Acessibilidade / Reportar erro

Ação in vitro de fontes de silício sobre isolados de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens

In vitro action of silicon sources on isolates of Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar a ação in vitro do silicato de potássio e de alumínio, em várias concentrações (0,0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0 e 10,0 %), sobre dez isolados de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens (Cff). O fungicida tolylfluanid foi utilizado como testemunha positiva. Os discos de papel embebidos nos produtos, em diferentes concentrações, foram colocados no centro de cada placa de Petri após a solidificação do meio de cultura (NSA) contendo a bactéria e as aferições dos halos de inibição foram realizadas após 48 h de incubação. Verificou-se que o silicato de potássio (Supa Sílica®) não afetou o crescimento de Cff, enquanto que o silicato de alumínio (Rocksil®) teve ação inibitória aos isolados avaliados.

Palavras-chave
murcha-de-curtobacterium; silicato de potássio; silicato de alumínio

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate the in vitro action of potassium and aluminum silicate, at various concentrations (0.0, 0.5, 1.0, 1.5, 2.0, 2.5, 3.0 and 10.0 %), on isolates of Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens (Cff). The fungicide tolylfluanid was used as a positive control. Paper discs embedded with the test compounds at different concentrations were placed in the center of each Petri dish after solidification of the culture medium (NSA) containing the bacterium, and the measurements of inhibition halos were performed after 48 h incubation. Potassium silicate (Supa Sílica®) did not affect the growth of Cff, while the aluminum silicate (Rocksil®) had an inhibitory action on the evaluated isolates.

Keywords
bacterial wilt; potassium silicate; aluminum silicate

A murcha-de-curtobacterium foi reportada causando sérios danos em diversas regiões produtoras de feijão no Brasil. Recentemente foi constatado por Theodoro et al. (2828 Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C.; Chumpati, A.A.; Correia, H.C.; Theodoro, J.V. C.; Nogueira, R.J. First report of bacteril wilt of common bean, caused by Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens, in Mato Grosso do Sul, Brazil. Journal of Plant Pathology, Bari, v.92, p.110-110, 2010.) a primeira ocorrência da doença no Estado de Mato Grosso do Sul, em lavoura comercial no município de Chapadão do Sul, durante a safra 2009/10. Esta doença é causada pela bactéria Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens (Cff) e causa os sintomas de escurecimento vascular, murcha, amarelecimento de folhas, subdesenvolvimento e morte das plantas (2626 Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C. Murcha-de-Curtobacterium. In: Pria, M.D.; Silva, O.C. (Org.). Cultura do feijão: doenças e controle. Ponta Grossa: UEPG, 2010. p.23-29.); em decorrência do patógeno colonizar os vasos do xilema e obstruir a passagem de seiva (1616 Maringoni, A.C.; Ishiszuka, M.S.; Silva, A.P.; Soman, J.M.; Moura, M.F.; Santos, R.L.; Silva Júnior, T.A.F.; Chiorato, A.F.; Carbonell, S.A.M.; Fonseca Júnior, N.S. Reaction and colonization of common bean genotypes by Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens. Crop Breeding and Applied Biotechnology, Viçosa, v.15, n.2, p.87-93, 2015.). Após a morte da planta a bactéria pode permanecer nos restos de cultura, quando mantidos na superfície do solo, tornando-se uma importante fonte de inóculo (2222 Silva Júnior, T.A.F; Negrão, D.R.; Itako, A.T.; Soman, J.M.; Maringoni, A.C. Survival of Curtubacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens in soil and bean crops debris. Journal of Plant Pathology, Pisa, v.94, n.2, p.331-337, 2012.). Outros meios de sobrevivência são em hospedeiros alternativos, como em outras leguminosas, por exemplo, em feijão-caupi e soja (1919 Osdaghi, E.; Sardrood, B.P.; Bavi, M.; Oghaz, N.A.; Kimiaei, S.; Hadian, S. First report of Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens causing cowpea bacterial wilt in Iran. Journal of Phytopathology, Berlin, v.163, p.653-656, 2015., 2323 Soares, R.M.; Fantinato, G.G.P.; Darben, L.M.; Marcelino-Guimarães, F.C.; Seixas, C.D.S.; Carneiro, G.E.S. First report of Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens on soybean in Brazil. Tropical Plant Pathology, Brasília, v.38, n.5, p.452-454, 2013.) e na própria semente (1515 Maringoni, A.C.; Camara, R.C. Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens detection in bean seeds using a semi-selective culture medium. Brazilian Journal of Microbiology, São Paulo, v.37, n.4, p.451-455, 2006.), tornando-se além de fonte de inóculo, principal meio de disseminação do patógeno (1010 Herbes, D.H.; Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C.; Dal Piva, C.A.; Abreu, L. Detecção de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens em sementes de feijoeiro produzidas em Santa Catarina. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.33, n.2, p.153-156, 2008.).

