RESUMO
Ceratocystis fimbriata é um dos mais importantes patógenos de plantas lenhosas em todo o mundo. O manejo da murcha-de-Ceratocystis utilizando genótipos resistentes em rotação de cultura pode ser uma alternativa no controle da doença. O objetivo deste trabalho foi verificar a reação de espécies florestais nativas do Cerrado e Pantanal à murcha-de-Ceratocystis. Para isso foram realizadas inoculações de C. fimbriata em 7 espécies florestais nativas do Cerrado e Pantanal. Após 45 dias foi avaliada a severidade da doença. A espécie Peltophorum dubium foi a que apresentou o menor comprimento de lesão. As espécies com maior severidade foram Cedrela fissilis e Magonia pubescens com 9,2% e 7,2%, respectivamente.
Palavras-chave
Cedrela fissilis; Ceratocystis fimbriata; Magonia pubescens; Peltophorum dubium
ABSTRACT
Ceratocystis fimbriata is one of the most important pathogens affecting woody plants worldwide. Management of Ceratocystis wilt using resistant genotypes in crop rotation can be an alternative to control this disease. The aim of the present study was to verify the reaction of forest species native to Cerrado and Pantanal to Ceratocystis wilt. Thus, inoculations of C. fimbriata were performed in 7 forest species native to Cerrado and Pantanal. After 45 days, disease severity was evaluated. Peltophorum dubium was the species that presented the smallest lesion length. Cedrela fissilis and Magonia pubescens had the greatest severity rates, 9.2% and 7.2%, respectively.
Keywords
Cedrela fissilis; Ceratocystis fimbriata; Magonia pubescens; Peltophorum dubium
O fungo Ceratocystis fimbriata Ellis & Halst é um patógeno polífago de ampla distribuição geográfica e seus hospedeiros já somam mais de 30 espécies de plantas representando 14 famílias botânicas de importantes culturas de interesse econômico (2). O patógeno causa murcha e infecta os vasos do xilema, floema e feloderme promovendo descoloração radial e longitudinal (3, 7). As medidas de controle para a murcha-de-Ceratocystis são pouco eficazes e, dentre as alternativas de controle, o uso de genótipos resistentes é a opção de manejo mais efetiva (5, 8). Existem espécies florestais nativas dos biomas Cerrado e Pantanal com potencial silvicultural ou ecológico que podem ser alternativas para serem cultivadas em áreas contaminadas com C. fimbriata. Desta forma o objetivo deste trabalho foi verificar a reação de espécies florestais nativas do Cerrado e Pantanal à murcha-de-Ceratocystis.
O isolado de C. fimbriata utilizado neste experimento foi obtido de uma árvore com sintomas de murcha de um pomar de mangueira. O isolamento foi realizado pelo método de isca de cenoura (1). Após a obtenção de culturas puras em meio de cultura CA (cenoura-ágar + sulfato de estreptomicina 300 ppm), o isolado foi preservado pelo método de Castellani e em glicerol 15% a -80°C.
Para produção das mudas foram coletadas sementes em um fragmento de mata nativa em Aquidauana - MS. Foram avaliadas as seguintes espécies: Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong, Peltophorum dubium (Spreng.) Taub., Jacaranda cuspidifolia Mart., Magonia pubescens A. St.-Hill., Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith, Anadenanthera peregrina (L) Speg. e Cedrela fissilis Vell. Após a coleta, as sementes foram previamente desinfestadas em hipoclorito de sódio a 1% por 1 min. seguido de três enxagues em água destilada autoclavada e semeadas em sacolas de polietileno de 2 L preenchidos com substrato comercial Carolina Soil®. As plantas foram mantidas em casa de vegetação (50% de luminosidade) com irrigação diária até o momento da inoculação com aproximadamente 10 meses de idade.
Para a inoculação das plantas, foi utilizado o método de suspensão de esporos. A suspensão foi preparada utilizando água destilada autoclavada e Tween 20® a 0,01% e calibrada para 1x106 esporos por mL-1. A inoculação foi realizada conforme Oliveira et al. (6), utilizando 5 plantas de cada uma das espécies dispostas em um delineamento inteiramente casualizado. Como controle foi utilizado apenas água destilada autoclavada no ferimento no mesmo número de plantas. A avaliação foi realizada 45 dias após a inoculação, medindo-se a altura total da planta e o comprimento da lesão acima e abaixo do ponto de inoculação. A severidade da doença foi calculada com a equação proposta por Oliveira et al. (6):
em que: S: severidade, CL: comprimento total da lesão e HP: altura da planta.
Os dados de severidade, comprimento da lesão acima e abaixo do ponto de inoculação e comprimento total da lesão foram submetidos ao teste de Kruskal-Wallis a 5% de probabilidade e as médias foram comparadas pelo teste SNK. As análises foram realizadas utilizando o software SAS 9.1 (SAS Institute Inc. Cary, NC, USA).
