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Espécies de Meloidogyne em alface na região Agreste do estado de Alagoas

Meloidogyne species in lettuce in the “Agreste” region of Alagoas State, Brazil

RESUMO

A meloidoginose da alface interfere negativamente no desenvolvimento da planta, o que reduz a produtividade da cultura. O objetivo desse trabalho foi identificar espécies de Meloidogyne em áreas de cultivo de alface localizadas na região Agreste do estado de Alagoas. Foram realizadas coletas de solo rizosférico e de raízes totalizando 23 amostras, provenientes de sete municípios. As raízes com sintomas de meloidoginose foram cortadas e incorporadas, juntamente com o solo rizosférico, a tomateiros Santa Cruz cv. Kada Gigante, previamente cultivados em vasos contendo solo esterilizado e mantidos sob condições de telado. A identificação das espécies de Meloidogyne foi realizada por meio da análise do perfil da isoenzima esterase. As espécies de M. incognita fenótipos I1 e I2 e de M. javanica fenótipo J3 foram detectadas em 20 e em três áreas, respectivamente.

Palavras-chave
Lactuca sativa ; levantamento populacional; nematoides-das-galhas; esterase

ABSTRACT

Lettuce root-knot negatively influences the plant development, reducing the crop yield. The objective of this study was to identify Meloidogyne species that occur in lettuce cultivation areas in the “Agreste” region of Alagoas State, Brazil. Sample collection was performed from the rhizosphere soil and roots, totaling 23 samples from seven municipalities. Roots exhibiting symptoms of root-knot were harvested and incorporated with the rhizosphere soil in tomato plants “Santa Cruz” cv. ‘Kada Gigante’ previously grown in pots containing sterile soil and kept under greenhouse conditions. Meloidogyne species were identified based on esterase isozyme analysis. Meloidogyne incognita phenotypes I1 and I2 and M. javanica phenotype J3 were detected in 20 and three areas, respectively.

Keywords
Lactuca sativa ; population survey; root-knot nematodes; esterase

No Brasil, a ocorrência de nematoides do gênero Meloidogyne tem se constituído em um dos principais problemas para a cultura da alface (Lactuca sativa L.), reduzindo significativamente sua produtividade (44 Correia, E.C.S.S.; Silva, N.; Costa, M.G.S.; Wilcken, S.R.S. Reproduction of Meloidogyne enterolobii in lettuce cultivars of the american group. Horticultura Brasileira, Brasília, v.33, n.2, p.147-150, 2015., 77 Rabello, L.K.C. Quantificação de danos e perdas causados por Meloidogyne javanica em alface (Lactuca sativa L.). 2010. 51f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Centro de Ciências Agrárias - Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre.), visto que a maioria das cultivares é suscetível ao nematoide, o que ocasiona um aumento de suas populações nas áreas e inviabiliza plantios subsequentes. Nestas áreas a infestação ocorre principalmente por M. incognita (Kofoid & White) Chitwood e M. javanica (Treud) Chitwood (66 Pinheiro, J.B. Nematoides em hortaliças. Brasília, DF: Embrapa, 2017. 194p.). Em Alagoas, as áreas de produção dessa hortaliça se concentram na mesorregião Agreste do estado, porém, não há relatos sobre os principais fitonematoides que afetam a cultura. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi identificar espécies de Meloidogyne existentes em áreas de cultivos de alface localizadas na região Agreste do estado de Alagoas.

A prospecção de Meloidogyne spp. foi realizada por meio de amostragens em 22 áreas de cultivo de alface, tendo sido coletadas, em uma das áreas, duas amostras de tipos distintos, totalizando 23 amostras. Foi adotado o caminhamento em zigue-zague e realizadas coletas de solo rizosférico e de raízes em 15 pontos por canteiro, onde cada grupo de cinco pontos de coleta constituiu-se em uma amostra composta de aproximadamente 500 g de solo e 50 g de raízes, totalizando três repetições por área de cultivo.

Após as coletas, as raízes de alface com sintomas de galhas foram cortadas e incorporadas, juntamente com o solo rizosférico, a tomateiros Santa Cruz ‘Kada Gigante’, com 30 dias de idade, previamente cultivados em vasos contendo solo esterilizado e mantidos em telado (28±5,6 ºC; UR 70,5±17,6%) por mais 30 dias, para multiplicação e posterior identificação das espécies de Meloidogyne, com base no perfil da isoenzima esterase.

