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Fotograficidade: A Paisagem Humana no Imaginário Poético do Círio de Nazaré em Belém do Pará - Brasil

Resumo

Fotograficidade é, aproximando-se da fotografia humanista, a geograficidade em imagens poéticas, os fotopoemas. Os palcos para este ensaio são as encenações e performances dos festejos do Círio de Nazaré em Belém do Pará. Para identificar e tornar real essa fotograficidade, abordamos, primeiro, o desenvolvimento da fotografia humanista como inspiração. Segundo, lidamos com a geograficidade ou a singularidade da vida humana em relação ao modo de existência espacial a partir de suas práticas sociais. Por fim, recorremos à poesia a partir do imaginário poético estetizante amazônico por meio do conceito de conversão semiótica, entendida como a mudança de qualidade simbólica no contexto cultural. Metodologicamente, a fotograficidade do Círio de Nazaré será construída no cruzamento entre a fotografia humanista, a geograficidade e a poesia. A partir desse cruzamento, objetivamos expandir e incentivar análises geográficas nas paisagens humanas.

Palavras-chave:
Fotograficidade; Círio de Nazaré; Poesia; Geograficidade; Fotografia humanista

Abstract

Photographicity is, resembling humanist photography, geographicity in poetic images, photopoems. The stages for this essay are the enactments and performances of Círio de Nazaré festivities in Belém do Pará. In order to identify and make this photographicity real, we first focus on the development of humanist photography as inspiration. Second, we deal with the geographicity or the singularity of human life in relation to the mode of spatial existence based on social practices. Finally, we turn to poetry from the Amazonian aesthetic poetic imaginaire through the concept of semiotic conversion understood as the symbolic change in the cultural context. Methodologically, the photographicity of Círio de Nazaré will be built on the intersection of humanistic photography, geographicity and poetry. From this intersection, the objective is to expand and encourage humanist geographical analyses in human landscapes.

Keywords:
Photographicity; Círio de Nazaré; Poetry; Geographicity; Humanist photography

INTRODUÇÃO

Ao se fotografar um determinado evento, notamos quão expressivos e dinâmicos são seus movimentos. Isso porque a fotografia, apesar de nos revelar um cenário e um momento, nos insta a imaginarmos paisagens e instantes de um devir iminente. A fotografia, portanto, não é propriamente a imagem congelada de um espaço-tempo; ela é também movimento.

Uma festa religiosa, por exemplo, potencializa esses movimentos. O religioso parece enquadrar cada vez mais performances, ritos, cenários piedosos e carnavalescos em um mesmo espaço-tempo, haja vista sagrado e profano, desde origens remotas, atuarem em comum acordo. São as novas ordens do simbólico, cunhadas ao momento em que novas paisagens vão sendo criadas ou readaptadas. O Círio de Nazaré, na metrópole de Belém, é uma experiência fantástica para o geógrafo-fotógrafo, sujeito aqui denominado por nós como fotogeógrafo, pois concordamos com Reis Junior (2014), quando este escreve que o fotogeógrafo, mesmo podendo não ser um geógrafo profissional, contribui com a ciência da paisagem e aquilo que ela demonstra das relações estabelecidas entre a natureza e a cultura.

Belém, a capital do estado do Pará, fundada em 12 de janeiro de 1626, tornou-se uma das mais importantes e expressivas hierometrópolis brasileiras - para reler na escala metropolitana o termo desenvolvido por Rosendahl (1999ROSENDAHL, Z. Hierópolis: o sagrado e o urbano. Rio de Janeiro: Eduerj, 1999) - construída sob os simbolismos e imaginários em torno da mítica figura cristã do catolicismo, Nossa Senhora de Nazaré. Desde os primórdios do surgimento da referida Maria, em 1793, constroem-se sobre a cidade relações de pertencimentos religiosos únicos referenciados por numerosas obras como, por exemplo, as de Alves (1980ALVES, I. O carnaval devoto: um estudo sobre a festa de Nazaré, em Belém. Petrópolis, Vozes, 1980.; 2005) ao caracterizar o Círio como uma densa fusão entre fé, carnaval devoto, dramaticidade, alegria e aguçados sentimentos durante os festejos. A estrutura e a organização urbanas onde se desenrolam as performances dos festejos são claramente dependentes dos simbolismos e dos imaginários os quais lhe dão suporte. Não há organização e dinâmica do religioso na cultura cidade sem essa pulsão advinda de uma forma utópica, seja ela visionária ou espiritual.