O manejo da doença se baseia, fundamentalmente, em medidas preventivas, como na rotação de cultura, incorporação de restos culturas, uso de cultivares resistentes e de sementes sadias (2929 Valentini, G.; Guidolin, A.F.; Baldissera, J.N.C.; Coimbra, J.L.M. Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens: etiologia, detecção e medidas de controle. Revista Biotemas, Florianópolis, v.23, n.4, p.1-8, 2010.). A dificuldade dos produtores em encontrar cultivares de feijoeiro resistente ao patógeno para uma determinada região e até mesmo na aquisição de sementes certificadas livres do patógeno tem despertado o interesse de pesquisadores em buscar novas alternativas de controle para a doença. A erradicação da Cff em sementes de feijoeiro utilizando a termoterapia foi relatado por Estafani et al. (77 Estefani, R.C.C.; Miranda Filho, R.J.; Uesugui, C.H. Tratamento térmico e químico de sementes de feijoeiro: eficiência na erradicação de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens e efeitos na qualidade fisiológica das sementes. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.32, n.5, p.434-438, 2007.) como uma técnica promissora, porém, apresentando inconvenientes de não ser simples quando realizado em um grande volume de sementes. Os autores ainda relatam que a erradicação utilizando o produto químico Agrimaicin não foi efetiva em sementes inoculadas, provavelmente pela alta concentração da bactéria. Já em experimento realizado por Metha et al. (1818 Metha, Y.R.; Alves, P.F.R.; Zandoná, C. Erradicação de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens transmitida por sementes de feijoeiro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 31, p. 15, 2005. Suplemento.), o uso do fungicida tolylfluanid, na concentração de 4.508 µg.mL-1, demonstrou alta eficiência na erradicação da bactéria em sementes de feijoeiro naturalmente infectadas, apresentando ação bactericida contra Cff. Apesar da comprovação de sua eficiência o fungicida tolylfluanid não é registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do feijoeiro.