Na identificação das espécies de Meloidogyne, foi empregada a técnica descrita por Alfenas et al. (22 Alfenas, A.C.; Peters, I.; Brune, W.; Passador, G.C. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais. Viçosa: UFV, 1991, 242p.) e Alfenas (11 Alfenas, A.C. Eletroforese de isoenzimas e proteínas afins: fundamentos e aplicações em plantas e microrganismos. Viçosa: UFV, 1998. 574p.), utilizando-se o sistema descontínuo de eletroforese vertical. Fêmeas de coloração branco-leitosa foram coletadas das raízes de tomateiro, transferidas para microtubos contendo tampão de extração e maceradas para aplicação no gel de poliacrilamida, sendo M. javanica o padrão de comparação. Os géis separador e concentrador foram preparados nas concentrações de 7,5 e 4%, respectivamente. A eletroforese foi conduzida em geladeira (cerca de 2 h), e após a revelação da enzima os géis foram secos (22 Alfenas, A.C.; Peters, I.; Brune, W.; Passador, G.C. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais. Viçosa: UFV, 1991, 242p.) e a mobilidade relativa (Rm) das bandas foi calculada (1).

Nas áreas amostradas, foram identificadas as espécies M. incognita e M. javanica, com predominância da primeira, que ocorreu em 20 (86,96%) das 23 populações obtidas (Tabela 1). O parasitismo de Meloidogyne spp. em raízes de alface também foi verificado por Oliveira (55 Oliveira, J.O. Levantamento de fitonematoides e caracterização bioquímica de populações de Meloidogyne spp. em áreas cultivadas com hortaliças na região sul do estado de Goiás. 2016. 48f. Dissertação (Mestrado em Olericultura) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Morrinhos.) e Silva et al. (88 Silva, M.C.L.; Santos, C.D.G.; Silva, G.S. Espécies de Meloidogyne associadas a vegetais em microrregiões do estado do Ceará. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v.47, n.4, p.710-719, 2016.) em levantamentos realizados, respectivamente, nas regiões centro-oeste e nordeste do Brasil.

Tabela 1
Identificação pelo fenótipo de esterase de espécies de Meloidogyne provenientes de áreas de produção de alface, localizadas na região Agreste do estado de Alagoas, no período de 2014 a 2015.

As populações de Meloidogyne spp. apresentaram três fenótipos de esterase: J3 (Rm 1,0, 1,16 e 1,24), característico de M. javanica, foi encontrado em três populações (13,04%) provenientes de dois municípios; I1 (Rm 1,0), em oito populações (34,78%) e I2 (Rm 1,0 e 1,08), em 12 populações (52,17%), para M. incognita, sendo que populações de cada um desses dois fenótipos ocorreram em quatro municípios (Tabela 1). Estes padrões isoenzimáticos já foram relatados em outras áreas de produção de alface (33 Carneiro, R.M.D.G.; Almeida, M.R.A.; Martins, I.; Souza, J.F.; Pires, A.Q.; Tigano, M.S. Ocorrência de Meloidogyne spp. e fungos nematófagos em hortaliças no Distrito Federal, Brasil. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v.32, n.2, p.135-141, 2008.).

A correta identificação das espécies de Meloidogyne é de fundamental importância nos estudos de avaliação de cultivares resistentes, na escolha destas para implantação em áreas de produção de alface, assim como na definição de espécies vegetais visando o manejo deste nematoide com a prática da rotação de culturas.

AGRADECIMENTOS

À CAPES, pela concessão de bolsa de estudo à primeira autora.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Alfenas, A.C. Eletroforese de isoenzimas e proteínas afins: fundamentos e aplicações em plantas e microrganismos. Viçosa: UFV, 1998. 574p.
  • 2
    Alfenas, A.C.; Peters, I.; Brune, W.; Passador, G.C. Eletroforese de proteínas e isoenzimas de fungos e essências florestais Viçosa: UFV, 1991, 242p.
  • 3
    Carneiro, R.M.D.G.; Almeida, M.R.A.; Martins, I.; Souza, J.F.; Pires, A.Q.; Tigano, M.S. Ocorrência de Meloidogyne spp. e fungos nematófagos em hortaliças no Distrito Federal, Brasil. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v.32, n.2, p.135-141, 2008.
  • 4
    Correia, E.C.S.S.; Silva, N.; Costa, M.G.S.; Wilcken, S.R.S. Reproduction of Meloidogyne enterolobii in lettuce cultivars of the american group. Horticultura Brasileira, Brasília, v.33, n.2, p.147-150, 2015.
  • 5
    Oliveira, J.O. Levantamento de fitonematoides e caracterização bioquímica de populações de Meloidogyne spp. em áreas cultivadas com hortaliças na região sul do estado de Goiás 2016. 48f. Dissertação (Mestrado em Olericultura) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Morrinhos.
  • 6
    Pinheiro, J.B. Nematoides em hortaliças Brasília, DF: Embrapa, 2017. 194p.
  • 7
    Rabello, L.K.C. Quantificação de danos e perdas causados por Meloidogyne javanica em alface (Lactuca sativa L.) 2010. 51f. Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) – Centro de Ciências Agrárias - Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre.
  • 8
    Silva, M.C.L.; Santos, C.D.G.; Silva, G.S. Espécies de Meloidogyne associadas a vegetais em microrregiões do estado do Ceará. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v.47, n.4, p.710-719, 2016.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Maio 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2021

Histórico

  • Recebido
    03 Abr 2018
  • Aceito
    19 Jan 2021
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