serviços de hospedagem e alimentação, nível de infraestrutura, presença institucional, entre outros, variam em cada classe do espectro. As classes são desenhadas conforme o aumento intensivo do uso de acordo com aspectos naturais, sociais e de gestão (atributos do ROS). Cada ambiente, dentro da AP, resulta da combinação de diversas experiências, para diferentes tipos de visitantes. O espectro favorece essa diversidade a nível adequado de proteção e utilização dos recursos e atrações turísticas (LEE et al., 2013IUCN. Protected Area Categories. 2019. Available: https://www.iucn.org/theme/protected-areas/about/protected-area-categories. Access in: 21 jan. 2019.
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).

Dessa forma, este estudo teve como objetivo compreender se os PN mais visitados do Brasil e dos Estados Unidos da América (EUA) são os que oferecem mais oportunidades recreativas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização dos Parques Nacionais estudados

A pesquisa compõe-se pela análise de cinco PN mais visitados no Brasil e cinco mais visitados nos EUA, ambos referentes ao ano de 2017. Os Quadros 1 e 2 apresentam as características principais, e informações referentes ao uso público e as oportunidades de visitação. A Figura 1 apresenta a localização dos Parques Nacionais estudados, localizados no Brasil e nos Estados Unidos.

Quadro 1
Informações sobre os Cinco Parque Nacional Brasileiros estudados
Quadro 2
Informações sobre os Cinco Parque Nacional Estadunidenses estudados

Figura 1
Mapa de localização dos PN pesquisados

Procedimentos Metodológicos

O estudo foi conduzido pela abordagem qualitativa, com base na pesquisa bibliográfica e documental dos sites oficiais e planos de gestão (PRODANOV; FREITAS, 2013PORTAL JERICOACOARA [online]. 2019. Available: http://www.portaljericoacoara.com.br/Parque_nacional_jericoacoara.html. Access in: 15 feb. 2019.
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) com recorte temporal em 2017. Para obtenção dos dados foram utilizados os sites oficiais de cada Unidade e dos órgãos responsáveis pela gestão destes locais, sendo no Brasil, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBIO) (CATARATAS DO IGUAÇU, 2019; ICMBIO, 2019a; ICMBIO, 2019b; ICMBIO, 2019c; ICMBIO, 2019d; ICMBIO, 2019e; PARQUE NACIONAL DA TIJUCA, 2019; PARQUE NACIONAL MARINHO DE FERNANDO DE NORONHA, 2019; PORTAL JERICOACOARA, 2019), e nos Estados Unidos, o National Park Service (NPS) (NPS, 2019a; NPS, 2019b; NPS, 2019c; NPS, 2019d; NPS, 2019e; ROCKY MOUNTAINS NATIONAL PARK, 2019).

Pesquisou-se nos documentos pertinentes, as características turísticas, as áreas de visitação, a estrutura e atrativos dos PN no Brasil (IBAMA; FUNATURA, 1990; IBAMA; FUNATURA, 1998; ICMBIO; MMA, 2008; ICMBIO, 2011a; ICMBIO, 2017b; ICMBIO, 2018b) e nos Estados Unidos (NPS, 1976; NPS, 2001; NPS, 2004; NPS, 2007; NPS, 2010; NPS, 2014; NPS, 2016; NPS, 2017a; NPS, 2017b; NPS, 2017c; NPS, 2017d; NPS, 2018a; NPS, 2018b; NPS, 2018c; NPS, 2018d), possibilitando identificar informações a respeito do uso público e visitação para compreender o que as Unidades têm oferecido e como isso influencia a diversidade de opções que o visitante tem para a visita turística.

