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Environment: an interdisciplinary anthology

RESENHA

Professor Dr. do Programa de Mestrado em Semiótica, Tecnologias da Informação e Educação da Universidade Braz Cubas, da FEA/PUCSP, do Pós da FAAP e das Faculdades Integradas Campos Salles Mogi das Cruzes/SP- Brasil mauro.laruccia@gmail.com

Esta coletânea de textos sobre o meio ambiente se destaca das demais em virtude de seu forte compromisso com a diversidade de fontes de conhecimento. Para começar, os próprios editores representam os campos da biologia, ambiente, estudos cognitivos, literatura e consultoria ambiental. As seleções são habilmente extraídas de uma vasta gama de disciplinas das ciências, ciências sociais, humanidades e artes. Não se trata apenas de ecologia, história, política, filosofia, espiritualidade, economia, poesia, é muito mais. Transmite-se, assim, a mensagem sobre os estudos ambientais, numa abordagem holística ou híbrida para o conhecimento, mas fundamentada em amplo esforço criativo humano: como a saúde do planeta é (ou deveria ser) não só a preocupação de todos, mas algo para que todas as disciplinas podem contribuir com suas formas igualmente importantes de compreensão e, talvez, também despertando um pensamento ambiental que é tanto experiencial como bem informado e que, um dia, pode vir a ser ponto de encontro de um amplo corte transversal da humanidade.

O livro contém uma variedade de leituras clássicas e contemporâneas. A seleção vai desde a Bíblia, Lucrécio, São Francisco de Assis, Matsuo Bashô, Wordsworth, Malthus, Goethe, Emerson, Thoreau, Seattle, Rachel Carson, Martin Buber, até Seamus Heaney, de Pablo Neruda, Richard Lewontin, Carolyn Merchant, William Cronon, Vandana Shiva, Annie Dillard, e Jared Diamond. Os textos versam sobre meio ambiente do Oriente e do Ocidente, decisões da Suprema Corte dos EUA, discussões sobre questões políticas e econômicas na África e na arena internacional, casos de emissões tóxicas dos EUA e da Ucrânia, crise de extinção de espécies em Guam, e destruição do ozônio no hemisfério sul, só para dar uma ideia da riqueza da cobertura que o livro oferece. Seu conteúdo distribui-se em duas partes principais: 'Conceitos e Estudos de Caso' (350 páginas) e 'Disciplinas Fundamentais e Tópicos', contidas em 538 páginas. A primeira parte inclui alterações climáticas, desmatamento, desenvolvimento sustentável, modificação genética, segurança ambiental, ambientes urbanos, entre outros. A segunda parte abrange textos desde solo, biodiversidade e agricultura e energia, até direito, filosofia e antropologia. Como estímulo, os editores incentivam os leitores a misturar e relacionar os textos, e fornecem uma lista cruzada, um índice alternativo de conteúdo. O texto é formatado em uma coluna em vez de colunas duplas (como em diversas coletâneas), o que facilita a leitura.

Para começar, nesta seção os editores afirmam que o "principal obstáculo" para o pensamento ético sobre o meio ambiente tem sido a "falta de reciprocidade". O que eles querem dizer é que, uma vez que nem a natureza como um todo, nem os animais podem ter deveres para com os seres humanos, há um problema com a ética neste domínio, uma via de sentido único e que sacrifica algo que é essencial. Isso pode ser um quebra-cabeça importante que precisa de solução quando estendemos a ética para além dos seres humanos, e como alcançá-la é a questão central da ética ambiental, problema que vem despertando muita discussão nas últimas décadas. A ênfase colocada nesta primeira parte, nos oferece uma visão redutora contratualista. O segundo bloco aborda noções de certo e errado em relação ao meio ambiente, como a ética, ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade. Além disso, há uma tentativa de encaixar a ética com uma "ética da terra" de Aldo Leopold, mas os editores admitem que a discussão não ajuda a desvendar como atribuir direitos aos animais, como faz John Muir em Ruminations on the proposed flooding of California's Hetch Hetchy Valley, para criar um reservatório para a cidade de São Francisco. Importante, ainda, é observar que, embora os editores admitam que o foco sobre o certo e o errado "é apenas uma forma de criar uma ética ambiental", contribui para que as teorias negligenciem o valor na natureza, que é parte vital da filosofia ambiental atual. Finalmente, enquanto desenvolvemos um pensamento holístico sobre os recursos naturais, declarações como as seguintes não são particularmente esclarecedoras ou úteis: "porque o ambiente está em toda parte e em tudo, envolve todas as categorias do pensamento humano".

