No 12. Seminário Anual de Serviço Social, “Renovação e os 40 anos do Congresso da ‘Virada’ no Serviço Social brasileiro. Memória, história e desafios contemporâneos”, recebi a especial e prazerosa deferência de realizar uma breve saudação, em nome do Serviço Social brasileiro, ao nosso amigo e colaborador sr. José Xavier Cortez, presidente da Cortez Editora, que promove o referido seminário realizado no Teatro Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca).
Prezado sr. Cortez,
Há mais de quatro décadas, quando a produção acadêmica do Serviço Social dava seus primeiros passos - basta lembrar que a pós-graduação só se completa com a inauguração do doutorado em 1980 -, você apostou no Serviço Social. E abriu as portas da Cortez Editora para a produção e difusão de livros em Serviço Social no mercado nacional. Simultaneamente, apoiou o estreitamento de laços com assistentes sociais latino-americanos. Basta lembrar as coedições com o então Centro Latinoamericano de Trabajo Social - Celats, difundindo, no Brasil, a produção realizada em outros países, no lastro do Movimento de Reconceituação e seus desdobramentos.
Mas o sr. Cortez, personificando a trajetória desta editora, apoiou o Serviço Social prioritariamente em determinada direção: a de sua renovação histórico-crítica, que vem presidindo a luta pela hegemonia no Serviço Social brasileiro. A área de educação também é privilegiada na Cortez na sua perspectiva crítica, como, por exemplo, por meio da publicação de algumas obras de Paulo Freire, patrono da educação brasileira.
Como já salientei, o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, de 1979, conhecido como Congresso da “Virada”, expressa a aproximação do Serviço Social brasileiro com “os de baixo”, ou seja, com as lutas, organizações e movimentos sociais que vocalizam a defesa dos direitos, interesses e projetos societários das classes subalternas e na criação de forças de resistência à ditadura do grande capital (Ianni, 1981IANNI, O. A ditadura do grande capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.) e no apoio às lutas democráticas.
E essa sintonia não foi ocasional. A afinidade eletiva tem raízes na história de vida do Cortez: migrante nordestino, participou na resistência à ditadura na luta dos marinheiros, época em que experimentou a força do poder opressivo, os constrangimentos de um inquérito policial-militar (IPM) em decorrência de sua luta pelo direito de associação dos marinheiros e fuzileiros navais no Brasil. Esse compromisso com a denúncia das arbitrariedades do poder e com a defesa das instituições e valores democráticos permeou a sua vida e muitas de suas decisões editoriais.
Sua paixão pela leitura o levou à condição de “vendedor de livros” nas dependências da PUC-SP na sua época de estudante. No final dos anos 1970, inicia sua carreira como editor, com a Livraria Cortez & Moraes Ltda.
Em 1979, lança no III CBAS a revista Serviço Social & Sociedade, em histórica parceria com o Serviço Social da PUC-SP. Esse é o periódico científico mais consolidado do Serviço Social no Brasil, hoje com 135 números e classificação máxima dentre os periódicos científicos brasileiros, disponível na plataforma Scielo com livre acesso. Nesta ocasião, também saudamos os quarenta anos dessa revista e todos aqueles que construíram sua história.
Ao longo de sua trajetória, a Cortez Editora alimentou a formação em Serviço Social com a produção acadêmica de pesquisadores da área e sua difusão, contribuindo para avanços inéditos do Serviço Social brasileiro no circuito latino-americano e mundial. A Cortez apoiou eventos nacionais e regionais de Serviço Social, bem como nossas entidades representativas: a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), o Conselho Regional de Serviço Social (Cress) e a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (Enesso).
O sr. Cortez, com seu trabalho, tornou-se um “amigo do Serviço Social brasileiro”, reconhecido publicamente em várias ocasiões.
A Cortez Editora & Livraria, criada como uma empresa de caráter nitidamente familiar, cresceu e se diversificou, sob a liderança desse “desbravador de novos caminhos” - expressão de nossa brava gente brasileira. E atinge hoje o patamar de uma das principais editoras no país, tendo sido o sr. Cortez alvo das mais importantes e reconhecidas distinções como editor no estado de São Paulo e no país.
A Cortez Editora tem contribuído para a leitura crítica do Brasil, para o intercâmbio intelectual com autores de ponta no cenário internacional, mediante a publicação de obras de referência na área das Ciências Humanas e Sociais.
A trajetória de vida do sr. Cortez, na condição de editor, acompanha e impulsiona a renovação crítica do Serviço Social brasileiro hoje comemorada neste evento.
Saudações ao nosso parceiro, editor e companheiro apaixonado pela leitura e pelos livros. Carlos Drummond de Andrade (1983)ANDRADE, C. Drummond. Livraria. In: _____ (Org.). Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 492-493., em seu poema Livraria, nos revela que
A vida chega aqui Filtrada em pensamento Que não fere; no enlevo Tátil-visual de ideias reveladas na trama do papel e que afloram aladamente dançam quatro metros abaixo do solo e das angústias o seu balé de essências para o leitor liberto.Cortez, em sua paixão pelo conhecimento, você vem esculpindo obras para a vida: livros infantis, livros que alargam os horizontes dos jovens e ampliam os conhecimentos de adultos, a todos alimentando o prazer da leitura e da apropriação do conhecimento inscrito na vida e na história.
São nossas e suas as batalhas para a construção de um Brasil mais justo, menos desigual, guiado por valores maiores da liberdade e da democracia extensiva a todos; no combate às opressões e preconceitos de raça, etnia, gênero, que permeiam a nossa formação histórica, abrindo estradas para o protagonismo das classes subalternas, vivendo e desfrutando em plenitude a unidade de suas diversidades.
Nossos agradecimentos pelo seu encontro com o Serviço Social e um grande abraço, meu amigo Editor.
Saúde, paz e felicidades.
São Paulo, 6 de maio de 2019.
Referências
- ANDRADE, C. Drummond. Livraria. In: _____ (Org.). Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 492-493.
- IANNI, O. A ditadura do grande capital Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
23 Set 2019 -
Data do Fascículo
Sep-Dec 2019
Histórico
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Recebido
17 Maio 2019 -
Aceito
28 Maio 2019