A convivência com essa ambiência, mesmo que em breve permanência com os festejos e a vida religiosa da cidade, permite observar não só os fiéis na busca de seu mundo particular, concreto, como também testemunhar o seu desejo de alcançar o mundo suprassensível, o mundo das figuras celestes. Por isso, na metrópole Belém e em suas ruas, onde os percursos disseminam as diversas encenações em torno do sagrado, a mística religiosa se renova projetando, nas imagens do Círio, a essência devocional de seu povo.

No contexto do alcance desse mundo concreto, e simultaneamente imaginal, a fotograficidade será construída metodologicamente na triangulação entre a fotografia humanista, a geograficidade dardeliana (2011) e o imaginário poético estetizante, considerando como ponto de partida o conceito de conversão semiótica de João de Jesus Paes Loureiro (2015LOUREIRO, J. J. P. Cultura amazônica: uma poética da imaginação. 5ªed. Manaus: Valer Editora, 2015.). Todavia, apesar do neologismo fotograficidade, não se pretende apresentar resultados epistemológicos. Propõe-se, logo, a partir desse cruzamento, levantar reflexões sobre a importância do espaço geográfico em suas diversas formas aparentes, enquanto tudo isso surge aos nossos olhos antes, durante e depois que o fotogeógrafo aciona a sua máquina fotográfica.

As fotografias e suas imagens, as quais manteremos em preto e branco, em atenção ao período monocromático representativo da fotografia humanista, serão o nosso suporte documental. Quando capturadas em sua autenticidade constituem elementos primários da pesquisa. Ou seja, elas instrumentalizam a percepção, a compreensão e a reflexão geográfica, pois conectam produção de ideias, conforme argumentam Gomes e Ribeiro (2013GOMES, P. C. C; RIBEIRO, L. P. A produção de imagens para a pesquisa em geografia. In: Espaço e Cultura, UERJ, Rio de Janeiro, n. 33, p.27-42, jan./jun. de 2013.). É nesse sentido, de um agrupamento metodológico de ideias, que a fotograficidade toma corpo, propensa em mostrar uma forma de inteligibilidade multidisciplinar, representativa da organização do espaço geográfico, ou melhor, dos sujeitos no espaço, construindo-o de forma ativa.

A fotograficidade, neste ensaio, compreende uma metodologia de acesso aos festejos do Círio de Nazaré como uma paisagem humana integral. Seus procedimentos envolvem elementos culturais em suas permanências, transformações e adaptações plenas de humanismo, daí a estratégia de entrecruzamento da fotografia humanista, da geograficidade e da poesia. O Círio de Nazaré é poesia em movimento e geografia em ato, que se move entre dois mundos: o terreno e o imaginal.

Temos assim a primeira parte deste ensaio, em que colocamos em evidência os caminhos a serem percorridos. Na segunda parte, aproximamos a fotografia humanista da noção geograficidade, no que elas têm em comum. Em seguida, apresentamos a ideia central de fotograficidade, a maneira como foi pensada e constituída, a partir de imagens e do imaginário sobre o Círio de Nazaré. E por fim, apresentamos nossas considerações finais.

A fotografia humanista e algumas aproximações com a geograficidade

(...) os fotógrafos humanistas, que tinham Paris como epicentro criativo, exaltaram a vida - e a paz -, produzindo imagens de anônimos do cotidiano urbano. As fotos estavam mais próximas de capturar a essência humana do que as imagens objetivas da imprensa (AVANCINI, 2011AVANCINI, A. A imagem fotográfica do cotidiano: significado e informação no jornalismo. Brazilian journalism research: journalism theory, research and criticism, Brasilia, v. 7, n. 1, p. 50-68, 2011. https://doi.org/10.25200/BJR.v7n1.2011.285
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, p. 58).

A epígrafe acima abre os caminhos para aproximações. Pensamos haver convergências entre a fotografia humanista e a geograficidade, pois se vê nelas uma síntese fenomenológica da essência humana em sua existência espacial, com a exaltação à vida territorializada no espaço. Fotografia humanista e geograficidade tratam das mesmas coisas, pois têm como objetivo central o ser humano e suas relações com o ambiente em que vive. Para Holzer (2016HOLZER, W. A geografia humanista: sua trajetória 1950-1990. Londrina: Eduel, 2016.), por exemplo, a geograficidade tem uma ligação direta com o cotidiano, do mesmo modo, a nosso ver, que as preocupações que tinham os fotógrafos humanistas.

