Resumo
Este artigo propõe uma reflexão teórica sobre a viabilidade de integrar as abordagens de E.P. Thompson e da perspectiva decolonial nos estudos sobre mulheres rurais. Embora ambas as abordagens sejam amplamente discutidas nas ciências humanas e sociais, sua articulação para investigar especificamente as experiências das mulheres rurais ainda é incomum. Este exercício analítico baseia-se nas obras de Thompson, assim como nos intelectuais decoloniais Catherine Walsh, Edgardo Lander, Walter Mignolo, Aníbal Quijano e nas feministas decoloniais Rita Segato, Ochy Curiel e Yuderkys Espinosa Miñoso, que exploram a decolonialidade sob a perspectiva das mulheres latino-americanas. Argumenta-se que a “história vista de baixo”, especialmente pelos conceitos de “lógica histórica” e “experiência” de Thompson, pode ser articulada com a construção de conhecimento “de baixo para cima”, defendida pela teoria decolonial. Através de noções como “decolonialidade”, “desobediência epistêmica” e “interculturalidade”, a teoria decolonial oferece um aparato conceitual que complementa a visão histórica de Thompson. Essa articulação favorece a compreensão das complexas interações entre sexo, raça/etnia, classe e colonialismo nas vivências das mulheres rurais em contextos coloniais e pós-coloniais, posicionando-as como produtoras de conhecimento e não meros objetos de estudo.
Palavras-chave:
decolonialidade; desobediência epistêmica; experiência; feminismo; mulheres rurais