A nutrição mineral utilizada de forma equilibrada, juntamente com outros métodos de controle, pode contribuir para o controle de doenças em diversas culturas (88 Fancelli, A.L. Micronutrientes e sua influência na ocorrência de pragas e doenças. In: Pria, M.D.; Silva, O.C. (Org.). Cultura do feijão: doenças e controle. Ponta Grossa: UEPG, 2010. p.149-168., 1313 Lima, L.M.; Pozza, E.A.; Torres, H.N.; Pozza, A.A.A.; Salgado, M.; Pfenning, L.H. Relação nitrogênio/potássio com mancha de Phoma e nutrição de mudas de cafeeiro em solução nutritiva. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.35, n.4, p.223-228, 2010.). O silício (Si) tem sido bastante estudado e apesar de não ser um nutriente essencial às plantas, têm trazido benefícios a várias espécies (2020 Pozza, E.A.; Pozza, A.A.A.; Botelho, D.M.S. Silicon in plant disease control. Revista Ceres, Viçosa, v.62, n.3, p.323-331, 2015.). Entre estes, o Si parece ativar mecanismos de defesa em resposta ao ataque de patógenos nas plantas, como o aumento na síntese de compostos fenólicos e das enzimas peroxidase, polifenoloxidase e quitinase (2525 Tatagiba, S.D.; Rodrigues, F.A.; Filippi, M.C.; Silva, G.B.; Silva, L.C. Physiological responses of rice plants supplied with silicon to Monographella albescens infection. Journal of Phytopathology, Berlin, v.162, n.9, p.586-606, 2014.); além de induzir o fortalecimento da parece celular, com o aumento do teor de lignina, dificultando a penetração de patógenos na planta hospedeira (1212 Lima, L.M.; Pozza, E.A.; Pozza, A.A.A.; Fonseca, T.A.P.S.; Carvalho, J.G. Quantificação da ferrugem asiática e aspectos nutricionais de soja suprida com silício em solução nutritiva. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.36, n.1, p.51-56, 2010., 2121 Schurt, D.A.; Rodrigues, F.A.; Colodette, J.L.; Carré-Missio, V. Efeito do silício nas concentrações de lignina e de açúcares em bainhas de folhas de arroz infectadas por Rhizoctonia solani. Bragantia, Campinas, v.72, n.4, p.360-366, 2013.), contribuindo na redução de componentes epidemiológicos como o índice de esporulação, número total de pústula e severidade da doença (55 Carré-Missio, V.; Rodrigues, F.A.; Schurt, D.A.; Rezende, D.C.; Moreira, W.R; Korndörfer, D.H.; Zambolim, L. Componentes epidemiológicos da ferrugem do cafeeiro afetadas pela aplicação foliar de silicato de potássio. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.37, n.1, p.50-56, 2012.).

Resultados promissores também foram relatados com doenças bacterianas em algumas espécies vegetais. Dannon & Wydra (66 Dannon, E.A.; Wydra, K. Interaction between silicon amendment, bacterial wilt development and phenotype of Ralstonia solanacearum in tomato genotypes. Physiological and Molecular Plant Pathology, London, v.64, n.5, p.233-243, 2004.) observaram redução na incidência de Ralstonia solanacearum em plantas de tomateiro crescidas em solução nutritiva contendo Si. Outro efeito positivo foi observado em plantas de citros onde o fornecimento metassilicato de sódio, via solo, reduziu os sintomas da clorose variegada do citros (CVC), causado pela Xylella fastidiosa subsp. pauca (1717 Martinati, J.C.; Lacava, P.T.; Miyasawa, S.K.S.; Guzzo, S.D.; Azevedo, J.L.; Tsai, S.M. Redução dos sintomas causados pela Xylella fastidiosa subsp. pauca por meio de aplicação de benzotiadiazole e silício. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.42, n.8, p.1083-1089, 2007.). Em plantas de meloeiro amarelo, o silício reduziu significativamente o índice de doença, causada por Acidovorax avenae subsp. citrulli (99 Ferreira, H.A. Silício no controle da mancha-aquosa em meloeiro (Cucumis melo L.). 2009. 82f. Dissertação (Mestrado em Fitossanidade)–Universidade Federal de Pernambuco, Recife.). Na cultura do algodoeiro observou-se redução da severidade da mancha angular, causada por Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum (1414 Mariano, R.L.R.; Oliveira, J.C.; Albuquerque, G.M.R.; Silveira, E.B. Silicato de cálcio na indução de resistência à mancha-angular do algodoeiro. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.35, p.19, 2010. Suplemento.).