Considerada uma corrente fotográfica, a fotografia humanista teve sua gênese nos anos de 1930 na França, especificamente na cidade de Paris. Seu auge ocorreu entre os anos de 1945 e 1950, estendendo-se aos anos de 1960. Recebeu essa denominação pela sua forte e incontestável inclinação à pessoa humana tanto no quadro profissional quanto no afetivo. Todos seus representantes partilhavam uma visão essencialista e lírica do homem e apoiavam-se sobre a ideia da natureza humana universal (MAILLET; DENOYELLE; VERSAVEL, 2006MAILLET, L. M.; DENOYELLE, F.; VERSAVEL, D. La photographie humaniste, 1945-1968:autor d’Izis, Boubat, Brassaï, Doisneau, Ronis....France / Editions Bibilothèque National de France, vol. 1, 2006.).

Régis Debray (1993) assevera que essa corrente foi ostensivamente francesa e parisiense e contribuiu para a construção de uma iconografia nacional. O que os fotógrafos humanistas tinham em comum era o interesse pelo ser humano imerso em sua vida habitual, como já destacado. Capturavam-se cenas da vida das pessoas comuns, tanto em suas existências simples, repletas de alegrias quanto de dificuldades e injustiças advindas dos problemas econômicos; daí tê-la, por exemplo, como reação às atrocidades dos anos de guerra. Outra proximidade que deve ser considerada é a de que a publicação de O Homem e a Terra, do geógrafo Eric Dardel (2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011.), obra de grande relevância para a geografia humanista, ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, momento do apogeu da fotografia humanista.

Ainda, para Debray (1993), praticava-se uma etnografia nacional ou uma antropologia de proximidade cujo enfoque era a vida social do sujeito. Os seres humanos considerados invisíveis, os trabalhos e seu cotidiano, os rituais, os festejos das tradições culturais, manifestações políticas, figuras e casais pitorescos, retratos de artistas e intelectuais (Figura 1) eram introduzidos (AVANCINI, 2011AVANCINI, A. A imagem fotográfica do cotidiano: significado e informação no jornalismo. Brazilian journalism research: journalism theory, research and criticism, Brasilia, v. 7, n. 1, p. 50-68, 2011. https://doi.org/10.25200/BJR.v7n1.2011.285
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). Nesse contexto, se o centro de atenção da fotografia humanista era a pessoa em seu ambiente, o foco particularmente recaía sobre os mais desfavorecidos, esclarece Paviot (2019PAVIOT, F. La Photographie humaniste est-elle une photographie sociale? In: Narthex: Art Sacré, Patromoine et Création. Publiéle 28 février 2019. Available: https://www.narthex.fr/blogs/la-photographie-un-oeil-pour-voir-le-monde/la-photographie-humaniste-est-elle-une-photographie-sociale. Accessed in: April 07, 2021.
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).

Há de se pensar, portanto, se a fotografia humanista não seria uma maneira de revelar geograficidades por meio da imagem e mesmo do imaginário que a imagem comporta, por aprofundar a existência do ser-no-mundo, “(...) partindo do postulado de que a unidade lógica da existência não é espaço, nem tempo, nem sociedade; é a pessoa humana, é o indivíduo tomado em sua relação fenomenológica com o mundo” (LÉVY, 1997LÉVY, B. Géographie humaniste, géographie culturelle et littérature. Position épistémologique et méthodologique. In: Géographie et cultures, 1997, vol. 21, p. 27-44. Available: https://archive-ouverte.unige.ch/unige:18298. Accessed in: April 08, 2021.
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, p. 28, tradução livre). Afinal, a fotografia humanista e a geografia humanista se aproximam ao se interessarem pelas ações dos sujeitos e as suas escolhas na sociedade, em seu espaço-tempo, considerando os sistemas de valores, as preferências, as crenças, etc. A geograficidade e, nesse contexto, a fotograficidade, portanto, podem ser entendidas como os modos de existência e destino dos seres humanos.

Figura 1
Foto A: Os irmãos, rua do Doutor Lecène, Paris, 1934. Foto B: O Carpinteiro na rua Saint Louis em Isle, 1947.