Houve diferenças estatísticas significativas entre as espécies avaliadas (Tabela 1). Todas as plantas foram submetidas à avaliação destrutiva para verificar se o sistema vascular estava colonizado pelo patógeno (Figura 1 A-G). O fungo foi re-isolado das plantas inoculadas após a avaliação. Não foram observados sintomas de murcha ou descoloração do lenho para as plantas controle. As espécies que apresentaram maior severidade foram C. fissilis e M. pubescens com 9,2% e 7,2%, respectivamente. Já P. dubium se mostrou mais resistente ao isolado de C. fimbriata, com 0,7% de severidade (Figura 1 H). A baixa severidade pode ser em parte devido à falta de especificidade do isolado com as espécies analisadas e/ou menor agressividade do isolado. No Brasil, os isolados de C. fimbriata podem variar em agressividade aos hospedeiros cultivados e isolados de um determinado hospedeiro se mostrarem mais agressivos a esse hospedeiro (4). Estudos recentes constataram que isolados obtidos de mangueira, de diferentes regiões, apresentam diferentes níveis de agressividade em manga cv. Ubá. Neste estudo, a severidade para E. contortisiliquum foi menor quando comparada com M. pubescens, no entanto, o comprimento total da lesão foi inverso.
Espécies florestais nativas inoculadas com Ceratocystis fimbriata a) Cedrela. fissilis. b) Enterolobium contortisiliquum. c) Magonia pubescens. d) Anadenanthera peregrina. e) Jacaranda cuspidifolia. f) Tabebuia roseoalba. g) Peltophorum dubium. h) Porcentagem de severidade. i) Comprimento da lesão. j) Comprimento da lesão acima do ponto de inoculação. k) Comprimento da lesão abaixo do ponto de inoculação. Seta indica o ponto de inoculação. *Médias seguidas por mesmas letras não diferem estatisticamente pelo teste de SNK.
Valores do teste de Kruskal-Wallis para as variáveis severidade, comprimento total da lesão, comprimento da lesão acima do ponto de inoculação e comprimento da lesão abaixo do ponto de inoculação
As mesmas espécies que apresentaram maior severidade, também exibiram maior comprimento de lesão, e não diferiram estatisticamente entre si, sendo elas C. fissilis, E. contortisiliquum, M. pubescens e A. peregrina com comprimento total da lesão variando entre 4,5 e 1,5 cm. As demais espécies apresentaram o comprimento total da lesão inferior a 1 cm (Figura 4 b). Mesmo não apresentando diferença estatística e possuindo comprimento de lesão de 3,7, E. contortisiliquum mostrou severidade inferior (3,2%) a M. pubescens, que teve a segunda maior porcentagem de severidade (7,9%). O fungo foi capaz de crescer nos dois sentidos a partir do ponto de inoculação (Figura 4 c-d), no entanto foi possível verificar um crescimento mais acelerado no sentido ascendente, o que é esperado para C. fimbriata devido sua colonização nos vasos do xilema.
Uma maneira eficaz de reduzir a população de patógenos transmitidos pelo solo é interromper o ciclo patógeno-hospedeiro por meio da rotação de culturas com plantas resistentes ou não-hospedeiras. Nesse sentido, foi possível verificar neste estudo espécies com potencial para serem introduzidas em áreas infestadas com C. fimbriata como uma forma de manejar a doença, visto que patógenos que produzem estruturas de sobrevivência levam longos períodos para serem controlados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- 1 Alfenas, A.C.; Zauza, E.A.V.; Mafia, R.G.; Assis, T.F.A. Clonagem e Doenças do Eucalipto. 2. ed. Viçosa: Editora UFV, 2009. 500p.
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» https://nt.ars-grin.gov/fungaldatabases - 3 Ferreira, F.A.; Maffia, L.A.; Barreto, R.W.; Demuner, N.L.; Pigatto, S. Sintomatologia da murcha de Ceratocystis fimbriata em eucalipto. Revista Árvore, v.30, n.2, p.155–162, 2006.
- 4 Harrington, T. C.; Thorpe, D. J.; Alfenas, A. C. Genetic variation and variation in aggressiveness to native and exotic hosts among brazilian populations of Ceratocystis fimbriata Phytopathology, St. Paul, v. 101, n. 5, p. 555-566, 2011.
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- 6 Oliveira, L.S.S.; Pimenta, L.V.A.; Guimarães, L.M.S.; Souza, P.V.D.; Bhering, L.L.; Alfenas A.C. Resistance of kiwifruit cultivars to ceratocystis wilt: an approach considering the genetic diversity and variation in aggressiveness of the pathogen. Plant Pathology, London, v.70, n.2, p.349–357, 2021.
- 7 Silva, A.C.; Betancourth, B.M.L.; Ferreira, D.C.; Elerati, T.L.; Rodrigues, F.; Alfenas, A.C. Responses of resistant and susceptible hybrid clones of Eucalyptus urophylla × Eucalyptus grandis to infection by Ceratocystis fimbriata Annals of Forest Science, Paris, v.77, n.2, p.1–19, 2020.
- 8 Zauza, E.A.V.; Alfenas, A.C.; Harrington, T.C.; Mizubuti, E.S.G.; Silva, J.F.; Resistance of Eucalyptus Clones to Ceratocystis fimbriata Plant Disease, St. Paul, v.88, n.7, p.758–860, 2004.
Editado por
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EDITOR CIENTÍFICO:
Edson Luiz Furtado https://orcid.org/0000-0002-6924-835X
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EDITOR ASSOCIADO:
Rita de Cássia Panizzi https://0000-0002-0289-6563
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
19 Set 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
12 Set 2023 -
Aceito
28 Maio 2025