Brancaglione et al. (44 Brancaglione, P.; Sampaio, A.C.; Fischer, I.H.; Almeida, A.M.; Fumis, T.F. Eficiência de argila silicatada no controle de Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae, in vitro e em mudas de maracujazeiro-amarelo. Revista Brasileira Fruticultura, Jaboticabal, v.31, n.3, p.718-724, 2009.) relatam o controle preventivo e curativo da bacteriose do maracujazeiro quando as plantas foram tratadas com silício. No mesmo experimento os autores observaram, in vitro, inibição de até 100% do crescimento de Xantomonas axonopodis pv. passiflore, nos tratamentos onde adicionaram argila silicatada, confirmando a ação antibacteriana do produto. Albuquerque & Uesugi (22 Albuquerque, R.C.; Uesugi, C.H. Inibição in vitro de Xanthomonas axonopodis pv. citri por Rocksil, um protetor de planta não tóxico. In: Congresso Brasileiro de Fitopalogia, 25., 2000, Belém. Anais. Brasília: Fitopatologia Brasileira, 2000. p.318.) também verificaram a mesma ação de silício sobre Xanthomonas axonopodis pv. citri, agente causal do cancro cítrico, cuja inibição foi obtida em concentrações superiores a 1%.

Diante do potencial antibacteriano deste elemento mineral, o objetivo deste trabalho foi avaliar a ação in vitro do silicato de potássio e alumínio, em várias concentrações (0,0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0 e 10,0 %), sobre Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Câmpus de Chapadão do Sul.

Os isolados de Cff foram obtidos da coleção do Laboratório de Fitopatologia da UFMS, totalizando 10 isolados, oriundos de feijoeiro, dos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina (Tabela 1).

Tabela 1
Relação dos isolados de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens utilizados neste estudo.

Utilizou-se como fonte de silício os produtos comerciais Supa Sílica® (silicato de potássio) e Rocksil® (silicato de alumínio). A descrição dos produtos segue na Tabela 2.

Tabela 2
Composição das fontes de silício utilizadas neste estudo.

Para cada isolado de Cff foi realizado um experimento em delineamento inteiramente casualizado, seguindo o esquema fatorial [(2x8)+1], perfazendo 17 tratamentos, constituídos pela combinação de duas fontes de silício, oito concentrações e mais um tratamento adicional (testemunha positiva). Todos os tratamentos tiveram cinco repetições.

A metodologia empregada foi semelhante àquela utilizada por Theodoro & Maringoni (2727 Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C. Ação de produtos químicos in vitro e in vivo sobre Clavibacter michiganensis, agente causal do cancro bacteriano do tomateiro. Scientia Agrícola, Campinas, v.7, n.3, p.439-443, 2000.), que consiste na deposição de discos de papel de filtro, umedecidos nas concentrações dos produtos, sobre o meio de cultura nutriente-sacarose-ágar (‘NSA’ – extrato de carne 3,0 g, peptona 5,0 g, ágar 15,0 g, sacarose 5,0 g, água destilada q.s.p. 1000 ml), contendo a bactéria. Esta foi cultivada em meio de cultura nutriente líquido ágar (‘NL’- extrato de carne 3,0 g, peptona 5,0 g, sacarose 5,0 g, água destilada q.s.p. 1000 ml) por 48 h, a 25-28 °C, e essa suspensão foi misturada ao meio NSA fundente a 45-50 °C, na razão de um mililitro da suspensão bacteriana para 10 ml de meio de cultura.

Vinte milímetros dessa mistura foram transferidos assepticamente para casa placa de Petri. Após a solidificação do meio de cultura, foi depositado no centro da placa um disco de papel de filtro esterilizado, previamente embebido na suspensão dos produtos. Os produtos contendo silício foram diluídos em série em água destilada estéril e ajustados para as concentrações de 0,0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0 e 10,0 %. O fungicida tolylfluanid foi utilizado como testemunha positiva na concentração de 4.508 µg.mL-1, conforme Metha et al. (1818 Metha, Y.R.; Alves, P.F.R.; Zandoná, C. Erradicação de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens transmitida por sementes de feijoeiro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 31, p. 15, 2005. Suplemento.).