O conjunto ambiente-sujeito, essa relação inextricável, era primordial para a fotografia humanista assim como o é para a geograficidade. Os fotógrafos humanistas destacavam tanto o modo de vida íntimo quanto a vida pública das ações dos seres humanos construindo e vivendo seus espaços; tanto é que se utilizavam muito da perspectiva de profundidade de campo para capturar o ambiente e o motivo humano a ser fotografado, pois ambos faziam parte de um todo. Como indica Pidner (2017PIDNER, F. S. Geograficidade na paisagem-fotografia. Revista de Estudos Ibéricos: Iberografias, número 13, ano XIII p. 309-312, 2017. Available: https://pt.scribd.com/document/367244804/Iberografias-n%C2%BA13. Accessed in: May 05, 2021.
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, p. 310, grifo do autor), ao discutir a geograficidade na paisagem-fotografia, “O visível do detalhe revela o sujeito fotografado, que também é paisagem, mas igualmente remete ao invisível contexto espacial no qual aqueles sujeitos-corpos se inserem e com o qual experimentam suas práticas espaciais”. Paviot (2019PAVIOT, F. La Photographie humaniste est-elle une photographie sociale? In: Narthex: Art Sacré, Patromoine et Création. Publiéle 28 février 2019. Available: https://www.narthex.fr/blogs/la-photographie-un-oeil-pour-voir-le-monde/la-photographie-humaniste-est-elle-une-photographie-sociale. Accessed in: April 07, 2021.
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) ainda destaca alguns valores afetivos capturados a partir do olhar humanista do fotógrafo: ternura, otimismo, poesia, nostalgia, ingenuidade, humor, generosidade, a beleza escondida na realidade e a permanência por trás da mudança.

A fotografia humanista ocorreu no mesmo período do apogeu da fotografia documento, essa última diretamente ligada à imprensa informativa. Ao discorrer sobre estes dois momentos técnicos, ou melhor, sobre duas culturas em relação às suas mediasferas, quais sejam a grafosfera e a videosfera, Debray (1993) elenca uma série de qualidades da fotografia humanista frente ao que ele denomina de fotografia humanitária, como segue no Quadro 1.

As distinções apresentadas por Debray (1993) são reforçadas pelo fato de que a fotografia humanista fixou o seu olhar na esperança de um mundo melhor. Mesmo em uma época inserida em muitas dificuldades sociais, mantinha-se a figura humana em sua dignidade. Esse humano não era abandonado como um corpo sem história e separado do mundo. Capturava-se o humano inscrito em uma família, uma classe social, um lugar, um evento e, portanto, ele tinha uma identidade (Figura 2). Os fotógrafos humanistas foram considerados correspondentes da paz, conservaram grande respeito e empatia por seus semelhantes recusando o voyeurismo e o sensacionalismo, e tiveram uma visão otimista do ser humano (MAILLET; DENOYELLE; VERSAVEL, 2006MAILLET, L. M.; DENOYELLE, F.; VERSAVEL, D. La photographie humaniste, 1945-1968:autor d’Izis, Boubat, Brassaï, Doisneau, Ronis....France / Editions Bibilothèque National de France, vol. 1, 2006.).

Quadro 1
Algumas linhas de fraturas entre dois momentos culturais da fotografia.

Figura 2
Foto A: O barão William e seu lacaio, Paris, 1955. Foto B: Os gatos dos mendigos, Paris, 1950.

Se os fotógrafos humanistas tiveram a intenção de revelar a poética escondida no coração da realidade mais banal, demonstrando as maravilhas da vida cotidiana (MAILLET; DENOYELLE; VERSAVEL, 2006MAILLET, L. M.; DENOYELLE, F.; VERSAVEL, D. La photographie humaniste, 1945-1968:autor d’Izis, Boubat, Brassaï, Doisneau, Ronis....France / Editions Bibilothèque National de France, vol. 1, 2006.), torna-se

essencial neste ensaio capturar um sentido duplo, imagético e poético, dos festejos como forma sensível de vivenciar o Círio de Nazaré. Justamente porque o “realismo poético”, como é denominada a fotografia humanista, é considerado uma mistura entre o realismo social e a poesia do cotidiano. Nesse sentido, geograficidade e poesia amalgamam-se à fotografia humanista para dar “corpo e alma” à fotograficidade, maneira de captarmos a partir da fotografia, aquilo que Dardel (2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011., p. 30) expressa ao tratar da paisagem: “[...] um conjunto, uma convergência, um momento vivido, uma ligação interna, uma ‘impressão’, que une todos os elementos”.

Seguimos, então, ao encontro do “furo poético” do qual fala Debray, utilizando-se das lentes do fotogeógrafo.

A geograficidade e a conversão semiótica do imaginário poético em fotopoemas

Uma cidade ativa não é um espaço inerte, mas um espaço que se move, um espaço vivo (DARDEL, 2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011., p. 14).

