Resumo
Homo Modernus: para uma ideia global da raça é o epicentro da contraontologia da modernidade de Denise Ferreira da Silva. Mediante uma escavação foucaultiana da episteme moderna, a autora mostra que a violência racial, tal como intuída por Fanon, é fundamental na produção do sujeito. A tese da transparência de Hegel institui o homem como autoconsciência autodeterminada pela sua interioridade desdobrada no tempo. Em contraposição, os subalternos raciais são produzidos como coisas afetáveis determinadas pela exterioridade espacial. A analítica da racialidade, que surge na versão científica da razão com as ciências da vida, do homem e da sociedade, fixa a fronteira continental e epocal entre transparência e afetabilidade, recombinando os significantes nação, raça e cultura. Após essa descrição ontoepistêmica, a sociologia das relações raciais é submetida a crítica, mostrando que a “lógica da exclusão” reproduz e desconsidera a “lógica da obliteração”, que presume a aniquilação da afetabilidade. Finalmente, articula as narrativas nacionais de Estados Unidos e Brasil na configuração global contemporânea instaurada pela analítica da racialidade. O sujeito nacional brasileiro é o mestiço, um europeu com fragmentos africanos, cujo acesso à transparência está condicionado ao apagamento da afetabilidade não branca. O livro, escrito há mais de vinte anos, mas só agora traduzido ao português,já é um clássico do pensamento negro radical, colocando ressalvas pertinentes no pensamento pós-moderno e pós-colonial. Relacionando esta obra com intervenções mais recentes da autora, concluímos reflexionando sobre as possibilidades críticas e de emancipação que propõe.
Palavras-chave:
modernidade; colonialismo; violência racial; sociologia das relações raciais; pensamento social brasileiro