Após a deposição dos discos de papel na superfície do meio de cultura, as placas de Petri foram mantidas durante 2 h, sob refrigeração, para a difusão do produto no meio de cultura e a paralisação do crescimento bacteriano. Posteriormente, as placas de Petri foram submetidas à incubação por 48 h, a 25-28 °C.

As avaliações de aferição do halo de inibição foram realizadas após 48 h de incubação, medindo os diâmetros perpendiculares dos halos, em milímetro e em cada placa de Petri. Após a aferição dos halos foram descontados 12 mm referente ao diâmetro dos discos de papel de filtro para então realizar análise estatística.

Os dados obtidos foram transformados para x + 1 e submetidas à análise de variância. Quando alcançada significância estatística as médias dos fatores qualitativos (fontes de silício) foram comparadas entre si pelo teste F. O efeito das concentrações das fontes silicatadas (fatores quantitativos), quando significativos, foi submetido à análise de regressão, selecionando-se a equação que melhor ajusta-se aos dados obtidos. Para comparar as concentrações com a testemunha positiva foi utilizado o teste de Dunnett. Para todos os testes realizados neste estudo foram utilizados a 5 % de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da análise de variância verificou-se efeito significativo (p<0,05) na interação entre fontes x concentrações. Dentre as fontes, observa-se que o tratamento com silicato de potássio, independente do isolado, não apresentou ação antibacteriana, pois não promoveu inibição do crescimento, enquanto que, no tratamento com silicato de alumínio foi possível observar halos de inibição em todos os isolados de Cff. Nos isolados FJ 004 e FJ 009 houve diferença entre as fontes já nas menores concentrações (0,5 e 1,0 %, respectivamente) enquanto que nos demais isolados observou-se diferença entre as fontes nas concentrações mais altas, geralmente a partir de 1,5 a 2,0 % (Tabela 3).

Tabela 3
Halo de inibição (mm) de 10 isolados de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens com diferentes concentrações, provenientes de duas fontes de silício.

Os resultados obtidos neste estudo com o silicato de potássio não corroboram com os obtidos por Anjos et al. (33 Anjos, T.V.; Tebaldi, N.D.; Mota, L.C.B.; Coelho, L. Fontes de silício no controle de mancha bacteriana (Xanthomonas spp.) do tomateiro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.40, n.4, p.365-367, 2014.) que relataram que esta fonte de Si inibiu o crescimento de Xanthomonas spp. Pouco se sabe do mecanismo de supressão do patógeno com adição de fontes de silício no meio. Uma hipótese para a explicação da supressão do patógeno e da diferença entre as fontes utilizadas neste estudo é o fato de que o produto possa apresentar em sua composição elementos tóxicos, como no caso do Rocksil® (silicato de alumínio), que além do silício contém teores de alumínio e titânio, os quais já foram reportados como sendo tóxicos às bactérias (11 Adams, L.K.; Lyon, D.Y.; Alvarez, P.J.J. Comparative eco-toxicity of nanoscale TiO2, SiO2, and ZnO water suspensions. Water Research, Okford, v.40, n.19, p.3527-3532, 2006., 1111 Jiang, W.; Mashayekhi, H.; Xing, B. Bacterial toxicity comparison between nano and micro-scaled oxide particles. Environmental Pollution, Amsterdam, v.157, p.1619-1625, 2009.).

Foi realizado análise de regressão no tratamento com silicato de alumínio, pois foi verificada ação inibitória das diferentes concentrações sobre o crescimento da bactéria. O modelo matemático foi ajustado para se obter uma equação de concentração/resposta que melhor representa-se as duas variáveis em cada isolado. Em todos os dez isolados de Cff avaliados o halo de inibição respondeu de forma linear e positiva (p<0,05) com o aumento das concentrações utilizadas. Desse modo, nota-se que a ação inibitória depende da concentração do silicato de alumínio, o que em parte, explica o aumento do halo de inibição nas maiores concentrações desta fonte silicatada (Figura 1).

Figura 1
Inibição in vitro do crescimento de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens em diferentes concentrações do silicato de alumínio (Rocksil®).