A cidade ativa quer dizer que ela é humana em formas e graus diferentes. A cidade é idealizada por pessoas de acordo com suas intenções e motivações. Esta é uma questão crucial para entender-se a fotograficidade do Círio de Nazaré, em Belém do Pará. É durante o Círio que Belém pulsa em poesia e imagens vivas e ativas.

Nomeamos esse reencontro do olhar fotográfico com a criação poética por fotopoemas. Tal criação remete a antigas imagens de “santinhos”, popularizadas em folhetos de orações com a figura de um santo protetor. Mas também remete a imagens atualizadas, multiplicadas telas digitais, como uma espécie de infosfera (seguindo a perspectiva de Debray), na expansão das redes sociais. Cada fotopoema requer uma representação de fotograficidade capaz de registrar esse instantâneo da imagem no alargamento da reverência ali imaginada. O olhar fotográfico é dinamizador de geografias devocionais em formas poéticas, mesmo quanto a leitura é breve.

Um pulsar freneticamente humano, quebrando radicalmente a repetição dos dias comuns, em construção sinuosa e bricolagem performática. O que se compreende é o exercício duplo, de compressão e expansão, da fé coletiva e da festa, agora universal, sob o signo da patrimonialidade imaterial da humanidade conforme a declaração de salvaguarda da UNESCO em 2013. O que faz da pulsação humana uma projeção multiescalar (tão local quanto global) das representações da festa em liturgia das imagens. Observamos esse retorno performático da Santa e seu cortejo à Basílica (Figura 3).

Figura 3
Nossa Senhora de Nazaré em retorno performático à Basílica.

O que temos no alinhamento da multidão, berlinda em serpentinas e árvores no plano mais elevado? Um jogo de espaço e tempo indistintos, onde palcos são montados e imagens performáticas são neles cenas e cenários reproduzidos como festa. Espaço-tempo impulsionado e jogado a esferas mais sutis durante os festejos. O círio, em sua simplicidade e expressão litúrgica da vela pascal, no tempo comum eclesial e no espaço místico de uma histórica capital amazônica, encontra em Nazaré um Grande Círio Ritual.

No Círio, o mundo comum ordinário, ou mundo empírico das percepções sensíveis e o mundo imaginal (CORBIN, 1976CORBIN, H. Mundus Imaginalis or the Imaginary and the Imaginal. In: Ipswich: Golgonooza Press, 1976. Available: http://www.bahaistudies.net/asma/mundus_imaginalis.pdf. Accessed in: April 29, 2021. p. 1-13.
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), ou o mundo intermediário, de interseção, onde estão as figuras arquetípicas, os corpos sutis, se fundem. O alcance do imaginal não é pura ficção. Apesar de diretamente inacessível, é real no sentido de que é mantido pelas tradições em suas “utopias visionárias ou espirituais” (WUNENBURGER, 1979; 1985; 2002a; 2002b; 2003). O Círio é uma variação desses dois temas ou mundos utópicos interconectados, pois são motivos simbólicos alimentando-se da imaginação mítico-profética ou imagens religiosas do outro mundo.

Na fronteira do mundo material, onde se insere a atividade humana, e do mundo imaginário, abrindo seu simbolismo à liberdade de espírito, nós encontramos aqui a geografia interior, primitiva, onde a espacialidade original e a mobilidade profunda do homem desenham direções, traçam caminhos para um outro mundo (DARDEL, 2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011., p. 8).

Eis um importante teor fenomenológico da geograficidade de Dardel (2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011.): revelar os signos aparentes e ocultos da Terra, suas essências, afinal, para ele, o mundo é uma escritura a ser decifrada, procurando dar conta da continuidade ou releitura entre as coisas e da fusão do homem e da terra (RAFFESTIN, 1987RAFFESTIN, C.. Pourquoi n’avons-nous pás luÉric Dardel?In:ÉruditRevues. Cahiers de géographiedu Québec, volume 31, numéro 84, 1987, p. 333-523. Available: https://www.erudit.org/fr/revues/cgq/1987-v31-n84-cgq2656/021898ar/. Accessed in: April 08, 2021.
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; LÉVY, 1992LÉVY, B. L'empreinte et Le déchiffrement: géopoétique et géographie humaniste. In: Cahiers de géopoétique, 1992, vol. 1, p. 27-35. Available: https://archive-ouverte.unige.ch/unige:18037. Accessed in: April 08, 2021.
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). A geograficidade é uma atitude complementar entre ciência, observação pessoal e poética (HOLZER, 2016HOLZER, W. A geografia humanista: sua trajetória 1950-1990. Londrina: Eduel, 2016.), elementos que precisam andar de mãos dadas. Por isso, tanto o mundo concreto relacionado ao Círio quanto o mundo imaginal o qual lhe cede o combustível necessário, não estão distantes um do outro; entre eles há uma fronteira tênue e transponível alimentada pelas utopias visionárias ou espirituais (Figura 4).