A análise das oportunidades foi realizada por meio doo método ROS (BROWN et al., 1978BROWN, P.; DRIVER, B. L.; MCCONNELL, C. The Opportunity Spectrum: Concept and Behavioral Information in Outdoor Recreation Resource Supply Inventories: Background and Application. Forest Management Faculty Publications. University of Montana, 1978. Available: https://scholarworks.umt.edu/forest_pubs/31/. Access in: 21 feb. 2019.
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; CLARK; STANKEY, 1979CLARK, R.N; STANKEY, G.H. The Recreation Opportunity Spectrum: a framework for planning, management and research. USDA: Forest Service Research Paper, 1979.; ORMSBY et al., 2004NPS. National Park Service - Visitation Numbers.2020. Available: https://www.nps.gov/aboutus/visitation-numbers.htm. Access in: 03 aug. 2020.
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; BROWN et al., 2005; ICMBIO, 2011b; ICMBIO, 2018a), aplicado em estudos qualitativos anteriores (WALLACE, 2002USA. Act n° 227, February 26, 1919. An Act To establish the Grand Canyon National Park in the State of Arizona. United States of America Congress. District of Columbia, Washington, 1919. Available: https://www.loc.gov/law/help/statutes-at-large/65th-congress/session-3/c65s3ch44.pdf. Access in: 20 may 2019.
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; SOUZA; NORONHA-OLIVEIRA, 2012SANTANA, R.C.B.; SILVA, H.P.; CARVALHO, R.M.C.M.O.; FRUTUOSO, M.N.M.A. A importância das Unidades de Conservação do Arquipélago de Fernando de Noronha. Holos, n.32, v. 7, p.15-31, 2016. https://doi.org/10.15628/holos.2016.4217
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; BIRKEMOSE, 2015BIRKEMOSE, M. Tourists perception of Recreational Opportunity Spectrum as a management tool in Fulufjället National Park. 2015. 64f. Dissertation (Master) - Norwegian University of Life Sciences, Norway, 2015. Available: https://nmbu.brage.unit.no/nmbu-xmlui/handle/11250/295847. Access in: 25 jan. 2019.
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) para identificar as áreas específicas de recreação oferecidas nos PN, permitindo a definição de um zoneamento de oportunidades recreativas, o qual é dividido em classes (LEE et al., 2013IUCN. Protected Area Categories. 2019. Available: https://www.iucn.org/theme/protected-areas/about/protected-area-categories. Access in: 21 jan. 2019.
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).

A pesquisa utiliza a matriz de cinco Classes de Oportunidades, sendo elas: Prístina, Primitiva, Natural, Rural e Urbana. Por meio de consulta direta à documentação, identificou-se e descreveu-se as oportunidades encontradas a partir de sua respectiva classe para verificar se os Parques possuem características que se enquadram em cada uma daquelas propostas pelo ROS (SOUZA; NORONHA-OLIVEIRA, 2012SANTANA, R.C.B.; SILVA, H.P.; CARVALHO, R.M.C.M.O.; FRUTUOSO, M.N.M.A. A importância das Unidades de Conservação do Arquipélago de Fernando de Noronha. Holos, n.32, v. 7, p.15-31, 2016. https://doi.org/10.15628/holos.2016.4217
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). Para compreendê-las, é apresentada no Quadro 3, a pergunta direta realizada por meio da análise documental e a relação entre as classes, seus atributos e a definição dos respectivos graus de intervenção.

É importante mencionar que a pesquisa não pretendeu realizar nenhuma abordagem comparativa entre os dois países, mas possibilitou visualizar, de maneira conjunta, se os PN mais visitados do Brasil e EUA oferecem aos seus visitantes um espectro de oportunidades de uso público.

Quadro 3
Classes de Oportunidades de Visitação de acordo com grau de intervenção humana e seus atributos correspondentes

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da hipótese de que os PN mais visitados são os que oferecem mais oportunidades recreativas, o estudo inicialmente destaca que as taxas de visitação dos PN dos EUA são mais altas que dos PN do Brasil, uma vez que a soma nos cinco PN estadunidenses estudados representa cerca de cinco vezes mais visitantes que a soma dos cinco PN brasileiros (Tabela 1). Todavia, os dois PN brasileiros mais visitados, Tijuca e Iguaçu, representam 78% do total de visitantes dos PN brasileiros estudados, sendo que os outros três PN do ranking representam juntos cerca de 22%.