Com relação à comparação entres as concentrações do silicato de alumínio e a testemunha positiva (tolylfluanid) (Tabela 4), nota-se que apenas na maior concentração (10,0 %) mostrou diferença com o tratamento testemunha em todos os isolados de Cff. O isolado FJ 005, oriundo do Estado de Goiás, apresentou comportamento diferente em relação aos outros isolados avaliados, pois não foi sensível ao tolyfluanid, mas apresentou sensibilidade às concentrações de 2,5, 3,0 e 10 % de silicato de alumínio. Os isolados FJ 004, FJ 009 e FJ 013 apresentaram sensibilidades semelhantes entre si, pois formaram halos nas concentrações de 3,0 e 10,0 % de silicato de alumínio. Apesar de diferirem estatisticamente da testemunha somente na maior concentração (10 %), os isolados FJ 014 e FJ 010, apresentaram a maior sensibilidade ao silicato de alumínio, observando halos de 19,8 mm e 21,4 mm, enquanto para o tolylfluanid os halos foram de 2,8 mm e 3,0 mm, respectivamente, para cada isolado.

Tabela 4
Comparação da inibição de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens entre as concentrações do silicato de alumínio (Rocksil®) e a testemunha positiva (tolylfluanid).

As variações na sensibilidade ao silicato de alumínio entre isolados, verificada neste estudo, sugerem a ocorrência de variabilidade genética na população de Cff, confirmando com as observações de Souza et al. (2424 Souza, V.L.; Maringoni, A.C.; Krause-Sakate, R. Variabilidade genética em isolados de Curtobacterium flaccumfacies. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.32, n.2, p.170-176, 2006.). Assim, ressalta a importância do conhecimento da variabilidade genética entre populações para futuros estudos que objetivem recomendar uso de produtos.