Figura 4
Cenas performáticas alimentadas pelas utopias espirituais.

Raffestin (1987RAFFESTIN, C.. Pourquoi n’avons-nous pás luÉric Dardel?In:ÉruditRevues. Cahiers de géographiedu Québec, volume 31, numéro 84, 1987, p. 333-523. Available: https://www.erudit.org/fr/revues/cgq/1987-v31-n84-cgq2656/021898ar/. Accessed in: April 08, 2021.
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) percebe isso no pensamento de Dardel ao observar que não há uma ruptura ou descontinuidade entre o mito e o logos, entre o religioso e a lógica, porque Dardel, diz ele, persegue uma totalidade. Mais ainda, o espaço mítico não quer dizer uma confusão de lugares, pois está condicionado por uma hierarquia de valores a partir de um centro. Sendo a geograficidade também uma atitude poética, sua expressão literária dá o suporte necessário à fotograficidade. O que se renova pela proposição dos fotopoemas, que apresentamos adiante.

Em fotopoemas, a fotograficidade do Círio de João Loureiro

No livro Cultura amazônica: uma poética do imaginário (2015), João de Jesus Paes Loureiro aborda o que denomina de “imaginário poético estetizante” presente no sistema cultural amazônico.

João de Jesus Paes Loureiro. Poeta, prosador e ensaísta. Professor de Estética e Arte. Sua obra poética tem sua universalidade construída a partir de signos do mundo amazônico - cultura, história, imaginário - propiciando uma cosmovisão e particular leitura do mundo contemporâneo. Dialogando com as principais fontes e correntes literárias da atualidade, Paes Loureiro realiza uma obra original, quase uma suma poética de compreensão sensível do mundo por meio das fontes amazônicas, em que o mito se revela como metáfora do real.

Criativamente, diz ele, o homem da Amazônia navega numa espécie de sfumato, uma névoa que funde o real e o irreal desembocando numa realidade única. Nessa fusão, o poético vibra e envolve toda a atmosfera cultural amazônica. Loureiro (2015LOUREIRO, J. J. P. Cultura amazônica: uma poética da imaginação. 5ªed. Manaus: Valer Editora, 2015.) propõe, então, o conceito de conversão semiótica no sentido de um movimento de passagem “[...] pela qual as funções se reordenam e se exprimem em uma outra situação cultural. A conversão semiótica significa o quiasmo de mudanças de qualidade simbólica em uma relação cultural no momento em que ocorre uma transfiguração” (LOUREIRO, 2015LOUREIRO, J. J. P. Cultura amazônica: uma poética da imaginação. 5ªed. Manaus: Valer Editora, 2015., p. 61).

E nada mais interessante para apresentar essa conversão semiótica do imaginário estetizante do que seus poemas. Neles, o humano e o ambiente, vivos, estão em movimento, são captados pela máquina natural ocular do poeta e levados ao cérebro quando são processados e transformados em abstração intelectual. O poder imaginativo das poesias ilustra o imaginário estetizante do/no Círio. O poeta persegue a dimensão simbólica de uma cultura específica. Traz à tona e desencobre a névoa que perpassa as camadas de realidades construídas nos percursos encenados dos festejos. Sua linguagem simbólica é um trajeto entre o real e o incognoscível que também se faz real.

O intercâmbio entre poesia e fotograficidade - como um fotopoema- oferece-se em complemento e o sfumato proporciona a textura do Círio. Os espaços performáticos tornam-se plenos da potencialidade festiva da fé em ritos e registros da imaginação. O humano e o humanismo são metaforizados. O Círio de Loureiro é fenomenologicamente, ao mesmo tempo, existencial e natural. Ser humano e natureza se amalgamam produzindo os espaços e os territórios por onde ele é encenado.