Entre as "joias" da coleção que eram novas para mim, veja uma amostra: Richard Levins, Science and progress: seven developmentalist myths in agriculture (1986); Patricia Nelson Limerick, Disorientation and reorientation: the American landscape discovered from the west (in: Somethingin the Soil: Legacies and Reckonings in the New West, 2000); Richard N. L. Andrews, Managing the Environment, Managing Ourselves: A History of American Environmental Policy (1999); Herman Daly, Beyond Growth: The Economics of Sustainable Development (1996); Paul Hawken, Amory Lovins and L. Hunter Lovins, Natural Capitalism: Creating the Next Industrial Revolution (1999); e Scott Russell Sanders, Buckeye (in: Writing from the Center, 1995). Todos esses textos fazem o leitor repensar os pressupostos consagrados de forma radical. E, com a crise econômica mundial, seria um grande momento para a revisão da produtividade ao longo das linhas definidas por Daly e Hawken, Lovins e Lovins, já que precisamos repensar os valores fundamentais da sociedade e nos adaptarmos para as limitações do planeta de qualquer maneira. Como Daly salienta, a economia mundial é "um subsistema do ambiente", em que crescimento é um conceito quantitativo e desenvolvimento é qualitativo. Assim, as nações industrializadas devem "reservar para as populações do hemisfério sul o restante do espaço ecológico necessário para o crescimento, para satisfazer as suas necessidades vitais" e prosseguir com a tarefa de criar um caminho sustentável para melhorar sua própria qualidade de vida, em vez de permanecer eternos escravos do "crescimento", que o planeta já não pode suportar. Hawken, Lovins e Lovins têm um forte argumento para um futuro norteado pelo biomimetismo, ou seja: minimizar o impacto e as formas de economia de recursos de design e invenção inspirando-se em padrões e comportamentos da natureza. O biomimetismo leva a estudar as estruturas biológicas e suas funções, procurar aprender com a Natureza (e não sobre ela) e utilizar esse conhecimento em diferentes domínios da ciência.

Em suma, esta é uma coletânea atraente e desejável para estudantes, professores e pesquisadores dos estudos ambientais. Nela se ressalta o papel da imaginação e da construção cultural na forma como lidamos com a natureza e inclui clássicos da área, bem como perspectivas incomuns. O livro aborda questões urbanas, a guerra e o meio ambiente, meio ambiente e dieta, agricultura e meio ambiente, ideias sobre novas fontes de energia, e muitos outros temas de interesse. Traz um índice excelente e uma lista muito útil de sites correspondentes a todas as seções do livro. Algumas seções são melhores que outras, sendo conceitualmente mais ricas e/ou integradas. Isso é de se esperar. A representação de autoras é pequena, o que é lamentável. Além disso, alguns trechos têm dados e informações estatísticas desatualizadas (por ex.: Hans Blix, Nuclear power and the environment, 1989; Thomas K. Rudel e Bruce Horowitz, Tropical Deforestation: Small Farmers and Land Clearing in the Ecuadorian Amazon, 1993; e Barry Commoner, The Closing Circle: Nature, Man, and Technology, 1971); mas em pelo menos um caso (World Commission on Environment and Development, The urban challenge, in Our Common Future, 1987), os números foram atualizados. Apesar de algumas falhas, no entanto, Environment: An Interdisciplinary Anthology é, sem dúvida, uma boa coleção disponível para ajudar na sustentabilidade do planeta.

Resenha recebida para publicação em 31/01/2011 e aceito para publicação em 07/03/2011

  • Adelson, G.; Engell, J.; Ranalli, B.; Van Anglen, K. P. (Ed.) Environment: An Interdisciplinary Anthology. New Haven and London: Yale University Press, 2008. 978p.

    Mauro Maia Laruccia
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jul 2011
    • Data do Fascículo
      2011
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