Embora seja relatada alta atividade antibacteriana deste produto a X. axonopodis pv. passiflore e X. axonopodis pv. citri, inibindo 100 % o crescimento bacteriano em meios de culturas contendo baixas concentrações do produto (a partir de 0,5 %) (22 Albuquerque, R.C.; Uesugi, C.H. Inibição in vitro de Xanthomonas axonopodis pv. citri por Rocksil, um protetor de planta não tóxico. In: Congresso Brasileiro de Fitopalogia, 25., 2000, Belém. Anais. Brasília: Fitopatologia Brasileira, 2000. p.318., 44 Brancaglione, P.; Sampaio, A.C.; Fischer, I.H.; Almeida, A.M.; Fumis, T.F. Eficiência de argila silicatada no controle de Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae, in vitro e em mudas de maracujazeiro-amarelo. Revista Brasileira Fruticultura, Jaboticabal, v.31, n.3, p.718-724, 2009.), o mesmo, não foi confirmado neste trabalho, porém, verifica-se, de modo geral, uma tendência de que quanto maior a concentração, maior é o efeito do silicato de alumínio no sentido de inibir o desenvolvimento de Cff, já que os melhores índices de inibição foram nas maiores concentrações.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Adams, L.K.; Lyon, D.Y.; Alvarez, P.J.J. Comparative eco-toxicity of nanoscale TiO2, SiO2, and ZnO water suspensions. Water Research, Okford, v.40, n.19, p.3527-3532, 2006.
  • 2
    Albuquerque, R.C.; Uesugi, C.H. Inibição in vitro de Xanthomonas axonopodis pv. citri por Rocksil, um protetor de planta não tóxico. In: Congresso Brasileiro de Fitopalogia, 25., 2000, Belém. Anais Brasília: Fitopatologia Brasileira, 2000. p.318.
  • 3
    Anjos, T.V.; Tebaldi, N.D.; Mota, L.C.B.; Coelho, L. Fontes de silício no controle de mancha bacteriana (Xanthomonas spp.) do tomateiro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.40, n.4, p.365-367, 2014.
  • 4
    Brancaglione, P.; Sampaio, A.C.; Fischer, I.H.; Almeida, A.M.; Fumis, T.F. Eficiência de argila silicatada no controle de Xanthomonas axonopodis pv. passiflorae, in vitro e em mudas de maracujazeiro-amarelo. Revista Brasileira Fruticultura, Jaboticabal, v.31, n.3, p.718-724, 2009.
  • 5
    Carré-Missio, V.; Rodrigues, F.A.; Schurt, D.A.; Rezende, D.C.; Moreira, W.R; Korndörfer, D.H.; Zambolim, L. Componentes epidemiológicos da ferrugem do cafeeiro afetadas pela aplicação foliar de silicato de potássio. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.37, n.1, p.50-56, 2012.
  • 6
    Dannon, E.A.; Wydra, K. Interaction between silicon amendment, bacterial wilt development and phenotype of Ralstonia solanacearum in tomato genotypes. Physiological and Molecular Plant Pathology, London, v.64, n.5, p.233-243, 2004.
  • 7
    Estefani, R.C.C.; Miranda Filho, R.J.; Uesugui, C.H. Tratamento térmico e químico de sementes de feijoeiro: eficiência na erradicação de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens e efeitos na qualidade fisiológica das sementes. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.32, n.5, p.434-438, 2007.
  • 8
    Fancelli, A.L. Micronutrientes e sua influência na ocorrência de pragas e doenças. In: Pria, M.D.; Silva, O.C. (Org.). Cultura do feijão: doenças e controle. Ponta Grossa: UEPG, 2010. p.149-168.
  • 9
    Ferreira, H.A. Silício no controle da mancha-aquosa em meloeiro (Cucumis melo L.) 2009. 82f. Dissertação (Mestrado em Fitossanidade)–Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
  • 10
    Herbes, D.H.; Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C.; Dal Piva, C.A.; Abreu, L. Detecção de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens em sementes de feijoeiro produzidas em Santa Catarina. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.33, n.2, p.153-156, 2008.
  • 11
    Jiang, W.; Mashayekhi, H.; Xing, B. Bacterial toxicity comparison between nano and micro-scaled oxide particles. Environmental Pollution, Amsterdam, v.157, p.1619-1625, 2009.
  • 12
    Lima, L.M.; Pozza, E.A.; Pozza, A.A.A.; Fonseca, T.A.P.S.; Carvalho, J.G. Quantificação da ferrugem asiática e aspectos nutricionais de soja suprida com silício em solução nutritiva. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.36, n.1, p.51-56, 2010.
  • 13
    Lima, L.M.; Pozza, E.A.; Torres, H.N.; Pozza, A.A.A.; Salgado, M.; Pfenning, L.H. Relação nitrogênio/potássio com mancha de Phoma e nutrição de mudas de cafeeiro em solução nutritiva. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.35, n.4, p.223-228, 2010.