Apesar de não ser geógrafo, embora possamos tratá-lo como tal a partir de sua geografia pessoal ou vernacular (MONNET, 1999; COLLIGNON, 2005COLLIGNON, B. Quesait-on des saviors géographiques vernaculaires? (What do we know about vernacular geographic knowledges). In: Bulletin de l'Association de géographesfrançais, 82e année, 2005-3 (septembre). La géographie économique au début du XXIe siècle: agglomération et dispersion/Géographie vernaculaire. pp. 321-331. https://doi.org/10.3406/bagf.2005.2467.
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; CLAVAL, 2010CLAVAL, P. Terras dos homens: a geografia. São Paulo: Contexto, 2010.), os poemas de Loureiro têm caráter geopoético, por lançar luz sobre o “diferencial de novidade” espacial por intermédio de uma geografia poética e existencial. De acordo com Lévy (1992LÉVY, B. L'empreinte et Le déchiffrement: géopoétique et géographie humaniste. In: Cahiers de géopoétique, 1992, vol. 1, p. 27-35. Available: https://archive-ouverte.unige.ch/unige:18037. Accessed in: April 08, 2021.
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,p. 29, tradução livre), “O que poderia ser mais normal para uma arte de expressão, a poesia, que deveria criar novas imagens, inflamar nossa imaginação e renovar nossa percepção, como que a deixar uma marca inédita?” Dá-se então continuidade à procura do “furo geopoético”, compondo a poesia do texto da poesia visual.

Passemos então à releitura da obra de João Loureiro, na sequência de sete composições em fotopoemas (Figuras 05 a 11), cientes de que a técnica projetiva de busca qualitativa desse regime fotográfico humanista tem muito a se expandir em outras frentes de catalogação e análise contemporânea da ciência geográfica.

A Figura 5 associa o poema “O Círio” a um foco de caminhantes, denso e caudaloso, como peixes na "correnteza de um rio com alma e devoção", um “cardume de canções” levados por “ondas submarinas”. Um rio devoto, incapaz de ser compreendido apenas pela representação dos milhões de visitantes na procissão. É sabido que outros Círios, no interior do Pará, antes e depois do outubro de Belém, atestam essa captura do corpo coletivo “navegado pela fé”. Contudo, a correnteza do registro local sintetiza essa primeira escala humanista. Não há festa do Círio de Nazaré sem conexão coletiva. A individuação é uma aparente exclusividade da Santa na berlinda; muito embora, isso só permaneça ao olhar desatento de quem vê/sente conjuntos sem observar os detalhamentos.

E na Figura 6 é perceptível o destaque, a figura angelical do carro/barco, centro dessa travessia coletiva na representação das crianças em sua pureza e idealidade divinal. Muitas vezes se elegem os pequeninos seres para, posicionados nesses altares móveis, ocultar e revelar a multidão de anjos - nas palavras do poeta, “nuvem de anjos passando...” - como se esses pequenos seres celestiais fossem uma representação perfeita de nossos olhares e desejos. Nas “asas de anjos pousando”, a Santa nos indica um acesso devocional alternativo. Como brincadeira e passeio, antes do próximo cortejo.

Figura 5
O Círio é uma multidão de ondas caminhantes. Um rio de devotos.

Figura 6
O pequeno anjo deixa seu carro e, suavemente, passeia absorto a brincar.

E o cortejo tem seu início como um jardim em suspensão. O fotopoema a seguir (Figura 7) retrata este momento de ingresso da Imagem Santa na berlinda. A “Senhora de Nazaré” é observada pelo carinho e apreensão dos devotos neste traslado de alto risco. Transição do fixo para o fluxo, “barca de flores” aguardando “Iara boiando em águas encantadas”, em uma passagem como vinda “coroada de sonhos”. Expressão que denota também o equilíbrio entre o sentimento de protegê-la e ode sentir-se protegido por ela. Por isso, a única proteção de fato é a certeza de sua mensagem infinita: só não hás de passar no meu coração. Partida e chegada se mesclam em um único ritual.

As avenidas decoradas por mangueiras formam o cenário especial do cortejo, como uma forma de representar a frutificação daquela folia santa. A Figura 8 demarca a chegada do carro dos milagres com suas levas de guardiões na linha de frente e sua diversidade de desejos lançados, como promessas por novos tempos: “cabeças destroncadas, destroços de poesias, cacos de esperança”. Tudo que a nave carrega representa simultaneamente os sonhos mais íntimos da vontade de vida individual e da superação coletiva frente às injustiças da vida.

Figura 7
Aqueles que te levam pelas ruas no azul levíssimo da alma.

Figura 8
O carro dos milagres é tripulado por sonhos entre mangueirais.