Os Parques oferecem diferentes oportunidades distribuídas nas cinco classes (Quadros 4 e 5). Esse cenário aponta tendência de que os Parques mais visitados possuem mais oportunidades disponíveis, sugerindo existir relação entre o número de oportunidades recreativas oferecidas e o número de visitantes que o Parque passa a receber, tanto em relação aos brasileiros quanto aos estadunidenses (BROWN et al., 2005BROWN, P.; WALLACE, G.; NEWMAN, P.; WURZ, J.; LECHNER, L.; STOLL, D.; FINCHUM, R MCGLAUGLIN, W.; COURRAU, J.; BAUER, J.; VALENZUELA, F. ROVAP: el Rango de Oportunidades para Visitantes em Áreas Protegidas. CIPAM/USDA, 2005.). A Figura 2 apresenta o espectro de oportunidades encontrado em cada país.

Tabela 1
Ranking de visitação dos Parques Nacionais brasileiros e estadunidenses em 2017.
Quadro 4
Oportunidades recreativas identificadas nos cinco PN brasileiros estudados e enquadradas nas cinco classes.
Quadro 5
Oportunidades recreativas identificadas nos cinco PN estadunidenses estudados e enquadradas nas cinco classes.

Segundo alguns estudos (BROWN et al., 1978BROWN, P.; DRIVER, B. L.; MCCONNELL, C. The Opportunity Spectrum: Concept and Behavioral Information in Outdoor Recreation Resource Supply Inventories: Background and Application. Forest Management Faculty Publications. University of Montana, 1978. Available: https://scholarworks.umt.edu/forest_pubs/31/. Access in: 21 feb. 2019.
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; CLARK; STANKEY, 1979CLARK, R.N; STANKEY, G.H. The Recreation Opportunity Spectrum: a framework for planning, management and research. USDA: Forest Service Research Paper, 1979.; TAKAHASHI, 2004SOUZA, L.H.; NORONHA-OLIVEIRA, M.V. Zoneamento turístico em Áreas Naturais Protegidas: um diálogo entre conservação, oferta de atrativos e perfil da demanda ecoturística. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.5, n.2, p.197-222. 2012. https://doi.org/10.34024/rbecotur.2012.v5.6045
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; BROWN et al., 2005; ICMBIO, 2011b; COELHO, 2015COELHO, M. DE F. O que Atrai o Turista? Gestão da Competitividade de Destinos a partir de Atrações e da Atratividade Turística. Revista Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, v. 7, n° 4, 2015. p. 489-505. https://doi.org/10.18226/21789061.v7iss4p489
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; ICMBIO, 2018a), para a aplicação da metodologia ROS não existe um único perfil de visitante, o que demanda diferentes oportunidades e ambientes para satisfazer um público diversificado. Neste sentido, cada ambiente, dentro da Área Protegida, é apto da combinação de diversas experiências, para diferentes tipos de visitantes. O espectro favorece essa diversidade a um nível adequado de proteção e utilização dos recursos e atrações turísticas. Todos os PN estudados possuem diversidade de experiências para turistas potenciais com suas diferentes expectativas.

É importante destacar que o ROS pode ser aplicado em qualquer Categoria de Manejo, não somente em Parques. Coelho et al. (2015COELHO, M. DE F. O que Atrai o Turista? Gestão da Competitividade de Destinos a partir de Atrações e da Atratividade Turística. Revista Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, v. 7, n° 4, 2015. p. 489-505. https://doi.org/10.18226/21789061.v7iss4p489
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) demonstram que o estabelecimento de zonas de recreação também em outras categorias de UC auxilia o planejamento e gestão da visitação. Definir normas de uso para cada local, delimitando regras de acesso e utilização, permitiu contribuir para a conservação na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Cabeceira do Prata - Jardim (MS). O ROS é fundamental para regulamentar o uso público e o Plano de Gestão da Unidade.

