Resumo
Neste livro baseado nas aulas que Pierre Bourdieu dedicou à “revolução simbólica” encarnada pelo pintor Édouard Manet (1832-1883), o sociólogo francês realiza uma desmistificação sociocientífica inversa àquela comumente apontada em seus trabalhos: em vez de revelar a reprodução de estruturas profundas que subjaz a aparentes mudanças, Bourdieu aponta como radicais transformações estruturais e simbólicas desembocaram em práticas artísticas que um olhar contemporâneo, na medida em que foi moldado pelo sucesso mesmo de tais transformações, percebe como naturais e autoevidentes. Tal desmistificação envolve uma reconstrução detalhada do status quo ante, a arte acadêmica “pompier” no seio da qual Manet se formou, mas contra a qual ele se insurgiu em obras subversivas que contribuíram decisivamente para que o microcosmo social da pintura passasse historicamente de um corpo monopolizado pelo estado a um campo autônomo. No contraste entre “antes” e “depois” da revolução manetiana, Bourdieu elucida os vínculos entre estruturas institucionais externas, de um lado, e as propriedades de conteúdo e forma internas às próprias obras, de outro. Finalmente, contra quaisquer recaídas no mito do “criador incriado”, o autor não apenas aponta a convergência de fatores objetivos (morfológicos, técnicos, mercadológicos etc.) que concorreram para o sucesso das iniciativas de Manet, mas também as disposições socialmente adquiridas que o pintor mobilizou em sua empreitada revolucionária.
Palavras-chave:
Pierre Bourdieu; Édouard Manet; mudança social; revolução simbólica; arte