Nessa nave “há de haver, o cocar de um índio celebrado e um punhado de terras do colono que garantiu seu chão para viver?”. A dúvida é certificada pela identificação dos devotos com a força cabocla dos jovens que se adiantam, guiando e antecipando a nave santa.

A Figura 9 é a projeção externa no interior da cidade. Habitação de madeira e vidro, florida como a copa primaveril da floresta barroca de Belém que abriga inúmeros quereres. Diz o poeta, entre tantas vontades... “quisera ser esse raio de sol... quisera ser um hino a rebrotar... quisera ser os passos da paixão”. Todavia, para que o alcance do querer se dê, apenas a Graça, a graça medianeira da Santa, como “o tema da canção que passa por entre a melodia”. Não há relação direta, causal, mecânica na devoção.

Figura 9
A virgem na berlinda meio à multidão.

E quando se nega tal relação causal direta reafirma-se a possibilidade maior de intervenção divina, entrelaçada ao conjunto de laços identitários. As Figuras 10 e 11 demonstram, na imagem da Corda/Andor (de barras) e na concentração de devotos para Moto-romaria, um jogo de técnicas que enfatizam o aspecto colaborativo. Logo os fotopoemas podem também deslocar o centro humanista da observação: do sagrado tradicional para o profano diretamente referendado nas dimensões de novas sacralidades.

Figura 10
Mãos que rezam da Corda ao Andor.

Figura 11
Liturgia tecnológica seguindo Nossa Senhora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Voltemos a Dardel (2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011.) para desvelarmos essa poética, tanto imagética quanto literária, que acabamos de apresentar. Para o referido geógrafo, a ciência, em seu rigor, não perde em nada quando confia a sua mensagem, a sua narrativa, a um observador que sabe admirar e selecionar a imagem justa e luminosa. Poderia esse observador ser o fotógrafo? Mais que isso, poderia ser ele um fotogeógrafo interessado na potência da imagem em mostrar a diversidade de relações existentes entre as pessoas e o mundo?

Para Costa (2014COSTA, E. B. Paisagem-memória e função social da fotografia. In: STEINKE, Valdir Adilson et al (orgs.). Geografia e fotografia: apontamentos teóricos e metodológicos. Brasília: Laboratório de Geoiconografia e Multimídias - LAGIM, UnB, 2014, p. 79-106.), as fotografias e as imagens, de forma geral, não congelam um dado espaço-tempo. Ao contrário possibilitam reconhecermos o movimento ao mesmo tempo individual e coletivo da história e da geografia do mundo. Maneira de situarmos as imagens do passado, do presente e do futuro na profusão cada vez mais cibernética em que são criadas, para não esvaziarmos os seus conteúdos e sua potência interpretativa.

Até porque, conforme Bertrand (2014BERTRAND, G. Prefácio: olhares cruzados, imagens enquadradas. In: STEINKE, Valdir Adilson et al (orgs.). Geografia e fotografia: apontamentos teóricos e metodológicos. Brasília: Laboratório de Geoiconografia e Multimídias - LAGIM, UnB, 2014, p. 6-9.), ao associarmos Geografia e Fotografia, uma ciência e uma técnica, e ainda aliados à poesia que nos reapresenta o mundo ao recriá-lo, nos esforçamos em apreender nas profundezas da paisagem as coisas que estão por de trás da paisagem.

As fotografias junto das poesias, transmutadas em fotopoemas, portanto, ganham em cor, densidade, espessura e profundidade. Afinal, tratamos aqui de linguagens, maneiras de comunicar eventos e eventualidades. Linguagens que, ao se tornarem mais diretas, ao se aproximarem da arte, falam “sem dificuldade à imaginação” (DARDEL, 2011DARDEL, E. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011., p. 3).

Fotograficidade, nesse contexto, é a geografia em ato, geografia aberta ao dito (o sentimento-palavra), daquele que com uma câmera fotográfica na mão busca revelar a condição humana no contexto de sua abertura e intencionalidade poética. Fotograficidade de fotopoéticas em fotopoemas. Tudo presente no instante, no aqui e no agora, expressando o passado e o futuro a partir do presente, que lembra, anseia e realiza. Porque o presente é o único momento em que o homem vivência a realidade (BACHELARD, 2007BACHELARD, G. A intuição do instante. Trad. Antonio de Pádua Danesi. Campinas, SP: Verus Editora, 2007.). Geograficidade do mundo em um instante poético de enquadramento.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    12 Jun 2021
  • Aceito
    08 Jul 2021
  • Publicado
    13 Ago 2021
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