Figura 2
Quantidade de oportunidades recreativas distribuídas nas cinco classes para cada PN analisado.

Nesta perspectiva, o presente estudo mostrou que os atributos naturais, sociais e de gestão, indispensáveis para a aplicação do espectro do ROS, são de significativa importância para administrar o uso turístico e recreativo dos visitantes. Sua importância relativa à organização, planejamento e gestão da recreação contribuem para definir e classificar o espectro de cada área estudada, uma vez que as cinco classes utilizadas no trabalho permitem fornecer objetivos e diretrizes para cada ambiente. Portanto, o ROS é de fato, ferramenta estratégica importante para o gerenciamento do uso dos visitantes.

CONCLUSÕES

A partir do gradiente de classes proposto pelo ROS, todos os PN estudados possuem as classes recreativas atrativas para demanda diversificada. Os Parques mais visitados de fato disponibilizam diferentes oportunidades para diversos tipos de turistas, fato que acontece tanto em PN brasileiros como em PN estadunidenses. Segundo a literatura, a diversidade de experiências e oportunidades oferecidas diferem significativamente na quantidade de visitantes na área.

Por outro lado, as taxas de visitação dos PN dos Estados Unidos representam cinco vezes mais que a soma dos cinco PN brasileiros, os quais enfrentam questões relacionados a diversidade de atrativos, trilhas e atividades disponíveis, efetividade de gestão, recursos humanos e investimentos, que reforçam a necessidade de ferramentas de planejamento, as quais sem elas, pode-se prejudicar o desenvolvimento turístico sustentável. Fica evidente, portanto, a urgência na mudança de paradigmas, comportamentos e políticas públicas relacionadas a conservação da natureza no Brasil.

É importante considerar que, a gestão da Unidade deve ser composta pelo conjunto total de atributos, incluindo condições de acesso, atividades, estrutura e serviços, aspectos que as UC brasileiras ainda necessitam melhorar. Apesar de cada ambiente dentro da AP ser apto a oferecer diversas experiências, o ROS preconiza que o rol de oportunidades deve ser complementado pelas oportunidades oferecidas também no entorno e nas demais áreas turísticas existentes na região, e não apenas dentro da área da UC. A visão do planejamento deve ser ampla e as oportunidades oferecidas devem ser compatíveis com a categoria e com os objetivos pré-estabelecidos.

As limitações na aplicação do ROS neste trabalho implicam no fato de que o método não preconiza a utilização de entrevistas com gestores de Áreas Protegidas ou aplicação de questionários com visitantes. Além disso, existe uma lacuna nos planos de gestão e documentos referentes à visitação turística dos Parques estudados. Apesar da lei brasileira indicar a elaboração do documento no prazo de cinco anos a partir da sua criação, muitos planos continuam antigos, desatualizados e utilizam dados secundários, sem padronizar ou normalizar a utilização de uma estrutura única para todas as UC. Neste sentido, a ferramenta ROS, pautada no zoneamento de oportunidades recreativas pode ser aplicado na elaboração de Planos de Gestão, como forma de organizar o uso público e turístico e potencializar o planejamento e a gestão, definindo regras adequadas para cada ambiente propício a receber visitantes.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a UFSJ pela concessão da bolsa de pós-graduação ao primeiro autor; ao Grupo de Pesquisa em Áreas Naturais Protegidas - IF SUDESTE-MG; ao Grupo Brasil Verde; e ao Professor Gabriel Pereira (UFSJ) pela assessoria cartográfica.

REFERENCES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    14 Dez 2020
  • Aceito
    21 Maio 2021
  • Publicado
    30 Jun 2021
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