  • 14
    Mariano, R.L.R.; Oliveira, J.C.; Albuquerque, G.M.R.; Silveira, E.B. Silicato de cálcio na indução de resistência à mancha-angular do algodoeiro. Tropical Plant Pathology, Lavras, v.35, p.19, 2010. Suplemento.
  • 15
    Maringoni, A.C.; Camara, R.C. Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens detection in bean seeds using a semi-selective culture medium. Brazilian Journal of Microbiology, São Paulo, v.37, n.4, p.451-455, 2006.
  • 16
    Maringoni, A.C.; Ishiszuka, M.S.; Silva, A.P.; Soman, J.M.; Moura, M.F.; Santos, R.L.; Silva Júnior, T.A.F.; Chiorato, A.F.; Carbonell, S.A.M.; Fonseca Júnior, N.S. Reaction and colonization of common bean genotypes by Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens Crop Breeding and Applied Biotechnology, Viçosa, v.15, n.2, p.87-93, 2015.
  • 17
    Martinati, J.C.; Lacava, P.T.; Miyasawa, S.K.S.; Guzzo, S.D.; Azevedo, J.L.; Tsai, S.M. Redução dos sintomas causados pela Xylella fastidiosa subsp. pauca por meio de aplicação de benzotiadiazole e silício. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.42, n.8, p.1083-1089, 2007.
  • 18
    Metha, Y.R.; Alves, P.F.R.; Zandoná, C. Erradicação de Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens transmitida por sementes de feijoeiro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v. 31, p. 15, 2005. Suplemento.
  • 19
    Osdaghi, E.; Sardrood, B.P.; Bavi, M.; Oghaz, N.A.; Kimiaei, S.; Hadian, S. First report of Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens causing cowpea bacterial wilt in Iran. Journal of Phytopathology, Berlin, v.163, p.653-656, 2015.
  • 20
    Pozza, E.A.; Pozza, A.A.A.; Botelho, D.M.S. Silicon in plant disease control. Revista Ceres, Viçosa, v.62, n.3, p.323-331, 2015.
  • 21
    Schurt, D.A.; Rodrigues, F.A.; Colodette, J.L.; Carré-Missio, V. Efeito do silício nas concentrações de lignina e de açúcares em bainhas de folhas de arroz infectadas por Rhizoctonia solani Bragantia, Campinas, v.72, n.4, p.360-366, 2013.
  • 22
    Silva Júnior, T.A.F; Negrão, D.R.; Itako, A.T.; Soman, J.M.; Maringoni, A.C. Survival of Curtubacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens in soil and bean crops debris. Journal of Plant Pathology, Pisa, v.94, n.2, p.331-337, 2012.
  • 23
    Soares, R.M.; Fantinato, G.G.P.; Darben, L.M.; Marcelino-Guimarães, F.C.; Seixas, C.D.S.; Carneiro, G.E.S. First report of Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens on soybean in Brazil. Tropical Plant Pathology, Brasília, v.38, n.5, p.452-454, 2013.
  • 24
    Souza, V.L.; Maringoni, A.C.; Krause-Sakate, R. Variabilidade genética em isolados de Curtobacterium flaccumfacies Summa Phytopathologica, Botucatu, v.32, n.2, p.170-176, 2006.
  • 25
    Tatagiba, S.D.; Rodrigues, F.A.; Filippi, M.C.; Silva, G.B.; Silva, L.C. Physiological responses of rice plants supplied with silicon to Monographella albescens infection. Journal of Phytopathology, Berlin, v.162, n.9, p.586-606, 2014.
  • 26
    Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C. Murcha-de-Curtobacterium. In: Pria, M.D.; Silva, O.C. (Org.). Cultura do feijão: doenças e controle. Ponta Grossa: UEPG, 2010. p.23-29.
  • 27
    Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C. Ação de produtos químicos in vitro e in vivo sobre Clavibacter michiganensis, agente causal do cancro bacteriano do tomateiro. Scientia Agrícola, Campinas, v.7, n.3, p.439-443, 2000.
  • 28
    Theodoro, G.F.; Maringoni, A.C.; Chumpati, A.A.; Correia, H.C.; Theodoro, J.V. C.; Nogueira, R.J. First report of bacteril wilt of common bean, caused by Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens, in Mato Grosso do Sul, Brazil. Journal of Plant Pathology, Bari, v.92, p.110-110, 2010.
  • 29
    Valentini, G.; Guidolin, A.F.; Baldissera, J.N.C.; Coimbra, J.L.M. Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens: etiologia, detecção e medidas de controle. Revista Biotemas, Florianópolis, v.23, n.4, p.1-8, 2010.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    05 Maio 2016
  • Aceito
    13 Jul 2017
Grupo Paulista de Fitopatologia FCA/UNESP - Depto. De Produção Vegetal, Caixa Postal 237, 18603-970 - Botucatu, SP Brasil, Tel.: (55 14) 3811 7262, Fax: (55 14) 3811 7206 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: summa.phyto@gmail.com